quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

256 Buddha Mercador




256
Alguns mercadores...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivia em Jetavana sobre alguns mercadores que moravam em Savatthi.

A tradição diz que estes homens conseguiram cargas em Savatthi, as quais carregaram nos carros. Quando chegou a hora deles partirem em negócios, eles chamaram o Abençoado e lhe ofereceram  ofertas ricas ; eles receberam os Refúgios foram fortificados nos Preceitos e deixaram o Mestre dizendo estas palavras, “Senhor, partimos em um longo caminho. Quando já tivermos ido com nossas cargas, se formos afortunados e retornarmos em segurança, viremos novamente aqui e te esperaremos.” Assim começaram sua longa jornada.

Numa parte difícil da estrada, viram um poço sem uso. Não havia água nele que eles conseguissem ver, e estavam sedentos ; assim resolveram cavar mais fundo. Enquanto cavavam encontraram camadas sucessivas de minerais de todos os tipos, do ferro até a lapis lazulli. Este achado os contentou ; eles encheram seus carros com estes tesouros e voltaram salvos para Sāvatthi. Esconderam o tesouro que trouxeram ; e depois se lembraram que tendo tido sorte deveriam oferecer comida à Irmandade. Deste modo chamaram o Abençoado e ofereceram presentes a ele ; e quando eles já haviam respeitosamente saudado-o e sentado ao lado, contaram como encontraram o tesouro. Ele disse, “Vocês, bons laicos, estão contentes com sua descoberta e aceitam sua riqueza e seu modo de vida com toda moderação. Mas em outros dias existiram homens descontentes, imoderados, que se recusaram a fazer como os sábios os aconselhavam e por isto perderam sua vida.” E ele contou, com o pedido deles, um conto do mundo antigo.

_____________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família de um homem de negócios ; e cresceu para se tornar um grande mercador.

 Certa vez encheu seus carros com mercadorias e em companhia de uma larga caravana veio para esta mesma floresta e viu justo este mesmo poço. Logo que o viram quiseram beber dele e começaram a cavar e enquanto cavavam chegaram em uma quantidade de metais e gemas. Mas apesar de terem conseguido uma grande quantidade de tesouros, estavam descontentes. “Deve haver outro tesouro aqui, melhor que este !” eles pensavam e cavavam e cavavam.

Então disse o Bodhisatva para eles, “Mercadores, ganância é a raiz da destruição. Vocês já ganharam uma grande quantidade de riquezas ; fiquem contentes com estas, e parem de cavar.” Mas eles cavavam ainda mais não obstante.

Bem, este poço era assombrado por serpentes. O rei-Serpente, incensado com a queda de torrões e terra, matou-os com o sopro de suas narinas, salvando apenas o Bodhisatva e destruindo os outros ; e ele saiu do mundo das serpentes, atrelou o gado nos carros, encheu-os com jóias e sentado o Bodhisatva em um carro fino, fez com que certas serpentes jovens dirigissem e o trouxessem para Benares. Levaram-no até em casa, depuseram o tesouro em ordem, e voltaram novamente para seu próprio lugar na terra das serpentes. E o Bodhisatva gastou seu tesouro, de modo que sacudiu toda a Índia com suas ofertas e tendo empreendido os atos da virtude e guardando dia santo, no fim de sua vida foi para o paraíso.

________________

O Mestre, após contar este conto, em sua perfeita sabedoria, pronunciou as seguintes linhas:-

Alguns mercadores, querendo água, cavavam o chão
Em um velho poço e lá um tesouro encontraram:-
Estanho, ferro, cobre, chumbo, prata e ouro,
Berilos , pérolas e jóias de todos os tipos.

Mas descontentes, ainda mais desejavam cavar,
E serpentes ferozes mataram-os todos no fogo.
Caves se queres mas não cave em excesso ;
Pois cavar demais é mal.

Cavar resultou em um tesouro para estes homens ;
Mas cavar demais os fez perder tudo novamente.

Quando o Mestre terminou este discurso, ele identificou o Jataka:- “Naquele tempo, Sariputra era o rei-Serpente e o mestre da caravana era eu mesmo.”









segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

255 Buddha Papagaio





255
No tempo em que o pássaro...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre um Irmão que morreu por comer demais.

Na sua morte, os irmãos reuniram-se no Salão da Verdade e discutiam os deméritos dele deste modo : “Amigo, Irmão Tal-e-tal ignorava o quanto podia comer em segurança. Então quando comeu mais do que podia digerir, morreu em consequência.” O Mestre entrou e perguntou o quê conversavam sentados ali ; e eles disseram a ele. “Irmãos,” ele falou, “esta não é a primeira vez que nosso amigo morre de gula ; o mesmo aconteceu antes.” Então contou a eles um conto do mundo antigo.

_______________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva tornou-se um Papagaio e morava na região do Himalaia. Ele reinava sobre vários milhares da sua espécie, que viviam no lado marítimo dos Himalaias ; e um era filho dele. Quando seu filho cresceu e ficou forte, os olhos do Papagaio pai ficaram fracos. A verdade é que os papagaios voam com grande rapidez ; daí quando eles ficam velhos são os olhos que fraquejam primeiro. Seu filho mantinha os pais no ninho e trazia comida para alimentá-los.

Aconteceu um dia que nosso jovem Papagaio foi para o lugar onde arranjava sua comida e pousou no alto do topo da montanha. Dali ele olhou por cima do oceano e viu uma ilha, na qual havia um bosque de mangas cheio de doces frutos. Então dia seguinte, na hora de buscar comida, ele elevou-se nos ares e voou para seu bosque de mangas, onde ele chupou muita manga e depois pegando frutos carregou para casa para seu pai e sua mãe. 

Enquanto o Bodhisatva comia, ele reconheceu o sabor.

Meu filho,” disse ele, “esta manga é de tal e tal ilha,” nomeando-a.

Isto mesmo, pai !” respondeu o jovem Papagaio.

Papagaios que vão até lá, meu filho, não têm vida longa,” ele disse. “Não vá até esta ilha novamente !” - Mas o filho não obedeceu  e foi novamente.

Então um dia aconteceu que ele foi como usualmente ia e bebeu muito suco de manga. Com manga no bico ele passava por cima do oceano, quando cresceu o cansaço de carregar peso tanto e o sono o dominou ; voando dormindo o fruto que carregava acabou por cair do bico. E gradualmente ele foi deixando seu caminho e afundando na espuma da superfície d'água, até que no final caiu. Um peixe então o pegou e o devorou. Quando já devia ter retornado, ele não retornava e o Bodhisatva soube que ele devia ter caído n'água. Seus pais com isto, sem receber alimento, definharam e morreram.

_________________

O Mestre, tendo contado esta história, em sua perfeita sabedoria, pronunciou as seguintes estrofes:-

No tempo em que o pássaro comia sem exceder-se,
Encontrava o caminho e trazia comida para a mãe.

Mas uma vez comeu demais, esqueceu o meio termo,
E caiu ; e depois não foi mais visto.

Assim não sejais gananciosos ; mas modestos em tudo.
Poupando-se em segurança ; cobiça vem antes da queda.

[ n. do tr.: O Escoliasta, a Glosa, adiciona as seguintes linhas:

Sejas moderado em comer e em beber,
E isto a necessidade da tua fome satisfará.
Quem come com cuidado, cuja barriga não é grande,
Será um eremita santo, cedo ou tarde.
Quatro ou cinco mastigadas, - depois um gole é correto ;
Suficiente para qualquer eremita atento.
Um comedor moderado e cuidadoso tem pouca dor,
Lentamente envelhece, vive duas vezes mais novamente.

E estas :

Quando filhos trazem alimento para os pais na floresta,
Como unção para os olhos, é muito bom.
Assim para a vida escassa, esgotada pela fadiga,
Ele alimenta-os com tal alimento. ]

Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades (na conclusão das quais muitas pessoas entraram no Primeiro Caminho, ou no Segundo, ou no Terceiro ou Quarto), e identificou o Jataka : “Naquele tempo o irmão que comeu demais era o jovem Papagaio e o rei dos Papagaios era eu mesmo.”