segunda-feira, 15 de maio de 2017

502 Buddha Ganso Dourado





             ( Pintura de Ajanta com a reprodução em desenho de Monika Zin ; note-se no canto o caçador carregando os dois pássaros na vara de levar coisas ; clique na imagem para vê-la ampliada )

502
Lá vão os pássaros...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia no Bosque de Bambu sobre a renúncia à vida por Ancião Ananda. Então os Irmãos também estavam conversando no Salão da Verdade sobre as boas qualidades do Ancião, quando o Mestre entrou e perguntou-lhes o quê falavam lá sentados. Ele disse, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Ananda renunciou sua vida por mim mas ele fez o mesmo antes.” E então ele contou-lhes uma história do passado.
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Certa vez reinava em Benares um rei chamado Bahuputtaka, ou Pai de muitos filhos e sua Rainha Principal era Khema. Naquele tempo o Grande Ser morava no Monte Cittakuta e era o chefe de noventa mil gansos selvagens, tendo vindo à vida como um ganso dourado. Naquele tempo, como já foi dito, a rainha teve um sonho, e contou ao rei que concebeu o desejo feminino de ouvir o discurso do Ganso Dourado sobre a Lei. Quando o rei questionou se haviam tais criaturas como gansos dourados, lhe foi dito que sim, havia no Monte Cittakuta. Então ele construiu um lago que chamou de Khema e fez com que se plantasse todo tipo de milho e diariamente nos quatro cantos se proclamava imunidade e enviou um caçador para pegar gansos. Como esta pessoa foi enviada, sua observação dos pássaros, como novidades foram contadas ao rei quando os gansos dourados chegaram, a maneira como a armadilha foi montada e o Grande Ser pego nela, como Sumukha capitão chefe dos gansos não o viu nas três divisões de gansos e retornou, tudo isto será estabelecido no Jataka 534 ( onde o nome de Dhatarattha também é dado ao Grande Ser ). Bem, como então o Grande Ser foi pego no laço e na armadilha e quando estava mesmo pendurado no laço na extremidade da armadilha , ele esticou o pescoço olhando o caminho que os gansos tomaram e percebendo Sumukha enquanto ele vinha, pensou, “Quando ele chegar vou colocá-lo em teste.” Então quando ele chegou, o Grande Ser repetiu as três estrofes :

Lá vão os pássaros, os gansos vermelhos, todos tomados de medo :
Ó dourado Sumukha, parta ! Que queres aqui ?

Meus amigos e parentes me largaram, todos voaram para longe,
Sem pensar voaram embora : por quê só você ficou ?

Voe, nobre pássaro ! Com prisioneiros não pode haver amizade :
Voe, Sumukha ! Não perca a chance enquanto ainda podes ser livre.

Ao o quê Sumukha respondeu, pousando na lama -

Não, não te deixarei, Ganso Real, quando problema se aproxima :
Mas permanecerei e a seu lado viverei ou morrerei.

Assim falou Sumukha, em tom leonino ; e Dhatarattha respondeu com esta estrofe:
Um coração nobre, bravas palavras são estas, Sumukha, que dizes :
Foi apenas para te testar que te mandei voar de volta.

Enquanto estavam assim conversando juntos, sobe o caçador cajado nas mãos para o topo a toda velocidade. Sumukha encoraja Dhatarattha e voa para encontrar o homem, respeitosamente declarando as virtudes do pássaro real. Imediatamente o coração do caçador amoleceu ; o quê, percebendo Sumukha, o faz voltar e permanecer encorajando o rei dos gansos. E o caçador aproximando-se do rei dos gansos, recitou a sexta estrofe :

Pisam nele por caminhos que não se pisa, pássaros voando no céu :
E você, Ó nobre Ganso, não espreitou de longe a armadilha ?

O Grande Ser disse :

Quando a vida está chegando ao fim e a hora da morte se aproxima,
Apesar de você estar em cima, nem armadilha nem laço você vê.
( este gatha, verso, aparece nos Jatakas 164 e 399 )
O caçador, feliz com a colocação do pássaro, então falou três estrofes para Sumukha.

Lá vão os pássaros, os gansos vermelhos, todos tomados de medo :
E você, Ó ave dourada, ainda está parada esperando aqui.

Eles comem e bebem, os gansos vermelhos : despreocupados eles voaram ;
Dispararam através dos ares e você foi deixado só.

O quê é esta ave, que enquanto o resto deixando-o voou
Apesar de livre, você se junta ao prisioneiro – por quê ficaste só ?

Sumukha respondeu :

Ele é meu camarada, amigo e rei, querido como minha vida ele é :
Abandoná-lo – não, nunca o farei, até a morte me chamar.

Escutando isto o caçador ficou muito agraciado e pensou consigo mesmo - “Se eu machucar criaturas virtuosas como estas, a terra abriria e me engoliria. Que me importa o prêmio do rei ? Os colocarei em liberdade.” E ele repetiu uma estrofe :

Vendo agora que pelo bem da amizade estás preparado para morrer,
Liberto teu rei e camarada, para te seguir em voo.

Isto dito, ele jogou para baixo Dhatarattha da armadilha e soltou o laço e o levou para a margem e piedosamente lavou seu sangue e recolocou os músculos e tendões deslocados. E em razão da gentileza de seu coração e pelo poder das Perfeições do Grande Ser, no mesmo instante sua pata ficou curada e nem marca ficou no lugar que foi pego. Sumukha contemplou o Grande Ser com alegria e agradeceu com estas palavras :

Com todos seus parentes e amigos, Ó caçador, seja feliz,
Como estou feliz vendo o Rei dos pássaros livre.

Quando o caçador escutou isto, ele disse, “Agora você deve partir amigo.” Então o Grande Ser disse a ele, “Você me capturou para fins próprios, meu bom senhor, ou devido a ordens de outro ?” Ele contou-lhes os fatos. O outro ponderou se era melhor retornar para Cittakuta ou ir até a cidade. “Se eu for até a cidade,” ele pensou, “o caçador será premiado, o desejo da rainha será realizado, a amizade de Sumukha será conhecida, e também pela virtude de minha sabedoria receberei o lago Khema, como presente. É melhor portanto ir até a cidade.” Isto estabelecido, ele disse, “Caçador, leve-nos na sua vara de levar coisas até ao rei e ele me libertará se quiser.” - “Meu senhor, reis são duros ; sigam seus caminhos.” - “O quê ? Apaziguei um caçador como você e e não encontraria favor em um rei ? Deixe isto comigo ; sua parte, amigo, é transportar-nos até ele.” O homem fez isto.

Quando o rei colocou seus olhos nos gansos ele ficou deliciado. Colocou ambos num poleiro dourado, deu-lhes mel e grãos fritos para comer e água adocicada para beber e com as mãos postas em súplica pediu-lhes que falassem da Lei. O rei dos gansos vendo quão ansioso ele estava para escutar, primeiro dirigiu-se a ele em palavras agradáveis. Estas são as estrofes expressando a conversa do rei e do ganso um com o outro.

Tem sua excelência, saúde e riqueza e o reino cheio
De bem-estar e prosperidade e justamente legislado ?

Ó aqui temos saúde e riqueza, Ó Ganso, e aqui reino cheio
De bem-estar e prosperidade e justa e retamente legislado.

Não há mancha à vista no meio da tua corte e estão teus inimigos
Distantes, como a sombra no sul, que nunca cresce ?

Não há mancha à vista no meio dos meus cortesãos e meus inimigos
Distantes como a sombra no sul, que nunca cresce.

E tua rainha de linhagem igual, obediente, melíflua,
Fértil, bonita, famosa, acompanha seus desejos, realizando cada um ?

Ó sim, minha rainha de linhagem igual, obediente, melíflua,
Fértil, bonita, famosa, acompanha meus desejos, realizando cada um.

Ó legislador criador ! Tens filhos muitos, nobremente criados,
Espertos, homens fáceis de agradar em qualquer coisa que sejam enviados ?

Ó Dhatarattha ! Filhos tenho de fama, cinco e mais um :
Diga-lhes seus deveres : não deixaram seu bom conselho desfeito.

Escutando isto, o Grande Ser deu-lhes conselhos em cinco estrofes :

Aquele que adia até muito tarde o esforço de fazer o bem,
Apesar de nobremente criado, com virtude dotado, ainda assim afunda debaixo da correnteza.

Seu conhecimento murcha, grande perda a sua ; como a cegueira noturna
Vê todas as coisas cheias duplamente em seu tamanho com a visão imperfeita.

Quem vê a verdade em falsidade não ganha sabedoria nenhuma,
Como em um caminho montanhoso escarpado o cervo frequentemente cairá.

Se um homem corajoso qualquer ama virtude, segue o correto,
Então mesmo um casta baixa, ele queima como fogueira na noite.

Usando esta similitude explique todas as verdades da sabedoria,
Cuidando de seus filhos até crescerem sábios, como árvore nova na chuva.

Assim o Grande Ser discursou para o rei toda a noite. O desjo da rainha foi apaziguado. Àurora ele o estabeleceu nas virtudes dos reis e o exortou a ser vigilante, então com Sumukha voou para fora pela janela norte a caminho do Cittakuta.

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Após este discurso, o Mestre disse, “Assim, Irmãos, este homem ofereceu sua vida por mim antes,” e então ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Channa era o caçador, Sariputra o rei, uma irmã era a Raninha Khema, a tribo Sakiya era o bando de gansos, Ananda era Sumukha e eu mesmo o Rei Ganso.”