terça-feira, 23 de julho de 2013

463 Buddha sábio Supparaka


   
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Homens com focinhos ...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre a Perfeição do Conhecimento. Um dia, nos é dito, à tardinha, os Irmãos esperavam a chegada do Tathagata para pregar a eles e sentados no Salão da Verdade, falavam um ao outro, “Verdadeiramente Irmão, o Mestre tem grande sabedoria ! Larga sabedoria ! Sabedoria pronta ! Sabedoria rápida ! Sabedoria penetrante ! Sua sabedoria atinge o lugar certo no momento certo ; larga como o mundo, semelhante ao imenso e poderoso oceano, qual os céus que se espalham para todos os lados : em toda a Índia não existe nenhum sábio que se compare a Dasabala. Qual vagalhão que se levanta sobre o grande mar não pode atingir a costa ou se a alcança, quebra ; do mesmo modo nenhuma pessoa pode alcançar Dasabala em sabedoria, ou se chega nos pés do Mestre, se quebra.” Com estas palavras eles cantavam louvores à Perfeita Sabedoria do Dasabala. O Mestre entra e pergunta, “O quê vocês conversavam, Irmãos, sentados aí ?” Eles disseram. Ele falou, “Não apenas agora é o Tathagata cheio de sabedoria. Em dias anteriores, mesmo quando seu conhecimento era imaturo, ele era sábio. Apesar de estar cego ele sabia pelos sinais do oceano que em tal e tal oceano uma joia estava escondida.” Então ele contou uma história do passado.
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Certa vez, um rei chamado Bharu reinava no reino de Bharu. Havia uma cidade portuária chamada Bharukaccha, ou Mangue de Bharu. Naquele tempo o Bodhisatva nasceu na família de um mestre marinheiro de lá ; ele era amável e tinha aparência marrom dourada. Deram a ele o nome de Supparaka-kumara. Ele cresceu com grande distinção e mesmo quando não tinha feito ainda dezesseis anos, ganhou a mestria completa na arte de navegar. Depois com a morte de seu pai tornou-se chefe dos marinheiros e aplicou-se na vocação de marinheiro : ele era sábio e cheio de inteligência ; com ele a bordo nenhum barco nunca se danificou.

Com o tempo aconteceu de, machucado pela água salgada, ambos os seus olhos perderem a vista. Após o quê, apesar de ser chefe dos marinheiros, não se dedicou mais ao comércio marítimo mas decidido a viver prestando serviço ao rei, aproximou-se dele com este fim. E o rei o indicou para o ofício de avaliador e assessor. A partir de então assessorava na avaliação de elefantes, cavalos, pérolas e gemas.

Um dia um elefante foi trazido ao rei, da cor de uma rocha preta, para se tornar elefante de estado. O rei olhou-o e ordenou que o mostrassem ao homem sábio. Levaram a criatura para diante dele. O homem passou sua mão por cima do corpo do elefante e disse, “Este elefante não é adequado para se tornar elefante de estado. Este tem as qualidades de um elefante que está deformado atrás. Quando sua mãe deu-lhe a luz, ela pode segurá-lo no ombro ; então o deixou cair no chão e assim ele deformou sua pata traseira.” Perguntaram àqueles que trouxeram o elefante ; e eles responderam que o sábio falara a verdade. Quando o rei escutou isto, ficou agraciado e ordenou que oito peças de dinheiro fossem dadas a ele.

Um outro dia, um cavalo foi trazido para ser cavalo de estado do rei. Este também foi enviado ao sábio. Ele o sentiu inteiro com a mão e depois disse, “Este não é apropriado para ser cavalo de batalha do rei. No dia que este cavalo nasceu, sua mãe morreu e assim por falta do leite da égua, não cresceu adequadamente.” Esta afirmação dele era verdadeira também. Quando o rei escutou isto, ficou agraciado e ordenou que lhe presenteassem com mais oito peças de dinheiro.

Outro dia, uma carruagem foi trazida para ser a carruagem de estado do rei. Esta também o rei enviou a ele que a sentiu com as mãos e disse, “Esta carruagem foi feita com árvore oca e portanto não é apropriada para o rei.” Esta afirmação dele era verdadeira como as outras. O rei ficou agraciado novamente quando escutou isto e deu a ele mais oito peças.
Então novamente trouxeram uma manta preciosa de grande preço, que o rei enviou ao sábio como antes. Ele o sentiu inteiro e disse, “Há um lugar aqui onde um rato roeu um buraco.” Eles examinaram e encontraram o lugar e então contaram ao rei. O rei ficou agraciado e ordenou que oito peças fossem dadas novamente.

Então o homem pensou, “Só oito peças de dinheiro, com tais maravilhas como estas para se ver ! Isto é presente de barbeiro ; este rei deve ser fedelho de barbeiro. Por quê serviria a tal rei ? Retornarei para minha própria casa.” Assim voltou para o porto de Bharukaccha e lá viveu.

Aconteceu de alguns mercadores terem aprontado um barco e estarem contratando um capitão de navio. “Aquele esperto Supparaka,” eles pensaram, “é sábio e habilidoso ; com ele a bordo nenhum barco se danifica. Apesar de ser cego, o sábio Supparaka é o melhor.” Então foram até ele e pediram que fosse o capitão deles. “Sou cego, amigos,” ele respondeu, “como posso comandar o navio de vocês ?” “Pode ser que sejas cego, mestre,” disseram os mercadores, “mas és o melhor.” Como eles insistiam, acabou consentindo : “Já que vocês me encarregam,” disse ele, “serei seu capitão.” Então ele embarcou no navio deles.

Navegaram neste barco em altos mares. Por sete dias o barco navegou sem contratempo, revés : até que um vento fora de época se levantou. Por quatro meses o navio foi lançado no oceano primevo, até que chegou no chamado Mar de Khuramala. Aqui os peixes com corpos semelhantes ao de gentes e focinhos pontudos como navalhas, emergiam e submergiam n'água. Os mercadores observando isto perguntaram ao Grande Ser como era chamado aquele mar, repetindo a primeira estrofe :

Homens com focinhos em navalha emergindo e submergindo !
Fale, Supparaka e nos diga como é chamado este mar ?

O Grande Ser, com esta pergunta, examinando em sua mente o conhecimento de marinheiro, respondeu repetindo a segunda estrofe :

Mercadores vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é o oceano Khuramali onde seu barco se extraviou.

Bem acontece que neste oceano se encontram diamantes. O Grande Ser refletiu que se lhes dissesse que este era um mar de diamantes, eles afundariam o barco em sua ganância por coletar os diamantes. Então não lhes disse nada ; mas levando o navio, pegou uma corda e abaixou uma rede como se para pegar peixe. Com isto ele trouxe para dentro um arrastão de diamantes e os guardou no barco ; depois fez com que mercadorias de pouco valor fossem jogadas para fora.

O navio atravessou este mar e chegou em outro chamado Aggimala. Este mar emitia um brilho como de fogueira ardente, semelhante ao sol no meio dia. Os mercadores perguntaram a ele com esta estrofe :

Olhem ! Um oceano semelhante a fogueira ardente, ao sol, nós vemos !
Fale, Supparaka, e nos diga qual deve ser o nome deste ?

O Grande Ser respondeu a eles na estrofe seguinte :

Mercadores vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é o oceano Aggimali onde seu barco se extraviou.

Bem neste mar o ouro era abundante. Do mesmo modo que antes ele fez um arrastão de ouro e deixou à bordo. Atravessando este mar, o barco em seguida veio para um oceano chamado Dadhimala, reluzindo como leite ou yogurte. Os mercadores perguntaram seu nome em uma estrofe :

Olhem ! Um oceano branco e leitoso, branco qual yogurte parece que vemos !
Fale, Supparaka, e nos diga qual deve ser o nome deste ?

O Grande Ser respondeu-lhes com a estrofe seguinte :

Mercadores vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é o oceano Dadhimali onde seu barco se extraviou.

Neste mar havia abundância de prata. Ele as conseguiu do mesmo modo que antes e a deixou à bordo. Sobre este mar o navio navegou e chegou a um oceano chamado Nilavannakusa-mala, que tinha a aparência de uma esteira de grama kusa escura ( Poa Cynosuroides ) ou um campo de milho. Os mercadores perguntaram seu nome em uma estrofe :

Olhem ! Um oceano verde e de grama, qual milho verde parece que vemos !
Fale, Supparaka, e nos diga qual deve ser o nome deste ?

Ele respondeu com as palavras da estrofe seguinte :

Mercadores vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é o oceano Kusamali onde seu barco se extraviou.

Bem neste oceano havia uma grande quantidade de esmeraldas preciosas. Como antes, ele fez um arrastão delas e as guardou à bordo. Atravessando este mar, o barco chegou no mar chamado Nalamala, que tinha o aspecto vermelho de juncos ou bambus como corais. Os mercadores perguntaram seu nome em uma estrofe :

Olhem ! Um oceano qual cama de junco ou bosque de bambu vemos !
Fale, Supparaka e nos diga qual deve ser o nome deste ?

O Grande Ser respondeu a seguinte estrofe :

Mercadores vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é o oceano Nalamali onde seu barco se extraviou.

Bem este oceano era cheio de corais da cor de bambus. Ele fez um arrastão deste também e levou à bordo.

Após passar o Mar Nalamali, os mercadores chegaram a um mar chamado Valabhamukha. Aqui àgua era sugada e jogada para todo lado ; e àgua assim jogada para todo lado levantava um precipício escarpado mostrando o quê parecia ser um grande poço. Uma onda levantou-se de um lado qual parede : um terrível rugido foi ouvido, que parecia que estouraria os ouvidos e quebraria os corações. À vista disso os mercadores ficaram aterrorizados e perguntaram seu nome em uma estrofe :

Escutem o terrível som assustador do pesado mar sem terra !
Olhem um buraco e olhem as águas em um profundo declive !
Fale Supparaka e nos diga qual pode ser o nome disto ?

O Bodhisatva respondeu na seguinte estrofe, “Mercadores”, etc, terminando- “Este é o oceano Valabhamukhi,” etc.

Ele prosseguiu, “Amigos, uma vez um barco entre no Mar Valabhamukha não há retorno. Se este barco entrar lá, ele afundará e será destruído.” Bem, haviam setecentas almas à bordo deste barco e eles estavam com medo da morte ; com uma voz eles pronunciaram um grito muito agudo, como o grito daqueles que queimam no ínfero mais profundo. O Grande Ser pensou, “A não ser eu mesmo, ninguém mais pode salvar estas pessoas ; as salvarei com um Ato de Verdade.” Então ele falou alto, “Amigos, banhem-me rapidamente em água perfumada e me coloquem novas roupas, preparem uma tigela cheia e me enviem para a frente do navio.” Eles rapidamente fizeram isto. O Grande Ser pegou a tigela cheia com ambas as mãos e em pé na frente do barco, realizou um Ato de Verdade, repetindo a estrofe final :

Desde quando me lembro, desde quando inteligência primeiro surgiu,
Nem uma vida de ser vivo, que eu saiba tirei :
Possa este barco retornar à salvo se minhas solenes palavras são verdadeiras.

Quatro meses o barco viajou por regiões distantes ; e agora como que dotado com poder sobrenatural, ele retornou em um único dia para a cidade portuária de Bharukaccha e mesmo sobre a terra seca seguia, até descansar diante da porta do marinheiro, tendo se elevado por um espaço de quatrocentos metros. O Grande Ser dividiu entre os mercadores todo o ouro e prata, jóias, coral e diamantes, dizendo, “Este tesouro é o suficiente para vocês : viagem no mar não mais.” Então ele discursou para eles ; e após dar presentes e fazer caridade por toda a vida, foi preencher as hostes celestes.
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O Mestre, tendo terminado seu discurso, disse, “ Então, Irmãos, o Tathagata era o mais sábio em dias anteriores como o é agora,” e identificou o Jataka : “Naquele tempo a companhia do Buddha era a companhia ( dos mercadores ) e eu mesmo era o sábio Supparaka.”