terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

479 Buddha e àrvore Bo





A lista das árvores ( de Sañchi no lintel de cima da direita para a esquerda ) e dos Buddhas anteriores, a elas relacionados : pathali de Vipasyin ; a figueira de Sikhin ; a sala de Visvabhu ; a sirisha de Krakucchanda ; a udumbara de Kanakamuni ; nyagrodha de Kasyapa e asvattha de Siddharta Gautama. Na última foto a mesma relação apresentada em outro pórtico : reparem nas várias guirlandas penduradas. Os outros lintéis representam a mesma cena. ( Alfred Foucher e sir John Marshall, Monuments of Sañchi. )


479
Rei Kalinga...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre a veneração d'árvore bo realizada pelo Ancião Ānanda.
Quando o Tathagata partiu em peregrinação, com objetivo de reunir aqueles que estavam maduros para a conversão, os cidadãos de Savatthi foram para Jetavana, suas mãos cheias de guirlandas e grinaldas fragrantes e não encontrando nenhum outro lugar para mostrar sua reverência, as deixaram no corredor da câmara perfumada e saíram. Houve grande regozijo. Mas Anathapindika o escutou ; e no retorno do Tathagata visitou Ancião Ānanda e disse a ele, - “Este mosteiro, Senhor, é deixado desprovido quando o Tathagata vae em peregrinação e não há lugar para o Povo reverenciar oferecendo guirlandas e grinaldas fragrantes. Serias gentil, Senhor, em falar ao Tathagata sobre este assunto e saber dele se é ou não possível encontrar um lugar para este propósito.” O outro, nada desprezando, fez isto, perguntando,”Quantos santuários existem ?” - “Três, Ānanda.” - “Quais são eles ?” - “Santuário para uma relíquia do corpo, uma relíquia de uso ou vestimenta, uma relíquia de memorial.” ( este último de imagem) - “Pode um santuário ser feito, Senhor, durante tua vida ?” - “Não, Ānanda, não um santuário de corpo ; este tipo é feito quando o Buddha entra no Nirvana. Um santuário de memorial é impróprio porque a conexão depende somente da imaginação. Mas a grande árvore bo usada pelos Buddhas é adequada para um santuário, estejam eles vivos estejam eles mortos.” - “Senhor, enquanto estás fora em peregrinação o grande mosteiro de Jetavana fica desprovido e o Povo não tem nenhum lugar para mostrar sua reverência. Devo plantar uma semente da grande árvore bo diante do corredor de Jetavana ?” - “Com todos os meios faça isto Ānanda e este será como um lugar de moradia para mim.”
O Ancião contou isto para Anathapindika e Visakha e o rei. Então no corredor de Jetavana fez uma clareira abriu uma cova para àrvore bo permanecer e disse para o Ancião chefe, Moggallana, “quero plantar uma árvore bo em frente de Jetavana. Você me consegue um fruto da grande árvore bo ?” O Ancião, de boa vontade, passou através dos ares até a plataforma debaixo da árvore bo. Ele colocou no seu hábito um fruto que estava caindo de um ramo mas ainda não tinha atingido o chão, o trouxe de volta e entregou à Ānanda. O Ancião informou o Rei de Kosala que ele plantaria àrvore bo naquele dia. Assim à tardinha veio o Rei com um grande séquito, trazendo todas as coisas necessárias ; então veio também Anathapindika e Visakha e uma multidão de fiéis do lado.
No lugar onde àrvore bo seria plantada o Ancião colocou um jarro de ouro e debaixo dele estava a cova ; tudo foi preenchido com terra misturada com água fragrante . Ele disse, “Ó rei, plante esta semente de árvore bo,” dando-a ao rei. Mas o rei, pensando que seu reino não estaria nas suas mãos para sempre e que Anathapindika devia plantá-la, passou a semente para Anathapindika, o grande mercador. Então Anathapindika mexeu o solo fragrante e a jogou dentro. No instante que ela caiu de suas mãos, diante mesmo dos olhos de todos, brotou largo como uma ponta de arado uma muda bo, alta cinquenta côvados ; nos quatros cantos e para cima projetou-se cinco grandes ramos de cinquenta côvados de comprimento como o tronco. Assim ficou àrvore, já uma verdadeira senhora da floresta ; um milagre portentoso ! O rei derramou ao redor d'árvore jarros de ouro e de prata, em número de oitocentos, cheios de água cheirosa, embelezadas com uma grande quantidade de lírios azuis aquáticos. Sim, e fez com que se estabelecesse lá uma longa série de vasos sempre cheios e um lugar feito com as sete coisas preciosas, pó de ouro aspergiu ao redor, um muro foi construído rodeando o recinto e erigiu um portão com câmara feito com as sete coisas preciosas. Grande foi a honra prestada a ela.
O Ancião aproximando-se do Tathagata, disse a ele, “Senhor, para o bem do Povo, realize debaixo d'árvore bo que plantei, aquela altura da Consecução à qual atingiste debaixo da grande árvore bo.” “O quê é isto que você está falando, Ananda ?” respondeu ele. “Não há nenhum outro lugar que possa me suportar, s'eu sentar lá e atingir ao que atingi no lugar da grande árvore bo.” “Senhor,” disse Ananda, “peço a ti pelo bem do Povo, para usar esta árvore para o rapto da Consecução, na medida que este lugar de chão possa suportar o peso.” O Mestre o usou durante uma noite para o rapto da Consecução.
O Ancião informou o rei e a todos os outros e a chamou pelo nome de Festival Bo. E esta árvore, tendo sido plantada por Ananda, ficou conhecida pelo nome e Árvore Bo de Ananda.
Naquele tempo começaram a falar sobre isto no Salão da Verdade. “Irmão, enquanto o Tathagata ainda vivia, o venerável Ananda fez uma árvore bo ser plantada, e grande reverência prestou a ela. Oh, como é grande o poder do Ancião !” O Mestre entrando perguntou sobre o quê estavam falando. Eles disseram. Ele disse, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Ananda guia a humanidade cativa de quatro grandes continentes, com todas suas multidões ao redor e faz uma vasta quantidade de guirlandas cheirosas serem trazidas e realiza um festival bo no recinto de uma grande árvore bo.” Assim falando, ele contou uma história do passado.
______________________

Certa vez, no reino de Kalinga na cidade de Dantapura, reinava um rei chamado Kalinga. Ele tinha dois filhos, Maha-Kalinga e Culla-Kalinga, Kalinga o Grande e o Pequeno. Bem, adivinhos previram que o filho mais velho reinaria depois da morte do pai ; mas que o mais novo viveria como asceta e viveria de ofertas, ainda que seu filho seria um monarca universal.
O tempo passou e com a morte do pai o filho mais velho tornou-se rei, e o mais novo vice rei. O mais novo, sempre pensando que um filho nascido dele seria monarca universal, cresceu arrogante por causa disto. O rei não podia tolerar isto e então enviou um mensageiro para prender Kalinga o Pequeno. O homem veio e disse, “Príncipe, o rei deseja que você seja preso, portanto salve tua vida.” O príncipe mostrou ao cortesão encarregado desta missão seu próprio selo-anel, um tapete fino e sua espada : estes três. Então disse, “Através destes penhores você conhecerá meu filho e o fará rei.” Com estas palavras, ele correu para fora para a floresta. Lá construiu para si uma cabana em um lugar agradável e viveu como asceta nas margens de um rio.
Bem, no reino de Madda na cidade de Sagala, nasceu uma filha do Rei de Madda. Sobre a garota, como sobre o príncipe, os adivinhos previram que ela viveria como asceta mas seu filho seria monarca universal. Os Reis da Índia, escutando este rumor, reuniram-se e vieram concordes e cercaram a cidade. O rei pensou consigo mesmo, “Bem, se der minha filha para um, todos os outros reis ficarão irados. Tentarei salvá-la.” Então com esposa e filha ele fugiu disfarçado para a floresta ; e após construir para si uma cabana a alguma distância acima do rio da cabana do Príncipe Kalinga, viveu lá como asceta, comendo o que podia colher, catar.
Os pais, desejando salvar sua filha, deixaram-na atrás, na cabana, e saíram para colher frutos selvagens. Enquanto eles estavam fora ela reuniu flores de todos os tipos , e as arranjou em uma guirlanda. Bem, na margem do Ganges há uma mangueira com belas flores, que formam uma espécie de escada natural. Ela subiu nesta e brincando acabou jogando a guirlanda de flores n'água.
Um dia, quando Príncipe Kalinga saía do rio após um banho, esta guirlanda de flores prendeu no cabelo dele.
Ele olhou para ela e disse, “Alguma mulher fez isto e não foi foi mulher madura mas uma garota jovem e meiga. Devo procurá-la.” Profundamente apaixonado ele partiu em busca subindo o Ganges até escutar ela cantando com voz doce sentada na mangueira. Ele aproximou-se do tronco d'árvore e vendo-a, disse, “O que é você, bela Senhora ?” “Sou uma humana, Senhor,” ela respondeu. “Desça então,” disse ele. “Senhor, não posso ; sou da casta guerreira.” “Também sou, senhora : desça !” “Não, não, Senhor, não posso fazer isto. Apenas por falar não te faz um guerreiro ; se és tanto, me diga os segredos deste mistério.” Então eles repetiram um para o outro estes segredos de guilda ( casta, classe ). E a princesa desceu e fizeram conexão um com o outro.
Quando seus pais retornaram ela contou a eles sobre este filho do Rei de Kalinga e como ele veio para a floresta com todos os detalhes. Eles consentiram em dá-la a ele. Enquanto viviam juntos em união feliz, a princesa concebeu e após dez meses deu à luz um filho com os sinais da boa sorte e da virtude ; e eles o chamaram de Kalinga. Ele cresceu e aprendeu todas as artes e realizações com seu pai e seu avô.
Por fim seu pai soube pelas conjunções das estrelas que seu irmão estava morto. Chamou então seu filho e disse, “Meu filho, você não deve passar sua vida na floresta. O irmão de teu pai, Kalinga o Grande, está morto ; você deve ir a Dantapura e receber o reino por herança.” Então deu a ele as coisas, penhores, que trouxera consigo , o selo-anel, o tapete e a espada, dizendo, “Meu filho, na cidade de Dantapura, em tal rua vive um cortesão que é um servidor muito bom. Desça até a casa dele e entre no seu quarto e mostre a ele estas três coisas e diga-lhe que és meu filho. Ele te colocará no trono.”
O rapaz deu adeus a seus pais e avós ; e pelo poder de sua própria virtude atravessou pelos ares e descendo na casa daquele cortesão entrou em seu quarto. “Quem és tu ?” perguntou o outro. “O filho de Kalinga o Pequeno,” disse ele, apresentando os três penhores. O cortesão contou no palácio e todos os da corte decoraram a cidade e abriram o parassol real sobre sua cabeça. Então o capelão, que era chamado Kalinga-bharadvaja, ensinou a ele as dez cerimônias que um monarca universal deve realizar e ele cumpriu todos os seus deveres. Então no décimo quinto dia, dia de jejum, veio até ele de Cakkadaha a preciosa Roda do Império, do estoque de Uposatha o precioso Elefante, da linhagem real de Valaha o precioso Cavalo, de Vepulla a preciosa Jóia ; e a preciosa esposa, séquito e príncipe conselheiro apareceram. Então ele atingiu a soberania em toda a esfera terrestre.
Um dia, acompanhado por uma companhia que espalhava-se por 36 léguas e montado em um elefante todo branco, alto como um pico do Monte Kelasa ( Kailasa ), em grande pompa e esplendor ele foi visitar seus pais. Mas para além do círculo ( a palavra é usada para o trono embaixo d'árvore e o terraço construído em volta ) ao redor da grande árvore bo, o trono da vitória de todos os Buddhas, que se tornou o umbigo mesmo da terra, para além deste o elefante era incapaz de passar : seguidamente o rei incitava-o mas não podia passar.
________________________

Explicando isto, o Mestre recitou a primeira estrofe :

Rei Kalinga, senhor supremo,
Legislava a terra pela lei e o direito,
Para árvore bo certa vez veio
Em um poderoso elefante.
_________________________

Em relação a isto o capelão do rei, que estava viajando junto, pensou consigo mesmo,”Nos ares não há impedimento ; por quê o rei não pode fazer o elefante prosseguir ? Irei e verei.” Então descendo do alto,ele contemplou o trono da vitória de todos os Buddhas, o umbigo da terra, o círculo ao redor da grande árvore bo. Naquele tempo, é dito, no espaço de uma karisa real não havia nunca nem uma folha de grama, nem do tamanho de um bigode de lebre ; parecia como se fosse uma areia macia brilhante qual prato de prata. Mas para todos os lados haviam grama, trepadeiras, árvores poderosas, senhoras da floresta, como em modo de reverência todas ao redor com suas faces viradas em direção ao trono da árvore bo. Quando o brahmin contemplou este lugar na terra, “Este,” pensou ele, “é o lugar onde todos os Buddhas esmagaram todos os desejos da carne ; e para além dele nada pode passar, não nem se fosse Sakra mesmo.” Então aproximando-se do rei, ele contou-lhe a qualidade do círculo ao redor d'árvore bo, e pediu-lhe que descesse.
_________________________

À guisa de explicar isto o Mestre recitou estas estrofes seguintes :

Este Kalinga-bharadvaja disse ao seu rei, o filho do asceta,
Quando girava a roda do império, guiando-o, fazendo obediência :

'Este é o lugar que os poetas cantam sobre ; aqui, Ó poderoso rei, salte !
Aqui atingiram sabedoria perfeita, Buddhas perfeitos, brilhantes em luz.

No mundo, tradição diz, este lugar único é chão sagrado,
Onde em atitude de reverência ervas e trepadeiras situam-se ao redor.

Venha, desça e preste obediência ; tanto quanto o limite do oceano
Na fértil terra tudo criando este lugar é chão santo.

Todos os elefantes que possuis puros sangue por mãe e pai,
Para aqui dirigidos, viriam tão longe mas não ultrapassariam.
É puro sangue o quê você monta ; dirija a criatura como você queira,
Ele não irá um passo mais à frente : aqui o elefante estaciona.'

Falou o adivinho, escutou Kalinga ; o rei então, respondeu,
Batendo forte o chicote – 'Se isto é verdade ou não, veremos logo.'

Perfurada a criatura trompeteou alto, gritando como qualquer garça o faria,
Mexida, caiu sobre as patas debaixo do peso e não pode se levantar.
________________

Perfurada e perfurada novamente pelo rei, este elefante não pode suportar a dor e assim morreu ; mas o rei não soube que estava morto e ficou lá parado nas suas costas. Então Kalinga-bharadvaja disse, “Ó grande rei ! Teu elefante está morto ; passa para outro.”
________________

Para explicar o assunto, o Mestre recitou a décima estrofe :

Quando Kalinga-bharadvaja viu que o elefante estava morto,
Ele, tremendo e temendo, disse então ao rei Kalinga :
'Busque outro, poderoso monarca : este teu elefante está morto'.
___________________

Pela virtude e poder mágico do rei, outra besta da linhagem de Uposatha apareceu e ofereceu as costas. O rei sentou atrás. Neste mesmo momento o elefante caiu morto em terra.
____________________

Para explicar o assunto, o Mestre repetiu outra estrofe :

Escutando isto, Kalinga, consternado
Montou em outro e direto
Sobre a terra o cadáver afundou,
E a palavra do adivinho como verdadeira se apresentou.

______________________

Com isto o rei desceu das alturas e contemplando o recinto d'árvore bo e o milagre que aconteceu, louvou Bharadvaja, dizendo -

Para Kalinga-bharadvaja, rei Kalinga, disse então :
'Sabes e compreendes tudo, e tudo vês continuamente.'

Bem, o brahmin não aceitaria este louvor ; mas permanecendo em sua humilde posição, exortou e louvou os Buddhas.
________________________

Para explicar isto o Mestre repetiu estas estrofes :

Mas o brahmin sincero negou isto e assim falou ao rei :
'Sei a verdade por marcas e sinais : mas os Buddhas, todas as coisas.

Apesar de tudo saber e tudo ver, em marcas não têm habilidade :
Eles sabem tudo mas sabem por intuição : eu um homem de livros sou fraco'.

( intuição = insight )
_______________________

O rei, escutando as virtudes dos Buddhas, ficou feliz de coração ; e fez todos os habitantes do mundo trazer flores fragrantes em abundância e por sete dias os fez venerar o circuito da Grande Árvore Bo.
_____________________

À guisa de explicação, o Mestre recitou um par de estrofes :

Assim venerando a grande árvore bo com muito som melodioso
De música e com guirlandas fragrantes : levantou um muro ao redor,

e após isto o rei seguiu seu caminho -

Trouxe flores em sessenta mil carros fazendo oferta ;
Assim o rei Kalinga venerou o Circuito d'Árvore.

__________________

Tendo deste modo prestado veneração à Grande Árvore Bo, ele visitou seus pais e os levou de volta novamente para Dantapura ; onde fez ofertas e boas ações até nascer novamente no Céu dos Trinta e Três.

___________________

O Mestre, tendo terminado este discurso, disse : “Não é esta a primeira vez , Irmãos, que Ananda presta veneração àrvore bo mas anteriormente também;” e ele identificou o Jataka :- “Naquele tempo Ananda era Kalinga e eu mesmo Kalinga-bharadvaja.” 

 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

478 Buddha e o Ganges




478
Ei, mergulhado em pensamento...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre o louvor de sua própria sabedoria. No Salão da Verdade estavam fofocando : “Vejam, Irmãos, a habilidade em recursos do Dasabala ! Ele mostrou àquele jovem nobre Nanda ( meio irmão de Buddha ) a hoste das ninfas e deu a ele santidade ; deu uma roupa para seu pajem de pé pequeno e lhe outorgou santidade junto com os quatro ramos da ciência mística ( attha-, dhamma-, niruti-, patibhana- ) ; ao ferreiro apresentou uma lótus e lhe deu santidade ; com quantos expedientes diversos ele instrui os seres vivos !” O Mestre entrando perguntou sobre o quê conversavam lá sentados ; eles disseram. Ele falou, “Não é a primeira vez que o Tathagata é hábil em recursos e inteligente para saber o quê terá o efeito desejado ; inteligente ele já foi antes.” Assim falando, contou uma história do passado.
_______________________________

Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, o país estava sem ouro ; e então o rei oprimiu o país e conseguiu riquezas. Naquele tempo o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin em uma certa cidade em Kasi. Quando atingiu a idade, foi para Takkasilla ( Taxila ), falando, “Conseguirei dinheiro para pagar meu professor depois, pedindo ofertas honradamente.” Ele adquiriu conhecimento e quando sua educação estava completa, disse, “Usarei de toda a diligência, meu professor, para trazer o dinheiro devido por seu ensino.” Então pedindo licença a ele, partiu e atravessando a terra buscou ofertas. Quando tinha com justiça e honradamente acumulado umas poucas onças de ouro, foi entregá-las a seu professor ; e no caminho embarcou em um bote para atravessar o Ganges. Quando o barco oscilava de um lado para outro n'água, o ouro caiu. Então ele pensou, “Este é um país difícil de conseguir ouro ; s'eu sair buscando novamente dinheiro para pagar meu professor, haverá um longo atraso. E se eu sentar jejuando às margens do Ganges ? O rei logo logo saberá do meu sentar aqui e enviará alguns cortesãos mas nada terei a dizer a eles. Então o rei mesmo virá e deste jeito conseguirei o pagamento do meu professor com ele.” Então envolveu-se com seu manto e colocando para fora a trança sacrificial, sentou às margens do Ganges, como uma estátua de ouro em cima da areia de prata. As multidões que passavam, vendo-o sentado lá e sem comer, questionavam-no porque estava sentado. Mas nem uma palavra disse a nenhum deles. Dia seguinte os cidadãos do subúrbio ouviram falar do seu jejum sentado e eles também vieram e perguntaram mas nada disse a estes também ; os cidadãos vendo sua condição exausta saíram em lamentos. No terceiro dia veio gente da cidade e no quarto pessoas eminentes, no quinto os próximos ao rei e no sexto dia o rei enviou seus ministros ; mas para nenhum destes o homem falaria. No sétimo dia o rei alarmado veio até ele e pediu uma explicação, recitando a primeira estrofe :

Ei, mergulhado em pensamentos às margens do Ganges, por quê não
Respondes às minhas mensagens ? Guardarás a tua dor ?

Quando escutou isto, o Grande Ser respondeu, “Ó grande rei ! O sofrimento deve ser falado para aquele que é capaz de acabar com ele e para nenhum outro “ : e repetiu sete estrofes :

Ó senhor cuidador da terra de Kasi ! Se sofrimento é teu lote,
Não conte este sofrer para alguém se ele não pode ajudá-lo.

Mas quem quer que possa aliviar uma parte dele com justiça,
A este deixe todo teu desejo declarar, toda pessoa assolada de dor.
O grito de chacais ou de pássaros é entendido com facilidade ;
Mas as palavras dos homens, Ó Rei, é mais sombria que estes.

Um homem pode pensar, 'Este é meu amigo, meu camarada, meu parente' :
Mas amizade vae e frequentemente raiva e inimizade começam !

Aquele que sem ser questionado repetidamente
Fora do devido tempo declara seu sofrimento,
Certamente desagrada aqueles que são seus amigos,
E aqueles que lhe desejam bem lamentam vigorosamente.

Sabendo encontrar, para falar, o tempo adequado
Conhecendo um sábio de mente amiga,
O sábio, a tal, sua dor declara,
Em palavras calmas com significados escondidos atrás.

Mas, vendo ele, que nada pode corrigir
Suas necessidades e que contá-las não levará
A nenhum resultado bom, deixe o sábio sozinho
Perseverando, reservado e envergonhado até o fim.

Assim o Grande Ser discursou nestas sete estrofes para ensinar ao rei ; e então repetiu outras quatro para indicar sua busca por dinheiro para pagar o professor :

Ó Rei ! Percorri reinos inteiros, cidades de vários reis, vilas e aldeias
Colhendo ofertas, para pagar os honorários de meu professor.
Donos de casa, cortesãos, pessoas ricas, brahmins – em toda porta
Buscando, um pouco de ouro ganhei, uma onça ou duas, não mais.
Bem, estas estão perdidas, Ó rei poderoso ! E daí o lamento dolorido.

Nenhum poder tem seus mensageiros de me livrar da dor :-
Os considerei bem, Ó poderoso rei ! Daí nada expliquei.

Mas você tem poder, Ó poderoso rei ! Para me livrar do sofrimento,
Pois pesei bem teu mérito ; a ti me explico.

Quando o rei entendeu seu pronunciamento, respondeu, “Não se avexe não, brahmin, pois pagarei os honorários de teu professor ;” e lhe deu em dobro.
_____________________

Para tornar isto claro o Mestre repetiu a última estrofe :

O senhor cuidador da terra de Kasi restaurou a este homem
(Em total confiança ) o dobro do ouro refinado que ele tinha antes.

_______________________

Quando o Grande Ser assim se salvou, foi pagar os honorários do professor ; e o rei de modo semelhante habitou com seus conselhos, fazendo ofertas e atos de bondade, legislando com retidão. Assim ambos finalmente passaram de acordo com seus atos.
__________________________

Quando o Mestre terminou seu discurso, disse: “Assim, Irmãos, não é apenas agora que o Tathagata é fértil em recursos mas ele sempre foi o mesmo.” Então identificou o Jataka : “Naquele tempo Ananda era o rei, Sariputra o professor e eu mesmo o jovem brahmin.” 

 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

477 Buddha Brahma e o filho Narada



                 ( Imagem em pedra de Sañchi do Vessantara Jataka, 547, o último, em que o rei a rainha e o casal de filhos abandonam a cidade grande e vão para a floresta viver de raízes e frutos. A direita eles chegando na floresta  com a criança ainda no colo e à esquerda já sentados com as crianças debaixo da mangueira comendo manga na margem do rio que passa ; junto há animais soltos . Na extrema esquerda um ornamento de cavaleiros parece indicar que as cenas são duas )

477
           “Nenhuma lenha cortada...etc.” - A história inicial está contada no Jataka 348 que se repete no 435 e neste aqui.
__________________________
 
Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família brâhmane de grande riqueza e após sua educação ter terminado administrava os bens. Então sua esposa deu à luz um filho e morreu. Ele pensou, “Como com minha esposa amada, também comigo a morte não terá vergonha ; o que é uma casa para mim ? Me tornarei um asceta.” Assim abandonando suas luxúrias, foi com seu filho para o Himalaia ; e lá com ele entrou para a vida ascética, desenvolveu o Transe místico e o Conhecimento transcendente e vivendo nas florestas e se alimentando de raízes e frutos.
Naquele tempo pessoas das fronteiras assolavam o campo ; e tendo assaltado uma vila e feito prisioneiros, carregado de espólios retornaram para a fronteira. Entre eles havia um garota, bonita, mas dotada com toda a esperteza da falsidade. Esta garota pensou consigo mesma, “Estes homens, quando tiverem nos levado para suas casas nos usarão como escravos ; devo encontrar um jeito de escapar.” Então ela disse, “Meu senhor, preciso me retirar um instante ; deixe-me sair um momento.” Assim enganou os ladrões e fugiu.
Bem, o Bodhisatva havia saído para catar frutas e semelhantes, deixando seu filho na cabana. Enquanto ele estava fora, esta garota, enquanto vagava sozinha pela floresta, chegou no eremitério, de manhã ; e tentando o filho do asceta com o desejo do amor, destruiu as virtudes dele e o colocou sob seu poder. Ela disse a ele, “Por quê viver aqui na floresta ? Venha vamos para a cidade e façamos uma casa para nós mesmos. Lá é fácil gozar de todos os prazeres e paixões dos sentidos.” Ele consentiu e disse, “Meu pai está agora fora na floresta procurando frutos selvagens. Quando o tivermos visto, vamos juntos embora.” Então a garota pensou, “Este jovem inocente não sabe de nada ; mas seu pai deve ter se tornado asceta em sua velhice. Quando ele chegar, vae querer saber o que faço aqui e vae me bater e me arrastar para fora pelos pés e me jogar na floresta. Vou desaparecer antes que ele chegue.” Então ela disse ao rapaz, “Eu vou primeiro e você me segue” ; anotando então os pontos de referência, ela partiu. Após ela ter ido, o rapaz ficou triste e não fez nenhuma de suas tarefas como era de costume ; mas se cobriu da cabeça aos pés e deitou dentro da cabana atormentado.
Quando o Grande Ser chegou com seus frutos selvagens, notou as pegadas da garota. “Isto é uma pegada de mulher,” pensou ele ; “a virtude do meu filho deve estar perdida.” Então ele entrou na cabana, largou as frutas selvagens e questionou seu filho repetindo a primeira estrofe :

Nenhuma lenha cortada e não trouxeste água do poço,
Nenhum fogo acesso : por que estás deitado devaneando como um louco ?

Escutando a voz de seu pai, o rapaz levantou-se e o saudou ; e com todo o respeito o fez saber que ele não podia suportar a vida na floresta, repetindo um par de estrofes :

Não posso viver na floresta : isto, Ó Kassapa, juro ;
É dura a vida na floresta : vou voltar para o Reino.

Me ensine, Ó brahmin, quando eu partir, para onde ir,
Os costumes do país devo saber inteiramente.

Muito bem, meu filho,” disse o Grande Ser, “Te direi os costumes do país.” E ele repetiu este par de estrofes :

Se tua mente quer deixar para trás as frutas e raízes da floresta
E morar na cidade, escute o ensino o caminho que se adequa àquela vida :

Mantenha-se afastado de todo precipício, e de veneno distante,
Não sente na lama e ande com cuidado onde estão as serpentes.

O filho do asceta, não entendendo este conselho profundo, perguntou :

O que tem teu precipício a ver com o caminho religioso,
Tua lama, teu veneno e tua cobra ? Vamos, prego, me diga.

O outro explicou :

Há uma bebida no mundo, meu filho, que as pessoas chamam vinho,
Fragrante, deliciosa, melíflua e barata, de sabor fino :
Isto, Narada, para homens santos é veneno, diz o sábio.

E mulheres no mundo podem fazer o entendimento dos tolos rodopiarem,
Elas capturam jovens corações, como furacões pegam algodão do chão :
O precipício significa isto antes que o homem bom caia.

Altas honras feitas por outros homens, respeito, fama e ganho,
Isto é lama, Ó Narada, que a homens santos pode manchar.

Grandes monarcas com seus séquitos residem neste mundo,
E eles são grandes, Ó Narada, cada um, um rei poderoso :

Diante dos pés de senhores e monarcas soberanos não andes tu,
Pois, Narada, estes são as serpentes as quais falei justo agora.

A casa que você for para comer, quando as pessoas sentarem,
Se vires bondade dentro da casa, lá pegue o suficiente e coma.

Quando entretido por outro para comer e beber, faça isto :
Não coma muito, nem beba muito, e evite luxúrias da carne.

De fofoca, bebida, companhia lasciva e lojas de artigos de ouro,
Fiques afastado como aqueles que andam em caminhos acidentados.

Enquanto seu pai seguia falando e falando, o rapaz voltou aos seus sentidos e disse, “Basta de mundo para mim, querido pai !” Então seu pai o instruiu como desenvolver gentileza e outros bons sentimentos. O filho seguiu as instruções do pai e não muito tempo depois fez o ênstase da meditação mística brotar de dentro de si. E ambos, pai e filho, sem quebrar o transe, nasceram novamente no mundo de Brahma.
_________________

Quando o Mestre terminou este discurso, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo a garota tosca era a jovem mulher, o Irmão descontente era o filho do asceta e eu era o pai.”

[ n. do tr. : Narada é filho de Brahma, da trindade hindu Brahma, Vishnu, Shiva ]


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

476 Buddha Ganso



Desenho reproduzindo imagens da caverna XVII de Ajanta que ilustram este Jataka feitos por Monika Zin baseados em rascunhos preliminares de Matthias Helmdach em Dieter Schlingloff, Guide to Ajanta Paintings, MM Publishers, New Delhi, 1999.

476
Venha, nobre Ganso...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre o Dalhadhamma Suttanta ou a Parábola dos Homens Fortes. O Abençoado disse : “Suponha, Irmãos, quatro arqueiros nos quatro cantos, pontos, cardiais, homens fortes, bem treinados e de grandes habilidades, perfeitos no arco e flecha ; e então deixe um homem vir e dizer, 'Se estes quatro arqueiros, fortes, bem treinados, e de grande habilidade, perfeitos no arco e flecha, atirarem flechas dos quatro cantos, apanharei estas flechas enquanto são atiradas e antes delas tocarem o chão' : vocês não concordariam, com toda certeza, que deve ser um homem muito rápido e a perfeição da rapidez ? Bem, Irmãos, grande como a rapidez de tal homem pode ser, grande como a rapidez do sol e da lua, há algo mais rápido : grande, digo, Irmãos, qual a rapidez de tal homem possa ser, grande qual a rapidez do sol e da lua e apesar dos deuses voarem mais rápido que o sol e a lua, há algo mais rápido que os deuses : grande, Irmãos, como a rapidez de tal homem ( e assim por diante ), ainda mais rápido que os deuses podem ir, os elementos fazem a vida decair. Portanto, Irmãos, vocês devem aprender isto, sejam cuidadosos ; verdadeiramente digo a vocês, isto vocês devem aprender.” Dois dias após este ensinamento, falando sobre isto no Salão da Verdade : “Irmãos, o Mestre, em seu lugar peculiar de Buddha, ilustrando a natureza do que faz a vida, mostrou-a ser transitória e fraca e atingiu com temor extremo Irmãos e inconversos semelhantemente. Oh, o poder de um Buddha !” O Mestre entrando questionou sobre o que conversavam. Eles disseram ; e ele falou, “Não é nenhuma maravilha, Irmãos, se em minha omnisciência alerto os Irmãos com meu ensino e mostro como transitórios são os elementos da vida. Mesmo eu, quando sem causa natural fui concebido como um Ganso, mostrei a natureza transitória dos elementos da vida e com meu ensino alertei toda a corte de um rei, junto com o rei de Benares mesmo.” Assim falando, ele contou uma história do passado.
_________________
 
Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, o Grande Ser nasceu como um rápido Ganso, que viveu no Monte Cittakuta em um bando de noventa mil outros tais Gansos. Um dia, tendo, junto com seu bando, comido arroz selvagem que crescia em um certo lago nas planícies da Índia, voou pelos ares ( e foi como se uma esteira dourada houvesse se espalhado de uma extremidade a outra da cidade de Benares ) e voou lentamente por esporte para Cittakuta. Bem, o rei de Benares o viu ; e disse a seus cortesãos, “Aquele pássaro lá deve ser rei como eu sou.” Ele gostou do pássaro e pegando guirlandas, perfumes e unguentos, saiu em busca do do Grande Ser ; e com ele fez com que fosse junto todo tipo de música. Quando o Grande ser o viu fazendo honra desta maneira, perguntou aos outros Gansos, “Quando um rei faz tal honra para mim, o quê será que ele quer ?” “Ele quer fazer amizade contigo, meu senhor.” “Bem, que eu seja amigo do rei,” respondeu ; e fez amizade com o rei e retornou.
Um dia depois disso, quando o rei estava no parque e foi para o Lago Anotatta, o pássaro voou até o rei, tendo água numa asa e pó de sândalo na outra ; com àgua aspergiu o rei e jogou o pó sobre ele, e então enquanto a companhia olhava, voou para Cittakuta com seu bando. A partir daquele momento o rei passou a ter saudade do Grande Ser ; demorava-se olhando o caminho pelo qual ele veio e pensava - “Ho-je meu camarada virá.”
Bem os dois Gansos mais jovens pertencentes ao bando do Grande Ser, resolveram apostar uma corrida de vôo com o Sol. “Meus jovens,” cotejou ele, “a velocidade do sol é rápida e vocês nunca serão capazes de apostar corrida com ele. Vocês vão perecer durante o percurso portanto não vão.” Uma segunda vez eles pediram e uma terceira ; mas o Bodhisatva os conteve até a terceira vez que pediram. Mas eles teimaram não conhecendo a própria força e estavam resolvidos de, sem falar com o rei, voar até o sol. Assim, antes do sol nascer, eles tomaram seus lugares no pico do Monte Yugandhara ( n. do tr. : uma das sete grandes cordilheiras que circunda o Monte Meru ). O Grande Ser perdeu-os de vista e perguntou onde teriam ido. Quando escutou o quê tinha acontecido, pensou, “Nunca serão capazes de voar com o sol e vão perecer no percurso. Salvarei a vida deles.” Assim ele também foi para o pico do Yugandhara e sentou do lado deles. Quando o círculo do sol se apresentou acima do horizonte, os jovens Gansos levantaram-se e arremessaram-se na direção do sol ; o Grande Ser voou junto com eles. O mais novo voou na direção de antes do meio dia, e então foi ficando fraco ; nas juntas das suas asas sentiu como se um fogo tivesse sido acesso. Então fez um sinal para o Grande Ser : “Irmão, não vou conseguir !” “Nada tema,” disse o Grande Ser, “vou te salvar;” e tomando-o em suas asas abertas, o acalmou e transportou para o Monte Cittakuta e o colocou no meio dos Gansos. Partiu então novamente e alcançando o sol, voou lado a lado com o outro. Até próximo ao meio dia o outro voou junto com o sol e então ficou fraco e sentiu como se um fogo estivesse acesso nas juntas das suas asas. Fazendo um sinal para o Grande Ser, ele gritou, “Irmão, não vou conseguir !” A ele também o Grande Ser confortou do mesmo modo e tomando-o em suas asas abertas, o carregou até Cittakuta. Naquele momento o sol estava no prumo acima da cabeça. O Grande Ser pensou, “Ho-je vou testar a força do sol ;” e arremessando-se em um mergulho, pendurou-se no Yugandhara. Então com uma investida alcançou o sol e voando na frente e atrás, pensou consigo mesmo, “Para mim voar com o sol não tem nenhum ganho mas é apenas loucura : o quê ele significa para mim ? Vou até Benares, e lá, falar para meu camarada o rei uma mensagem de verdade e retidão.” Girando então, antes que o sol se movesse do meio do céu, ele atravessou todo o mundo de uma extremidade à outra ; depois diminundo a velocidade, atravessou de uma extremidade a outra, toda a Índia e chegou por fim à Benares. Toda a cidade , doze léguas de circunferência, estava como se sob a sombra do pássaro, não havendo quebra ou fresta ; diminuindo então gradativamente a velocidade, buracos e frestas apareceram. O Grande Ser indo mais devagar e descendo dos ares, pousou em frente a uma janela. “Meu camarada veio !” gritou o rei com grande alegria ; e pegando um assento dourado para o pássaro se pendurar, disse, “Venha amigo, sente aqui,” e recitou a primeira estrofe :

Venha, nobre Ganso, sente aqui ; ver você é um prazer ;
Agora você é o senhor deste lugar ; escolha o que quiseres.

O Grande Ser pendurou-se no assento dourado. O rei o ungiu debaixo das asas com unguentos refinados cem vezes, não, mil vezes, deu a ele arroz doce e água açucarada em um prato dourado e conversou com ele numa voz melíflua - “Bom amigo, vieste sozinho ; de onde estás vindo ?” O pássaro contou para ele toda a história, largamente. Disse o rei então para ele : “Amigo, mostre-me também tua velocidade contra a do sol.” - “Ó poderoso rei, esta velocidade não pode ser mostrada.” - “Então mostre algo parecido.” - “Muito bem, Ó rei, mostrarei algo parecido. Reúna seus arqueiros que podem atirar rápido como um relâmpago.” O rei mandou chamá-los. O Grande Ser escolheu quatro destes e com eles desceu do palácio para o paço. Lá fez com que erguesse no chão uma coluna de pedra e se amarrasse no seu próprio pescoço um sino. Ele então pendurou-se no topo do pilar de pedra e colocou os quatro arqueiros nos pontos cardiais a partir do pilar no centro e disse, “Ó rei, que estes quatro homens atirem quatro flechas ao mesmo tempo em quatro direções diferentes e eu apanharei estas flechas antes que toquem no chão e as colocarei aos pés dos atiradores. Você saberá quando eu tiver ido pegar as flechas, pelo tilintar deste sino mas eu não serei visto.” Então todos os homens ao mesmo tempo atiraram as quatro flechas ; ele as pegou e as colocou aos pés deles e foi visto sentando-se sobre o pilar. “Viu minha velocidade, Ó rei ?” ele perguntou ; então continuou - “esta velocidade, Ó grande rei, não é a minha mais rápida nem minha velocidade mediana, é a mais lenta das lentas : e isto mostra para você como sou rápido .” Então o rei perguntou, “Bem, amigo, há alguma velocidade mais rápida do que esta sua ?” “Há, meu amigo. Mais rápida cem vezes que a minha mais rápida, mil vezes, não, cem mil vezes, é o decaimento dos elementos da vida nos seres vivos : assim eles se desmoronam, assim se destroem.” Deste modo tornou claro, como o mundo das formas se desmorona, se desfazendo momento a momento. O rei escutando isto ficou com medo da morte, não conseguiu manter os sentidos e caiu desmaiado. A multidão se desesperou ; aspergiram água na face do rei e deram uma volta com ele. Então o Grande Ser disse, “Ó grande rei, nada tema ; mas lembre da morte. Ande retamente, faça ofertas e atos de bondade, cuide-se.” Respondendo o rei disse, “Meu senhor, sem um professor sábio como você não posso viver, não retorne para o monte Cittakuta mas fique aqui, me instrua, seja meu professor a me ensinar !” e colocou em duas estrofes seu pedido :

Escutando o amado, o amor é alimentado,
Pela vista o anseio pelo perdido, cae morto :
Já que vista e ouvido tornam as pessoas felizes e queridas,
Com a vista tua deixe-me ser favorecido.

Cara é tua voz e mais querida ainda tua presença quando a vejo :
Já então que amo te ver, Ó Ganso, more comigo !

O Bodhisatva disse :

Para sempre moraria contigo, com honra assim conferida;
Mas tu poderias dizer, bêbado, um dia – 'Assem para mim aquele Pássaro real' !

Não,” disse o rei, “então nunca tocarei em vinho nem em bebida forte,” e ele fez esta promessa na estrofe seguinte :

Amaldiçoada a comida e bebida qu'eu ame mais que a ti ;
Não provarei nem uma gota nem um gole enquanto estiveres comigo !

Após isto o Bodhisatva recitou seis estrofes :

O grito dos chacais ou dos pássaros é entendido com facilidade ;
Sim, mas a palavra dos homens, Ó rei, é muito mais escura do que a destes !

Um homem pode pensar, 'este é meu amigo, meu camarada, meu parente,'
Mas amizade vae e frequentemente ódio e inimizade começam.

Quem está em teu coração, está próximo de ti, contigo, onde quer que esteja ;
Mas quem mora contigo, e é estranho a teu coração, longe está.

Quem em tua casa for de coração gentil
É gentil ainda que do outro lado do mar :
Quem em tua casa for hostil de coração,
Hostil será como se um oceano distante.

Teus inimigos, Ó senhor de carruagens ! apesar de próximos de ti, estão distantes :
Mas, Ó cuidador de teu reino ! os bons de coração estão unidos juntos.

Quem fica muito tempo, descobre geralmente que amizade muda para inimizade ;
Então antes qu'eu perca tua amizade, peço licença e vou.

O rei então disse para ele :

Ainda que de mãos postas suplique, você não me dará ouvidos ;
Não economizaste nenhuma palavra conosco, para quem teu serviço seria caro :
Anelo um favor : volte novamente e nos visite aqui.

O Bodhisatva disse :

Se nada vier interromper nossas vidas, Ó rei ! Se você e eu
Ainda vivermos, Ó cuidador de teu povo, talvez para cá voe,
E podemos nos ver novamente, enquanto os dias e noites passam.

Com esta fala ao rei, o Grande Ser partiu para Cittakuta.

_________________

Quando o Mestre terminou seu discurso, disse : “Assim, Irmãos, muito tempo atrás, mesmo quando nasci qual um dos animais, mostrei a fragilidade de todos os elementos da vida e declarei a Verdade.” Assim falando, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Ānanda era o rei, Moggaallāna era o pássaro mais jovem, Sāriputra o segundo, os seguidores do Buddha eram todos os outros Gansos do bando e eu mesmo era o rápido Ganso.” 

[ n. do tr. : o pássaro pode ser imagem do fogo do sacrifício, o quê explica sua velocidade e centralidade assim como a impermanência dos elementos do mundo desenvolvida como tema. ]