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“Homens com
focinhos ...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto
residia em Jetavana sobre a Perfeição do Conhecimento.
Um dia, nos é dito, à tardinha, os Irmãos
esperavam a chegada do Tathagata para pregar a eles e sentados no
Salão da Verdade, falavam um ao outro, “Verdadeiramente
Irmão, o Mestre tem grande sabedoria ! Larga sabedoria !
Sabedoria pronta ! Sabedoria rápida ! Sabedoria penetrante !
Sua sabedoria atinge o lugar certo no momento certo ; larga como o
mundo, semelhante ao imenso e poderoso oceano, qual os céus
que se espalham para todos os lados : em toda a Índia não
existe nenhum sábio que se compare a Dasabala. Qual vagalhão
que se levanta sobre o grande mar não pode atingir a costa ou
se a alcança, quebra ; do mesmo modo nenhuma pessoa pode
alcançar Dasabala em sabedoria, ou se chega nos pés do
Mestre, se quebra.” Com estas palavras eles cantavam louvores à
Perfeita Sabedoria do Dasabala. O Mestre entra e pergunta, “O quê
vocês conversavam, Irmãos, sentados aí ?” Eles
disseram. Ele falou, “Não apenas agora é o Tathagata
cheio de sabedoria. Em dias anteriores, mesmo quando seu
conhecimento era imaturo, ele era sábio. Apesar de estar cego
ele sabia pelos sinais do oceano que em tal e tal oceano uma joia
estava escondida.” Então ele contou uma história do
passado.
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Certa
vez, um rei chamado Bharu reinava no reino de Bharu. Havia uma cidade
portuária chamada Bharukaccha, ou Mangue de Bharu. Naquele
tempo o Bodhisatva nasceu na família de um mestre marinheiro
de lá ; ele era amável e tinha aparência marrom
dourada. Deram a ele o nome de Supparaka-kumara. Ele cresceu com
grande distinção e mesmo quando não tinha feito
ainda dezesseis anos, ganhou a mestria completa na arte de navegar.
Depois com a morte de seu pai tornou-se chefe dos marinheiros
e aplicou-se na vocação de marinheiro : ele era sábio
e cheio de inteligência ; com ele a bordo nenhum barco nunca se
danificou.
Com o
tempo aconteceu de, machucado pela água salgada, ambos os seus
olhos perderem a vista. Após o quê, apesar de ser chefe
dos marinheiros, não se dedicou mais ao comércio
marítimo mas decidido a viver prestando serviço ao rei,
aproximou-se dele com este fim. E o rei o indicou para o ofício
de avaliador e assessor. A partir de então assessorava na
avaliação de elefantes, cavalos, pérolas e
gemas.
Um dia
um elefante foi trazido ao rei, da cor de uma rocha preta, para se
tornar elefante de estado. O rei olhou-o e ordenou que o mostrassem
ao homem sábio. Levaram a criatura para diante dele. O homem
passou sua mão por cima do corpo do elefante e disse, “Este
elefante não é adequado para se tornar elefante de
estado. Este tem as qualidades de um elefante que está
deformado atrás. Quando sua mãe deu-lhe a luz, ela
pode segurá-lo no ombro ; então o deixou cair no chão
e assim ele deformou sua pata traseira.” Perguntaram àqueles
que trouxeram o elefante ; e eles responderam que o sábio
falara a verdade. Quando o rei escutou isto, ficou agraciado e
ordenou que oito peças de dinheiro fossem dadas a ele.
Um
outro dia, um cavalo foi trazido para ser cavalo de estado do rei.
Este também foi enviado ao sábio. Ele o sentiu inteiro
com a mão e depois disse, “Este não é
apropriado para ser cavalo de batalha do rei. No dia que este cavalo
nasceu, sua mãe morreu e assim por falta do leite da égua,
não cresceu adequadamente.” Esta afirmação
dele era verdadeira também. Quando o rei escutou isto, ficou
agraciado e ordenou que lhe presenteassem com mais oito peças
de dinheiro.
Outro
dia, uma carruagem foi trazida para ser a carruagem de estado do rei.
Esta também o rei enviou a ele que a sentiu com as mãos
e disse, “Esta carruagem foi feita com árvore oca e portanto
não é apropriada para o rei.” Esta afirmação
dele era verdadeira como as outras. O rei ficou agraciado novamente
quando escutou isto e deu a ele mais oito peças.
Então
novamente trouxeram uma manta preciosa de grande preço, que o
rei enviou ao sábio como antes. Ele o sentiu inteiro e disse,
“Há um lugar aqui onde um rato roeu um buraco.” Eles
examinaram e encontraram o lugar e então contaram ao rei. O
rei ficou agraciado e ordenou que oito peças fossem dadas
novamente.
Então
o homem pensou, “Só oito peças de dinheiro, com tais
maravilhas como estas para se ver ! Isto é presente de
barbeiro ; este rei deve ser fedelho de barbeiro. Por quê
serviria a tal rei ? Retornarei para minha própria casa.”
Assim voltou para o porto de Bharukaccha e lá viveu.
Aconteceu
de alguns mercadores terem aprontado um barco e estarem contratando
um capitão de navio. “Aquele esperto Supparaka,” eles
pensaram, “é sábio e habilidoso ; com ele a bordo
nenhum barco se danifica. Apesar de ser cego, o sábio
Supparaka é o melhor.” Então foram até ele e
pediram que fosse o capitão deles. “Sou cego, amigos,” ele
respondeu, “como posso comandar o navio de vocês ?” “Pode
ser que sejas cego, mestre,” disseram os mercadores, “mas és
o melhor.” Como eles insistiam, acabou consentindo : “Já
que vocês me encarregam,” disse ele, “serei seu capitão.”
Então ele embarcou no navio deles.
Navegaram
neste barco em altos mares. Por sete dias o barco navegou sem
contratempo, revés : até que um vento fora de época
se levantou. Por quatro meses o navio foi lançado no oceano
primevo, até que chegou no chamado Mar de Khuramala. Aqui os
peixes com corpos semelhantes ao de gentes e focinhos pontudos como
navalhas, emergiam e submergiam n'água. Os mercadores
observando isto perguntaram ao Grande Ser como era chamado aquele
mar, repetindo a primeira estrofe :
Homens
com focinhos em navalha emergindo e submergindo !
Fale,
Supparaka e nos diga como é chamado este mar ?
O Grande
Ser, com esta pergunta, examinando em sua mente o conhecimento de
marinheiro, respondeu repetindo a segunda estrofe :
Mercadores
vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é
o oceano Khuramali onde seu barco se extraviou.
Bem
acontece que neste oceano se encontram diamantes. O Grande Ser
refletiu que se lhes dissesse que este era um mar de diamantes, eles
afundariam o barco em sua ganância por coletar os diamantes.
Então não lhes disse nada ; mas levando o navio, pegou
uma corda e abaixou uma rede como se para pegar peixe. Com isto ele
trouxe para dentro um arrastão de diamantes e os guardou no
barco ; depois fez com que mercadorias de pouco valor fossem jogadas
para fora.
O navio
atravessou este mar e chegou em outro chamado Aggimala. Este mar
emitia um brilho como de fogueira ardente, semelhante ao sol no meio
dia. Os mercadores perguntaram a ele com esta estrofe :
Olhem !
Um oceano semelhante a fogueira ardente, ao sol, nós vemos !
Fale,
Supparaka, e nos diga qual deve ser o nome deste ?
O Grande Ser
respondeu a eles na estrofe seguinte :
Mercadores
vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é
o oceano Aggimali onde seu barco se extraviou.
Bem neste mar
o ouro era abundante. Do mesmo modo que antes ele fez um arrastão
de ouro e deixou à bordo. Atravessando este mar, o barco em
seguida veio para um oceano chamado Dadhimala, reluzindo como leite
ou yogurte. Os mercadores perguntaram seu nome em uma estrofe :
Olhem !
Um oceano branco e leitoso, branco qual yogurte parece que vemos !
Fale,
Supparaka, e nos diga qual deve ser o nome deste ?
O Grande Ser
respondeu-lhes com a estrofe seguinte :
Mercadores
vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é
o oceano Dadhimali onde seu barco se extraviou.
Neste mar havia
abundância de prata. Ele as conseguiu do mesmo modo que antes
e a deixou à bordo. Sobre este mar o navio navegou e chegou a
um oceano chamado Nilavannakusa-mala, que tinha a aparência de
uma esteira de grama kusa escura ( Poa Cynosuroides )
ou um campo de milho. Os mercadores perguntaram seu nome em uma
estrofe :
Olhem ! Um
oceano verde e de grama, qual milho verde parece que vemos !
Fale,
Supparaka, e nos diga qual deve ser o nome deste ?
Ele respondeu com
as palavras da estrofe seguinte :
Mercadores
vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este é
o oceano Kusamali onde seu barco se extraviou.
Bem neste oceano
havia uma grande quantidade de esmeraldas preciosas. Como antes, ele
fez um arrastão delas e as guardou à bordo.
Atravessando este mar, o barco chegou no mar chamado Nalamala, que
tinha o aspecto vermelho de juncos ou bambus como corais. Os
mercadores perguntaram seu nome em uma estrofe :
Olhem !
Um oceano qual cama de junco ou bosque de bambu vemos !
Fale,
Supparaka e nos diga qual deve ser o nome deste ?
O Grande Ser
respondeu a seguinte estrofe :
Mercadores
vindos de Bharukaccha, buscando se abastecer de riquezas,
Este
é o oceano Nalamali onde seu barco se extraviou.
Bem este oceano
era cheio de corais da cor de bambus. Ele fez um arrastão
deste também e levou à bordo.
Após passar o Mar Nalamali, os mercadores chegaram a um mar chamado Valabhamukha. Aqui àgua era sugada e jogada para todo lado ; e àgua assim jogada para todo lado levantava um precipício escarpado mostrando o quê parecia ser um grande poço. Uma onda levantou-se de um lado qual parede : um terrível rugido foi ouvido, que parecia que estouraria os ouvidos e quebraria os corações. À vista disso os mercadores ficaram aterrorizados e perguntaram seu nome em uma estrofe :
Escutem
o terrível som assustador do pesado mar sem terra !
Olhem
um buraco e olhem as águas em um profundo declive !
Fale
Supparaka e nos diga qual pode ser o nome disto ?
O Bodhisatva
respondeu na seguinte estrofe, “Mercadores”, etc, terminando-
“Este é o oceano Valabhamukhi,” etc.
Ele
prosseguiu, “Amigos, uma vez um barco entre no Mar Valabhamukha não
há retorno. Se este barco entrar lá, ele afundará
e será destruído.” Bem, haviam setecentas almas à
bordo deste barco e eles estavam com medo da morte ; com uma voz
eles pronunciaram um grito muito agudo, como o grito daqueles que
queimam no ínfero mais profundo. O Grande Ser pensou, “A
não ser eu mesmo, ninguém mais pode salvar estas
pessoas ; as salvarei com um Ato de Verdade.” Então ele
falou alto, “Amigos, banhem-me rapidamente em água perfumada
e me coloquem novas roupas, preparem uma tigela cheia e me enviem
para a frente do navio.” Eles rapidamente fizeram isto. O Grande
Ser pegou a tigela cheia com ambas as mãos e em pé na
frente do barco, realizou um Ato de Verdade, repetindo a estrofe
final :
Desde quando
me lembro, desde quando inteligência primeiro surgiu,
Nem
uma vida de ser vivo, que eu saiba tirei :
Possa este barco
retornar à salvo se minhas solenes palavras são
verdadeiras.
Quatro meses o
barco viajou por regiões distantes ; e agora como que dotado
com poder sobrenatural, ele retornou em um único dia para a
cidade portuária de Bharukaccha e mesmo sobre a terra seca
seguia, até descansar diante da porta do marinheiro, tendo se
elevado por um espaço de quatrocentos metros. O Grande Ser
dividiu entre os mercadores todo o ouro e prata, jóias, coral
e diamantes, dizendo, “Este tesouro é o suficiente para
vocês : viagem no mar não mais.” Então ele
discursou para eles ; e após dar presentes e fazer caridade
por toda a vida, foi preencher as hostes celestes.
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O Mestre,
tendo terminado seu discurso, disse, “ Então, Irmãos,
o Tathagata era o mais sábio em dias anteriores como o é
agora,” e identificou o Jataka : “Naquele tempo a companhia do
Buddha era a companhia ( dos mercadores ) e eu mesmo era o sábio
Supparaka.”
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