sábado, 28 de novembro de 2009

384 Buddha Pássaro do Mar



384
“Pratiquem virtude...etc.” - O Mestre contou esta história enquanto residia em Jetavana, sobre um Irmão mentiroso. Ele disse, “Irmãos este homem não é mentiroso agora pela primeira vez” : e então contou um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como um pássaro : quando cresceu vivia em um bando de pássaros numa ilha no meio do mar. Certos mercadores de Kāsi pegaram um corvo viajado e começaram a viajar pelo mar. No meio do mar o barco naufragou. O corvo alcançou a ilha e pensou , “Aí esta um grande bando de pássaros, será bom tentar enganá-los e comer os filhotes e os ovos deles” : então ele desceu no meio deles e abrindo a boca ficou num pé só no chão. “Quem és tu, mestre ?” eles perguntaram. “Sou uma pessoa santa.” “Por quê você fica numa perna só ?” “Se eu colocasse a outra para baixo, a terra não me sustentaria.” “E por quê estais com a boca aberta ?” “Não temos outro alimento que beber vento;” e com isto chamou os outros pássaros e disse, “Pregarei ; escutem,” e falou a primeira estrofe à guisa de sermão:

Pratiquem virtude, irmãos, bençãos a vós ! Pratiquem virtude, repito:
Aqui e após, povos virtuosos têm completa felicidade

Os pássaros, sem saberem que ele assim falava de mentira para comer os ovos, louvaram-no e falaram a segunda estrofe:

Certamente uma reta ave, pássaro bento,
Ele prega numa perna a palavra sacra.

Os pássaros, acreditando naquele vil, disseram, “Senhor, não tomas outro alimento que vento : então prego olhe nossos ovos e filhotes,” e foram para seu lugar de caça. Aquele pecador quando eles saíram encheu a barriga de ovos e filhotes, e quando eles voltaram estava calmamente em uma perna com sua boca aberta. Os pássaros não vendo suas crianças quando chegaram deram o alarme, “Quem pode tê-los comido?” mas dizendo, “Este corvo é uma sacra pessoa,” nem mesmo dele suspeitaram. Então um dia o Bodhisatva pensou, “Não havia nada errado antes aqui, começou quando este um aí chegou, será bom testá-lo” : então fingindo que saiu com os outros pássaros, voltou e se escondeu. O corvo, confiante porque os pássaros saíram levantou-se e comeu ovos e filhotes, e voltando permaneceu numa perna e de boca aberta. Quando os pássaros voltaram o rei reuniu-os e disse, “Ho-je descobri o perigo que atinge nossos filhotes e vi este mau corvo comendo-os, vamos pegá-lo” : assim juntando os pássaros e cercando o corvo ele disse, “Se ele voar, peguem-no,” e falou as outras estrofes:

Vocês não conhecem seu caminho quando louvam este pássaro:
Vocês falam em língua de bobo :
“Virtude,” ele dirá, e “Virtude” sempre,
Mas ele come nossos ovos e filhotes.

As coisas que prega com a voz
Seus membros não acompanham :
Sua Virtude é um ruído vazio,
Sua retidão mentira.

No coração hipocrisia, na língua encantos,
Uma cobra preta do buraco escapulindo, é ele:
Lesa com a aparência do seu escudo de armas
O povo em sua simplicidade.

Abatam-no com bicos e penas,
Rasguem-no com suas garras:
Morte a tal lacaio covarde,
Traidor de nossa causa.

Com estas palavras o líder dos pássaros levantou-se e bateu no corvo com o bico bem na cabeça, e o resto atingiu-o com bicos e garras e asas: e assim ele morreu.
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Ao final da lição, o Mestre identificou o Jātaka: “Naquele tempo o corvo era o Irmão mentiroso, o rei dos pássaros era eu mesmo.”  Cf Buddha Rato, Jataka paralelo, o lobo com roupa de cordeiro, imagem evangélica mesmo.






terça-feira, 17 de novembro de 2009

383 Buddha Galo




383
“Pássaro com asas...etc.” - O Mestre contou esta história em Jetavana relativa a um Irmão que anelava ao mundo. O Mestre perguntou-lhe, “Por quê anelas ao mundo ?” “Senhor, por causa da paixão pois vi um mulher adornada.” “Irmão, mulheres são como gatas, enganando e engambelando até trazer a ruína àquele que está em seu poder,” e contou um velho conto.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como um galo e vivia na floresta com um grupo de muitas centenas de galos. Não muito distante vivia uma gata : e ela enganou com enganos os outros galos exceto o Bodhisatva e comeu-os : mas o Bodhisatva não caiu em poder dela. Ela pensou, “Este galo é muito hábil mas ele não sabe que sou hábil e engenhosa em enganos : vou engambelá-lo dizendo ‘Serei sua esposa,’ e assim comê-lo quando estiver em meu poder.” Ela foi até ao pé da árvore em que ele estava empoleirado, e elogiando-o numa fala precedida de louvor a sua beleza, ela falou a primeira estrofe:

Pássaro com asas de luzes vivas, crista que pende bela,
Serei sua esposa por nada, deixe o galho e venha.

O Bodhisatva escutando-a pensou, “Ela comeu meus parentes todos ; agora ela quer me engambelar e comer : me livrarei dela.” E assim falou a segunda estrofe:

Senhora bela e sedutora, tens quatro patas, e eu somente duas :
Bestas e pássaros nunca devem se casar : busque outro marido.

Então ela pensou, “Ele é bastante hábil ; de algum modo o enganarei e o comerei ” ; e então ela falou a terceira estrofe:

Te darei beleza e juventude, falas agradáveis e cortesia:
Esposa honrada ou simples empregada, a teu prazer fique comigo.

Então o Bodhisatva pensou, “É melhor insultá-la e mandá-la embora,” e falou a quarta estrofe:

Tu bebeu o sangue dos meus parentes e roubou-os e matou-os cruelmente :
“Esposa honrada” ! não há honra em teu coração quando me cortejas.

Ela foi embora e não conseguiu nem olhar para ele de novo.

Então quando elas vêem um herói, mulheres dissimulam,
(Compare a gata e o galo), tentam tentá-lo.

Aquele que em grandes oportunidades falham em crescer
Prostados jazem tristes aos pés dos inimigos.

Aquele pronto a perceber uma crise em seu fado,
Como o galo à gata, escapa de seu adversário.

Estes versos foram inspirados pela Perfeita Sabedoria.
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A lição terminada, o Mestre declarou as Verdades e identificou o Jātaka: - após as Verdades, o Irmão desviado foi estabelecido na fruição do Primeiro Caminho: - “Naquele tempo o galo era eu mesmo.”

[  quantas fábulas de Esopo Buddhista repetem esta cena ? ]


sábado, 14 de novembro de 2009

382 Buddha e Uppalavanna



382
“Quem é este...etc.” - O Mestre contou esta história em Jetavana, relativa a Anāthapindika [ Sudattha ]. A partir do momento que ele foi estabelecido na fruição do Primeiro Caminho ele manteve intacto todos os cinco preceitos ; do mesmo modo sua esposa, seus filhos e filhas, seus empregados e ajudantes. Um dia no Salão da Verdade eles começaram a discutir se Anāthapindika era puro em seu caminhar e sua família também. O Mestre veio e soube do tema: e disse, “Irmãos, sábios antigos tinham família e criados puros,” e contou um conto antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um mercador, dando ofertas, mantendo preceitos, e realizando as obrigações dos dias de jejum: também sua esposa manteve os cinco preceitos, e os filhos, e filhas, e empregados e ajudantes. Por isto era chamado o mercador Suciparivāra ( domicílio puro ). Ele pensou, “Se alguém de costumes mais puros que eu chegar, não seria apropriado oferecê-lo meu sofá para sentar, ou minha cama para deitar mas sim oferecê-lo um lugar puro e sem uso” : e assim manteve um sofá e uma cama sem uso preparado em um lado de sua sala de audiências. Naquele tempo no Céu dos Quatro Reis [ que são Dhatarattha, rei do Norte, Virulha do Sul, Virupakkha do Oeste e Vessavana do Leste ] Kālakanni, filha de Virupakkha, e Siri, filha de Dhatarattha, juntas, pegaram guirlandas e perfumes e foram ao lago Anotatta para brincar lá. Bem, neste lago existem muitos lugares de banho: os Buddhas banham-se em seu próprio lugar, os paccekabuddhas no deles, os Irmãos no deles, os ascetas no deles, os deuses dos seis céus-Kāma [ sendo primeiro o céu dos Quatro Reis ] no deles, e as deusas no delas. Essas duas chegaram lá então e começaram a discutir qual das duas devia mergulhar primeira. Kālakanni disse, “Eu ordeno o mundo: é certo que eu me banhe primeiro.” Siri disse: “Eu presido o curso das condutas que dá o senhorio à humanidade: é certo que eu me banhe primeiro.” Então as duas disseram, “Os Quatro Reis saberão qual de nós duas deve banhar-se primeiro no Anotatta. Dhatarattha e Virupakkha disseram, “Não podemos decidir,” e deixaram a tarefa para Virulha e Vessavana. Eles também disseram, “Não podemos decidir, enviaremos a questão aos pés do Senhor” : e perguntaram a Sakra. Ele escutou e pensou, “Estas duas são filhas dos vassalos; não posso decidir este caso” : e então disse a eles, “Há em Benares um mercador chamado Suciparivāra; em sua casa está preparada uma cama e um sofá não usados : aquela que primeiro sentar e descansar lá, é a que deve se banhar primeiro.” Kālakanni escutando em um instante colocou roupas azuis e unção azul e adornou-se com jóias azuis: ela desceu do céu como uma pedra de catapulta, e logo após a meia-noite plainou no ar, difundindo uma luz azul, não distante do mercador que descansava em um sofá na sala de audiências da sua mansão. O mercador olho e viu ela: mas aos olhos dele ela era sem graça e desamável. Falando com ela disse a
primeira estrofe:

Quem é esta em cor tão escura,
Desagradável à vista ?
Quem é você, filha de quem, diga,
Como conheceremos a ti, prego ?

Escutando isto, Kālakanni respondeu com a segunda estrofe:

O grande rei Virupakkha, é meu pai:
Sou Azar ( Infortúnio ), temível Kālakanni:
Dê-me aquele quarto perto de ti, eu desejo.

Então o Bodhisatva falou a terceira estrofe:

Qual a conduta, qual os caminhos,
Das pessoas com quem habitas?
É o que pede minha pergunta :
Marcaremos bem a resposta.

Então ela, falando de suas próprias qualidades, falou a quarta estrofe:

O hipócrita, o arrogante, o moroso,
A pessoa invejosa, gananciosa e traiçoeira:
Tais são os amigos que amo : e disponho
Seus ganhos para que possam perecer completamente.

Falou ainda a quinta, sexta e sétima estrofe:

E mais queridos ainda são a ira e o ódio para mim,
Calúnia e discórdia, difamação e crueldade.

A gente indolente que não sabe seu próprio bem,
Resente de conselho, rude com os seus :

A pessoa levada pela tolice, que despreza amigos,
Ele é meu amigo, nele descansa meu prazer.

Então o Grande Ser, culpando ela, falou a oitava estrofe:

Fora, Kāli: nada te agrada aqui:
Desapareça para outras terras e cidades.

Kālakanni, escutando-o, ficou triste e falou outra estrofe:

Te conheço bem: nada me agrada aqui.
Outros são sem sorte, que acumulam muita coisa ;
Meu irmão-deus e eu faremos tudo desaparecer.

Quando ela foi, Siri a deusa, veio, com trajes e unção dourada e ornamentos de brilho dourado para a porta da sala de audiências, difundindo luz amarela, parada ao nível do chão e com respeito. O Bodhisatva vendo-a repetiu a primeira estrofe:

Quem é esta, divina luz,
No chão firme e verdadeiro?
Quem é você, filha de quem, diga,
Como a conheceremos, prego ?

Siri, escutando-o, falou a segunda estrofe:

O grande rei Dhatarattha é meu pai:
Fortuna e Sorte eu sou, e Sabedoria admiram as pessoas:
Agracie-me com aquela cama, é o que desejo.

(Ele) Que conduta, que caminhos
Das pessoas com quem habitas?
Isto que pede minha pergunta ;
Marcaremos bem a resposta.

(Ela) Aquela que com frio e calor, no vento e no sol,
No meio de sede e fome, que foge de serpente e veneno
Sua obrigação presente dia e noite, faz ;
Com este habito e amo fielmente.

Gentil e amavel, reto, liberal,
Sem culpa e honesto, íntegro, encantador, meigo,
Humilde no lugar alto : tinjo toda sua fortuna,
Como às ondas sua cor no oceano que cresce

À amigos ou inimigos, melhores, iguais ou piores,
Ajudante ou adversário, no escuro ou no dia claro,
Àquele que é gentil, sem ásperas palavras ou maldições,
Sou seu amigo, vivendo ou morrendo, sempre.

Mas se um tolo de mim ganhou algum amor,
E incha orgulhoso e vão,
De seu caminho voluntarioso de irreflexão, fujo,
Como mancha suja.

A boa e má sorte de cada pessoa é seu próprio trabalho, não de outro:
Nem à boa nem à má sorte pode uma pessoa fazer a seus irmãos.

Tal foi a resposta de Siri quando questionada pelo mercador.
O Bodhisatva rejubilou-se com as palavras de Siri, e disse, “Aqui está o sofá e a cama pura, própria sua ; sente e descanse lá.” Ela ficou lá e de manhã saiu para o Céu dos Quatro Grandes Reis e primeiro banhou-se no lago Anotatta. A cama usada por Siri foi chamada Sirisaya : daí a origem da Sirisayana, e por esta razão é assim chamada até hoje.
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Após a lição o Mestre identificou o Jātaka: “Naqueles dias a deusa Siri era Uppalavannā, o mercador Suciparivāra era eu mesmo.”

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

381 Buddha Abutre Aparanna



                                 Monte do Abutre, Índia

381
“Teus caminhos, meu filho...etc.” - O Mestre contou esta história em Jetavana sobre um Irmão indisciplinado. O Mestre perguntou ao Irmão, “Você é realmente indisciplinado?” Ele disse, “Sim, senhor” : e o Mestre disse, “Você não é indisciplinado pela primeira vez; antes também através da indisciplina não fizeste o ordenado pelo sábio e encontraste a morte nos ventos Verambha,” [no mar do mesmo nome] e contou um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como um abutre de nome Aparannagijjha, e vivia com um bando de urubus em Gijjhapabbata (Montanha Abutre). Seu filho, Migālopa de nome, era extremamente forte e poderoso; ele voava alto acima do alcance dos outros abutres. Eles falaram ao rei que o filho voava muito alto. Ele chamou Migālopa e disse, “Filho, eles dizem que você voa muito alto: se fizeres isto, trarás a morte para si,” falando três estrofes:

Teus caminhos, filho, me parecem inseguros,
Você plaina muito alto, acima de nossa própria esfera.

Quando a terra não for que um quadrado de terra à tua vista,
Volte, meu filho, e não ouse vôo mais alto.

Agora mesmo outros pássaros tentam plainar as asas em vôos elevados,
Batidos por ventos e tempestades furiosas eles perecem em seu orgulho.

Migālopa por indisciplina não fez o quê o pai ordenou mas subindo e subindo passou do limite que seu pai lhe indicara, clivou mesmo os Ventos Negros quando com eles encontrou, e voou mais acima até encontrar os ventos de Verambha à sua face. Eles bateram nele, e só com a batida foi feito em pedaços e desapareceu no ar.

Desdenhou os sábios conselhos do pai,
Foi para além dos Ventos Negro e Verambha.

Sua esposa, seus filhos, toda a horda da sua casa,
Todos ruíram por causa do pássaro voluntarioso.

Assim aqueles que não acolhem o que seus anciãos dizem,
Como este abutre orgulhoso perdido além dos limites,
Encontra ruína, quando às retas normas desobedece.
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Após a lição o Mestre identificou o Jātaka: “Naquele tempo Migālopa era o Irmão indisciplinado, Aparanna era eu mesmo.”

[ N. do tr.: Pensar direto em Dédalo e Ícaro: aí o engenho humano são os altos vôos.]