quarta-feira, 23 de março de 2011

423 Buddha Sarabhanga


                         Buddha de Takkasilla ( Taxila ), Paquistão.

423
“Quem pelos desejos...etc.” - O Mestre contou este conto enquanto residia em Jetavana, relativo à tentação pela esposa de dias anteriores. A história é de um jovem de boa família de Savatthi que escutou a pregação do Mestre e pensando ser impossível levar vida santa e pura e perfeitamente completa enquanto dono de casa, decidiu-se tornar asceta sob a doutrina salvadora e dar um fim ao sofrimento. Então entregou sua casa e propriedade para a esposa e crianças e pediu ao Mestre que o ordenasse. O Mestre fez isto. Como era o mais novo nas idas e vindas de coleta de oferta com os professores e instrutores, e como os Irmãos eram muitos, não conseguiu nenhum lugar nem nas residências dos laicos nem no refeitório mas apenas um assento e um banco no fim entre os noviços, sua comida era jogada para ele apressadamente com uma concha, e ele conseguiu mingau feito com restos de arroz, comida sólida azeda ou passada, ou grãos secos e queimados ; e isto não era suficiente para mantê-lo vivo. Ele levou o que conseguiu para a esposa que tinha deixado : ela pegou a tigela dele, saudou-o, esvaziou-a e deu a ele ai invés daquilo mingau bem cozido e arroz com molho e curry. O Irmão ficou cativo pelo amor a tais sabores e não conseguia deixar a esposa. Ela pensou em testar o amor dele. Um dia ela recebeu um camponês purificado com argila branca e o sentou em sua casa com alguns outros de sua família que ela chamara e deu a eles algo para comer e beber. Eles comiam e se divertiam sentados. Na porta da casa ela tinha alguns bois amarrados em jugo, rodas e um carro pronto. Ela mesma permaneceu no recinto de trás assando bolos. Seu marido veio e ficou na porta. Vendo-o um antigo empregado disse a sua patroa que um ancião estava à porta. “Saude-o e peça que entre.” Mas apesar dele fazer isto repetidamente, o sacerdote permaneceu no mesmo lugar e disse para a patroa. Ela veio e levantando a cortina para ver, gritou, “Este é o pai dos meus filhos.” Ela saiu e o saudou : pegando a tigela dele e fazendo-o entrar deu a a ele comida : quando ele já tinha comido ela o saudou novamente e disse, “Senhor, és um santo agora : permanecemos nesta casa todo este tempo ; mas não existe vida de dona de casa apropriada sem um marido, então nós vamos para outra casa, no campo : seja zeloso em tuas obras boas e me perdoe se erro.” Por um tempo seu marido ficou como se o coração espatifasse. Então ele disse, “Não posso te deixar : não vá, voltarei para minha vida mundana : envie vestimentas laicas para tal e tal lugar, desistirei de minha tigela e dos meus hábitos e voltarei para ti.” Ela concordou. O Irmão foi para o mosteiro e deixando sua tigela e hábito com seus professores e instrutores explicou, em resposta as perguntas deles, que não podia deixar a esposa e estava voltando para a vida mundana. Contra a vontade dele eles o levaram até o Mestre e contaram que ele era relapso e desejava voltar para a vida mundana. O Mestre disse, “É vera esta história ?” “É Senhor.” “Quem te leva a ser relapso ?” “Minha esposa.” “Irmão, esta mulher te faz mal : anteriormente também por causa dela tu caíste dos quatro estágios da meditação mística e te tornaste miserável : então através de mim foste libertado da miséria e reganhaste o poder de meditação que houveras perdido,” e então ele contou um conto antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como filho do sacerdote da família real e sua esposa brahmin. No dia do seu nascimento houve um explodir de armas por toda a cidade e por isto o chamaram jovem Jotipala. Quando cresceu, aprendeu todas as artes em Takkasila ( Taxila ) e apresentou suas habilidades nelas ao rei : mas desistiu de seu posição e sem dizer a ninguém partiu pela porta de trás e entrando na floresta tornou-se asceta no eremitério de Kavitthaka, chamado Sakkadattiya. Ele atingiu perfeição na meditação. Enquanto lá residia muitas centenas de sábios o acompanharam. Era ajudado por uma grande companhia e tinha sete discípulos principais. Deles, o sábio Salissara deixou o eremitério Kavitthaka pelo país Surattha e residiu nas margens do rio Satodika com muitos milhares de sábios juntos : Mendissara com muitos milhares de sábios morou perto da cidade de Lambaculaka no país do rei Pajaka : Pabbata com muitos milhares de sábios morava em uma certa floresta : Kaladevala com muitos milhares de sábios residia em certa montanha florestal em Avanti e Decan : Kisavaccha morava sozinho perto da cidade de Kumbhavati no parque do rei Dandaki : o asceta Anusissa ajudava o Bodhisatva e permanecia com ele : Narada, o irmão mais novo de Kaladevala, morava só em uma cela-caverna no meio do montanhoso país de Arañjara na Região Central. Não longe de Arañjara havia uma vila populosa. Nesta vila havia um grande rio, no qual muitos homens se banhavam : e ao longo de suas margens sentavam muitas cortesãs bonitas tentando os homens. O asceta Narada viu uma delas e enamorando-se, abandonou a meditação, pinhando sem comida por sete dias prostado nos laços do amor. Seu irmão Kaladevala por reflexão soube a causa disto e veio voando pelos ares para a caverna. Narada o viu e perguntou porque viera. “Soube que estavas doente e vim cuidar de ti.” Narada o repeliu com falsidade, “Falas nonsense, mentiras e vaidade.” O outro recusou-se a partir e trouxe Salissara, Mendissara e Pabbatissara. Ele repeliu a todos do mesmo modo. Kaladevala saiu voando para buscar o mestre deles Sarabhanga e o trouxe. Quando o Mestre chegou, ele viu que Narada caiu sob o poder dos sentidos e perguntou se era isto. Narada levantou-se com as palavras, saudou-o e confessou. O Mestre disse, “Narada, aqueles que caem no poder dos sentidos gasta miseravelmente esta vida e na próxima existência nascem no ínfero :” e assim ele falou a primeira estrofe :-

Quem pelos desejos obedece oscilar dos sentidos,
Perde ambos os mundos e pinha, definha, sua vida fora.

Escutando isto Narada respondeu, “Professor, seguir aos desejos é felicidade : por quê chamas tal felicidade miséria ?” Sarabhanga disse, “Escute, então,” e falou a segunda estrofe :-

Felicidade e miséria estão um na pegada do outro :
Vês sua alternância : busques felicidade verdadeira.

Narada disse, “Professor, tal miséria é dura de carregar, não suportarei.” O Grande Ser disse, “Narada, a miséria que chega deve ser suportada,” e falou a terceira estrofe :-

Aquele que resiste em tempos difíceis lidando com problemas
É forte para alcançar a benção final onde acabam os mesmos problemas.

Mas Narada respondeu, “Professor, a felicidade do desejo do amor é a maior felicidade : não posso abandoná-la.” O Grande Ser disse, “Virtude não é para ser abandonada por causa qualquer,” e falou a quarta estrofe :-

Por amor de luxúrias, por esperança de ganhos, por miséria grande ou pequena,
Não desfaça teu santo passado caindo assim da virtude.

Sarabhanga tendo então mostrado a lei em quatro estrofes, Kaladevala em conselho a seu irmão mais novo falou a quinta estrofe :-

Saiba que a vida mundana é problema, provisões devem ser dadas livremente.
Não há prazer em acumular riquezas, nem desprazer quando são gastas.

[ Escoliasta, Glosa : Bens são os cuidados da vida de casa, bens a serem dados,
Sem orgulho com riquezas ganhas, nem tristeza quando acabam.]
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A sexta estrofe é falada pelo Mestre em sua Perfeita Sabedoria relativa ao conselho de Devala para Narada :

Tanto mais sabiamente falou Devala Negro :
“Ninguém pior qu'aquele que se curva ao jugo dos sentidos.”
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Então Sarabhanga falou aconselhando, “Narada, escute isto : aquele que não faz logo o quê deve ser feito, deve chorar e se lamentar como o jovem que foi para a floresta,” e assim contou uma velha história.
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Certa vez em uma certa vila de Kasi havia um certo jovem brahmin, belo, forte, corajoso como um elefante. Seus pensamentos eram, “Por quê devo cuidar de meus pais trabalhando numa fazenda, ou ter esposa e filhos, ou fazer obras boas de caridade e assim por diante ? Não vou cuidar de ninguém nem fazer obra boa ; mas vou para a floresta e me manterei matando cervos.” Assim com os cinco tipos de armas ele foi para o Himalaia e matou e comeu muitos cervos. Na região do Himalaia ele encontrou um grande desfiladeiro, cercado de montanhas, as margens do rio Vidhava e lá viveu da carne de cervos mortos, cozida em carvões. Ele pensou, “Nem sempre serei forte ; quando ficar fraco não serei capaz de vagar pela floresta : vou agora dirigir vários tipos de animais para este desfiladeiro, fechá-los com um portão e então sem vagar pela floresta matarei e comerei a bel prazer :” e assim ele fez. O tempo passando por ele fez com que acontecesse justamente o quê ele previra e a experiência de todo o mundo caiu sobre ele : perdeu controle sobre suas mãos e pés, não podia se mexer livremente para cá e lá, não podia achar sua comida e bebida, seu corpo secou, se tornou um fantasma de ser humano, apresentando rugas cortando seu corpo como a terra em estação seca ; doente e mal estruturado, tornou-se muito miserável. Desde modo passando o tempo, o rei de Sivi ( Sibi ) ( famoso por ter pesado o pombo para o falcão) ( Indra / Sakra e Matali disfarçados), chamado Sivi ( Sibi ), teve desejo de comer um churrasco na floresta : então passou o governo para os ministros, e com os cinco tipos de armas foi para a floresta e comeu carne de cervo que ele matou : com o tempo chegou naquele lugar e encontrou aquele homem. Apesar de temeroso, juntou coragem e perguntou quem ele era. “Senhor, sou um fantasma de ser humano, colhendo os frutos dos atos que fiz : quem és tu?” “ O rei de Sivi ”. “ Por quê vieste para cá ?” “Para comer carne de cervo.” Ele disse, “Grande rei, me tornei um fantasma de ser humano porque vim para cá com este objetivo,” e contando toda a história e explicando sua infelicidade ao rei, ele falou as estrofes restantes :-

Rei, acontece comigo como se estivesse em luta amarga com inimigos,
Trabalho e habilidade nas mãos, uma casa em paz, esposa,
Tudo foi perdido por mim : minhas obras carregam frutos nesta vida.

Sou o pior mil vezes, sem amigos e destituído de esteio,
Desviado da lei da retidão, como fantasma desfaleço.

Este é o meu estado porque causo, ao invés de alegria, dor :
Cingido como que com chamas de fogo, não tenho felicidade.

Com isto ele adicionou, “ Ó rei, devido ao desejo de felicidade causei miséria a outros e me tornei nesta vida mesmo um fantasma de ser humano : não faça gestos ruins, vá para tua cidade e faça obras boas de caridade e semelhantes.” O rei fez isto e completou seu caminho para o céu.
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O asceta levantou-se com o relato deste caso pelo professor Sarabhanga. Ele ficou agitado e após saudar e ganhar o perdão de seu professor, por procedimentos próprios reganhou o poder da meditação que tinha perdido. Sarabhanga recusou deixá-lo lá e o levou de volta para seu próprio eremitério.
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Após a lição o Mestre declarou as Verdades e identificou o Jataka :- após as Verdades o Irmão relapso foi estabelecido na fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo Narada era o Irmão relapso, Salissara era Sariputra, Mendissara era Kassapa, Pabbata era Anuruddha, Kaladevala era Kaccana, Anusissa era Ananda, Kisavaccha era Mooggaallaana e Sarabhanga era eu mesmo.”