quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

43 Buddha Eremita





           ( Imagem das ruínas de Jetavana, Índia ).
43
A pessoa teimosa...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um certo Irmão teimoso. O Abençoado pergunta a ele se é verdade que é teimoso, e o Irmão admitiu que era. “Irmão,” disse o Mestre, “esta não é a primeira vez que foste teimoso: o foste também justo como em dias passados, e, como resultado da sua teimosia em recusar seguir conselho do sábio e bom, encontraste a morte com uma picada de cobra.” E assim falando ele contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família rica do Reino de Kāsi. Chegando à idade da discrição, viu como da paixão brota dor e como benção verdadeira vem do abandono da paixão. Então afastou-se das luxúrias, e indo pra os Himālaias tornou-se eremita, ganhando pelo preenchimento das meditações místicas ordenadas as cinco ordens do Alto Conhecimento e as oito Consecuções. E enquanto vivia a vida em rapto de Insight, ele veio a ter depois de tempos um largo séqüito de quinhentos eremitas, de quem era o professor.

Bem, um dia um jovem víbora venenosa, vagando como as víboras vagam, veio à cabana de um dos eremitas; e aquele Irmão cresceu em afeição pela criatura como se ela fosse sua criança, deixando ela morar numa junta de bambu e mostrando simpatia por ela. E porque esta alojada numa junta de bambu, a víbora ficou conhecida pelo nome de “Bambu.” E daí, porque o eremita afeiçoara-se da víbora como se sua criança fora, chamavam a ele de “Pai de Bambu.”

Escutando que um dos Irmãos guardava uma víbora, o Bodhisatva mandou chamar o Irmão e perguntou se o relato era verdadeiro. Quando dito que era verdadeiro, o Bodhisatva disse, “Não se pode confiar numa víbora; não a guarde mais.”

“Mas,” insistiu o Irmão, “minha víbora é querida por mim como um pupilo a um professor; - não posso viver sem ela.” “Bem então,” respondeu o Bodhisatva, “saiba que esta serpente mesma fará você perder tua vida.” Mas sem escutar o conselho do Mestre, aquele Irmão manteve o bicho de estimação de quem não podia se separar. Bem poucos dias depois todos os Irmãos saíram para colher frutos, e chegando no lugar em cresciam de todos os tipos em abundância, ficaram lá dois ou três dias. Com eles foi “Pai de Bambu,” deixando a víbora para trás em sua prisão de bambu. Dois ou três dias depois, quando voltou, ele recordou-se de alimentar a criatura, e, abrindo a gaiola, esticou a mão dizendo, “Venha meu filho; deves estar faminto.” Mas irada com o logo jejum, a víbora picou sua mão esticada, matando-o ali, e escapou para a floresta.

Vendo-o lá morto, os Irmãos vieram e contaram ao Bodhisatva, que fez o corpo ser queimado. Então sentado no meio ele exortou os Irmãos repetindo a estrofe:-

A pessoa teimosa, que, quando exortada, presta
Nenhuma atenção à amigos que gentis conselhos lhe dão
Como ‘Pai de Bambu’ será levado ao nada.

Assim o Bodhisatva exortou seus seguidores; e ele desenvolveu em si os quatro Estados Nobres, e à sua morte re-nasceu no Reino de Brahma.

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Disse o Mestre, “Irmão, esta não é a primeira vez que te mostras teimoso; foste teimoso igual em dias passados, e daí encontraste a morte com uma picada de víbora.” Tendo terminado sua lição, o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Naqueles dias, este Irmão teimoso era ‘Pai de Bambu’, meus discípulos eram o bando de discípulos, e eu mesmo o professor.”

 [ Fábula de Esopo Buddhista ]

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

42 Buddha Pombo



42
A pessoa teimosa...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana , sobre um certo Irmão ganancioso. Sua cobiça será relatada nos Jātakas 274, 275, 375 e 395 [a mesma conta, Jataka, Vida passada, do pombo e do corvo com versos diferentes].

Mas nesta ocasião os Irmãos contaram ao Mestre, dizendo, “Senhor, este Irmão é ganancioso.”
Disse o Mestre, “É verdade como dizem Irmão que és ganancioso?” “Sim, senhor,” foi a resposta.
“Também em tempos passados, Irmão , fostes ganancioso, e por causa de sua ganância perdeste a vida; também fizeste que o sábio e bom perdesse a casa.” E assim falando contou uma história do passado.

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Certa quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como pombo. Bem, o povo de Benares naqueles dias, em ato de bondade, costumava pendurar cestas de palha em diversos lugares para abrigo e conforto dos pássaros; e o cozinheiro do Alto Senhor Tesoureiro de Benares pendurava um destes balaios na sua cozinha. Nesta cesta o Bodhisatva tomou domicílio, saindo aurora em busca de comida e retornava ao crepúsculo; e assim vivia sua vida.

Um dia contudo um corvo, voando pela cozinha sentiu o aroma saboroso de peixe e carne fresca salgada, e encheu-se de ânsia de prová-los. Considerando como realizar seu desejo, pendurou-se por ali, e a noitinha viu o Bodhisatva chegando em casa e indo para a cozinha. “Ah!” ele pensou, “posso arranjar isto através do pombo.”

Então voltou no dia seguinte aurora, e, quando o Bodhisatva saía para sua busca de comida, seguiu-o em todos os lugares como sua sombra. Então o Bodhisatva diz, “Por quê me segues, amigo?”

“Meu senhor,” respondeu o corvo, “seu comportamento ganhou minha admiração; e daí é meu desejo segui-lo.” “Mas teu tipo de comida e o meu, amigo, não é o mesmo,” disse o Bodhisatva; “dificilmente você a aceitaria seguindo-me.” “Meu senhor,” disse o corvo, “enquanto buscas tua comida, me alimentarei também, do teu lado.” “Que seja, então,” disse o Bodhisatva; “apenas sejas diligente.” E com este conselho ao corvo, o Bodhisatva vagou aos redores bicando semente de grama; enquanto o outro saiu revirando estrume e pegando insectos debaixo até ficar satisfeito. Então ele voltou até o Bodhisatva e falou, “Meu senhor, dedicas muito tempo para alimentação; deve-se evitar os excessos.”

E quando o Bodhisatva já tinha alimentado-se e voltado para casa ao crepúsculo, entrou o corvo voando com ele na cozinha.

“Pois nosso pássaro trouxe outro para casa com ele;” exclamou o cozinheiro, e pendurou uma segunda cesta na cozinha. Cheio de ânsia gananciosa à visão, o corvo colocou na mente de ficar em casa no dia seguinte e regalar-se com aqueles pratos excelentes.

Assim toda a noite ficou gemendo e no dia seguinte, quando o Bodhisatva partia para a busca de comida, e gritava, “Vamos, amigo corvo,” o corvo respondeu, “Vá sem mim, meu senhor; pois estou com dores no estômago.” “Amigo,” respondeu o Bodhisatva, “nunca ouvi falar antes em corvo com dor de estômago. É vero, que corvos ficam fracos em cada uma das três vigílias; mas se eles comem um vaga-lume a fome deles apazigua no momento. Você deve estar ansiando pelo peixe aqui da cozinha. Venha agora, você não gostará da comida das pessoas. Não siga tal caminho, mas venha e busque comida comigo.” “É vero, estou incapaz, meu senhor,” disse o corvo. “Bem, sua conduta mesma mostrará,” disse o Bodhisatva. “Apenas não caia presa da cobiça, mas permaneça constante.” E com este conselho, saiu voando para encontrar a comida diária.

O cozinheiro pegou diversos tipos de peixe, e arranjou uns de um jeito outros de outro. Levantando então um pouco as tampas das panelas para deixar o vapor sair, colocou um escoador, em cima de uma delas e saiu para fora pela porta, onde ficou limpando o suor da testa. Justo naquele momento a cabeça do corvo pipoca para fora do balaio. De uma olhada viu que o cozinheiro saíra, e, “Agora ou nunca,” pensou ele, “é minha hora. A única questão é devo escolher carne picada ou pegar um pedaço grande?” Argumentando consigo mesmo que levaria muito tempo para fazer uma refeição de carne picada, ele resolveu pegar um pedaço grande de peixe e sentar e comê-lo na cesta. Portanto voou para fora e pousou no escoador. “Cleck” fez o escoador.

“Que será isto?” disse o cozinheiro, correndo ao escutar o barulho. Vendo o corvo, ele gritou, “Ah, aí está aquele corvo tratante esperando para comer a comida do patrão. Devo trabalhar para o mestre não para este farsante! O quê é ele para mim, gostaria de saber?” Então, primeiro fechando a porta, ele pegou o corvo e tirou todas as penas do corpo dele. Depois passou nele gengibre com sal e cominho, e misturando em manteiga rançosa – e finalmente mergulhou o corvo em picles e jogou de volta na cesta. E lá o corvo jazia gemendo, tomado pela agonia da dor.

À noitinha o Bodhisatva volta, e vê a situação de desgraça do corvo. “Ah! corvo ganancioso,” ele exclama, “não escutaste minhas palavras e agora sua ganância mesma causou seu dano.” E assim falando repetiu a estrofe:-

A pessoa teimosa que, quando exortada, presta
Nenhuma atenção à amigos que gentis conselhos lhes dão,
Certamente perecerá, como o corvo ganancioso,
Que riu e debochou dos conselhos do pombo.

Então exclamando “Também não posso morar mais aqui,” o Bodhisatva voou embora. Mas o corvo morreu then and there lá e então, e o cozinheiro atirou-o com cesta e tudo no monte de lixo.

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Disse o Mestre, “Foste ganancioso, Irmão, em dias passados justo como és agora; e tudo por causa da sua cobiça o sábio e bom daqueles dias teve de abandonar sua casa.” Tendo terminado sua lição, o Mestre pregou as Quatro Verdades, no final das quais o Irmão ganhou o Fruto do Segundo caminho. Então o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka como segue:- “O Irmão ganancioso era o corvo daqueles dias e eu o pombo.”







segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

41 Losaka Tissa


   
41
"A pessoa teimosa...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre o Ancião Losaka Tissa.

‘Quem,’ você pergunta, ‘era este Ancião Losaka Tissa?’ Bem; seu pai era um pescador em Kosala, e ele era a perdição da sua família; e, quando Irmão, nunca tinha nada dado para si. Sua existência prévia terminada, ele foi concebido por uma certa esposa de pescador em uma vila de pescadores de mil famílias em Kosala. E, no dia em que foi concebido, todas aquelas mil famílias, de redes nas mãos, foram pescar no rio e no lago mas não conseguiram pescar nenhum peixe; e sorte semelhante perseguiu-os daquele dia em diante. Também, antes de seu nascimento, a vila foi destruída sete vezes pelo fogo, e assolada sete vezes pela vingança do rei. De modo que naqueles dias o povo caiu em lamentável aflição. Refletindo que tal não era seu lote em dias anteriores, mas que agora estavam em tormento e ruína, eles concluíram que devia haver algum alimentador de desgraça entre eles, e resolveram se dividir em dois grupos. Daí em diante a ruína perseguiu o grupo dos parentes do futuro Losaka, enquanto as outras quinhentas famílias prosperou em paz. Então o primeiro grupo resolveu continuar a divisão pela metade, e fizeram isto até aquela única família foi separada de todo o resto.

 Então souberam que o alimentador de desgraça estava naquela família, e com pancada afastaram-os. Com dificuldade sua mãe conseguiu sustento; e, quando a hora do parto chegou, ela deu a luz a seu filho em um certo lugar. (Aquele que nascia em sua última existência não podia ser morto. Pois como uma vela dentro de um jarro, assim mesmo com segurança dentro do seu peito queimava a chama de seu destino de se tornar um Arahat.) A mãe cuidou da criança até que esta corresse, e quando já podia correr ela colocou na sua mão um caco de louça e ordenando a ele que fosse em uma casa colher ofertas, saiu correndo. Daí em diante, a criança solitária usava colher ofertas de comida por lá e dormir onde pudesse. Ele ficava sem se lavar e se arrumar, e vivia como um duende do pântano.

 Quando tinha sete anos de idade, ele pegava e comia como um corvo, migalha por migalha, qualquer arroz que encontrasse fora de qualquer casa, onde atiravam fora os restos da comida lavada dos pratos.

Sāriputra, Capitão da Fé, indo para Sāvatthi em sua coleta de ofertas, notou a criança, e imaginando de que vila viera a criatura desamparada, encheu-se de amor por ele e o chamou dizendo “Venha cá.” A criança veio, inclinando-se diante do Ancião, e ficou diante dele. Então disse Sāriputra, “De que vila você é, e onde estão teus pais?”
“Nada tenho, senhor,” disse a criança; “pois meus pais disseram que estavam esgotados e me abandonaram e foram embora.”
“Gostaria de te tornar um Irmão?” “Na realidade eu devia, senhor; mas quem aceitaria um pobre miserável como eu dentro da Ordem? “Eu aceitaria.” “Então, prego, deixe-me tornar um Irmão.”

O Ancião deu à criança, comida e o levou ao mosteiro, lavou-o com suas próprias mãos, e o admitiu ao Noviciado primeiro e depois como Irmão pleno, quando já velho o suficiente. Já com idade ficou conhecido como Ancião Losaka Tissa; ele estava sempre com azar, e muito pouco era dado a ele. A história diz que não importava a quão pródiga fosse a caridade, ele nunca pegava o suficiente para comer, mas apenas o suficiente para manter-se vivo. Uma simples colher de arroz parecia encher sua tigela até a borda, então o que fazia caridade pensava que sua tigela estava cheia e dava o resto de arroz ao próximo. E quando o arroz era colocado em sua tigela era dito que o arroz do 'prato matriz', do oferente, usava sumir. E assim com todo tipo de comida. Mesmo quando, com o passar do tempo, ele desenvolveu Discernimento e daí ganhou o Fruto mais alto que é a Arahat(idade), ainda assim recebia pouco.

Com o completar dos dias, quando os materiais que determinavam sua existência separada estavam gastos, chegou o dia dele passar desta vida. E o Capitão da Fé, enquanto meditava, teve conhecimento disto, e pensou consigo mesmo 'Losaka Tissa passará ho-je; e ho-je de qualquer jeito ele terá o suficiente para comer'. Então ele pega o Ancião e vem para Sāvatthi colher ofertas. Mas, porque Losaka estava com ele, foi em vão que Sāriputra estendeu suas mãos para colher ofertas na populosa Sāvatthi; nem mesmo uma tigela lhe foi dada. Então ele ordenou ao Ancião que voltasse e se sentasse no refeitório do Mosteiro, e coletou comida que enviou com mensagem dizendo que era para ser dada a Losaka. Aqueles a quem ele a deu , pegaram a comida e seguiram seu caminho, mas esquecendo completamente de Losaka, comeram eles mesmos. Então quando Sāriputra apareceu, e estava entrando no mosteiro, Losaka veio a ele e o saudou. Sāriputra parou, e girando disse, “Bem, pegaste a comida, irmão?”

“Sem dúvida, pegarei na hora certa,” disse o Ancião. Sāriputra ficou altamente atribulado, e olhou para ver que hora era. Mas o meio-dia já passara. “Fique aqui, Irmão,” disse Sāriputra; “e não se mexa”; e ele fez Losaka Tissa sentar no refeitório, e saiu para o palácio do rei de Kosala. O rei ordenou que sua tigela fosse pega, e dizendo que já passara do meio-dia e portanto não era hora de comer arroz, ordenou que a tigela fosse cheia dos quatro tipos de comidas doces (mel, ghee, manteiga e açúcar). Com isto ele retorna, e permanece diante dele, tigela na mão, oferecendo ao sábio o quê comer. Mas o Ancião estava envergonhado, por causa da reverência que tinha para com Sāriputra, e não comeria. “Vamos, irmão Tissa,” disse Sāriputra, “devo permanecer com a tigela; senta e coma. Se a tigela deixar a minha mão, tudo nela desaparecerá.”

Então o venerável Ancião Tissa comeu comidas doces, enquanto o elevado Capitão da Fé permanecia segurando a tigela; e graças aos méritos e eficácia deste último a comida não desapareceu. Então o Ancião Losaka Tissa comeu tanto quanto quis e ficou satisfeito, e naquele dia mesmo ele passou com a morte em que cessam todas as existências.

O Buddha Todo-Iluminado permaneceu de pé, e viu o corpo ser cremado; e eles construíram um santuário para as cinzas que foram coletadas.

Sentados em conclave no Salão da Verdade, os Irmãos disseram, “Irmãos, Losaka era azarado, e pouco foi dado a ele. Como pode ele com este azar e esta necessidade ganhar a glória da Arahat(idade)?” Entrando no Salão, o Mestre perguntou sobre o quê falavam; e eles contaram.

“Irmãos,” ele disse, “ações próprias deste Irmão foram as causas de receber tão pouco, e de se tornar um Arahat. Em tempos passados ele impediu que outros recebessem, e daí porque recebeu tão pouco ele mesmo. Mas foi sua meditação no sofrer, na transitoriedade e na ausência de princípio de permanência nas coisas, que fez ele ganhar Arahat(idade) por si mesmo.” E assim falando, ele contou uma história do passado

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Certa vez, nos dias de Buddha Kassapa, havia um Irmão que vivia na cidade e era mantido por um escudeiro do campo. Era regular na conduta como Irmão, virtuoso na vida, e estava preenchido com o transbordamento do insight. Havia também um Ancião, um Arahat, que vivia com os companheiros em igualdade de termos, e que nos dias da história prestou uma primeira visita à cidade onde vivia o escudeiro que amparava este Irmão. Agradou tanto ao escudeiro a postura do Ancião que, tomando a tigela dele, e levando-o para a casa com todos os sinais de respeito convidou-o à comer. Então escutou um curto discurso do Ancião, ao qual concluído disse com um inclinar-se, “Senhor, prego, não viaje além do que nosso mosteiro aqui do lado; ao entardecer irei e lá o chamarei.” Assim foi o Ancião para o mosteiro, saudando o Irmão residente na entrada; e gentilmente pedindo licença, sentou do lado. O Irmão recebeu-o com toda amizade, e perguntou se algum comida fora dada em oferta a ele.
“Ah sim,” respondeu o Ancião. “Onde, prego?” “Pois na cidade aqui junto, na casa do escudeiro.” E assim falando, o Ancião pediu para mostrar sua cela e foi aprontá-la. Então deixando manto e tigela, e sentando-se, absorveu-se em Insight bendito e gozou da benção dos Frutos dos Caminhos.

Ao entardecer veio o escudeiro, com empregados carregando flores e perfumes e lâmpadas e óleo. Saudando o Irmão residente, ele perguntou se o convidado aparecera, um Ancião. Tendo sido dito que sim , o escudeiro perguntou onde ele estava e soube que cela lhe fora dada. Então o escudeiro foi até ao Ancião e, gentilmente inclinando-se primeiro, sentou-se ao lado do Ancião e escutou a um discurso. Ao esfriar da noitinha o escudeiro fez suas ofertas no Topo e na Árvore Bo, acendeu sua lâmpada, e partiu com convite para ambos, Ancião e Irmão, virem a sua casa dia seguinte para comerem.

“Estou perdendo meu sustento com o escudeiro,” pensou o Irmão. “Se este Ancião ficar, serei contado como nada por ele.” Ficou então descontente e passou a maquinar como fazer o Ancião ver que não devia se estabelecer lá. Conformemente, quando o Ancião de manhã cedo veio cumprimentá-lo, o Irmão nem abriu os seus lábios. O Arahat leu os pensamentos do outro e disse a si mesmo, “Este Irmão não sabe que não devo ficar no fogo dele, nem com a família que o sustenta ou com sua Irmandade.” E voltando a sua cela, ele absorveu-se na benção do Insight e na benção dos Frutos.

Dia seguinte, o Irmão residente, tendo batido com muito cuidado o gongo, e dado um tapinha no gongo com as costas da unha, saiu só para a casa do escudeiro. Apanhando dele a tigela, o escudeiro pediu-o que sentasse e perguntou onde estava o estrangeiro.
“Não sei de novas de seu amigo,” disse o Irmão. “Apesar de ter batido o gongo e na porta, não consegui levantá-lo. Presumo somente que a comida gostosa daqui ontem o tenha desagradado e ele tenha ficado mal na cama. Possivelmente tais coisas te indicam algo.”

(Enquanto isto o Arahat, que esperou até a hora de sair para a coleta, já lavara-se e vestira-se e elevando-se com tigela e manto no ar, foi para outro lugar.)

O escudeiro deu ao Irmão arroz e leite para comer, com ghee e açúcar e mel. Depois fez sua tigela ser esfregada com pó perfumado e ser cheia de novo, disse, “Senhor, o Ancião deve estar fatigado com a viagem; leve isto para ele.” Sem objetar o Irmão pegou a comida e seguiu caminho, pensando consigo mesmo, “Se nosso amigo provar isto, nem segurando pelo pescoço e botando ele para fora me livrarei dele. Mas como me livrar disto? Se der para alguma pessoa, será sabido. Se jogar na água, o ghee flutuará na superfície. E simplesmente jogando fora no chão, atrairia todos os corvos do distrito para o lugar.” Em sua perplexidade os olhos caíram num campo que acabara de ser queimado, e virando as cinzas jogou o conteúdo da tigela em um buraco, enchendo de brasas até em cima, e foi para casa. Não encontrando o Ancião lá, ele pensou que o Arahat entendeu seu ciúme e partiu. “Desgraça sobre mim,” ele gritou, “pois minha cobiça me fez pecar.”

E daí em diante dolorosa aflição caiu sobre ele que se tornou como um fantasma vivo. Morrendo logo depois, ele re-nasceu no inferno e foi atormentado por centenas de milhares de anos. Por causa da maturidade do pecado, em quinhentos sucessivos nascimentos ele foi um ogro e nunca teve o suficiente para comer, exceto um dia quando teve mal-estar de restos. Depois por quinhentas existências mais, ele foi cão, e aqui também, apenas um único dia saciou-se – de um vômito de arroz; em nenhuma outra ocasião teve o suficiente para comer. Mesmo quando deixou de ser cão, ele apenas nascia em família mendicante da cidade de Kāsi. Da hora do seu nascimento, a família se tornou ainda mais mendicante, e nunca teve nem metade do mingau de água que queria. E era chamado Mitta-vindaka.

Incapaz por fim de suportar as dores da fome que agora os atingiam, seu pai e sua mãe bateram nele e o mandaram embora, gritando, “Saia, maldição!”

No curso das suas viagens, o pequeno ‘outcast’ chegou em Benares, onde naqueles dias o Bodhisatva era professor de larga fama com quinhentos jovens brahmins para ensinar. Naqueles dias em Benares o povo usava dar todo dia comida comum para as crianças e ensiná-las também de graça, e assim este Mitta-vindaka também se tornou estudante sob a caridade do Bodhisatva. Mas ele era feroz e intratável, sempre brigando com os companheiros e não prestando atenção nas correções do mestre; até a matrícula dele com o Bodhisatva cair. Como brigava muito, e não escutava censura, o jovem acabou fugindo, e chegou numa vila da fronteira e empregou-se para viver, e casou com uma mulher pobre e miserável de quem teve dois filhos. Depois, as pessoas da vila pagaram a ele para ensiná-los a doutrina verdadeira e a que era falsa, e deram-lhe uma cabana para viver na entrada da vila. Mas, tudo porque Mitta-vindaka passou a viver entre eles, a vingança do rei caiu sete vezes sobre a vila, e sete vezes suas casas foram queimadas até o chão; sete vezes também a cisterna deles secou.

Então consideraram o problema e concordaram que não era assim antes da chegada de Mitta-vindaka, mas que assim que ele chegou as coisas passaram de mal a pior. Então com pancadas o atiraram para fora da vila; e ele seguiu com sua família e chegou numa floresta assombrada. E lá os demônios mataram e comeram sua esposa e filhos. Fugindo daí, ele chegou depois de muito vagar a uma cidade na costa chamada Gambhira, chegou no dia em que um barco zarpava para o oceano; e ele se empregou para trabalhar a bordo. Por uma semana o barco seguiu caminho mas no sétimo dia ficou completamente paralisado no meio do oceano, como se houvera encontrado uma rocha. Então jogam as sortes, de modo a livrarem-se de maldição; e por sete vezes as sortes caem em Mitta-vindaka.

Deram-lhe então umas escoras de bambu, e o segurando, jogaram ele para fora do barco. E daí em diante o barco seguiu seu caminho novamente.

Mitta-vindaka agarrou-se nos seus bambus e flutuou nas ondas. Graças a ter obedecido mandamentos nos tempos de Buddha Kassapa, ele encontrou no meio dos oceanos quatro filhas dos deuses que moravam num palácio de cristal, com quem viveu feliz por sete dias. Bem espíritos de palácio só gozam de felicidade sete dias de cada vez; e depois, quando o sétimo dia chega e elas tiveram de partir para sua punição, elas o deixaram com a injunção de esperar elas voltarem. Mas logo que partiram, Mitta-vindaka saiu com seus caibros de bambu e chegou onde oito filhas dos deuses moravam em um palácio de prata. Deixando estas por sua vez, chegou onde moravam dezesseis filhas dos deuses em um palácio de jóias, e e daí onde moravam trinta e duas em um palácio de ouro. Sem prestar atenção as palavras delas, novamente ele navega e chega numa cidade de ogras, no meio de ilhas. E lá uma ogra vagava na forma de cabra. Sem saber que era uma ogra, Mitta-vindaka pensou em fazer comida da cabra, e segurou a criatura pela perna. Direto, em virtude da natureza demoníaca dela, ela o atirou para cima e por cima do oceano e arremessado ele caiu numa moita de espinhos nas encostas do fosso seco de Benares, e daí rolou para terra.

Bem aconteceu de naqueles dias ladrões freqüentarem aquele fosso e terem matado o Rei dos bodes; e os pastores de cabras escondiam-se ali para apanharem os ladrões tratantes.

Mitta-vindaka levantou-se e viu as cabras. E pensou consigo mesmo, “Bem, foi uma cabra numa ilha no meio do oceano que sendo pega pela perna, jogou-me aqui por cima dos mares. Talvez, s’eu fizer o mesmo com uma destas cabras, eu possa ser jogado de volta novamente para onde as filhas dos deuses moram em seus palácios no oceano.” Então, sem pensar, ele pega uma das cabras pela perna. A cabra berra, e os pastores de cabra correm de todos os lados. Pegam ele, ritando, “Este é o ladrão que há pouco vivia do Rei dos bodes.” E bateram nele e começaram a amarrá-lo para levar ao Rei.

Justo naquela hora o Bodhisatva, com seus quinhentos jovens Brahmins ao redor, vinha saindo da cidade para banharem-se. Vendo e reconhecendo Mitta-vindaka, ele diz aos pastores, “Pois este é um pupilo meu, meus bons homens; por quê o prendem?” “Mestre,” eles disseram, “pegamos este ladrão no ato de segurar a perna da cabra, e por isto o prendemos.” “Bem,” disse o Bodhisatva, “suponho que possas passá-lo para nós para viver como nosso empregado.” “Está certo, senhor,” responderam os homens, e deixando seu prisioneiro sair, seguiram caminho. Então o Bodhisatva perguntou Mitta-vindaka onde ele esteve naquele tempo todo; e Mitta-vindaka contou a ele tudo que tinha feito.
“É por não escutar aqueles que o desejavam bem,” disse o Bodhisatva, “que ele sofreu todos estes infortúnios.” E ele repetiu esta estrofe:-

A pessoa teimosa que quando exortada presta
Nenhuma atenção à amigos que gentis conselhos lhe dão
Certamente se machucará, - como Mittaka,
Quando pela perna segurou a cabra que pastava.

E naqueles dias ambos o Professor e Mitta-vindaka passaram, e seus lotes do além foram de acordo com seus méritos.

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Disse o Mestre, “Este Losaka foi a causa ele mesmo de ambos de ter pouco e de ter Arahat(idade).” Sua lição terminada, ele mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “O Ancião Losaka Tissa era Mitta-Vindaka daqueles dias, e eu o professor famoso.”

[ n. do tr. : Jātakas // com diferentes versões da mesma história: 82, 104, 369, 439, o mesmo encanto em várias contas. Entre os gregos, a Phinéias o profeta também fugia a comida da tigela, roubada pelas harpias que voavam : os filhos do vento Norte, Bóreas, com asas nos pés, os gêmeos atenienses (o pai raptara a mãe princesa de Atenas), Zetes e Calais, voam atrás das harpias e as matam e Phinéias enfim pode comer (cf. 'A viagem da Argo' de Apolônio de Rhodes). Jonas (João) o profeta bíblico também é atirado ao mar, escolhido pela sorte.]







domingo, 27 de janeiro de 2008

39 Buddha Escudeiro



39
Me parece que o ouro...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um pupilo co-residente de Sāriputra.

Tradição diz que este Irmão era manso, dócil e zeloso em ajudar o Ancião. Bem, em uma ocasião o Ancião partiu com o consentimento do Mestre, em coleta de ofertas chegando ao Sul de Magadha.

Quando chegou lá, aquele Irmão ficou tão arrogante que não fazia o quê o Ancião lhe pedia. Além do mais, se a ele se dirigisse dizendo, “Senhor, faça isso,” ele brigava com o Ancião. O Ancião não conseguia entender o quê o estava possuindo.

Após fazer a peregrinação naqueles lados, ele voltou de novo para Jetavana. No momento em que estava de volta ao mosteiro de Jetavana, o Irmão se tornou novamente o quê sempre tinha sido.

O Ancião contou isto ao Buddha, dizendo, “Senhor, um co-residente meu fica em um lugar como um empregado a quem se paga cem dinheiros, e em outro, tão arrogante que uma ordem para fazer qualquer coisa o faz brigar.”

Disse o Mestre, “Esta não é a primeira vez, Sāriputra, que ele se mostra deste jeito; no passado também, se ele fosse a um lugar, era como um empregado a quem se paga cem dinheiros, enquanto, se fosse para outro lugar, ele se tornava briguento e litigioso.” E, assim dizendo, ao pedido do Ancião, ele contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida novamente como um escudeiro. Um outro escudeiro, um amigo deste, era ele mesmo um senhor ancião, mas tinha uma jovem esposa que deu a ele um filho e herdeiro. Disse o senhor ancião para si mesmo, “Assim qu’eu morrer, esta garota, sendo jovem como é, casará Deus sabe lá com quem, e gastará todo meu dinheiro, ao invés de transmiti-lo ao meu filho. Não seria melhor enterrar meu dinheiro em segurança no chão?”

Então, em companhia de um empregado da casa chamado Nanda, ele foi para a floresta e enterrou suas riquezas em um determinado lugar, dizendo ao empregado, “Meu bom, Nanda, revele este tesouro para meu filho após eu ter partido, e não deixe a floresta ser vendida.”

Depois de dar esta instrução ao empregado, o senhor ancião morreu. No devido tempo seu filho cresceu, e sua mãe disse a ele, “Meu filho, seu pai, na companhia de Nanda, enterrou o dinheiro dele. Pegue de volta e cuide das propriedades da família.” Então um dia disse a Nanda, “Irmãozinho, existe algum tesouro que meu pai enterrou?” “Sim, meu senhor.” “Onde está enterrado?” “Na floresta, no mato, meu senhor.” “Bem, então, vamos lá.” E pegou pá e uma cesta e indo para o lugar disse a Nanda, “Bem, irmãozinho, onde está o dinheiro?” Mas na hora que Nanda ficava justamente no chão que estava em cima do tesouro, ficava tão envaidecido com o dinheiro que abusava do seu mestre, dizendo, “Você, servente, filho de camponesa! Como conseguirias dinheiro aqui?”

O jovem nobre, fingindo não ter escutado a insolência, simplesmente disse, “Voltemos então,” e levou o empregado de volta com ele. Dois ou três dias depois, eles voltaram ao local; mas novamente Nanda abusou dele, como antes. Sem revidar o xingamento, o jovem nobre voltou e revirava o assunto na sua mente. Pensava consigo mesmo, “No começo, este empregado sempre pretende revelar onde o dinheiro está; mas logo que chega no lugar, então ele começa a me xingar. Não vejo a razão disto; mas poderei descobrir se perguntar ao escudeiro, velho amigo de meu pai.” E assim foi ao Bodhisatva e colocando para ele todo o assunto, perguntou a seu amigo qual seria a real razão de tal comportamento.

Disse o Bodhisatva, “O lugar em que Nanda está quando te xinga, meu amigo, é o lugar onde o dinheiro de teu pai está enterrado. Portanto, logo que ele comece a xingá-lo, diga a ele, ‘Com quem estais falando, seu escravo?’ Empurre-o de onde ele está pendurado, pegue a pá, cave fundo, remova o tesouro de sua família, e faça o empregado carregá-lo para você até em casa.” E assim dizendo, ele repetiu esta estrofe:-

Me parece que ouro e jóias jazem enterrados
Onde Nanda, nascido escravo, grita tão alto!

Tomando respeitável licença do Bodhisatva, o jovem nobre foi para casa, e pegando Nanda foi para o lugar onde o dinheiro estava enterrado. Fielmente seguindo o conselho que recebera, tirou o dinheiro fora e cuidou da propriedade da família. Ele permaneceu constante nos conselhos do Bodhisatva, e após despender a vida em caridade e obras boas ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Disse o Mestre, “No passado também este homem foi similarmente disposto.” Sua lição terminada, ele mostrou a conexão, e identificou o Jātaka, dizendo, “O co-residente de Sāriputra era Nanda daqueles dias, e eu o sábio e bom escudeiro.”











sábado, 26 de janeiro de 2008

38 Buddha Fada d'árvore



38
Engano não lucra...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre um Irmão alfaiate.

Tradição diz que em Jetavana morava um Irmão que era extremamente hábil em trabalhos realizados com pano, tais como cortar, juntar, arranjar e alinhavar. Por causa desta habilidade ele costumava fazer roupas e semelhantes e recebeu o nome de ‘Alfaiate de mantos.’ O quê, você pergunta, ele fazia? – Bem, ele exercitava seu ofício em trapos velhos e transformava em mantos novos e belos, que após o tingimento, enriquecia na cor com uma lavagem contendo um pó para valorizar a roupa, envolta como com uma concha, até torna-la esperta e atraente. E então deixava o artesanato do lado.

Ignorantes da feitura de roupas, os Irmãos usavam vir a ele com tecidos novos de pano, dizendo, “Não sabemos fazer roupas; faça-as para nós.” “Senhores,” ele respondia, “uma roupa leva muito tempo para ser feita; mas tenho uma que acabei de fazer. Podem levá-la, se deixarem estes panos em troca.” E, assim falando, ele traz a roupa para fora e mostra-lhes. E eles, percebendo apenas sua bela cor, e não sabendo de nada de como fora feita, pensavam que era uma roupa boa e forte, e então trocaram os panos novos com o ‘Alfaiate de mantos’ e saíram com o manto que ele dera a eles.

Quando ficou sujo e estava sendo lavado em água quente, revelou seu caráter verdadeiro, e as costuras alinhavadas ficaram visíveis aqui e lá. Então os proprietários se arrependeram da barganha. Em todo lugar este Irmão ficou conhecido por lesar deste jeito os que vinham até ele.

Bem, havia um alfaiate de manto numa aldeia que lesava todos justo como o irmão fazia em Jetavana. Os amigos deste homem entre os Irmãos disseram a ele, “Senhor, eles dizem que em Jetavana há um alfaiate de manto que lesa a todos justo como tu.” Atingiu-lhe um pensamento, “Vamos agora, que eu lese este homem da cidade!” então ele fez de trapos velhos um manto bem fino, que tingiu em bela cor laranja. Colocou o manto e foi para Jetavana. No momento que o outro o viu, o cobiçou, e disse ao dono, “Senhor, me dê este manto; pode pegar outro no lugar.” “Mas, senhor, para nós Irmãos do campo é difícil arranjar Requisitos; se ter der isto, o quê vestirei?” “Senhor, tenho panos novos no meu alojamento; pegue-os e faça um manto para ti.” “Reverendo senhor, aqui mostro meu artesanato; mas se falas assim, que posso fazer? Pegue.” E tendo deste jeito lesado o outro trocando trapos velhos por panos novos, saiu fora.

Depois de vestir a roupa remendada, o homem de Jetavana não muito depois lavou-a em água quente quando percebeu ser de trapos, velhos; e foi humilhado. Toda a Irmandade escutou as novidades que o homem de Jetavana fora lesado pelo alfaiate de manto do campo.

Bem, um dia os Irmãos estavam sentados no Salão da Verdade, discutindo quando o Mestre entrou e perguntou o quê discutiam; e contaram a ele tudo sobre.

Disse o Mestre, “Irmãos, não foi a única vez em Jetavana que houve destes truques do alfaiate de manto para enganar; em tempos passados também ele fez o mesmo, e, foi lesado como agora pelo homem do campo, como o foi também em dias passados.” E assim falando, contou uma história do passado.

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Certa vez o Bodhisatva veio à vida em um certo refúgio na floresta como Fada d'árvore de uma certa árvore que estava num certo lago de lótus. Naqueles dias a água costumava todo verão cair lentamente num certo lago, não muito grande, - que tinha estoque abundante de peixe. Vendo estes peixes, uma garça disse para si mesma, “Tenho que achar um jeito de engambelar e comer estes peixes.” Então ela foi e sentou em profundo pensar do lado da água.

Bem quando os peixes a viram, disseram, “Pensas em que, meu senhor, sentado aí?” “Penso em vocês,” foi a resposta. “E qual será este pensar senhorial sobre nós?” “A água neste lago sendo pouca, comida escassa, e o calor intenso, - pensava comigo mesma aqui, o quê vocês peixes farão.” “E o quê podemos fazer, meu senhor?” “Bem, se vocês aceitarem meu conselho, pegarei vocês um a um no bico, e carregarei vocês todos para um lago belo e largo coberto com as cinco variedades de lótus, e lá os deixarei.” “Meu senhor,” eles disseram, “nenhuma garça jamais teve a menor preocupação com peixes desde que o mundo começou. Você deseja é comer-nos um a um.” “Não; não comerei se acreditares em mim,” disse a garça. “Se vocês não acreditam na minha palavra que existe tal lago, mande alguém de vocês ir comigo lá em tal lago, envia um de vós para ver por si mesmo.”

Acreditando na garça, os peixes apresentaram a ela um baita dum peixão (aliás, cego de um olho), que pensavam seria páreo para a garça mesmo fora d’água; e eles disseram, “Vai este aqui contigo.”

A garça tirou o peixão fora e o colocou no outro lago, e após mostrá-lo toda a extensão, trouxe de volta, e o colocou no lago anterior com os outros peixes. E contou a todos os encantos do novo lago.
Após o relato, eles ficaram ansiosos para lá ir, e disseram à garça, “Muito bem, meu senhor; por favor atravesse-nos.”

Primeiro de todos a garça pegou o peixão de um olho de novo e carregou-o para a borda do lago de onde ele via a água, mas na realidade pendurou numa árvore Varana que crescia na margem.

Colocando o peixe de cabeça para baixo numa forquilha da árvore, ela o pendurou para morrer, - após o quê comeu com o bico o peixe todo e deixou os ossos caírem aos pés d'árvore. E voltou e disse, “Joguei ele lá; quem é o próximo?” E assim ela/ele tomou os peixes um a um, e comeu todos, até que por fim quando voltou não achou nenhum. Mas havia ainda um caranguejo que ficou no lago; então a garça que queria comer ele também, disse, “Senhor Caranguejo, peguei todos aqueles peixes e levei para um lago belo e largo coberto de cinco tipos de lótus. Venha; levarei você também.” “Como me carregarás?” disse o caranguejo. “Pois, no meu bico, com certeza,” disse a garça. “Ah, você assim me deixaria cair,” disse o caranguejo; “Não quero ir com você.” Pensou o caranguejo consigo mesmo, “Ele não colocou os peixes no lago. Mas se realmente ele me colocasse seria excelente. Se ele não colocar, - pois corto a cabeça dele fora e mato-o.” Então falou para a garça, “Nunca serias capaz de me segurar apertado o suficiente, amiga garça; enquanto que nós caranguejos temos um apertar forte e seguro. Se puder segurar seu pescoço com minhas garras, teria firmeza e poderia ir contigo.”

Sem suspeitar que o caranguejo queria enganá-la, a garça consentiu. Com suas garras o caranguejo agarrou no pescoço da garça como pinças de um ferreiro, e disse, “Agora pode partir.” A garça levou-o e mostrou-o o lago primeiro e depois subiu para a árvore.

“O lago lá descansa, irmãzinha,” disse o caranguejo; “mas levas-me para outro lado.” “Sua irmãzinha eu sou mesmo! disse a garça; “e meu sobrinho és tu! Suponho que pensas que sou seu escravo para levá-lo e carregá-lo por aí! Apenas olhe para o monte de ossos no pé da árvore; comi todos aqueles peixes, e também comerei você.” Disse o caranguejo, “Foi por causa da loucura deles que estes peixes foram comidos por ti; mas não te darei a mínima chance de me comer. Não; o quê devo fazer é matar-te. Pois tu, tolo que és, não vê que estou te enganando. Se morrermos, morreremos os dois juntos; eu cortarei tua cabeça fora.” E assim dizendo ele apertou a raquítica garça com sua garras como pinças fossem. Com a boca largamente aberta, e lágrimas correndo dos olhos, a garça, temendo pela vida, disse, “Senhor, realmente não te comerei ! Poupe minha vida!”

“Bem, então, apenas pouse no lago e deixe-me lá entrar,” disse o caranguejo. Então a garça retornou e voltou para o lago direto, e deixou o caranguejo no mangue, na borda d’água. Mas o caranguejo, antes de entrar na água, habilmente podou a cabeça da garça como se cortasse um caule de lótus com uma faca.

A Fada d'árvore, que nela morava, marcando esta coisa maravilhosa, fez a floresta toda soar de aplauso repetindo esta estrofe em doces tons:-

Engano não lucra à pessoa enganosa.
Marquem o quê a enganosa garça obteve do caranguejo!

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“Irmãos,” disse o Mestre, “não é esta a primeira vez que este sujeito foi enganado pelo alfaiate de manto do campo; no passado foi lesado da mesma maneira.” Sua lição terminada, ele mostrou a conexão, e identificou o Jātaka, dizendo, “O alfaiate de manto de Jetavana era a garça daqueles dias, o alfaiate de manto do campo era o caranguejo, e eu mesmo a Fada d'árvore.”








37 Buddha Perdiz



37
Pois aqueles que honram idade...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto a caminho de Sāvatthi, sobre o modo como o Ancião Sāriputra dormiu na rua.

Pois quando Anātha-pindika construiu seu mosteiro, e mandou avisar que estava pronto, o Mestre deixou Rājagaha e veio para Vesāli, colocando-se em viagem novamente depois de aí ficar a bel prazer. Foi quando os discípulos dos Seis correram na frente e, antes que quartos pudessem ser dados os Anciãos, monopolizaram o conjunto dos aposentos, que distribuíram entre seus superiores, seus professores e para eles mesmos. Quando os Anciãos chegaram mais tarde, não encontraram quartos para passar a noite. Até os discípulos de Sāriputra, depois de muito buscarem, não puderam encontrar aposentos para o Ancião. Ficando sem quarto, o Ancião passou a noite ao pé de uma árvore próxima ao quarto do Mestre, ao andando ao redor da árvore ou sentado ao pé da árvore.

Aurora o Mestre tossiu quando saiu. O Ancião tossiu também. “Quem ‘tá aí?” perguntou o Mestre. “É Sāriputra, senhor.” “Que ‘cê ‘tá fazendo aqui a esta hora, Sāriputra?” Então o Ancião contou a história ao final da qual o Mestre pensou, “Mesmo agora, ainda enquanto ainda estou vivo, os Irmãos perdem a cortesia e a subordinação; o quê eles não farão quando eu tiver morrido e partido?” E o pensamento o encheu de ansiedade pela Verdade. Logo que veio o dia, fez reunir a assembléia dos Irmãos, e os perguntou dizendo, “É vero, Irmãos, como escuto, que os discípulos dos Seis correram na frente e deixaram os Anciãos entre os Irmãos dormindo à noite à rua?” “É vero, Bento,” foi a resposta. Por isto com uma censura aos discípulos dos Seis e como lição a todos, ele se dirigiu aos Irmãos e disse, “Digam-me, quem merece o melhor aposento, a melhor água, e o melhor arroz, Irmãos?”

Alguns responderam, “Aqueles que eram nobres antes de tornarem-se Irmãos.” Outros disseram, “Aquele que originalmente era brahmin, uma pessoa de meios.” Outras severamente disseram, “A pessoa versada nas Regras da Ordem; a pessoa que pode expor a Lei; as pessoas que alcançaram o primeiro, segundo, terceiro e quarto estágio do ênstase místico.” Enquanto outros disseram, “A pessoa no Primeiro, Segundo, ou Terceiro Caminho da Salvação, ou um Arahat; alguém que saiba as Três Grandes Verdades; alguém que tenha os Seis Altos Conhecimentos.”

Após os Irmãos terem colocado a quem pensavam seriamente tinha a precedência em matéria de alojamento e similares, o Mestre disse, “Na religião que ensino, o padrão da precedência em matéria de alojamento e similares não é dada, por nobre nascer, ou ter sido brahmin, ou ter posses antes de entrar na Ordem; o padrão não é a familiaridade com as Regras da Ordem , com os Sutras, ou com os Livros Metafísicos (as três cestas, tri pitakas) ; nem está no atingir quaisquer dos quatro estágios de ênstase místico, ou de andar em quaisquer dos Quatro Caminhos da salvação. Irmãos, na minha religião é antiguidade que clama respeito em palavra e ato, saudação, e serviço devido; são os mais velhos que devem gozar do melhor alojamento, da melhor água, e do melhor arroz. Este é o padrão verdadeiro, e portanto o Irmão mais velho deve ter estas coisas. Contudo, Irmãos, aqui está Sāriputra, que é meu discípulo chefe, que girou a Roda da Verdade Menor, e que merece alojamento junto do meu. E Sāriputra passou esta noite sem quarto ao pé de uma árvore! Se vocês faltam ao respeito agora, como será o comportamento de vocês depois?”

E para posterior instrução, ele disse, “Em tempos passados, Irmãos, mesmos os animais chegaram a conclusão que era impróprio a eles, viver sem respeito e subordinação mútua, ou sem ordenar a vida comum; estes animais mesmos resolveram encontrar entre eles, quem era o mais velho, e então mostrar-lhe todos os tipos de reverência. Então pesquisaram a matéria, e tendo encontrado quem entre eles era o sênior, apresentaram-lhe todas as formas de reverência, de onde passaram ao terminar aquela vida para o céu das gentes.” E assim dizendo, ele contou esta história do passado.

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Certa vez, junto de uma grande árvore banian nas encostas dos Himālaias , moravam três amigos, - uma perdiz, um macaco, e um elefante. E vieram a perder respeito e subordinação um pelo outro, e desordenaram a vida comum. E veio-lhes o pensamento de que não era conveniente para eles viverem deste jeito, e teriam de descobrir quem entre eles era o sênior, o mais velho, e honrá-lo.

Enquanto pensavam quem era o mais velho, um dia uma ideia atingiu-lhes. Disse a perdiz e o macaco ao elefante quanto os três sentavam juntos ao pé da árvore banian, “Amigo, quão grande era esta árvore banian na sua primeira memória?” Disse o elefante, “Quando eu era bebê, esta árvore banian era um mero arbusto, por cima do qual passava andando; se parava em cima dela, seus ramos mais altos alcançavam minha barriga. Lembro dela quando mero arbusto.”

Depois ao macaco foi feito a mesma pergunta pelos outros dois; e ele respondeu, “Meus amigos, quando ainda pequenino, tinha só que esticar o pescoço parado no chão , e podia comer os brotos desta banian. De modo que conheço esta banian desde pequenina.”

Então à perdiz foi feita a mesma pergunta pelos outros dois; e ela disse, “Amigos, antes havia uma grande árvore banian em tal e tal lugar; comi as sementes dela, as evacuei aqui; que é a origem desta árvore. Portanto conheço esta árvore antes dela nascer e sou mais velhos que vocês dois.”

Daí o macaco e o elefante disseram à perdiz sábia, “Amiga, és a mais velha. Portanto deves ter de nós atos de honra e veneração, marcas de obediência e homenagem, respeito na palavra e ato, saudação e tudo que é devido; e seguiremos seus conselhos. Você da sua parte agradar-se-á em dar conselhos quando precisarmos.”

Daí em diante a perdiz deu-lhes conselhos, e estabeleceu-os nos Mandamentos, que ela também seguia e mantinha. Estando estabelecidos nos Mandamentos, e sendo respeitáveis e subordinados uns aos outros, com ordem própria na vida comum, estes três asseguraram-se renascer no céu ao término da vida.

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“Os esforços destes três” – continuou o Mestre – “veio a ser conhecido como a ‘Santidade da Perdiz,’ e se estes três animais, Irmãos, viveram juntos em respeito e subordinação, como podem vocês, que abraçaram uma Fé as Regras da qual são bem conhecidas, vivem juntos sem respeito e subordinação? De agora em diante, ordeno, Irmãos, que à antiguidade devem ser prestados respeitos de palavra, ação, saudação, e tudo devido; tal antiguidade deve ter o título do melhor alojamento, a melhor água, e o melhor arroz; e que nunca mais um ancião durma na rua lugar preterido por jovens. Quem quer que faça um ancião dormir na rua comete ofensa.”
Foi no fechar desta lição que o Mestre, como Buddha, repetiu esta estrofe:-

Pois aqueles que honram idade, são versados em Verdade;
Louvor agora, benção depois, são seus prêmios.

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Quando o Mestre terminou de falar da virtude de reverenciar idade, ele fez a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Moggaallāna era o elefante naqueles dias, Sāriputra o macaco, e eu mesmo a sábia perdiz.”

 [ n. do tr. : nota-se a origem do velho ditado, 'quem cospe a semente é que é dono da fruta'.]












quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

36 Buddha Pássaro


         
36
Ei moradores do ar ...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Irmãos cuja cela queimou.

Tradição diz que um Irmão, tendo recebido um tema de meditação do Mestre, foi de Jetavana para a terra de Kosala e lá morou numa cabana na floresta na borda da vila. Bem, durante o seu primeiro mês de moradia lá a cela pegou fogo. Ele contou aos camponeses, dizendo, “Minha cela pegou fogo; vivo sem conforto.” Eles disseram, estamos na seca agora; te ajudaremos quando tivermos aos campos irrigados.” Quando a irrigação tinha terminado, disseram que tinham que plantar; quando o plantio terminou, tinham que levantar cercas; quando as cercas estavam levantadas, tinham que foiçar, colher e debulhar; até que com um trabalho após o outro, passou-se três meses inteiros.

Depois de três meses dormindo ao ar livre em desconforto, aquele Irmão desenvolveu seu tema de meditação mas não podia seguir adiante. Então, após o festival Pavāranā que termina a Estação das Chuvas, ele voltou para o Mestre, e, com saudação devida, sentou no lado. Depois de gentis palavras de boas vindas, o Mestre disse, “Bem, Irmão, viveste feliz durante a estação das chuvas? Seu tema de meditação terminou em sucesso?” O Irmão contou a ele tudo que aconteceu, adicionando, “Como não tinha morada adequada, o tema de meditação não seguiu adiante.”

Disse o Mestre, “Em tempos passados, Irmão, mesmo os animais sabiam o que era adequado e não. Como você não soube?” E assim falando, contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatta reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como pássaro e viveu ao redor de uma árvore gigante com largos ramos, à frente de uma companhia de pássaros. Um dia, quando os ramos da árvore roçavam-se um no outro, e a poeira começou a cair e logo veio a fumaça. O Bodhisatva consciente disto, pensou consigo mesmo: - " Se estes dois galhos roçarem-se um contra o outro deste jeito farão fogo; e o fogo tomará conta das folha velhas, e toda a árvore queimará. Não podemos viver; a coisa certa a fazer é apressar-nos para outro lugar." E repetiu esta estrofe à companhia dos pássaros:-

Ei moradoresdo ar, que nestes ramos
buscam morada, marquem as sementes de fogo
que esta árvore terrena está alimentando! Busquem abrigo :
- em vôo ! Nossa acreditada fortaleza ancora a morte!

Os sábios pássaros que seguiam os conselhos do Bodhisatva, de uma vez só elevaram-se nos ares e foram a outro lugar em sua companhia. Mas os tolos disseram, “É sempre assim com ele; está sempre vendo crocodilos numa poça d’água.” E eles, não escutando as palavras do Bodhisatva, ficaram onde estavam. Num curto tempo, justo como o Bodhisatva previu, chamas realmente irromperam, e a árvore pegou fogo. Quando a fumaça e a chama irromperam, os pássaros, cegos pela fumaça, foram incapazes de fugir; um a um foram caindo nas chamas e sendo destruídos.

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“Assim, Irmãos,” disse o Mestre, “em tempos passados mesmo os animais que moravam no topo da árvore, sabiam o quê era adequado e não. Como você não soube?” Sua lição terminada, ele pregou as Verdades, no final das quais aquele Irmão ganhou o Fruto do Primeiro Caminho. Também, o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Os discípulos do Buddha eram então os pássaros que escutavam ao Bodhisatva, e eu mesmo era o sábio e bom pássaro.”

[ n. do tr. : outro adágio popular em que se vê as origens, 'ver crocodilo em poça d'água' virou 'ver tempestade em copo d'água'.  ]











quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

35 Buddha Codorna : o Ato de Verdade.




35
Com asas que não voam...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre, enquanto em coleta de ofertas por Magadha, sobre um fogo que corria na floresta. Certa vez o Mestre, enquanto em coleta de oferta por Magadha, de manhã entrou no campo daquela cidade na coleta; na volta, depois de ter comido, voltou seguido da companhia dos Irmãos. Justo então pegou fogo e grande. Haviam numerosos Irmãos à frente do Meste e atrás. E veio o fogo, espalhando-se largo e rápido, até que era tudo um lençol de chama e fumaça. Aí, alguns Irmãos inconversos foram tomados do pânico da morte. “Vamos fazer um fogo contra,” eles gritaram; “e então o fogo grande não se espalhará no chão já queimado.” E, com esta visão, passaram a acender um fogo com seus paus de fazer fogo.

Mas outros disseram, “O quê que é isto que vocês fazem, Irmãos? Vocês são como aqueles que não notam a lua no meio do céu, ou a órbita do sol com miríades de raios no leste, ou o mar em cujas praias estão, ou Monte Sineru, elevando-se diante dos olhos,- quando, viajando na companhia daquele que é incomparável entre os devas e gentes, ambos, vocês nem pensam no Buddha Todo Iluminado mas gritam, ‘Façamos um fogo!’ Não conhecem vocês o poder do Buddha! Venham, vamos ao Mestre.” Então, reunindo-se à frente e às costas, os Irmãos cercaram o Senhor da Sabedoria. Em determinado lugar o Mestre parou, com esta poderosa reunião de Irmãos ao redor. E as chamas rolavam, rugindo como se fosse devorá-los. Mas quando elas aproximaram-se do lugar em que o Buddha parou, elas não aproximaram mais que dezesseis distâncias, e lá e então apagou, - como uma tocha colocada na água. Não tinha poder para espalhar num espaço de trinta e duas distâncias em diâmetro.

Os Irmãos explodiram em louvores ao Mestre, dizendo, “Oh! Como são grandes as virtudes de um Buddha! Pois, mesmo este fogo, apesar de sem senso, não pode espalhar-se pelo lugar onde um Buddha está, mas apagou-se como uma tocha na água. Oh! Como são maravilhosos os poderes de um Buddha!”

Escutando as palavras deles, o Mestre disse, “Não é poder presente meu, Irmãos, que faz este fogo afastar-se de alcançar este lugar no chão. É o poder de um anterior ‘Ato de Verdade’ meu. Pois neste lugar nenhum fogo queimará por todo um aéon inteiro, - o milagre sendo um daqueles que dura um éon.” (Cf. Jātaka 20 do macaco com canudinho).

Então o Ancião Ānanda dobrou um manto em quatro e espalhou para o Mestre sentar. O Mestre tomou seu lugar. Inclinando-se diante do Buddha que sentava de perna cruzada lá, os Irmãos também sentaram ao redor dele. Então eles perguntaram a ele, dizendo, “Só o presente nos é conhecido, senhor; o passado, escondido. Fazei-o conhecido.” E, ao pedido deles, contou uma história do passado.

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Certa vez neste mesmo lugar em Magadha, foi como codorna que novamente o Bodhisatva veio à vida. Quebrando a casca para sair fora da concha do ovo em que nascia, tornou-se uma jovem codorna, larga como uma bola grande. E seus pais o mantiveram no ninho, enquanto o alimentavam com comida que traziam no bico. Nele mesmo não tinha forças para abrir espalhar as asas e voar pelos ares, ou levantar a pata e andar no chão. Ano após ano aquele lugar era devastado por incêndio florestal; e foi justo desta vez que as chamas se espalharam nela com um rugido poderoso. Os bandos de pássaros, atirando-se de seus muitos ninhos, foram tomados de pânico da morte, e voavam gritando. O pai e a mãe do Bodhisatva estavam tão aterrorizados como os outros e fugiram, abandonando o Bodhisatva. Deitado lá no ninho, o Bodhisatva esticou seu pescoço e vendo as chamas se espalharem em torno dele, pensou consigo mesmo, “Tivesse eu poder de espalhar as asas e voar, voaria para a segurança então; ou, se pudesse mover as pernas e andar, escaparia andando para outro lugar. Contudo, meus pais, tomados de medo da morte, fugiram e se salvaram, deixando aqui completamente só no mundo. Estou sem protetor ou ajudante. O quê, então, devo fazer neste dia?”

Então este pensamento veio a ele:- "Neste mundo existe o quê se chama a Eficácia da Bondade, e o que se denomina a Eficácia da Verdade. Há aqueles que, por terem realizados as Perfeições em tempos passados, atingiram a Iluminação debaixo da árvore-Bo; quem, tendo ganhado o Livramento pela bondade, tranquilidade e sabedoria, possui também discernimento do saber deste Livramento; quem está cheio de verdade, compaixão, paciência e piedade; cujo amor abraça todas as criaturas igualmente; a quem os homens chamam Buddhas oniscientes. Há uma eficácia nos atributos que eles ganharam. E também apreendo uma verdade; sustento e creio em um único princípio na Natureza. Assim chamo a mente os Buddhas do passado, e a Eficácia que ganharam, e segurando a crença verdadeira que está em mim tocando o princípio da Natureza; e por um Ato de Verdade fazer as chamas se afastarem, salvando a mim e aos outros pássaros."
Daí é dito:-

Há graça salvadora na Bondade neste mundo;
Há verdade, compaixão, pureza de vida.
Daí, obrarei um impecável Ato de Verdade.

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Lembrando da força da Fé, e pensando
Naqueles que triunfaram em dias passados,
Fortes na verdade, um Ato de Verdade obro.

Conformemente, o Bodhisatva, chamando a mente a eficácia dos Buddhas há muito passados, realizou um Ato de Verdade em nome da fé verdadeira que nele havia, repetindo esta estrofe:-

Com asas que não voam, patas que não andam,
Abandonado pelos pais, aqui deito!
Portanto a ti conjuro, temível Senhor do Fogo,
Primaeval Jātaveda, volte! Retorne!

Ao mesmo tempo que realizava seu Ato de Verdade, Jātaveda voltava dezesseis distâncias; e retornando, as chamas não passaram para a floresta devorando tudo no caminho. Não; ela apagou lá e então, then and there, como uma tocha colocada na água. Portanto se diz:-

Obrei meu Ato de Verdade, e daí
O lençol de chama ardente deixou dezesseis distâncias
Incólume,- como chama colocada na água e apagada.

E como aquele lugar escapou do fogo por todo um aéon, o milagre é chamado um ‘milagre de aéon’. Quando sua vida terminou, o Bodhisatva, que realizou o Ato de Verdade, passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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“Assim Irmãos,” disse o Mestre, “não é poder presente meu mas a eficácia de um Ato de Verdade realizado por mim quando codorna filhote, que fizeram as chamas afastarem-se deste lugar na floresta.” Sua lição terminada, ele prega as Verdades, no final das quais alguns ganham o Primeiro, alguns o Segundo, alguns o Terceiro Caminho, enquanto outros tornaram-se Arahats. Também o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Meus pais atuais eram os pais daqueles dias, e eu mesmo era o rei das codornas.”
(Cf. Jātaka 75 para Jātaveda como Senhor Fogo, com uso similar do arcaico nome Pajjunna.)







terça-feira, 22 de janeiro de 2008

34 Buddha e o Lamento do Peixe


34
Não é o frio...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre ser levado pela esposa da vida mundana de antes de juntar-se a Irmandade. Disse o Mestre nesta ocasião, “É vero, como escuto, Irmão, que estais apaixonado?”
“Sim, Bento.”
“Por causa de quem?”
“Minha antiga esposa, senhor, é doce de tocar; não posso largá-la !” Então disse o Mestre, “Irmão, esta mulher te machuca. Foi por ela que em tempos atrás, também estavas encontrando o teu fim, quando te salvei.” E assim dizendo ele contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio a vida como padre da sua família.

Naqueles dias uns pescadores jogaram a rede no rio. E um baita de um peixe grande vinha brincando amorosamente com sua esposa. Ela, cheirando a rede enquanto nadava à frente dele , fez uma volta e escapou. Mas seu esposo amoroso, cego pela paixão, navegou direto para as malhas da rede. Logo que os pescadores o sentiram na rede, a puxaram, e tiraram o peixe fora; não o mataram logo, mas o atiraram n’ areia. “Vamos cozinhá-lo na brasa e comer,” eles disseram; e  passaram a fazer espeto e juntar graveto para assá-lo. O peixe lamentou dizendo para si mesmo, “Não é a tortura das brasas ou a angústia do espeto ou qualquer outra dor que me aflige; mas o pensar estressante que minha esposa esteja infeliz na crença que fugi com outra.” E repetiu esta estrofe:

Não é o frio nem o calor nem a rede que ferem;
Mas o temor de minha querida esposa pensar
Que outro amor fisgou o esposo dela.

Justo então o padre passava na margem do rio com seus ajudantes para banhar-se. Bem, ele entendia a linguagem de todos os animais. Por isto, escutando o lamento do peixe, pensou consigo mesmo, "Este peixe está chorando o lamento da paixão. Se ele morrer neste estado de mente, não escapará a renascer nos ínferos. Vou salvá-lo!" Então ele foi aos pescadores e disse, “Meus senhores, vocês não fornecem peixe todo dia para nosso curry?” “Que dizes, senhor?” disseram os pescadores; “prego, pegue o peixe que quiseres e leves.” “Nós não precisamos de outro além deste; dê-nos apenas este.” “Ele é seu, senhor.”

Tomando o peixe com as duas mãos, o Bodhisatva sentou-se na areia e disse, "Amigo peixe, se não tivesse te visto ho-je, terias encontrado tua morte. Cesse no futuro de ser escravo da paixão." E assim exortando atirou o peixe na água, e voltou à cidade.

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A lição terminada, o Mestre pregou as Verdades, no final das quais o Irmão apaixonado ganhou o Primeiro Caminho. Também, o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “A esposa anterior era a fêmea peixe daqueles dias, o apaixonado Irmão o peixe macho, e eu mesmo o padre da família.”
// Jātakas  216 e  297.






segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

33 Buddha Codorna




33
Enquanto reina a concórdia...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto residia no Bosque de Árvore Banian perto de Kapilavasthu, sobre uma briga por causa de uma almofada, como será relato no Jātaka 536.

Nesta ocasião, contudo, o Mestre assim falou a seus parentes: - “Meus senhores, disputa entre familiares é imprópria. Sim, em tempos passados, animais, que derrotaram seus inimigos quando viviam em concórdia, foram destruídos quando brigaram.” E ao pedido dos parentes reais, contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu Codorna, e vivia na floresta chefiando muitos milhares de codornas. Naqueles dias um caçador que apanhava codornas chegou no lugar; ele usava imitar a nota de uma codorna até perceber que os pássaros se aproximavam, quando então ele jogava sua rede em cima, e amarrava os lados da rede de modo juntá-los todos em uma pilha. Enchia a cesta com eles e voltando para casa vendia sua presa para viver.

Bem, um dia o Bodhisatva disse a estas codornas, “Este caçador está destruindo nossa família. Conheço um artifício pelo qual ele será incapaz de pegar-nos. Assim, no momento mesmo que ele jogar a rede em cima de vocês, cada um coloque a cabeça através da malha e todos vocês juntos então devem voar com a rede para o lugar que quiserem, e lá deixem-na cair num espinheiro; isto feito, escaparemos destas muitas malhas.” “Muito bem,” disseram eles todos em pronto assentimento.

De manhã, quando a rede foi jogada em cima deles, eles fizeram justo como o Bodhisatva disse: - levantaram a rede, e a deixaram cair num espinheiro, escapando por baixo os pássaros. Enquanto o caçador desengatava sua rede chegou a noite; e ele voltou de mãos vazias. De manhã e nos dias seguintes as codornas utilizaram o mesmo truque. De modo que tornou-se coisa regular o caçador ficar engajado em desengatar a rede até a noite e então voltar para casa de mãos vazias. Com isto sua esposa ficou irada e disse, “Todo dia voltas de mãos vazias; suponho que tenhas em outro lugar uma outra para manter.”

“Não, minha querida,” disse o caçador; “Não tenho outra para manter. O fato é que aquelas codornas estão trabalhando juntas agora. No momento que jogo minha rede nelas, elas voam com ela e escapam, levando-a a um espinheiro. Deixa, elas não viverão unidas para sempre. Não te preocupes; logo que elas começarem a discutir entre si, ensacarei o lote, e isto trará a tua face um sorriso.” E assim dizendo, ele repetiu esta estrofe para a esposa:-

Enquanto reina a concórdia, os pássaros afastam a rede.
Quando surge querela, caem presa minha.

Não muito depois disto, uma das codornas, pousando no campo, pisou sem querer a cabeça de outra. “Quem pisou minha cabeça?” gritou irada esta última. “Fui eu; mas foi sem querer. Não fique bolado,” disse a primeira codorna. Mas, apesar desta resposta, a outra continuou irada como antes. Continuando a responder uma à outra, chegaram à troca de insultos, assim, “Suponho que é você sozinha que leva a rede.” Enquanto brigavam uma com a outra o Bodhisatva pensou consigo mesmo, “Não há salvação com a pessoa briguenta. Chegou o momento em que não mais levantarão a rede, e por isto irão para a destruição. O caçador terá sua oportunidade. Não posso mais ficar aqui."

Com certeza o caçador voltou uns poucos dias depois, e primeiro juntando-as imitando a nota de uma codorna, jogou a rede sobre elas. Disse então uma codorna, “Falam que quando levantando a rede, as penas da sua cabeça caem. Sua hora; levante-a.” O outro respondeu, “Quando levantas a rede, dizem que suas duas asas mudam as penas. Chegou sua hora; levante-a.”

E enquanto um convidava o outro para levantar a rede, o caçador levantou a rede por eles e amontoou-os numa cesta e levou-os para casa, de modo que o rosto de sua esposa ficou coberto de sorrisos.

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“Assim, senhor,” disse o Mestre, “tal coisa como querela entre parentes é imprópria; querela à destruição apenas leva.” Sua lição terminada, ele mostrou a conexão, e identificou o Jātaka, dizendo, “Devadatra era a tola codorna daqueles dias, e eu mesmo a Codorna boa e sábia.”









domingo, 20 de janeiro de 2008

32 Buddha Rei dos Pássaros


32
Bela nota ...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre em Jetavana, sobre um Irmão com muitos pertences. O incidente é justo o mesmo do Jātaka 6 supra.

“É vero este relato, Irmão,” disse o Mestre, “que tens muitos pertences?” “Sim, senhor.” “Por quê vieste a ter tantos pertences?” Sem escutar nada além, o Irmão tirou todo o vestuário e rudemente ficou nu diante do Mestre, gritando, “Vou embora assim!” “Oh, fora!” exclamaram todos. O indivíduo correu embora, e reverteu para a estado baixo de leigo. Reunidos no Salão da Verdade, os Irmãos falaram da impropriedade em agir de tal modo diante do Mestre. Vindo o Mestre e perguntando qual o tema da discussão do conclave, “Senhor,” foi a resposta, “discutíamos a impropriedade do Irmão em fazer aquilo diante de sua presença e das quatro classes de seguidores (Irmãos. Irmãs, Irmãos-leigos, Irmãs-leigas) ele perdeu todo o sentido da vergonha ao ficar rudemente pelado como um moleque da vila, e detestado por todos por ser relapso em estado mais baixo e perder a fé.”

Disse o Mestre, “Irmãos, esta não é a única perda que sua impudência o causou; pois em dias passados perdeu uma joia de mulher justo como agora perdeu a joia da fé.” E assim falando contou uma história do passado.

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Certa vez, no primeiro ciclo da história, os quadrúpedes escolheram o leão como rei, os peixes uma baleia Ānanda, e os pássaros o Pato Dourado ( cf. Jātaka infra 270 quando da briga entre corujas e corvos ). O Rei Pato Dourado tinha uma amável jovem filha, e seu pai a concedeu dom que quisesse ela podia pedir. O dom que pediu foi poder escolher o marido próprio; e o rei no cumprimento da promessa junta todos os pássaros no país dos Himālaias. Todos os tipos de pássaros vieram, cisnes e pavões e todos os outros pássaros; e eles se juntaram num grande plateau de rocha nua. Então chama o rei sua filha e pede que escolha um esposo com o coração. Enquanto ela olhava a multidão de pássaros, seus olhos iluminaram-se com o pavão de pescoço lustroso e cauda de cor variada; e ela escolhe ele, dizendo, “Seja este meu esposo.” Então a assembléia dos pássaros foi até o pavão e disse, “Amigo pavão, esta princesa, escolhendo esposo entre todos os pássaros, fez de você escolha dela.”
Levado pela alegria, o pavão exclamou, “Até ho-je ainda não me viram;” e desafiando toda decência abriu as asas e começou a dançar; - e dançando expôs-se [Santi parva: Bhisma diz que é a ira do rei que é inconvenientemente exposta neste acontecimento histórico].

Repleto de vergonha, Rei Pato Dourado disse, “Este sujeito não tem nem modéstia no coração nem decência no comportamento; certamente não darei minha filha para alguém sem vergonha.” E lá no meio daquela assembléia de pássaros, repetiu a estrofe:-

Bela nota esta tua, cauda linda,
Um pescoço de cor lapis lazuli;
Uma braça alcançam as penas em extensão.
Tua dança te fez perder, meu filho.

Diante de toda a multidão Rei Pato Real ofereceu sua filha em casamento a um pato jovem, sobrinho dele. Coberto de vergonha com a perda da princesa pata, o pavão voou direto de lá e fugiu. E Rei Dourado Pato também voltou para sua casa.

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“Assim, Irmãos,” disse o Mestre, “não foi a única vez que brecha de modéstia causou a ele perda; justo como agora causou a perda da joia da fé, assim em dias passados perdeu a joia de esposa.” Quando terminou a lição, mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “O Irmão com muitos pertences era o pavão daqueles dias, e eu mesmo o Pato Real.”

   ( n.do tr.: há em Esopo Buddhista uma eleição dos rei dos pássaros, o gaio e os pássaros, que também não acaba bem. )




sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

31 Buddha Indra / Sakra




     ( Clique na imagem para vê-la ampliada )
31
Deixe, ó Matali, ...etc. – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um irmão que bebia água sem filtrá-la.
Tradição diz que dois jovens Irmãos que eram amigos saíram de Sāvatthi para o campo, e tomaram residência num lugar agradável. Depois de ficaram aí tanto tempo quanto desejavam, partiram rumo à Jetavana de modo a ver o Buddha Perfeito.

Um deles carregava filtro; o outro não tinha nenhum; de modo que ambos usavam o mesmo filtro antes de beber. Um dia desaviram-se, brigaram. O dono do filtro não o emprestou ao companheiro, mas filtrou e bebeu sozinho.

Como ao outro não foi permitido filtrar, e como não agüentou a sede, ele bebeu água sem filtrar. No devido tempo ambos chegam em Jetavana e com respeitosa saudação ao Mestre, sentam-se. Após palavras amigáveis de saudação, ele perguntou de onde eles vinham.

“Senhor,” eles disseram, “estávamos vivendo numa aldeia em Kosala, de onde viemos de modo a encontrar contigo.” “Imagino que vocês chegam tão bons amigos quanto partiram?” Disse o irmão sem filtro, “Senhor, ele brigou comigo na estrada e não quis emprestar o filtro.” Disse o outro, “Senhor, ele não filtrou a água, mas – consciente – bebeu sem filtrar todos os seres vivos que ela contém.” “É este relato verdadeiro, Irmão, que tu conscientemente bebeu água com todos os seres vivos que ela contém?” “Sim, senhor, bebi água sem filtrar,” foi a resposta. “Irmão, o sábio e bom em dias passados, quando fugindo em debandada nas profundezas, nos dias de sua soberania na Cidade dos Devas, deixou de matar criaturas vivas de modo a assegurar poder para elas mesmas. Antes, eles giraram para trás o carro, dando em sacrifício, grande glória, de modo a salvar os filhotes dos Garulas (pássaros).” E assim dizendo, ele contou uma história do passado.

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Certa vez havia um rei em Magadha reinando em Rājagaha na terra de Magadha. Justo como aquele que é agora Sakra veio à vida em seu nascimento precedente na aldeia de Macala na terra de Magadha, na mesma aldeia o Bodhisatva veio à vida naqueles dias como um jovem nobre. Quando chegou o dia do batismo, foi chamado ‘Príncipe Magha,’ mas quando cresceu, foi como ‘Magha o jovem Brahmin’ que ficou conhecido. Seus pais arranjaram um esposa para ele de uma família do mesmo rank que o deles; e ele, com uma família de filhos e filhas crescendo ao redor, excedia em caridade, e mantinha os Cinco Mandamentos.
Haviam justo trinta famílias naquela vila, e um dia as pessoas ficaram no meio da vila transando os afazeres. O Bodhisatva bateu a poeira de onde ele estava, e ficou lá confortavelmente, mas quando se levantou, veio outro e tomou seu lugar. Então o Bodhisatva fez para si outro lugar confortável para ficar, - só para ser tomado de novo como o primeiro. Outra e outra vez o Bodhisatva recomeçava até ter feito lugares confortáveis para todos lá. De outra vez colocou um pavilhão,- que depois amarrou em baixo, tendo construindo um salão com bancos e um jarro d’água dentro. De outra vez ainda estes trinta homens foram levados pelo Bodhisatva a tornarem-se como ele; ele os estabelece nos Cinco Mandamentos, e daí em diante passou a sair com eles em obras boas fazendo. Eles também fazendo obras boas, sempre em companhia do Bodhisatva, usavam levantar cedo e sair, com lâminas, machados e tacapes nas mãos. Com as massas usavam rolar as pedras que estavam nas quatro estradas e outros caminhos da vila; as árvores que atingissem os eixos das rodas das carroças na via, eles cortavam; lugares duros tornaram macios; construíram rodovias e diques, cisternas, e construíram um salão; mostraram caridade e mantinham os Mandamentos. Desse jeito o corpo dos cidadãos passou a habitar com os ensinos do Bodhisatva e mantinham os Mandamentos.

Pensou o prefeito consigo mesmo, “Estas pessoas usavam se embebedar , matar e coisa semelhante, e eu usava ganhar muito dinheiro deles não só com o preço da bebida mas com as multas e taxas que eles pagavam. Agora vem este jovem brahmin Magha e os inclina a manter os Mandamentos; isto acabou com as mortes e outros crimes.” E com raiva gritou, “Eu os farei manter os Cinco Mandamentos!” E ele foi ao rei dizendo, “Senhor, há um bando de assaltantes andando saqueando as vilas cometendo vilanias.” Quando o rei escutou isto, pediu que o prefeito fosse e trouxesse estas pessoas diante dele. E foi-se o homem e arrastou como prisioneiros diante do rei todas aquelas trinta pessoas, sendo tidas como bandidas. Sem nada inquirir o rei comanda de antemão que eles deviam ser pisados até a morte pelo elefante. Enquanto isto os mandaram deitar no jardim do rei e foram buscar o elefante. O Bodhisatva os exortou, dizendo, “Carreguem na mente os Mandamentos; amem o que calunia, o rei e o elefante assim como vocês mesmos.” E eles assim fizeram.

Então chegou o elefante para pisá-los até a morte. Apesar de puxarem com toda a força, ele não se aproximaria deles, mas foge trumpeteando alto. Elefante atrás de elefante foi trazido; - mas todos fugiram como o primeiro. Achando que os homens estavam drogados, o rei manda vasculhá-los. Foi feita a busca, e nada foi encontrado; - e disseram assim ao rei. “Eles devem estar balbuciando algum encanto,” disse o rei; “pergunte-os se eles tem algum encanto para repetir.”

A pergunta sendo feita a eles, o Bodhisatva disse que eles tinham um encanto. E o pessoal do rei disse para sua majestade. E assim o rei junta todos diante dele e diz, “Me conta teu encanto.”

O Bodhisatva respondeu, “Senhor, não temos outro encanto que este, que nenhum de nós trinta destrua a vida, ou roube, ou erre, ou minta; não bebemos; abundamos em gentileza; mostramos caridade; fazemos estradas, cisternas e construímos um salão público; - este é nosso encanto, nossa segurança, e nossa força.”
Gostando deles o rei lhes entregou toda a riqueza do caluniador e fez ele escravo deles; e deu-lhes um elefante e uma vila de feudo.

Daí em diante operando boas obras ao agrado do coração, mandaram chamar um carpinteiro e o fizeram construir um grande salão no encontro das quatro estradas; mas como tinham perdido todo desejo sexual, não deixaram as mulheres partilharem das obras boas.

Bem naqueles dias haviam quatro mulheres na casa do Bodhisatva, cujos nomes eram Bondade, Pensadora, Alegria, e Bem-nascida. Destas, Bondade, estando só com o carpinteiro fê-lo um agrado, dizendo, - “Irmão, dá um jeito de me fazer a pessoa principal em relação a este salão.”
“Muito bem,” ele disse. E antes de qualquer outro trabalho na construção, ele pega madeira de pináculo seca, que talha e cava até transformar num pináculo acabado. Isto ele embrulhou num pano e deixou de lado. Quando o salão estava terminado e na hora de colocar o pináculo, ele exclamou, “Ai, mestres, há uma coisa que não foi feita.” “O quê é?” “Pois eis que precisamos de um pináculo.” “Está certo, que um seja pego.” “Mas não pode ser de madeira verde; deve ter sido feito há algum tempo atrás, e talhado e cavado e deixado de lado.” “Bem, o quê faremos agora?” “Pois saiam olhando em volta procurando alguém que tenha tal coisa em casa pronta para vender.” Enquanto procuravam, encontraram um na casa da Bondade, mas dela não conseguiram comprar por nenhum dinheiro. “Se me fizerem parceira nas obras boas,” disse ela, “o darei a ti por nada.” [ cf. para esta questão do pináculo 'O simbolismo do domo' de Ananda Coomaraswamy em post deste blog ]

“Não,” foi a resposta, “não deixamos as mulheres partilharem das obras boas.”
Então disse o carpinteiro a eles, “Mestres, o quê é que vocês estão dizendo? Exceto no Reino de Brahma, não há lugar em que a mulher está excluída. Peguem o pináculo e nosso trabalho se completará.”
Consentindo, eles pegaram o pináculo e completaram o salão. Bancos foram colocados e jarros d’água , tendo também oferta constante de arroz cozido. Ao redor do salão construíram um muro com um portão, espalhando dentro areia e plantando fora uma fileira de palmeiras. Pensadora também fez que fosse construído um jardim fora deste lugar, e não havendo fruta ou flor que pudesse ser nomeada que lá não crescesse. Alegria, também, fez que fosse construído um poço no mesmo lugar, coberto com os cinco tipos de lótus, belo de contemplar. Bem-nascida não fez nada.
O Bodhisatva completou com estas sete injunções,- gostar da mãe, gostar do pai, honrar os avós, valar a verdade, evitar fala dura, abster-se da calúnia, abster-se da avareza:-

Quem quer que ampare pais, honra avós,
É gentil, de fala amiga, não caluniando,
Sem grosseria, verdadeiro, senhor – não escravo - da ira,
- Este mesmo os Trinta e Três aclama como Bom.

Tal foi a condição louvável em que cresceu, e ao fim da vida passou para renascer no reino dos Trinta e três como Sakra, rei dos Devas; e lá também renasceram seus amigos.

Naqueles dias haviam Asuras habitando no Reino dos Trinta e três. Disse Sakra, Rei dos Devas, “Qual o bem de dividir um reino com outros?” Então fez os Asuras beberem o licor dos Devas, e quando estavam bêbados, ele os arremessou com os pés nas escarpas do Monte Sineru. Eles tombaram direto no ‘Reino dos Asuras,’ como é chamado, - uma região nas partes de baixo do Monte Sineru, de igual extensão ao Reino dosTrinta e três. Ai cresce uma árvore, que parece a Árvore Coral dos Devas, que dura por um éon e é chamada Pé de FlorTrumpete.
Os frutos desta árvore mostram logo que não é este o Reino dos Devas, pois lá floresce a Árvore Coral. Então eles gritaram, “Sakra velhaco nos embebedou e nos atirou nas profundezas, tomando-nos nossa cidade celeste.” “Venham,” eles gritaram, “ganhemos de volta nosso próprio reino dele à força dos braços.” E começaram a subir as escarpas do Sineru, como formigas num pilar.
Escutando o alarme dado de que os Asuras estavam subindo, Sakra entrou no grande abismo para lhes dar combate, mas levando a pior na luta virou e fugiu nos picos e cumes das profundezas do sul no seu ‘Carro da Vitória,’ que tinha a extensão de duzentos quilômetros.
Bem, enquanto este carro corria nas profundezas, chegou na Floresta de Paineiras. Diante do caminho de tal carro estas árvores poderosas foram ceifadas como outras palmeiras, e caíram nas profundezas. E quando os filhotes de Garulas (Pássaros) caíram nas profundezas, altos foram seus gritos. Disse Sakra a Mātali, seu auriga, “Mātali, meu amigo, que barulho é este? Como toca este som.” “Senhor, é o coro unido dos filhotes de Garulas em agonia de medo, já que a floresta esta sendo ceifada pelo correr do seu carro.” Disse o Grande Ser, “Que eles não se preocupem por causa de mim, amigo Mātali. Que não ajamos, pelo bem do império, assim de modo a destruir a vida. Antes, pelo bem deles, darei minha vida em sacrifício aos Asuras. Volte o carro.” E assim falando, repetiu a estrofe:-

Deixe, ó Matali, os ninhos todos da floresta,
Escaparem do carro que a tudo devora.
Ofereço uma oblação sacrifical,
Minha vida para os Asuras de baixo; estes pobres pássaros
não devem ser, por minha causa, importunados nos ninhos.

Com a fala, Mātali, o auriga, girou o carro, foi para o Reino dos Devas por outra rota. Mas no momento que os Asuras viram começar a girar o carro, gritaram que Sakras de outros mundos certamente estavam subindo; “deve ser reforço que faz ele virar o carro de volta.” Temendo por suas vidas, eles todos fugiram e não pararam até chegar ao Reino Asura. E Sakra entrando no céu, ficou no meio da sua cidade, cercado por uma hoste angélica sua mesma e dos anjos de Brahmā. E naquele na terra rasgada elevou-se o ‘Palácio da Vitória,’ alto alguns milhares de quilômetros, - assim chamado porque elevou-se na hora da vitória. Então, para prevenir que os Asuras voltassem de novo, Sakra colocou guardas em cinco lugares, - em relação aos quais foi dito:-

Impregnáveis estão as cidades! No meio,
Em guarda quíntupla, vigiada por Nāgas, Garulas,
Demônios, Duendes, e pelos Quatro Grande Reis!

Mas quando Sakra gozava da glória celeste como rei dos Devas, em segurança vigiado pelos sentinelas nestes cinco postos, Bondade morreu e renasceu como ajudante de Sakra mais uma vez. E como conseqüência de ter oferecido o pináculo foi que lá elevou-se para ela uma mansão – chamada ‘Bondade’ – ornada de jóias celestes, alta centenas de quilômetros, onde, sob um pálio branco celeste de estado real , senta Sakra, rei dos Devas, legislando as pessoas e os Devas.
Pensadora também, morreu, e nasceu uma vez mais como ajudante de Sakra; e como conseqüência de sua ação em ter feito um jardim foi tal que lá elevou-se um jardim chamado ‘Bosque de Trepadeiras da Pensadora.’ Alegria também, morreu e renasceu uma vez mais como uma das ajudantes de Sakra; e o fruto de seu poço foi que lá elevou-se um poço chamado ‘Alegria’ por causa dela. Mas Bem-nascida, não tendo realizado nenhum ato de mérito, renasceu como siriema numa gruta da floresta.
“Não há sinal de Bem-nascida,” disse Sakra à si mesmo; “Imagino onde ela terá renascido.” E enquanto considerava o problema, ele descobriu onde ela estava. Então ele foi visitá-la, e a trouxe de volta com ele para o céu mostrando a ela a maravilhosa cidade dos Devas, o Salão da Bondade, o Bosque de Trepadeira da Pensadora, e o Poço da Alegria. “Estas três,” disse Sakra, “renasceram como minhas ajudantes em razão das obras boas que elas fizeram; mas você, não tendo feito obra boa, renasceu na criação bruta. De agora em diante mantenha os Mandamentos.” E tendo assim a exortado, e a confirmado nos Cinco Mandamentos, ele a levou de volta e a deixou livre. E daí em diante ela manteve os Mandamentos.
Pouco tempo depois, curioso em saber se ela realmente era capaz de manter os Mandamentos, Sakra foi e deitou na frente dela na forma de um peixe. Pensando que o peixe estava morto, a siriema pegou-o pela cabeça. O peixe balançou o rabo. “Pois eis que acho que está vivo,” disse a siriema, e deixou o peixe ir. “Muito bem, muito bem,” disse Sakra; “serás capaz de guardar os Mandamentos.” E assim dizendo saiu fora.
Morrendo como siriema, Bem-nascida renasceu numa família de oleiros em Benares. Imaginando onde ela estava, e por fim descobrindo-a, Sakra, disfarçado como um senhor ancião, encheu um carro com pepinos e sentou no meio da vila gritando, “Comprem meus pepinos! Comprem meus pepinos!” Povo veio e pediu por eles. “Só partilho-os a quem mantém os Mandamentos,” ele disse, “vocês os guardam?” “Nós não sabemos o quê você quer dizer por ‘Mandamentos’; venda-nos pepinos.” “Não; não quero dinheiro pelos pepinos. Dou-os de graça – mas só àqueles que guardam os Mandamentos.” “Quem é este palhaço?” disse o povo enquanto saía fora. Escutando sito, Bem-nascida pensou consigo mesma que os pepinos deviam terem sido trazidos para ela, e conformemente foi e pediu um pouco. “Você guarda os Mandamentos, madame?” disse ele. “Sim guardo,” foi a resposta. “Foi só para você que trouxe estes aqui,” disse ele, e deixando pepinos, carro e todo o resto na porta dela, saiu fora.
Continuando por toda a vida a guardar os Mandamentos, Bem-nascida após a sua
morte renasceu filha do rei Asura Vepacittiya, e por sua bondade foi premiada com o dom de grande beleza. Quando cresceu, seu pai reuniu os Asuras para que sua filha escolhesse um
de marido. E Sakra, que a buscava e a encontra lá, dotado da forma de um Asura, e tendo descido, disse a si mesmo, “Se Bem-nascida escolher um marido realmente com o coração, ele deve ser eu.”
Bem-nascida foi adornada e trazida para fora ao lugar da assembléia, onde ela foi indicada que escolhesse um marido com o coração. Olhando ao redor e vendo Sakra, ela foi movida por seu amor a ele em uma existência passada e o escolheu para marido. Sakra a levou para a cidade dos devas e a fez chefe de vinte e cinco milhões de dançarinas. E quando seu fim chegou, ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos.
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Sua lição terminada, o Mestre censurou aquele Irmão com estas palavras, “Assim, Irmão, o sábio e bom de dias passados quando eram legisladores dos Devas, abstiveram-se, mesmo sacrificando sua própria vida, de serem culpados de morte. E pode tu, que dedicas-te a tal credo salvador, beber água sem filtrar com todas as criaturas vivas que ela contêm?” E ele mostrou a conexão e identificou o Jātaka, dizendo, “Ānanda era então Mātali o auriga, e eu Sakra.”


quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

30 Buddha Boi Vermelhão



30
Então, inveje não o pobre Munika...etc”. – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre ser seduzido por uma jovem mulher rechonchuda, como será relatado no Jātaka  477.
Então o Mestre perguntou àquele Irmão, dizendo, “É vero, Irmão, como dizem, que estais apaixonado?” “É vero, senhor,” foi a resposta. “Irmão,” disse o Mestre, “ela é a sua desgraça; em dias passados, tu encontraste teu fim e foste feito aperitivo para a turma dela no dia do casamento.” E assim dizendo, ele contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como um boi, chamado Vermelhão, na propriedade de um escudeiro numa certa aldeia. E ele tinha um irmão mais novo que era conhecido como Vermelhinho. Haviam apenas estes dois irmãos para fazer todo o trabalho de tração da família. O escudeiro, tinha uma filha única, cuja mão foi pedida pelo filho de um nobre da cidade. E os pais da garota, com intenção de oferecer petiscos gostosos para os convidados do casamento, começaram a engordar um porco chamado Munika.

Vendo isto, Vermelhinho disse ao irmão, “Todas as cargas que tem que carregadas nesta propriedade o são por você e eu, meu irmão; mas tudo que nos dão para dor nossa é grama e palha para comer. E aí está o porco alimentando-se com arroz! Qual será a razão dele estar sendo tratado com tal ração?”
Disse seu irmão, “Meu caro Vermelhinho, não o inveje; pois o porco come a comida da morte. É para servir de aperitivo aos convidados do casamento da filha, que a família engorda o porco. Espere um pouco que os convidados logo estarão chegando. Então verás aquele porco alçado pelas pernas, morto, e sendo temperado com curry.” E assim falando disse esta estrofe:-

Então, inveje não o pobre Munika; é a morte
Que ele come. Contente mastigue sua parca palha,
- O penhor e a garantia de longos dias.

Não muito tempo depois os convidados realmente chegaram; e Munika foi morto e cozido, nos mais diversos pratos. Disse o Bodhisatva a Vermelhinho, “Viu Munika, caro irmão?” “Vi, sim, irmão, o resultado da comilança de Munika. Melhor cem, não, mil vezes, do que tal comida é a nossa, apesar de não ser que grama, palha e farelo; - pois nosso alimento não nos fere, e é penhor que nossas vidas não serão encurtadas.”

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Quando ele terminou a lição para explicar do Irmão que em dias passados foi fadado a morte por aquela jovem mulher e foi feito de aperitivo para a turma dela, ele pregou as Verdades, no final das quais o Irmão apaixonado alcançou o Primeiro Caminho da Salvação. Também o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “O Irmão apaixonado era o porco Munika daqueles dias, a jovem mulher é a mesma em ambos os casos, Ānanda era Vermelhinho, e eu mesmo era Vermelhão.”


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

29 Buddha Touro ( outro )




            ( Clique na imagem para vê-la ampliada : Sankassa nos dias atuais marcando o local da descida de Buddha dos céus )

29
Com pesadas cargas...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre o Milagre Duplo, que, junto com a descida do Céu, serão relatados no Jātaka 483.

Depois que realizou o Milagre Duplo e passou um tempo no Céu, o Buddha Onisciente desceu na cidade de Samkassa no dia do Grande Festival Pavāranā (no fim das chuvas), e daí passou com largo séqüito para Jetavana.

Em reunião no Salão da Verdade, os Irmãos sentaram louvando as virtudes do Mestre dizendo, “Senhores, Buddha é ímpar; ninguém pode carregar o jugo pelo Buddha carregado. Os Seis professores, apesar deles protestarem tantas vezes que apenas eles, e eles apenas, realizariam milagres, ainda assim nem um único milagre realizaram. Ó! como é ímpar o Mestre!”

Entrando no Salão e perguntando qual o tema da discussão dos Irmãos em conclave, o Mestre foi informado que o tema não era outro que as virtudes mesmas dele. “Irmãos,” disse o Mestre, “quem carregaria a canga que eu carrego? Mesmo em dias passados, quando vim à vida como animal, fui incomparável.” E assim dizendo contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como um touro. E enquanto ainda era bezerro pequeno, seus donos, que hospedavam-se com uma senhora anciã, deram-no à ela em reconhecimento pela estadia. Ela o alimenta como um filho, com mingau de arroz e arroz e outras comidas boas. Tornou-se conhecido como o ‘Neguinho da Vovó.’ Crescendo, usava vagar com o resto do gado, e era negro como o âmbar negro. A garotada da rua usava segurar nos chifres dele, nas orelhas e nas papadas, e assim correr; ou seguravam no seu rabo para brincar, e montar nas costas dele.

Um dia ele pensou consigo mesmo, “Minha mãe é muito pobre; ela me alimentou com dificuldade, como se eu fosse um filho. E se eu ganhasse algum dinheiro para facilitar a vida dela?” Daí em diante passou a procurar por um trabalho. Bem, um dia um jovem mercador no comando de uma caravana com quinhentas carroças, carretos, chegou a uma passagem no topo da qual estava tão difícil que seus bois não puderam atravessar com a carga. E mesmo quando ele retirou os quinhentos pares de bois e juntou todos formando um único time, eles não conseguiram atravessar um único carro pelo rio. Junto daquela passagem o Bodhisatva estava, com o resto do gado da vila. E o jovem mercador, conhecendo gado, passou os olhos pelo rebanho para ver se havia um touro de raça no meio que pudesse puxar as carroças pela passagem. Quando seus olhos caíram sobre o Bodhisatva, ele teve certeza que ele o faria; e, para descobrir o dono do Bodhisatva, disse aos pastores, “De quem é este animal? Se eu pudesse amarrá-lo na canga e fazer o carreto passar, pagaria pelo serviço.” Eles disseram, “Pegue-o e amarre-o, então; ele não tem pastor por aqui.”

Contudo quando o jovem mercador passou uma corda pelo focinho do Bodhisatva e tentou dirigí-lo, o touro não se mexeu. Pois, nos é dito, o Bodhisatva não sairia sem fixar o preço antes. Entendendo-o, o mercador disse, “Mestre, se você puxar estes quinhentos carros, carroças, pela passagem, te pagarei dois dinheiros por carro, ou mil dinheiros no total.”

Não precisava esforço nenhum agora para fazer o Bodhisatva andar. Ele foi e as pessoas o amarraram nas carroças. A primeira ele arrancou com um único puxão, e a estacionou limpa e seca; e do mesmo modo com a longa fila de carroças.

O jovem mercador amarrou em volta do pescoço do Bodhisatva um saco contendo apenas quinhentos dinheiros, ou a taxa de apenas um por cada carro. Pensou o Bodhisatva consigo mesmo, “Este camarada não está me pagando de acordo com o contratado! Não o deixarei se mexer!” E assim ficou na frente da primeira carroça e bloqueou o caminho. E apesar de tentarem não conseguiram retirá-lo do caminho. “Suponho que ele saiba que pagamos pouco,” pensou o mercador; e embrulhou mil dinheiros no saco, que amarrou no pescoço do Bodhisatva, dizendo, “Aqui está seu dinheiro por puxar as carroças na passagem.” E lá se foi o Bodhisatva com mil dinheiros para sua “mãe.”

“O quê é aquilo no pescoço do Neguinho da Vovó?” gritou a criançada da vila, correndo até ele. Mas o Bodhisatva afastou-se deles dando uma galopada, e assim conseguiu que alcançar sua “mãe.” Não aparentava cansaço, com olhos vermelhos, de puxar todas aquelas quinhentas carroças pelo rio. A pia anciã, encontrando os mil dinheiros ao redor do pescoço dele, gritou, “Onde conseguiste isto, minha criança?” Escutando dos pastores o quê aconteceu, ela exclamou, “Tenho eu qualquer desejo de viver de seus ganhos, minha criança? Por quê passaste por todo este esforço?” Assim dizendo, ela lavou o Bodhisatva com água quente e o ungiu todo com óleo; ela deu-lhe de beber e comidas devidas. E quando a vida dela acabou, ela passou, com o Bodhisatva, sendo tratados de acordo com seus méritos.

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Quando ele terminou a lição para mostrar que o Buddha era ímpar no passado também, ele mostrou a conexão falando, como Buddha, esta estrofe:-

Com pesadas cargas para carregar, em caminhos ruins,
Amarraram ‘Neguinho’ ; ele logo puxou o carreto.

Após esta lição para mostrar que apenas ‘Neguinho’ podia puxar a carga, ele apresentou a conexão, e identificou o Jātaka dizendo, “Uppala-Vannā era a senhora anciã daqueles dias, e eu mesmo ‘Neguinho da Vovó.’”