terça-feira, 21 de julho de 2009

( 524 Buddha Samkhapala Naga )




    ( Clique na imagem para vê-la ampliada, o Naga com a crista de nagas conversando com o asceta, em forma de cobra presa pelos humanos, resgatado por Alara e suas vacas, caminhando com Alara ao reino dos Nagas : história em quadrinhos de Ajanta, Índia ; reprodução de Monika Zin )

( 524 Samkhapala Jataka
“De bela presença...etc.” - Esta é uma história contada pelo Mestre enquanto residia em Jetavana com relação aos deveres dos dias santos. Bem, nesta ocasião o Mestre expressando aprovação a certo povo leigo que guardava dias santos, disse, “Sábios antigos, desistindo da grande glória do mundo Naga, guardavam dias santos,” e ao pedido deles, relatou uma história do passado.
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Certa vez um rei de Magadha legislava em Rajagaha. Neste tempo o Bodhisatva nasceu como filho da consorte principal deste rei e deram a ele o nome de Duyyodhana. Atingindo idade, adquiriu as artes liberais em Takkasila ( Taxila ) e voltou para casa para ver o pai. E seu pai o instalou como rei e adotou a vida religiosa fixando residência no parque. Três vezes ao dia o Bodhisatva vinha visitar seu pai que deste modo recebia grande honra e riquezas. Devido a este impedimento falhava em realizar mesmo os ritos preparatórios que levam a meditação mística e pensou, “Recebo grande honra e riquezas : enquanto viver aqui, será impossível para mim destruir esta luxúria minha. Sem dizer uma palavra sequer a meu filho, partirei para outro lugar.” Então sem falar com nenhuma criatura, ele deixou o parque e passou para além das fronteiras do reino de Magadha, construindo para si uma cabana de folhas no reino e Mahimsaka, próximo ao Monte Candaka, em uma curva do rio Kannapenna, onde ele nasce saindo do Lago Samkhapala. Lá fixou residência e realizando os ritos preparatórios, desenvolveu a faculdade da meditação mística e subsistia daquilo que conseguia catar. Um rei dos Nagas, de nome Samkhapala, saindo do rio Kannapenna em numerosa companhia de cobras, de tempos em tempos ia visitar o asceta e ele instruiu o rei Naga na Lei. Bem, o filho estava ansioso em ver seu pai e ignorando para onde ele fora, partiu a pé buscando-o e descobrindo que se encontrava em tal e tal lugar, para lá foi com um largo séquito para vê-lo. Estacionando a uma pequena distância, acompanhado de uns poucos cortesãos, partiu em direção ao eremitério. Neste momento Samkhapala com um largo séquito também, estava sentado escutando a Lei mas vendo o rei se aproximando, levantou-se e com uma saudação ao sábio, partiu. O rei saudou seu pai e após as cortesias usuais trocadas, perguntou, “Reverendo senhor, que rei é aquele que veio te ver ?” “Querido filho, ele é Samkhapala, o rei Naga.” O filho por causa da grande magnificência do rei Naga,concebeu desejo pelo mundo Naga. Ficando lá uns poucos dias, forneceu ao pai um suprimento constante de alimento e depois retornou para sua própria cidade. Lá fez erigir casas de ofertas nos quatro portões da cidade, e por suas ofertas fez agitar toda a Índia e aspirando ao mundo Naga, sempre manteve a lei moral e observava os dias santos e ao final de sua vida ele re-nasceu no mundo Naga como rei Samkhapala. No curso do tempo ele ficou enjoado desta magnificência e a partir de um dia, desejando nascer humano novamente passou a guardar dias santos mas residindo no mundo Naga, sua observância deles não tinha muito sucesso e deteriorava moralmente. A partir de um outro dia ele deixou o mundo Naga e não distante do rio Kannapenna, enrolou-se ao redor de um cupinzeiro entre a auto-estrada e um desvio, lá resolveu guardar o dia santo e manter em si a lei moral. E dizendo, “Que aqueles que querem minha pele ou querem minha pele e minha carne, deixe-os, digo, tomar tudo,” e assim sacrificando a si-mesmo a guisa de caridade, jazia no topo de um cupinzeiro e parando lá no décimo quarto e décimo quinto dia do meio do mês, no primeiro dia da outra quinzena, retornava ao mundo Naga. Então um dia quando lá estava deitado, tendo tomado para si a obrigação da lei moral, um grupo de dezesseis, 16, 2 x 8, pessoas, que viviam em uma vila vizinha, querendo comer carne, vagavam pela floresta com armas nas mãos e quando retornavam sem nada ter encontrado, viram-no deitado no cupinzeiro pensaram, “Ho-je não pegamos nem um lagarto pequeno, então mataremos e comeremos este rei-serpente,” mas temendo por causa do tamanho grande dele, que mesmo que o apanhassem, ele escaparia deles, pensaram que o furariam com estacas justo com lá estava enrolado e após assim o tornarem incapaz, realizar a captura. Então apanhando estacas nas mãos, aproximaram-se dele. E o Bodhisatva fez seu corpo ficar grande como uma canoa escavada em tronco e tinha aparência muito bonita, como uma grinalda de jasmim deitada ao chão, com os olhos semelhantes a fruta do arbusto guñjá e a cabeça como uma flor jayasumana (Pentapetes Phoenicea) e ao som dos passos destas dezesseis pessoas, retirando sua cabeça de dentro de seus rolos e abrindo os olhos ferozes, contemplo-os vindo com estacas nas mãos e pensou, “Ho-je meu desejo se realizará enquanto estou deitado aqui, serei firme em minha resolução e me entregarei a eles como um sacrifício e quando me atingirem com suas zagaias e me cobrirem com feridas, não abrirei meus olhos para olhá-los com raiva.” E concebendo esta firme resolução com temor de quebrar a lei moral, cobriu a cabeça para dentro da crista e ficou deitado. Então chegaram nele e o apanharam pela cauda e o arrastaram pelo chão. Novamente o segurando, feriram-no em oito lugares diferentes com estacas afiadas e inserindo varets de bambu preto, espinhos e o resto, em suas feridas abertas, assim prosseguiram em seu caminho, carregando-o com eles por meio de cordas nos oito diversos lugares. [ n. do tr.: aqui podemos imaginar aquela cobra de papelão / pano das festas chinesas em que justamente dois grupos de oito pessoas carregam. Festa de uma grande paixão então, paixão de Buddha mesmo ]. O Grande Ser desde o momento em que foi ferido pelas estacas nem mesmo abriu seus olhos nem olhou as pessoas com raiva mas enquanto era carregado por meio das oito estacas, sua cabeça caiu e bateu no chão. Vendo que sua cabeça caía, deitam-no na auto-estrada e furam suas narinas com uma estaca mais fina que mantinham sobre a cabeça e inserem uma corda e após amarrá-la na extremidade levantam sua cabeça e continuam seu caminho. Neste momento um proprietário chamado Alara, que morava na cidade de Mithila no reino de Videha, sentado numa carruagem confortável passava viajando com quinhentos vagões / carretos e vendo estas pessoas lascivas na estrada com o Bodhisatva, ofereceu a cada um dos dezesseis além de uma vaca, macheia de moedas, vestes interiores e exteriores e ornamentos para as esposas vestirem, e deste modo conseguiu deles que o libertassem. O Bodhisatva retornou ao palácio Naga e sem nenhuma demora, saiu com um grande séquito, aproximando-se de Alara e após cantar louvores sobre o palácio Naga levou-o com ele e retornou para lá. Então concedeu a ele grande honra junto com trezentas donzelas Naga e o satisfez com delícias celestes. Alara morou um ano todo no palácio Naga no gozo de prazeres celestiais e então ao rei Naga dizendo, “Meu amigo, desejo me tornar asceta,” e tomando para si todos os requisitos para a vida ascética, ele deixou a residência dos Nagas e foi para o Himalaia e tomando ordens morou lá por um longo tempo. Um dia saiu em peregrinação e veio até Benares onde se fixou no parque do rei. Dia seguinte entrou na cidade em coleta de ofertas e encaminhou-se para a porta da casa do rei. O rei de Benares vendo-o ficou tão encantado com seu porte que o chamou a sua presença, sentou-o num lugar especial designado para ele e o serviu com variadas comidas finas. Sentad então num lugar mais baixo o rei o saudou e conversando com ele pronunciou a primeira estrofe :- (que são os versos canônicos do Jataka 524 onde Alara lembra bem a casa do rei Naga.) )






segunda-feira, 20 de julho de 2009

330 Buddha e Pingala




330
“Com poder na terra...etc.” - Esta história o Mestre contou quando em Jetavana, sobre um brahmin que estava sempre a provar sua virtude. Jātakas 86 e 290 :[ Buddha capelão de Benares que rouba uma moeda, duas e um punhado em três dias, no terceiro, preso como ladrão, encontra com os encantadores que dançam com a cobra boa. Ele, ruim. Nesta conta aparece a famosa Pingala, que ao perder a esperança, desespera e dorme em paz. No Jataka 290 está a fala de Pingala ].
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Testando sua virtude por três dias tomou moedas do tesouro real. Eles o chamam de ladrão e quando diante do rei disse :-

Com poder na terra sem comparação,
Virtude tem um encanto extraordinário :
Colocando um ar virtuoso
Cobras meio mortas evitam machucar-se.

Depois de assim louvar a virtude na primeira estrofe, ele ganhou o consentimento do rei e adotou a vida ascética. Então um falcão tomou um pedaço de carne em um açougue e sumiu no céu. Os outros pássaros o cercaram e o atingem com patas, garras e bicos. Incapaz de surportar a dor, ele larga o pedaço de carne. Outro pássaro o pega. Este também da mesma maneira sendo pressionado deixa a carne cair. Então outro pássaro agarra, e qualquer que pegasse a carne era perseguido pelo resto, e qualquer que a deixasse era deixado em paz. O Bodhisatva vendo isto pensou, “Nossos desejos são como pedaço de carne. Para aqueles que agarram-se a eles, é dor, e àqueles que os deixam , é paz.” E repetiu a segunda estrofe :-

Enquanto o falcão tinha algo para comer,
Aves de rapina o bicam cruelmente,
Quando por força larga a carne,
Então não mais o bicam.

[ N. do tr. : não há como não lembrar a resposta Evangélica à pergunta apóstólica : 'Onde está a carne aí estão os pássaros' ; ou, 'onde está o corpo aí estão os abutres'. No texto evangélico Mt 24, 28; Lc 17, 37, estão em discurso escatológico : próprio a história aqui contada em que o sujeito, a pessoa humana, separa-se do mundo. Refere-se que o texto é como que um ditado. Em Taxila na época de IHS falava-se aramaico. Logo... ]

O asceta saindo da cidade, no curso de sua jornada atinge uma vila, e à noite descansa numa certa casa. Nela, uma mulher chamada Pingalā combinou com um homem, dizendo, “Você virá tal e tal hora.” Depois dela ter lavado os pés dos patrões, quando eles descansavam, ela sentou na varanda, esperando a chegada do amante, e passou a primeira e segunda vigília, repetindo consigo mesma, “Agora ele chegará”, mas àurora, esperança perdida, ela disse, “Agora ele não vem”, e deitou e dormiu. O Bodhisatva vendo isto acontecer disse, “Esta mulher sentada tanto, na esperança de chegar seu amante, agora que sabe que ele não vem, em desespero, dorme em paz.” E com o pensamento que enquanto esperança em um mundo de pecado traz tristeza, desespero traz paz, repetiu a terceira estrofe :-

O fruto da esperança alcançada é benção;
Como difere o desespero dela?
Apesar do tolo desespero destruir sua esperança,
Vejam! Pingalā goza de um sono de paz.

Dia seguinte saindo da cidade e vendo um eremita sentado no chão a meditar, ele pensa "Neste mundo e no próximo não há felicidade maior que a benção da meditação." E ele falou a quarta estrofe :-

Neste mundo e nos que virão
Nada ultrapassa a alegria do ênstase :
Ao devoto da calma santa,
Ele mesmo inabalável, nada importunará.

Então ele entrou na floresta e adotou a vida ascética de Rishi e desenvolveu o alto conhecimento que brota da meditação, e tornou-se destinado a nascer no Mundo de Brahma.
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O Mestre, tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo eu mesmo era o capelão real.”

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Apaziguamento de Nalagiri


O Apaziguamento de Nalagiri. Medalhão de balaustrada de Amaravati, segundo século A.D.,
85 cm de altura. Museu do Governo, Madras.
A direita vemos o elefante furioso se ajoelhando em submissão e reverência ao Buddha. A escultura em pedra é maravilhosamente bem feita. Clique na imagem para vêla ampliada.

329 Buddha Papagaio



329
“Antes gozávamos...etc.” - Esta história o Mestre contou quando residia no Bosque de Bambu com relação as perdas de ganhos e honra por Devadatra. Pois quando Devadatra irracionalmente tramou contra Buddha e subornou um bando de arqueiros para matá-lo, sua ofensa ficou conhecida quando deixou correr o elefante Nālāgiri [ Kullavagga VII 3,11 ele vai até os hatthi bhanda tratadores de elefantes e diz que é parente dos reis (rāgas) e que poderia fazer uma pessoa avançar de uma baixa para uma alta posição, ou aumentar a ração ou os salários. E solicitou-lhes que soltassem o elefante indomável na estrada, quando Gautama viesse. E eles soltaram e o elefante furioso correu para atacar o ‘elefante das pessoas’. “E o Abençoado fez que o senso de seu amor permeasse o elefante ... e o elefante parou e Bento batendo na testa do elefante com a mão direita disse-lhe estas estrofes:
‘Não toques, Ó elefante, o elefante dos homens; pois é triste tal ataque, pois não há benção aí, Ó elefante, quando passa-se daí, para quem atinge o elefante dos homens.
Não seja então, doido, nem sem cuidado, pois aquele que não ama, não entra em estado de benção, antes tu ajas assim, para um estado de benção poderes ir.’
E Nālāgiri o elefante retornou aos estábulos dos elefantes. ...” ]. As pessoas então tiraram o serviço e o salário que lhe era dado, e o rei parou de olhar por ele. E tendo perdido sua fonte de renda e honra, passou a pedir às famílias nobres. E os Irmãos começaram uma discussão no Salão da Verdade, como Devadatra tendo ganhos e honra, não conseguiu mantê-los. O Mestre veio e perguntou qual o assunto que os Irmãos sentados em conclave discutiam e entendendo qual era disse, “Não apenas agora, Irmãos, mas anteriormente também, Devadatra foi privado de ganhos e honras.” E ele então contou uma lenda do mundo antigo.
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Certa vez quando Dhanañjaya reinava em Benares, o Bodhisatva era um Papagaio chamado Rādha. Ele era um pássaro bem crescido e com os membros bem formados. E seu irmão mais jovem chamava-se Potthapāda. Um certo caçador pegou-os numa armadilha e os trouxe de presente ao rei de Benares. O rei colocou o par numa gaiola de ouro e tomou conta deles e deu-lhes mel e caldo de cana, milho escolhido. Grande atenção foi-lhes dada, e atingiram o mais alta honra e lucro. Então um certo mateiro trouxe um grande macaco preto, chamado Kālabāhu, como presente para o rei, e por ter chegado depois dos papagaios, recebeu ainda maior honra e respeito. O Bodhisatva por suas qualidades de Buddha não disse uma palavra mas seu irmão mais jovem,com ausência destas qualidades sendo icapaz de se conter vendo as honras prestadas ao macaco, disse, “Irmão, anteriormente nesta casa real as pessoas nos davam comida temperada contudo agora nada ganhamos e oferecem tudo ao macaco Kalabahu. Já que não recebemos do rei nem honra nem ganhos neste lugar, que faremos ? Venha, vamos e vivamos na floresta.” E enquanto falava com ele, pronunciou a primeira estrofe :-

Antes gozávamos de abundante comida armazenada,
Este macaco agora tem o que era nosso antes.
Vamos, Rādha, apressemo-nos para a floresta ;
O que justificaria tal vil tratamento ?

Rādha ouvindo isto, respondeu com a segunda estrofe :-

Ganho e perda e louvor e culpa,
Prazer, dor, desonra, fama,
Conceba tudo como estados transientes –
Por quê reclama Potthapāda ?

Escutando isto, Potthapāda foi incapaz de livrar-se de seu rancor contra o macaco e disse o terceira estrofe :-

Rādha, o mais sábio dos pássaros vivos,
Certamente sabes as coisas que acontecerão,
A esta vil criatura quem mandará
Da corte para sua antiga casa ?

Rādha falou a quarta estrofe :-

Sua cara enrugada e orelhas a mexerem-se
Às crianças reais encherá de medos tolos :
Logo Kālabahu com algum tique ímpio,
Longe, bem longe, terá que buscar sua comida.

Em pouco tempo o macaco balançando as orelhas e com truques semelhantes diante dos jovens príncipes, os aterrorizou. Assustados, gritaram. O rei perguntando o quê era, e entendendo a causa, disse, “Tirem o macaco daqui.” Assim o macaco foi retirado e os papagaios retornaram às honras e ganhos anteriores.
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O Mestre aqui terminou sua lição e identificou o Jataka :- “Naquele tempo Devadatra era Kalabahu, Ananda era Potthapada e eu mesmo era Radha.”

quinta-feira, 16 de julho de 2009

328 Buddha e Sammillabbhasini



328
“Por quê verteria...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia em Jetavana sobre um certo fazendeiro que perdeu a esposa. Com a morte dela parou de fazer as obrigações da fazenda, de comer e de lavar-se. Tomado de tristeza vagava pelo cemitério lamentando-se, enquanto sua predestinação a entrar no Primeiro Caminho brilhava como um halo sobre sua cabeça. O Mestre, cedo certa manhã, colocando seus olhos no mundo e contemplando o fazendeiro disse, “A não ser eu, ninguém poderá remover a tristeza deste homem e conceder-lhe o poder de entrar no Primeiro Caminho. Serei seu refúgio.” Então quando voltou da coleta e comeu sua comida, tomou um padre assistente e foi para a porta da casa do fazendeiro. E ele quando escutou que o Mestre chegava foi ao seu encontro, e com outros sinais de respeito sentou-o num lugar prescrito e sentando ao seu lado o saudou.
O Mestre perguntou, “Por quê estais em silêncio ?”
“Senhor Reverendo,” ele respondeu, “choro por ela.”
O Mestre disse, “Irmão Leigo, aquilo que é quebrável quebra-se, mas quando isto acontece, não deve-se chorar. Sábios antigos, quando perderam a esposa, sabiam desta verdade, e portanto não choraram.” E assim ao seu pedido, o Mestre contou uma velha história.
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A velha lenda será relata nos jātakas 443 e 458. Segue aqui um pequeno sumário dela. Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família brahmin. E quando cresceu, estudou todas as artes em Takkasilā ( Taxila ) e então retornou a seus pais. Neste jātaka o Grande Ser torna-se um jovem santo estudante. Então seus pais dizem que procurarão uma esposa para ele.
“Não tenho desejo de vida casada,” disse o Bodhisatva. “Quando vocês morrerem, adotarei a vida religiosa de asceta.”
E sendo importunado bastante por eles, faz um imagem de ouro [N. do tr.: lembra-se aqui a história de Kasyapa fazendo a própria esposa para gerar uma descendência (Mahabharata); ou à costela de Adam moldada em sonho; ou Pandora e Epimeteu] e diz, ‘Se vocês descobrirem uma moça como esta, tomarei-a por esposa.’ Seus pais mandaram mensageiros com escolta, colocarem a imagem de ouro em uma carroça coberta e irem na busca através dos campos da Índia, até encontrarem uma jovem garota brahmin igual, e quando encontrassem dessem a imagem de ouro em troca, e trouxessem de volta a garota com eles. Bem, nesta época um certo homem santo passando do mundo de Brahma nasceu novamente na forma de uma jovem garota numa cidade do reino de Kāsi, numa casa de um brahmin rico, e o nome dado a ela foi Sammillabhāsini [Largos Olhos] . Na idade de 16 ela era graciosa e bela, como uma Apsara, dotada de todos os traços de beleza feminina. E desde que nenhum pensamento mau nem foi por ela sugerido pelo poder da paixão pecadora, ela era pura perfeitamente. Assim os homens trouxeram a imagem dourada vagando até atingirem esta vila. Os habitantes vendo a imagem perguntaram, “Por que Samilla-bhāsini, a filha de tal e tal brahmin, está colocada lá?” Os mensageiros ouvindo isto encontraram a família brahmin, e escolheram Sammila-bhāsini para o dote de princesa. Ela manda uma mensagem a seus pais dizendo, “Quando vocês morrerem, adotarei a vida religiosa; não desejo o estado de casada.” Eles dizeram, “’Cê ‘tá pensando o quê, ô garota ?” E aceitaram a imagem de ouro e enviaram a filha com um grande cortejo. A cerimônia de casamento aconteceu contra o desejo de ambos o Bodhisatva e Sammilabhāsini. Apesar de partilharem o mesmo quarto e a mesma cama eles não olhavam um para outro com olhos de paixão pecadora, e habitavam juntos como dois homens santos ou duas mulheres santas.
Logo o pai e a mãe do Bodhisatva morrem. Ele realiza os ritos fúnebres e chamando Sammilabhāsini, diz a ela, “Querida, minha família é rica e a sua também. Tome toda esta riqueza e viva uma vida de família. Tornar-me-ei asceta.”
“Senhor,” ela respondeu, “se você tornar-se asceta também eu me tornarei. Não posso abandonar-te.”
“Venha então”, ele disse. E assim doando toda a riqueza e jogando para cima toda a fortuna mundana como se fora um pedaço de flegma, viajaram para o Himālaia e ambos adotam a vida asceta. Lá, depois de muito viverem de raízes e frutos eles por fim desceram dos Himālaias procurando sal e vinagre, e gradualmente chegaram a Benares, e ficaram no jardim real. [o jātaka 443 é o encontro com o rei]. E enquanto viviam lá, esta jovem e delicada mulher asceta, por comer arroz misturado, foi atacada de disenteria e sem ser capaz de tomar medicamento, ficou fraca. O Bodhisatva na hora da coleta a tomou e levou para a porta da cidade e lá a deitou num banco em uma certa sala enquanto ele mesmo foi para a coleta. Logo que sai ela expira. As pessoas, contemplando a grande beleza da mulher asceta, juntaram-se ao redor, chorando e lamentando. O Bodhisatva após a coleta retornou, e ouvindo de sua morte disse, “Aquilo que tem a qualidade da dissolução, dissolve. Todas as existências impermanentes são assim.” Com estas palavras sentou no banco em que ela estava e comendo a mistura da comida depois lavou a boca. As pessoas juntaram em volta dele e disseram, “Senhor Reverendo, esta mulher asceta era o quê para você?”
“Quando eu era leigo,” ele respondeu, “ela era esposa.”
“Santo Senhor, “ eles disseram, “enquanto lamentamos e choramos e não controlamos nossos sentimentos, por quê você não chora ?”
O Bodhisatva disse, “Enquanto ela vivia, ela me pertencia de algum modo. Nada tem aquela que foi para outro mundo: ela passou para o poder de outros. Por que choraria ?” E ensinando ao povo a Verdade, recitou estas estrofes:

Por quê verteria lágrimas por ti,
Linda Sammillabhāsini ?
Passada à maioria dos mortos
Estais assim perdida para mim.

Daí devem frágeis homens lamentarem
O que a eles é apenas emprestado ?
Ele também carrega seu sopro de morte
A cada hora, a morte priva.

Esteja em pé, sentando então,
Movendo-se, descansando, o que seja,
Num piscar de olhos,
Num momento, próxima a morte.

Vida conto como coisa instável,
Inevitável a perda de amigos.
Agrade a tudo que vive,
A dor não deve sobreviver em ti.

Assim o Grande Ser ensinou a Verdade, ilustrando por estas quatro estrofes a impermanência das coisas. O povo realizou os ritos fúnebres da mulher asceta. E o Bodhisatva retornou ao Himālaias, e entrando no conhecimento mais alto que surge da meditação mística foi destinado a nascer no mundo de Brahma.
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O Mestre tendo terminado sua lição, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades, o fazendeiro atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo a mãe de Rāhula era Sammillabhāsini e eu mesmo era o asceta.”

[ O jātaka 458 o encontro deles no futuro]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

327 Buddha e Natakuvera, o músico



327
“Odores fragrantes...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre quando residia em Jetavana, de um certo Irmão que arrependia-se de ter tomado ordens. Nesta ocasião o Mestre perguntou ao Irmão se era verdade que estava descontente, ele respondendo “Sim, Santo senhor,” perguntou de novo qual a razão. O Irmão respondeu, “Por razão do pecado da paixão.” O Mestre disse, “Mulheres não podem ser guardadas. Nada as mantém separadas. Sábios antigos colocaram uma mulher no meio do oceano num palácio às margens do lago Simbali (no monte Meru : os Garudas viviam ao redor dele), e falharam em preservar a honra dela.” Então ele contou uma história os velhos tempos.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio a vida como o filho do rei com a rainha. E quando ele cresceu, com a morte do pai legislava só. Kākāti era sua rainha e tão amável quanto uma Apsara. A forma antiga da lenda será estabelecida inteira no jātaka 536 Kunāla jātaka [ que são vários seres do gênero masculino contando histórias de mulheres “inguardáveis” ]. Segue aqui um resumo dela. Desta vez um certo rei Garuda [pássaro] disfarçado de gente, veio e jogou dados com o rei de Benares. Caindo de paixão pela rainha Kākāti ele a sequestrou para viver no palácio dos Garudas e lá viveu feliz com ela. O rei, a tendo perdido, conta a seu músico chamado Natakuvera e lhe pede para ir em busca dela. Ele encontra o rei Garuda descansando numa cama de grama kusa em um certo lago, e justo quando o Garuda estava a ponto de largar o lugar, ele senta-se no meio das plumagens reais, e deste jeito, é transportado para a morada dos Garudas. Lá, goza dos favores da senhora, e novamente sentando-se nas asas do pássaro retorna para casa. E quando veio o momento do Garuda jogar dados com o rei, o menestrel tomou seu violão e subindo para o tabuleiro de jogo lá ficou diante do rei, e na forma de canto pronunciou a primeira estrofe:-

Odores fragrantes ao meu redor brincam
Sopro do amor da bela Kākāti,
Transportada da sua casa distante
Pensamentos que movem minha alma mais interior.

Ouvindo isto o Garuda respondeu com a segunda estrofe:-

O mar e a corrente Kebuk desafiando
Alcançastes a ilha em que moro ?
Voando sobre sete oceanos
Na gruta Simbali você veio ?

Natakuvera ouvindo isto falou a terceira estrofe:-

Foi através de ti todo o espaço desafiando
Que fui carregado à gruta Simbal,
E voando sobre mares e rios
Foi através de ti que encontrei meu amor.

Então o rei Garuda respondeu na quarta estrofe:-

Que vergonha de tolo erro crasso,
Que estúpido tenho sido!
As melhores amantes eram mantidas apartadas,
Vejam! eu servi de mensageiro.

Assim o Garuda trouxe a rainha e devolveu-a ao rei de Benares, e não mais foi lá.
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O Mestre sua lição terminada, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão descontente atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo o Irmão descontente era Natakuvera e eu mesmo era o rei.”

Jataka 360 //  e 536

[ Engraçado que Simbal é próximo de Simbad que também anda de Garuda. ]



terça-feira, 14 de julho de 2009

Ajanta : cave 1 Buddha Indra


Ajanta cave 1 : Buddha Indra, Vajrapani (Vajra-, raio ; -pani, que leva, carrega), Sakra, os deuses têm nomes muitos todos eles. E têm deusa do lado : reparem em Sachi (esposa de Indra), menor à esquerda da imagem. Os dois pássaros em cima dela, talvez a dizerem que os dois pássaros famosos podem ser o casal original. E há também o casal lá em cima também. A cor da pele, negra, também, Buddha Negro, Vishnu mesmo. As flores nas mãos. Clique na imagem para vê-la ampliada.

326 Buddha Deus do céu


326
“Aquele que refreia...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto estava em Jetavana, sobre Devadatra que depois de causar um cisma na Ordem enquanto estava com os discípulos chefes e Àssembléia dissolvera-se, acabou cuspindo sangue (chutado por Kokalika). Os Irmãos discutiam este assunto no Salão da Verdade e diziam que Devadatra falando falsamente criara um cisma e depois acabou doente sofrendo grande dor. O Mestre veio e inquiriu sobre o assunto que os Irmãos conversavam, lá sentados em conclave, e entendendo qual era, disse, “Não apenas agora Irmãos, mas antigamente também este sujeito foi mentiroso e não apenas agora, mas antes também sofreu grandes dores como penalidade por mentir.” e assim falando ele repetiu esta lenda do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva tornou-se um certo deus no céu dos Trinta e três. Neste tempo havia um grande festival em Benares. Uma multidão de Nāgas e pássaros Garudas e deidades terrestres vieram e assistiram o festival. E quatro seres divinos do céu dos Trinta e três, vestido grinaldas de flores kakkāru celeste , vieram para ver o festival. E a cidade pelo espaço de doze léguas [aproximadamente vinte quilômetros] ficou preenchida com a fragrância destas flores. As pessoas andavam, questionando quem vestia tais grinaldas. Os deuses disseram, “Eles nos olham”, e voando da corte real, por um ato de poder sobrenatural eles permaneceram pousados no ar. A multidão se aglomerou, e o rei com os príncipes vassalos vieram e perguntaram de que mundo dos deuses eles tinham vindo.
“Viemos do céu dos Trinta e três.”
“Com que propósito?”
“Para ver o festival.”
“Que são estas flores?”
“Elas são chamadas as flores kakkāru celestes.”
“Senhores,” eles disseram, “no mundo dos deuses deve haver outras flores para vestir. Dá-nos estas.”
Os deuses responderam, “Estas flores divinas são próprias para aqueles que possuem grandes poderes: para o tolo, ímpio, sem fé e pecador neste mundo das pessoas, não são apropriadas. Mas quem entre as pessoas esteja dotada com tais e tais virtudes, para ele é adequada.” E com estas palavras o chefe entre estes seres divinos repetiu a primeira estrofe:-

Aquele que refreia-se de furtar,
Sua língua impedindo de mentir,
E atingindo as alturas estonteantes da fama
Ainda mantém sua cabeça – esta flor pode clamar.

Ouvindo isto o pároco real pensou, “Não possuo nenhuma destas qualidades mas mentindo conseguirei as flores, e assim as pessoas me acreditarão com estas virtudes.” Então ele disse, “Estou dotado com estas qualidades,” e as flores foram trazidas e colocadas nele, e ele então pediu ao segundo deus, que respondeu com a segunda estrofe:-

Aquele que deve bens honestos buscar
E riquezas ganhas com fraude evitar,
Afastando-se do excesso de grosseiros prazeres
Esta flor celeste com mérito recebe.

Disse o pároco, “Estou dotado com estas virtudes”, e teve as flores trazidas e nele vestidas, pedindo então as do terceiro deus, que pronunciou a terceira estrofe:-

Aquele que do firme propósito não se desvia
E preserva sua fé sem mudança,
Comida escolhida despreza devorar,
Pode justamente estas flores celestes clamar.

Disse o pároco, “Estou dotado com estas virtudes”, e teve as flores trazidas e vestidas e pedindo então ao quarto deus, que respondeu com a quarta estrofe:-

Aquele que a homens bons nunca atacará
Quando presentes, nem por trás de suas costas,
E tudo que diz realiza-se em atos,
Esta flor pode clamar como galardão devido.

O pároco disse, “Estou dotado com estas virtudes,” e teve as flores trazidas e vestidas. Assim os seres divinos deram as quatro grinaldas de flores para o sacerdote e retornaram ao mundo dos deuses. Logo que foram, o pároco foi tomado de dores violentas na cabeça, como se golpeado por prego profundo, ou amassado por um instrumento de ferro. Enlouquecido com a dor rolava para cima e para baixo, e gritava em alta voz. Quando as pessoas perguntaram, “O que isto significa?” ele disse, “Clamei estas virtudes quando não as tinha, e falei falsamente e pedi as flores aos deuses: tirem-as de minha cabeça.” Eles as teriam tirado mas não puderam, pois elas estavam como que amarradas com arame de ferro. Então o levantaram e levaram para casa. E assim sete dias passaram com ele gritando alto. O rei falou aos conselheiros e disse, “Este brahmin fraco morrerá. O que faremos ?” Meu senhor” eles responderam, “celebremos novamente o festival. Os filhos dos deuses voltarão.”
E o rei fez o festival, e os filhos dos deuses retornaram e preencheram a cidade com o perfume das flores, e tomaram os mesmos lugares na corte real. A multidão juntou-se, e trouxe o brahmin fraco que foi largado diante dos deuses de bruços. Ele pediu aos deuses dizendo, “Meus senhores, poupem minha vida.” Eles disseram, “Estas flores não são adequadas a pessoa fraca e má. Você em seu coração pensou em nos enganar. Recebeste o prêmio por suas falsas palavras.”
Depois de repreendê-lo na presença do povo, removeram as grinaldas da sua cabeça e avisando as pessoas, retornaram para seu próprio domicílio.
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O Mestre tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era o brahmin, e os quatro seres divinos, Kasyapa era um, Mooggaallana era outro, Sariputra um terceiro e eu mesmo era o chefe deles.”



segunda-feira, 13 de julho de 2009

325 Buddha Lagarto real


325
“Aquele que interpreta...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre, enquanto vivia em Jetavana, relativa a um certo tratante impostor. A história introdutória já foi dada inteiramente (no Jataka 277). Mas nesta ocasião, trouxeram o Irmão até o Mestre e o apresentaram dizendo, “Santo Senhor, este Irmão é um impostor.” O Mestre disse, “Não apenas agora mas anteriormente também ele foi um tratante.” E então contou uma história do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como um jovem lagarto ; quando cresceu e estava saudável e forte, habitava uma floresta. Um certo asceta mau construiu uma cabana de folhas e passou a residir ali perto. O Bodhisatva, rondando por comida, viu esta cabana de folhas e pensou consigo mesmo,”Esta cabana deve certamente pertencer a algum asceta santo,” e lá foi e após saudar o santo homem retornou a seu próprio lugar.
Um dia este falso asceta comeu um pouco de comida temperada preparada por um de seus clientes, e perguntou que carne era. Ouvindo que era carne de lagarto tornou-se tão escravo de sua adição por iguarias que pensou, “Matarei aquele lagarto que tão constantemente fica indo ao meu eremitério e o cozinharei ao meu gosto e o comerei.” Assim pegou ghee, iogurte, temperos e com seu porrete escondido debaixo do manto amarelo sentou-se ereto na porta da cabana, esperando pelo Bodhisatva chegar, tão quieto quanto podia.
E quando o Bodhisatva viu este indivíduo depravado pensou, “Este vil deve ter comido carne de parente meu. O colocarei em teste.” Então ficou a sotavento dele e tomando o cheiro de sua pessoa soube que tinha comido carne de um lagarto, e sem aproximar-se virou e fugiu. E quando o asceta viu que o lagarto não vinha, atirou o porrete nele. O porrete errou o corpo atingindo apenas a ponta do rabo. O asceta dizendo, “Fora do meu alcance eu te perdi.” Disse o Buda, “Sim você errou mas não errará o quádruplo Estado de Sofrimento.” E fugiu e desapareceu em um cupinzeiro que ficava no fim do corredor claustral e, colocando a cabeça para fora, em outro buraco, dirigiu-se ao asceta nestes dois versos:

Aquele que interpreta o papel ascético
Deve mostrar auto-controle.
Atiraste este pedaço de pau em mim,
Falso asceta deves ser.

Cabelos em tranças, roupa de pele
Servem para cobrir algum secreto pecado.
Tolo! Limpando aparência de fora
Deixando o errado por baixo.

O asceta ouvindo respondeu:

Por favor, lagarto, volte rápido,
Aqui não falta sal e óleo :
Pimenta também sugiro
Podemos temperar o arroz cozido!

O Bodhisatva ouvindo respondeu, com a quarta estrofe:

Me esconderei no aconchego quentinho
No meio das miríades dos formigueiros.
Cesse de tagarelar sobre óleo e sal
Abomino pimenta.

E ainda o ameaçou dizendo, “Fora! Falso asceta, se continuares a habitar aqui, o farei ser pego como ladrão pelo povo que vive no meu campo de alimento, e o destruirão. Saia fora.” E o falso asceta fugiu daquele lugar.
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O Mestre, sua lição terminada, identificou o Jataka : “Naquele tempo o Irmão impostor era o falso asceta mas eu mesmo era o lagarto real.”



sexta-feira, 10 de julho de 2009

324 Buddha e o monge com roupa de couro



324
“A besta gentil...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia em Jetavana, sobre um padre mendicante que vestia uma jaqueta de couro. Ambas as roupas a de cima e de baixo eram de couro. Um dia excursionando fora do mosteiro foi colher ofertas em Savatthi, até que chegou no campo de briga dos carneiros. Um carneiro vendo-o recuou, no intuito de investir contra o mendicante. Este pensou, “Ele está fazendo isto num ato de respeito por mim,” e não recuou, o mendicante. O carneiro veio correndo e o acertou na coxa,derrubando-o no chão. Este caso de saudação imaginária foi proclamado na Congregação dos Irmãos. A matéria discutida por eles no Salão da Verdade em como o mendicante em roupa de couro imaginou que estava sendo saudado e encontrou sua morte. O Mestre veio e inquirindo sobre o tema da discussão e a ele sendo contado o que foi dito, disse, “Não apenas agora, Irmãos, mas antigamente também este asceta imaginou que estava sendo saudado e assim encontrou sua morte,” e contou uma lenda do velho mundo.
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Certa vez o Bodhisatva nasceu numa família de mercadores, exercia seu comércio. Naquele tempo um certo religioso mendicante, vestido numa roupa de couro, e saindo nas rondas de ofertas, chegou no campo de briga dos carneiros, e vendo um carneiro que recuava diante dele imaginou que o fazia em sinal de respeito e não se retirou. “Em todo o mundo,” ele pensou, “este carneiro apenas reconhece meus méritos,” e levantando as mãos juntas em saudação respeitosa permaneceu de pé e declarou a primeira estrofe:

A gentil besta faz sinal de obediência diante
Do brahmin de alta casta versado em tradição santa.
A ti criatura boa e honesta
Famosa acima de todas as outras bestas, meu voto!

Neste momento o mercador sábio sentado nos seus víveres, para reter o mendicante, pronunciou a segunda estrofe:

Brahmin, não seja tão precipitado , crendo nesta besta
Ou ela te jogará logo na poeira,
Por isto o carneiro recua,
Para ganhar ímpeto no ataque.

Enquanto o sábio mercador falava ainda, o carneiro veio à toda velocidade, atingindo o mendicante na coxa, derrubando-o. Ele ficou louco de dor e enquanto jazia lamentando-se, o Mestre, para explicar o incidente, pronunciou a terceira estrofe:

Com a perna quebrada e a tigela de ofertas virada,
De sua sorte danosa arrepender-se-á amargamente.
Que ele não chore com braços estendidos em vão,
Rápido ao resgate antes que morra o sacerdote.

Então o mendicante respondeu a quarta estrofe:

Assim toda honra prestada ao que nada vale,
Partilha do mesmo fado que ho-je encontrei ;
Pronado [prostrado] no pó, por um carneiro marrento atirado
à tola confiança devo minha morte.

Assim lamentando, ele, lá e então (then & there), encontrou sua morte.
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O Mestre sua lição terminada, assim identificou o Jataka : “O homem da roupa de couro era o mesmo de ho-je. E eu mesmo era o sábio mercador.”

quinta-feira, 9 de julho de 2009

rei Usinara, o pombo no colo e o gavião

Mahabharata
Vana Parva seção CXXXI – ( rishi Lomasa fala a Yudhisthira das fontes do Himalaia) -

Ó Príncipe, veja os santos rios Jala e Upajala, dos dois lados do Yamuna. Realizando sacrifício aqui, rei Usinara ultrapassou em grandeza Indra mesmo. E, Ó descendente de Bharata, desejoso de testar o mérito de Usinara e também em dar-lhe dons, Indra e agni manifestaram-se neste chão sacrifical. E Indra assumindo a forma de gavião e Agni a de um pombo, apresentaram-se ao rei. E o pombo temendo o gavião, caiu no colo do rei, buscando sua proteção.
O gavião disse, “Todos os reis da terra te apresentam como pio legislador. Por que, Ó príncipe, paraste para perpretares um ato não sancionado pela ordem ? Estou dolorosamente aflito de fome. Não retires de mim aquilo que me foi apontado pela Deidade como minha comida,- sob a impressão que deste modo serves ao interesse da virtude, quando na realidade, a abandonas (comentendo tu mesmo tal ato)”.
Com isto o rei disse, “Ó melhor do povo de pena, aflito com medo de ti, e desejoso de escapar das tuas mãos, este pássaro, todo pressa, veio a mim pedindo para viver. Quando este pombo de tal modo busca minha proteção, por quê não vês que o maior mérito é justo não entregá-lo a ti ? E está tremendo de medo, agitado, e tenta conseguir de mim sua vida. É portanto com certeza condenável abandoná-lo. Aquele que mata um Brahmana, aquele que mata uma vaca – a mãe comum de todos os mundos [ a sagrada vaca ] - e aquele que abandona alguém que busca sua proteção são igualmente pecadores.”
Por isto mesmo o gavião respondeu, “Ó senhor da terra, é do alimento que todos os seres derivam suas vidas e da comida também que se nutrem e sustêm. Uma pessoa pode viver muito mesmo após abandonar o quê lhe é mais caro mas não pode fazer isto, depois de abster-se de alimento. Sendo privada de comida, minha vida, Ó legislador de pessoas, certamente deixará este corpo e irá para regiões desconhecidas de tais problemas. Mas com minha morte, Ó pio rei, minha esposa e filhos certamente perecerão e protegendo este único pombo, Ó príncipe, deixas de proteger muitas vidas. A virtude que fica no caminho de outra virtude, certamente não é virtude alguma, mas na realidade é injustiça, erro. Mas Ó rei, cuja proeza consiste na verdade, a virtude merece este nome quando não está em conflito. Após instituir uma comparação entre virtudes opostas, e pesar seus méritos comparativamente, uma pessoa, Ó grande príncipe, deve esposar aquela que nada se opõe. Tu, portanto, Ó rei, assente uma balança entre as virtudes, adotando aquela que prepondera.”
Com isto o rei disse, “Ó melhor dos pássaros, como falas palavras carregadas de bem, suspeito que tu és Suparna, o rei dos pássaros. Não tenho a menor hesitação em declarar que tu és totalmente ciente dos caminhos da virtude. Já que falas maravilhas sobre virtude, penso que nada existe relacionado a ela ue desconheça. Como podes considerar abandonar alguém que busca ajuda, como virtude ? Teus esforços em questão, Ó viajante dos céus, estão em busca de comida Podes, contudo, apaziguar tua fome com outro tipo de alimento, mesmo maior. Posso voluntariamente conseguir para ti qualquer outro tipo de comida mais gostosa até, boi, porco, veado, búfalo.”
O gavião disse, “Ó grande rei, não desejo comer carne de porco, boi ou de outras bestas. Que que eu tenho a ver com outros tipos de comida ? Portanto, Ó touro entre os Kshatriyas, me dê este pombo, que o Céu ordenou hoje ser meu alimento. Ó legislador da terra, gaviões comer pombos é providência eterna. Ó príncipe, para te amparares não abrace uma bananeira da terra, sem saber da falta de força dela.”
O rei respondeu, “Viajante dos céus, estou disposto a te presentear com esta rica província da minha raça, ou qualquer outra coisa que te seja desejável. Com a única exceção deste pombo, que aprovimou-se de mim ansioso por proteção, contente te darei qualquer coisa que queiras. Deixe-me saber que devo fazer para livrar este pássaro. Ele contudo não te entregarei de jeito nenhum.”
O gavião disse, “Ó grande legislador de gente, se concebeste afeição pelo pombo, então corte uma porção da tua própria carne e a pese na balança, comparando com o pombo. E quando encontrares equilíbrio (no peso) com o pombo, então tu me a dês e ficarei satisfeito.”
O rei respondeu, “Este pedido teu, Ó gavião, considero um favor para mim, e portanto, te darei mesmo minha própria carne, após pesá-la na balança.”
Lomasa continuou. Dizendo isto, Ó poderoso filho de Kunti [mãe de Karna, Yudhisthira, Bhima, Arjuna, Nakula, Sahadeva, os 6, 5, irmãos Pandavas, filhos de Pandu, é dos deuses do Céu, personagens do Mahabharata] , o altamente virtuoso rei cortou fora uma porção da própria carne e a colocou na balança, comparando com o pombo. Mas quando descobriu que o pombo excedia sua carne em peso, ele cortou mais uma porção da sua carne, e somou à primeira. Quando porção atrás de porção foram repetidamente adicionadas ao peso em comparação com o pombo, e não havia mais carne deixada no corpo, ele subiu no prato da balança ele mesmo, já completamente destituído de carne.
O gavião então disse, “Sou Indra, Ó virtuoso rei, e este pombo é Agni, o transportador da manteiga clara sacrifical. Viemos a teu chão sacrifical, desejosos de testar teu mérito. Já que cortaste tua própria carne do corpo, tua glória será resplendente e ultrapassará a de todos os outros no mundo. Enquanto as pessoas falarem de ti, Ó rei, durará tua glória e habitarás as regiões santas.” Falando isto ao rei, Indra ascendeu aos céus. E o virtuoso rei Usinara, após preencher céu e terra com o mérito de seus atos pios, ascendeu ao céu em forma radiante. Contemple,Ó rei, a residência daquele monarca de coração nobre. Aqui, Ó rei, são vistos sábios santos e deuses juntos com Brahmanas de virtude e alma elevada.

Ajanta, cave(rna) 1: rei Usinara com o pombo no colo


Repare no meio bem embaixo o sujeito que olha direto o rei no trono, careca, chefe de monges que estão atrás. As mulheres que não aparecem no texto, aqui têm papel impt. Choram na extrema direita quando o rei se pesa e vai subir na balança. Tanto o pombo no colo quanto a balança foram danificados. Os dois de barba na direita em cima e embaixo devem ser os deuses Indra e Agni. Ajanta cave(rna) 1. Clique na imagem para vê-la ampliada.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

323 Buddha Asceta


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323
Tal é a qualidade...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto residia no santuário de Aggalava próximo de Alavi, relativa as regulações a serem observadas na construção de celas.
A história introdutória já foi estabelecida no Jataka 253 e nesta ocasião o Mestre disse, “É vero Irmãos que vocês vivem aqui porque foram inoportunos em pedir e coletar ofertas ?” E quando responderam “Sim,” ele os reprovou e disse, “Sábios antigos, quando apresentaram suas escolhas ao rei, apesar de ansiarem em pedir um único par de sandálias, temendo fazer violência a sua natureza sensível e escrupulosa, não se aventuraram a dizer palavra na presença do povo, contudo falaram privadamente.” E assim contou a eles uma lenda do mundo antigo.

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Certa vez no reino de Kampillaka, quando um rei Pañcāla reinava numa cidade em Pañcāla do Norte, o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin, em uma certa cidade mercantil. E quando cresceu adquiriu os conhecimentos das artes em Takkasilā (Taxila). Após o quê tomando as ordens como asceta e morando no Himalaia, viveu por um longo tempo catando – alimentando-se de frutas e raízes. E vagando pelas zonas humanas procurando sal e vinagre, chegou numa cidade em Pañcāla do Norte e protegeu-se no jardim do rei. No dia seguinte entrando na cidade para colher ofertas, aproxima-se do portão do palácio. Ao rei agradou tanto sua postura e comportamento, que o sentou no sofá e o alimentou com comida de rei. E o ligou por uma solene promessa, designando sua morada no jardim.
Ele vivia constantemente na casa do rei e no final da estação chuvosa, estando ansioso para retornar ao Himalaia, pensou, “S’eu for fazer esta viagem, vou precisar de um par de sandálias (de sola simples) e um parassol de folhas. Vou pedir ao rei.” Um dia ele veio ao jardim e encontrando o rei sentado lá, o saudou e resolveu que lhe pediria a sandália e o parassol. Mas seu segundo pensamento foi: “Uma pessoa que pede algo a outra, dizendo,’Dê-me isto e isto’, deve estar apta a chorar. E a outra pessoa também quando recusa, dizendo,’ Não tenho isto,’ por sua vez também chora.” E para que as pessoas não vissem ele ou o rei chorando, pensou, “Ambos choraremos em algum lugar secreto.” Assim ele disse: “Grande Rei, estou ansioso em falar contigo em particular.” Os empregados ouvindo isto, saíram. Pensou o Bodhisatva, “Se o rei recusar meu pedido, terá terminado nossa amizade. Então não pedirei nada a ele.” Naquele dia, não aventurando-se a mencionar o assunto, ele disse, “Deixa Grande Rei, depois vemos isto.” Noutro dia o rei chegando no jardim, fazendo como antes, não pode fazer seu pedido. E assim 12 anos se passaram.
Então o rei pensou, “Este padre disse, ‘Quero falar em particular,’ e quando os cortesãos saíram, não teve coragem de falar. E enquanto anela isto, doze anos passaram-se. Após viver uma vida religiosa tão longa,suspeito, que esteja sentindo falta do mundo. Está sedento de prazeres e anela a soberania. Mas sendo incapaz de falar a palavra ‘reino’, ele se mantém em silêncio. Hoje contudo lhe oferecerei o que desejar, do reino para baixo.” E assim foi ao jardim e sentou-se e falou com ele. O Bodhisatva pede para falar em particular, e quando os empregados saem, não consegue pronunciar uma palavra. O rei disse: ‘Por 12 anos você me pede para falar em particular, e quando tem a oportunidade não é capaz de pronunciar uma palavra. Ofereço-te tudo, começando pelo reino. Não tenha medo, peça o que lhe agrada.”
Grande Rei,” ele disse, “me dará o que quero ?”
Sim, Senhor Reverendo, darei.”
Grande Rei, quando eu for na minha viagem vou precisar de um par de sandálias e um parassol de folhas.”
Você não foi capaz, Senhor, por durante 12 anos, de me pedir uma bagatela desta ?”
Foi isto, Grande Rei.”
Por que agiu assim ?”
Grande Rei, a pessoa que diz ‘Dê-me isto e isto’, lança lágrimas, e a pessoa que recusa e diz ‘Não tenho’, por sua vez também chora. Se, quando pedisse, o senhor recusasse, temia que o povo nos visse vertendo lágrimas. Daí o pedido de falar privadamente.” Então repetiu as três estrofes :-

Tal é qualidade do pedir, Ó Rei,
Trazer um rico dom ou uma recusa.

Quem pede, senhor de Pañcāla, resigna-se a chorar,
Aqueles que recusam aptos estão a chorar também.

Para que as pessoas não nos vejam vertendo lágrimas vãs,
Meu pedido secretamente sussuro no teu ouvido.

O rei encantado com a marca de respeito por parte do Bodhisatva, garantiu os dons e falou a quarta estrofe:

Brahmin, ofereço-te mil cabeças de gado
Gado vermelho, acrescentando o líder da manada ;
Ouvindo agora suas generosas palavras,
Também sou movido a gestos generosos.

Mas o Bodhisatva disse: “Senhor, não desejo prazeres materiais. Dê-me só o que pedi.” E ele tomou o par de sandálias e o parassol de folhas, exortando o rei a zelar pela religião, manter a lei moral e observar os dias de jejum. E apesar do rei pedir para que ficasse, ele saiu para os Himalaias, onde desenvolveu as Faculdades e Consecuções, e foi destinado a nascer no mundo de Brahma.

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O Mestre tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo Ananda era o rei e eu mesmo o asceta.”

segunda-feira, 6 de julho de 2009

322 Buddha Leão


322
“No lugar onde...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre quando morava em Jetavana sobre alguns heréticos. Este heréticos, dizem, em vários lugares perto de Jetavana faziam camas em espinhos sofrendo a quíntupla forma de penitência no fogo e praticando falso ascetismo de diferentes tipos. Bem, um número de Irmãos, depois da ronda por ofertas em Savatthi, no caminho de volta à Jetavana viram estes heréticos na execução de suas pretensas austeridades, e vieram e perguntaram ao Mestre, “Há, Senhor, alguma virtude nestes padres heterodoxos de assumirem tais práticas?” O Mestre disse, “Não há virtude, Irmãos, nem qualquer mérito especial. Quando elas são examinadas ou testadas, são como um caminho no estêrco ou como o barulho que a lebre escutou.” “Nós não sabemos, Senhor, que barulho foi este. Conte-nos, Reverendo Senhor.” Assim ao pedido deles ele contou uma lenda do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como um jovem leão. E quando crescido vivia na floresta. Neste tempo havia perto do Oceano Ocidental uma gruta de palmeiras com árvores vilva . Uma certa lebre vivia debaixo dos brotos de palmeira aos pés da árvore vilva. Um dia esta lebre depois de alimentar-se deitou para descansar debaixo da jovem palmeira. E um pensamento agarrou-se nela: “Se esta terra fosse destruída, que seria de mim?” E neste momento mesmo uma fruta vilva madura caiu numa folha de palmeira. Ao som dela, a lebre pensou: “Esta terra sólida está em colapso,” e começou a fugir, sem nem mesmo olhar para trás. Outra lebre a viu fugindo como se com medo da morte, e perguntou a causa do fugir em pânico. “Por favor não me pergunte,” ele disse. A outra lebre gritou e continuou perguntando e correndo atrás da primeira. Então a lebre parou um momento e sem olhar para trás disse, “A terra está rachando aqui.” E assim a outra lebre seguiu a primeira. E assim como a primeira outra lebre viu a corrida, e junta-se, até que cem mil lebres todas passam a fugir. Foram vistas por um cervo, um javali, um alce, um búfalo, um gnu, um rhinoceros, um tigre, um leão e um elefante. E quando perguntaram o que significava aquilo e a eles foi dito que a terra rachava, eles também passam a tomar parte na correria. Assim por graus extendia-se esta hoste dos animais em hum quilômetro e meio.
Quando o Bodhisatva viu a fuga precipitada dos animais, e escutou que a causa era que a terra estava chegando ao fim, ele pensou: “A terra não está acabando em lugar nenhum. Certamente isto é um som com ruído, mal entendido por eles. E se eu não fizer um grande esforço, eles todos morrerão. Salvarei a vida deles.” Assim com a velocidade de um leão chegou diante deles ao pé de uma montanha e rugiu como um leão três vezes. Ficaram aterrorizados com o rugido do leão, pararam a fuga e se amontoaram.O leão foi para o meio deles e perguntou por quê fugiam.
“A terra está em colapso,” responderam.
“Quem a viu em colapso ?” ele disse.
“Os elefantes sabem sobre isto,” responderam.
Ele perguntou aos elefantes. “Nós não sabemos,” disseram, “os leões sabem.”
Mas os leões disseram, “Não sabemos, os tigres sabem.” Os tigres disseram, “Os rinocerontes sabem.” Os rinocerontes disseram, “Os gnus sabem.” Os gnus disseram, “Os búfalos.” Os búfalos, “Os alces.” Os alces, “Os javalis.” Os javalis, “Os cervos.” Os cervos disseram, “Nós não sabemos, as lebres sabem.” Quando as lebres foram questionadas, indicaram uma lebre específica e disseram, “Esta nos disse.”
Então o Bodhisatva perguntou, “É vero, Senhor, que a terra colapsa ?”
“Sim, Senhor, eu vi,” disse a lebre.
“Onde,” ele perguntou, “moravas quando viste isto ?”
“Próximo ao oceano, Senhor, em um bosque de palmeiras misturado com árvores vilva. Pois enquanto descansava debaixo da sombra de um broto palmeira aos pés d'árvore vilva, pensei, 'Se a terra abrir-se, para onde irei ?' E naquele momento mesmo escutei o som da terra se abrindo e fugi.”
Pensou o leão : “Um fruto de vilva maduro evidentemente caiu em uma folha de palmeira e fez um 'estrondo', e esta lebre pulou concluindo que a terra se acabava e fugiu. Descobrirei a verdade exata sobre isto.” Então reuniu a horda de animais e disse, “Levarei a lebre e descobriremos precisamente se a terra esta solapando ou não, no lugar por ele indicado. Permaneçam aqui até qu'eu retorne.” Colocando então a lebre em suas costas, saiu correndo à velocidade de um leão, deixando ela no chão no bosque de palmeiras, disse, “Vamos, mostre-me o lugar que dizes.”
“Não ouso, meu senhor,” disse a lebre.
“Vamos, nada tema,” disse o leão.
A lebre, não se aventurando aproximar d'árvore vilva, ficou de longe e gritou, “Lá, Senhor, é o lugar do som terrível,” e assim falando, repetiu a primeira estrofe :-

No lugar qu’eu morava
Soou um estrondo terrível ;
O que foi não posso dizer,
Nem sua causa entender.

Após escutar o quê a lebre disse, o leão foi até o pé d'árvore vilva e viu o lugar em que a lebre descansara debaixo da sombra da palmeira e a fruta madura vilva que caíra, na folha da palmeira e cuidadosamente certificando-se que a terra não abrira, colocou a lebre em suas costas e na velocidade de um leão logo estava de volta à horda de animais.
Contou então toda a história e disse, “Nada temam.” E tendo assim tranquilizado a horda de bestas, todos partiram. Verdadeiramente, se não fosse o Buda naquele dia, todos os bichos teriam se jogado no mar e perecido. Devido ao Bodhisatva que todos não morreram.

Alarmada com o som do fruta que cai
Uma lebre certa vez correu,
Seguiram-na logo todos os bichos
Movidos pelo susto da lebre.

Não procuraram ver a cena,
Mas emprestaram ouvidos livremente
A vã fofoca, e claramente foram
Agitados pelo tolo temor.

Aqueles que o calmo prazer da Sabedoria
E da Virtude a elevação atingem
Apesar de atraído pelo mal exemplo
Tal temor pânico desdenham.

Estas três estrofes foram inspiradas pela Perfeita Sabedoria.
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O Mestre, tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo eu mesmo era o leão.”