quarta-feira, 28 de outubro de 2009

380 Buddha e a moça Asanka




380
“No jardim celeste...etc.” - O Mestre contou esta estória enquanto residia em Jetavana, relativa ao impulso de um Irmão pela antiga esposa. O caso aparecerá no Jātaka 423. O Mestre achou que o Irmão errava porque pensava em sua esposa, então ele disse, “Senhor, esta mulher te machuca: antes também por ela sacrificaste um exército das quatro divisões e habitaste o Himālaia por três anos em grande miséria” : e então contou um velho conto(a).
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família brahmin em certa vila daquele país. Quando cresceu, aprendeu as artes em Takkasilā ( Taxila ), tornou-se um asceta e atingindo as Faculdades e as Consecuções vivia de raízes e frutas no Himālaia. Naqueles dias um ser de mérito perfeito caiu do Céu dos Trinta-três e foi concebido como uma menina dentro de uma lótus num lago : e enquanto as outras lótus envelheciam e caíam, ela permaneceu e cresceu. O asceta indo tomar banho e vendo aquilo, pensou, “Outras lótus caíram mas aquela lá permanece e cresce ; por quê isto?” Então botando roupa de banho cruzou o lago, e abrindo a lótus viu a menina. Sentindo como se uma filha fora, tomou-a e levou-a à cabana e cuidou dela. Quando ela chegou aos dezesseis, era bela, e sua beleza excedia a humana mas não atingia a dos deuses. Sakra veio visitar o Bodhisatva. Ele viu a garota, perguntou e soube o modo que foi encontrada e questionou, “O quê ela deve receber?” “Uma moradia e suprimentos de vestuário, ornamento e comida, ó senhor.” Ele respondeu, “Muito bem, senhor,” e criou um palácio de cristal para moradia dela, fez uma cama para ela, roupas ornamentos comida e bebidas divinas. O palácio descia e descansava no chão quando ela saía ; quando ela entrava ele subia e pousava no ar. Ela fazia muitos serviços para o Bodhisatva enquanto vivia no palácio. Um mateiro viu e perguntou, “O quê é esta pessoa para você, senhor?” “Minha filha.” Ele foi a Benares e falou para o rei, “Ó rei, vi no Himālaia uma filha de asceta de grande beleza.” O rei foi pego, escutando isto, e fazendo do mateiro seu guia foi com o exército nas suas quatro divisões para aquele lugar, instalando acampamento pegou o mateiro e sua corte de ministros e entrou no ermitério. Saudou o Bodhisatva e disse, “Senhor, mulheres maculam a vida religiosa ; cuidarei de sua filha.” Bem o Bodhisatva deu à menina o nome de Asankā [Dúvida] porque ela chegou a ele devido o atravessar ao lago questionando-se [duvidando] (āsankā), “O que é esta lótus?” Ele não disse ao rei diretamente, “Pegue-a e vá,” mas disse antes, “Se souberes o nome desta garota, Ó grande rei, pegue-a e vá.” “Senhor, se assim dizes, devo saber.” “Não devo dizê-lo mas quando souberes pegue-a e vá.” O rei concordou, e considerou com seus ministros, “Qual poderá ser o nome dela?” Ele apresentou todos os nomes difíceis de imaginar e falou ao Bodhisatva dizendo, “Tal e tal é seu nome” : mas o Bodhisatva disse que não e o recusou. Assim passou um ano o rei cogitando. Leões e outras bestas apanhavam elefantes e cavalos e pessoas, havia o perigo das cobras, perigo dos mosquitos, e muitos morriam de frio sem coberta. O rei disse ao Bodhisatva, “Que necessidade tenho dela ?” e tomou seu caminho. A jovem Asankā estava na janela de cristal aberta. O rei vendo-a disse, “Não conseguimos descobrir seu nome, viva aqui no Himālaia, iremos embora.” “Grande rei, se você for nunca encontrarás uma esposa como eu. No Céu dos Trinta e três, no jardim Citralatā, há uma trepadeira chamada Asāvati : do seu fruto brota uma bebida e aqueles que dele bebem uma vez enebriam-se por quatro meses e descansam numa cama divina: dá fruto uma vez a cada mil anos e os filhos dos deuses, apesar de dados a bebidas fortes, aguentam a sede por aquele fruto divino dizendo, “Colheremos fruto dela,” e vêm constantemente por todo os mil anos olhar a planta dizendo, “Ela está bem?” Mas você desistiu em apenas um ano: aquele que alcança o fruto de sua esperança, é feliz, não desista ainda,” e então falou três estrofes:

No jardim celeste cresce Asāvati;
Uma vez por mil anos, não mais, a árvore
Dá fruto: por ele os deuses esperam pacientemente.
Tenha esperança, Ó rei, o fruto da esperança é doce :
Um pássaro espera e nunca é derrotado.
Seu desejo, apesar de distante, realiza completamente :
Tenha esperança, Ó rei : é doce o fruto da esperança.

O rei foi pego por suas palavras : reuniu os ministros de novo e cogitando o nome, fez dez tentativas por vez até que outro ano se passou. Mas o nome não estava entre os dez e assim o Bodhisatva o recusou. Novamente o rei disse, “Que necessidade tenho dela?” e tomou seu caminho. Ela se apresentou na janela: e o rei disse, “Você fica, nós partimos.” “Por quê ir embora, grande rei?” “Não consigo descobrir seu nome.” “Grande rei, por que não consegue encontrá-lo ? Esperança não é sem sucesso ; uma siriema no alto do monte realiza seu desejo : por quê você não pode ? Persevere, grande rei. Uma siriema alimenta-se num lago de lótus, mas voando pousou no alto de um monte : ela ficou lá um dia e o dia seguinte pensando, ‘Sou feliz aqui no alto deste monte : se sem sair daqui achar comida e água para beber e assim permanecer este dia, ah, seria delicioso.’ Naquele mesmo dia, Sakra, Rei do céu, esmagou os Asuras e sendo agora senhor do céu dos Trinta e três, estava pensando, ‘Meus desejos foram todos realizados, há alguém na floresta cujos desejos estejam incompletos?’ assim considerando, ele viu a siriema e pensou, ‘Realizarei os desejos deste pássaro até a completude’ ; não longe do lugar em que estava a siriema havia uma corrente e Sakra enviou a corrente num dilúvio até o topo do monte: e então a siriema sem se mover comeu peixe e bebeu água e lá morou por um dia : depois a água desceu e foi embora : assim, grande rei, a siriema fruiu da sua esperança e por quê você não realizaria ? Tenha esperança,” ela disse, seguindo com o resto dos versos. O rei, escutando a história, foi pego e atraído por suas palavras : não conseguiu sair, mas juntando seus ministros, e selecionando cem nomes gastou outro ano cogitando nestes cem nomes. No final do terceiro ano ele veio ao Bodhisatva e perguntou, “Estaria o nome entre os cem, Senhor?” “Você não o sabe, grande rei.” Ele saudou o Bodhisatva, e dizendo, “Iremos agora,” tomou seu caminho. A moça Asankā novamente estava na janela de cristal. O rei a viu e disse, “Você fica, nós saímos.” “Por quê grande rei?” “Você me satisfaz com palavras e não com amor : pego por suas doces palavras gastei aqui três anos, agora irei embora,” e falou três estrofes:

Você agrada-me com palavras não em atos :
A flor sem cheiro, mesmo bela, é mato.
Boas promessas sem cumprimento, é jogar amigo fora,
Nunca doando, sempre acumulando : assim é o fim da amizade.
As pessoas devem falar como fazem, sem prometer o que não podem fazer:
Se falam sem realizar, sábios vêem através dele.
Minhas tropas estão acabadas, meu estoques terminados,
Duvido que minha vida preste: é tempo de ir.

A moça Asankā escutando as palavras do rei disse, “Grande senhor, sabes meu nome, acabaste de dizer ; diga a meu pai meu nome, pegue-me e leve-me,” assim falando com o rei disse:

Príncipe, disseste a palavra que é meu nome:
Venha rei : meu pai atenderá o clamor.

O rei foi ao Bodhisatva, saudou-o e disse, “Senhor, sua filha chama-se Asankā.” “Já que sabes seu nome, pegue-a e leve-a, grande rei.” Então saudando o Bodhisatva, e indo ao palácio de cristal ele disse, “Senhora, seu pai a deu para mim, venha.” “Venha, grande rei, tomarei licença com papai,” ela disse, e descendo do palácio ela saudou o Bodhisatva, tomou licença e foi com o rei. O rei a levou a Benares e viveram felizes, com muitos filhos e filhas. O Bodhisatva continuou em meditação contínua e nasceu no mundo de Brahma.
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Após a lição, o Mestre declarou as verdades e identificou o Jataka :- Após as Verdades, o Irmão foi estabelecido na Fruição do Primeiro Caminho :- “Asankā era a esposa primeira, o rei era o Irmão descontente, o asceta era eu mesmo.” .




terça-feira, 27 de outubro de 2009

379 Buddha Ganso


379
“Urubus e corvos...etc.” - O Mestre contou esta história em Jetavana relativa a certo Irmão. A história é aquela que ele aprende formas de meditação do Mestre e vai depois para uma vila da fronteira. Lá as pessoas, contentes com sua conduta, o alimentam, constrõem para ele uma cabana na floresta, e tiram dele a promessa de que lá viveria, e prestaram-lhe muitas honrarias. Mas depois eles o abandonaram, trocando-o pelos professores da permanência da matéria, depois trocaram pelos da seita que nega a imortalidade, e depois novamente pelos da seita dos ascetas nus : abandonaram-no por estes professores de todas as seitas que vagando, lá chegaram. Assim ele estava infeliz entre estas pessoas que não distinguiam bem e mal, e depois que as chuvas e o festival do fim das chuvas (pavāranā) acabaram, ele retornou ao Mestre, e com a indagação dele sobre onde esteve durante as chuvas, contou que estava infeliz entre pessoas que não distinguiam bem e mal. O Mestre disse, “Sábios antigos, mesmo nascidos como animais, não permaneceram um dia entre aqueles que não distinguiam bem e mal, por quê fizeste tal ?” e então contou um conto(a).
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como um ganso dourado. Junto com seu irmão mais moço viviam na montanha Citrakuta e alimentavam-se de arroz selvagem do Himālaia. Um dia num vôo de retorno à Citrakuta, viram a montanha dourada Neru e pousaram no seu cume. Ao redor do monte habitavam pássaros e bestas de vários tipos, de vários alimentos : no momento que chegaram na montanha tornaram-se dourados à vista do seu brilho. O irmão do Bodhisatva viu isto mas ignorante da causa disse, “Agora, qual a causa disto?” e assim falando a seu irmão, disse duas estrofes:

Urubus e corvos, e nós os melhores dos pássaros,
Aqui, nesta montanha, parecemos todos iguais.

Chacais ordinários, tigres rivais e seus senhores,
Os leões: qual poderá ser o nome desta montanha?

O Bodhisatva escutando falou a terceira estrofe:

A mais nobre das Montanhas, Neru é seu cume,
Aqui estão todos os animais, visão considerável.

O mais jovem escutando falou as três estrofes restantes:

Onde quer que o bem encontre honra pequena ou nenhuma,
Ou seja menor que outros, não viva aí, mas saia.

Tolo e inteligente, bravo e covarde, todos são honrados igualmente :
Montanha Indiscriminante, homens bons em ti não permanecem !

Grande, indiferente e vil Neru que não separa,
Neru que Não Discrimina, ai de nós! devemos já te deixar.

Desse jeito voaram os dois de lá e foram para Citrakuta.
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Após a lição, o Mestre proclamou as Verdades e identificou o Jātaka: ao terminar as Verdades, aquele Irmão foi estabelecido no fruto do Primeiro Caminho: “Naquele tempo o ganso mais jovem era Ananda, o mais velho era eu mesmo.”

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

378 Brahmadatra e Darimukha



                                 Taxila, Paquistão.

378
“Prazeres dos sentidos...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia em Jetavana, relativa a Grande Renúncia. O incidente que levou à história já foi contado antes.
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Certa vez o rei Magadha reinava em Rājagaha. O Bodhisatva nasceu de sua rainha mãe, e o chamaram príncipe Brahmadatra. No dia de seu nascimento, o padre da família também teve um filho: sua face era muito bela, e assim o chamaram Darimukha [‘boca de gruta’: talvez ‘muito belo’ possa ser ‘bem largo’]. Cresceram juntos na corte real, e com dezesseis anos foram para Takkasilā ( Taxila ) e aprenderam todas as artes. Então, com o intuito de aquisição das práticas comuns e entendimento das observâncias dos povos, eles vagaram por vilas, cidades e por toda a terra. Assim alcançaram Benares ( Varanasi ), e parando no templo foram dia seguinte à cidade colher ofertas. Numa das casas da cidade o povo cozinhou mingau de arroz e preparou lugares para alimentar brahmins e foram servidos. As pessoas vendo os dois jovens que colhiam ofertas, pensaram, “Os brahmins chegaram,” e recebendo-os colocam uma toalha branca no assento do Bodhisatva e um tapete vermelho no de Darimukha. Darimukha observando o presságio, entendeu que seu amigo seria rei em Benares e ele mesmo chefe do exército. Eles comeram o alimento e com uma benção saíram e foram para o jardim real. O Bodhisatva deitou na assento de pedra real. Darimukha sentou-se massageando os pés. O rei de Benares havia morrido a sete dias. O padre da família realizou ritos fúnebres e enviou o carro festivo por sete dias , já que não havia herdeiro para o trono. Esta cerimônia do carro será explicada no Mahā Janaka Jātaka, jataka 539. Este carro deixou a cidade e foi para o portão do jardim, acompanhado pelas quatro divisões do exército [infantaria, cavalaria, elefantes e carros] e por música de centenas de instrumentos. Darimukha, escutando a música, pensou, “Este carro está vindo para meu amigo, ele será rei ho-je e me dará o lugar de comandante, mas por que preciso ser leigo ? Eu sairei e me tornarei um asceta” ; e assim sem nenhuma palavra ao Bodhisatva ele foi para o lado e permaneceu escondido. O sacerdote parou o carro no portão do jardim, e entrando viu o Bodhisatva deitado no assento de pedra real: vendo as marcas auspícias em seus pés, ele pensou, “Ele tem mérito e merece ser rei mesmo dos quatro continentes com duas mil ilhas ao redor deles, mas o que será de sua coragem ?” Assim mandou os instrumentos tocarem o mais alto possível. O Bodhisatva acordou e tirando a coberta da cara viu a multidão: então cobrindo de novo a face descansou mais um pouco, e levantando quando o carro parou, sentou de perna cruzada no assento. O sacerdote sentado de joelhos disse, “Senhor, o reino cabe a ti.” “Por quê, não há herdeiro ?” “Não, senhor.” “Então ‘tá bem,” e assim aceitou, e eles o ungiram lá no jardim. Em sua grande glória esqueceu Darimukha. Ele subiu no carro e dirigiu entre a multidão de forma solene ao redor da cidade: então, parando no portão do palácio arrumou o lugar dos cortesãos e foi para o terraço. Naquele instante, Darimukha vendo o jardim agora vazio veio e sentou no assento de pedra real do jardim. Uma folha seca cai diante dele. Nisto ele vê os princípios do decaimento e da morte, apreendeu as três marcas das coisas, e fazendo a terra re -ecoar de alegria entrou em paccekabodhi. Naquele instante as características de pai de família sumiram dele, uma tigela e um hábito miraculosos desceram do céu e aderiram a seu corpo, de repente ele tinha os oito requisitos e a aparência de um monge centenário, e por milagre ele voou pelos ares e foi para a cova Nandamula no Himālaia.
O Bodhisatva legislou com retidão mas a grandeza da glória o enfeitiçou e por quarenta anos esqueceu Darimukha. No quadragésimo primeiro lembrou-se dele, e dizendo, “Tenho um amigo chamado Darimukha; onde ele está agora ?” ansiava por vê-lo. Daí em diante mesmo no harém e na assembléia dizia, “Onde está meu amigo Darimukha ? Darei honras a quem me indicar seu domicílio.” Outros dez anos se passaram enquanto ele lembra-se de Darimukha de tempos em tempos. Darimukha, apesar de já ser um paccekabuddha, depois de cinqüenta anos refletiu e soube que seu amigo lembra-se dele: e pensando, “Ele agora está velho e crescido com filhos e filhas, irei pregar-lhe a lei e ordená-lo,” foi pelos ares, e pousando no jardim sentou no assento de pedra real como uma estátua dourada. O jardineiro vendo veio e perguntou, “Senhor, de onde vens?” “Da caverna Nandamulaka.” “Quem és tu ?” “Amigo, sou Darimukha o pacceka.” “Senhor, conheces nosso rei?” “Sim, ele foi meu amigo quando leigo.” “Senhor, o rei anseia em vê-lo, direi de sua chegada.” “Vá e faça isto.” Ele foi e disse ao rei que Darimukha veio e estava sentado na pedra. O rei disse, “Então meu amigo veio, devo vê-lo” : assim subiu no carro e com um grande cortejo foi para o jardim e saudando o paccekabuddha com gentil ternura sentou ao lado. O paccekabuddha disse, “Brahmadatra, legislas com retidão, não segues cursos ruins ou oprimes o povo por dinheiro, e boas obras fazes por caridade ?” e após gentil saudação, “Brahmadatra, estais velho, é tempo de renunciares aos prazeres, e ser ordenado,” e então pregou a lei e falou a primeira estrofe:

Prazeres dos sentidos são pântano e lama:
O ‘horror de raiz tripla’ eu os chamo
Vapor e poeira os proclamo, Senhor :
Torne-se Irmão e abandone a eles todos.

Escutando isto, o rei explicou que estava atado pelos desejos falando a segunda estrofe:

Enfeitiçado, atado e profundamente sujo estou,
Brahmin, com prazeres : pavorosos podem ser,
Mas amo a vida e não possso negá-los :
Boas obras empreendo continuamente.

Então Darimukha apesar do Bodhisatva dizer “Não posso ordenar-me,” não o rejeitou mas mais o exortou:

Aquele que rejeita o conselho de amigo
Que apieda-se e evita sua sina,
Pensando “este mundo é melhor,” não encontra fim,
Tolo, de longos nascimentos dentro do útero.

Aquele temido lugar de punição é seu,
Cheio de sujeira, mal seguro pelo bom:
Os gananciosos seus desejos nunca podem rejeitar,
A carne aprisiona a progênie do sangue.

Assim Darimukha o paccekabuddha , mostra a miséria que surge da concepção e da animação, e depois a do nascimento, falando estrofe e meia:

Coberto de sangue e com grossa sujeira suja,
Todos seres mortais surgem no nascimento:
A partir daí o que tocam está ordenado
A trazê-los na terra dor e sofrimento.

Falo do que vi, não do que escuto
De outros: lembro de tempos passados.

O Mestre agora em sua Perfeita Sabedoria disse, “Assim o paccekabuddha ajudou o rei com boas palavras,” e no fim falou a meia estrofe restante:

Darimukha no ouvido de Sumedha
Sabedoria em muitas doces estrofes explicou.

O paccekabuddha, mostrando a miséria dos desejos, fazendo suas palavras serem entendidas, disse, “Ó rei, sejas ordenados ou não, de qualquer modo falei da fraqueza dos desejos e das bençãos da ordenação, sejas zeloso,” e então como um ganso dourado real elevou-se nos ares, e caminhando nas nuvens alcançou a caverna Nandamulaka. O Grande Ser fez na cabeça a saudação resplendente com os dez dedos colocados juntos e abaixando-se até Darimukha sair da vista: então chamou seu filho mais velho e deu-lhe o reino: e deixando os desejos, enquanto uma grande multidão chorava e lamentava, foi para o Himālaia e construindo uma cabana de folhas foi ordenado asceta: logo ganhou as Faculdades e as Consecuções e no fim da vida foi para o céu de Brahma.
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A lição terminada, o Mestre declarou as verdades : então muitos atingiram o Primeiro Caminho e os restantes : e ele identificou o Jataka : “Naquele tempo o rei era eu mesmo.”





sexta-feira, 23 de outubro de 2009

377 Buddha e Setaketu

                                       
                                Buddha de Taxila, Paquistão.

377
“Amigo, não te irrites...etc.” - O Mestre contou esta história em Jetavana, sobre um Irmão mentiroso. Aparecerá o caso no Jātaka Uddāla [Acácia] [sobre falsos yogues] n.o 487.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um famoso professor e ensinava os textos sagrados a quinhentos alunos. O mais velho deles, Setaketu chamava-se, nasceu em uma família brahmin no norte, e era muito orgulhoso de sua casta. Um dia ele saiu da cidade com os outros alunos, e quando voltava viu um candāla [um pária]. “Quem é você?” ele disse. “Sou um candāla.” Ele temia que o vento que passava pelo garoto candāla pudesse tocá-lo depois, e então gritou, “Maldito sejas, candāla de mal agouro, vai para depois do vento,” e ele mesmo foi na direção do vento mas o candāla era mais rápido e permaneceu na frente no vento. Então o insultou e xingou mais ainda, “Maldito sejas, tu de mau agouro.” O candāla perguntou, “Quem é você?” “Sou um estudante brahmin.” “Muito bem, se for de verdade, serás capaz de responder um questão minha.” “Sim.” “Se não puderes, o colocarei entre os meus pés.” O brahmin, auto confiante, disse, “Continue.” O candāla, fazendo os alunos entenderem do que se tratava, fez a pergunta, “Jovem brahmin, o que são os quartos?” “Os quartos são quatro, o Leste, e o resto.” O candāla disse, “Não é este tipo de quarto que pergunto: e você, ignorante até disto, tem aversão ao próprio vento que por mim passa,” e assim o tomou pelos ombros e forçou-o até o chão, colocando-o entre seus pés. Os outros alunos contaram o caso ao professor. Ele perguntou, “Jovem Setaketu, foste tu colocado entre os pés de um candāla?” “Sim, professor : o filho de um escravo me colocou entre os pés dizendo ‘Ele não sabe sobre os quartos’; mas agora saberei o que fazer com ele,” e assim xingava o candāla raivosamente. O professor o advertiu: “Jovem, Setaketu, não fiques com raiva, ele é sábio ; perguntava sobre outro tipo de quarto, não este : o quê não viste, ou escutaste, ou entendeste é bem maior do que tiveste” : e falou duas estrofes a guisa de advertência:

Amigo, não te irrites, ira não é bom:
Sabedoria é mais do que viste ou escutaste:
Por ‘quarto’ pais pode-se entender,
E mestre denota-se com a palavra.

O chefe de família que dá comida, roupas e bebida,
Cujas portas estão abertas, ele é um ‘quarto’:
E ‘quarto’ no sentido mais alto, penso,
É aquele último estado em que miséria é benção.

[ n. do tr.: Os tradutores dizem que há trocadilhos com os nomes dos quartos geográficos. Há uma analogia com o tempo da vida mesma, me parece. São os ashramas portanto. As idades : de estudante, dono de casa, aposentado, pós aposentado : a diferença entre os dois últimos é que o primeiro ainda mora em casa e o segundo, o último estado, nem casa tem, vagando pelo mundo.  As raças / castas / funções / ordens. ]

Assim o Bodhisatva explicou os quartos ao jovem brahmin: mas este pensando, “Fui colocado entre os pés de um candāla,” deixou aquele lugar e foi para Takkasilā ( Taxila ) aprendendo todas as artes com outro famoso professor. Com a permissão deste, deixou Takkasilā, e vagou aprendendo todas as artes práticas. Chegando a uma vila da fronteira encontrou quinhentos ascetas vivendo juntos e por eles foi ordenado. Aprendeu todas as artes, textos e práticas deles, e os acompanhou até Benares. Dia seguinte saiu para a coleta. O rei, encantado com a postura dos ascetas, deu-lhes comida no palácio e moradia no jardim / parque. Um dia ele disse, dando-lhes comida, “Saudarei-os, vós reverendos, esta tarde no jardim.” Setaketu foi ao jardim e reunindo os ascetas, disse , “Senhores, o rei está vindo ho-je; bem uma vez conciliando reis uma pessoa pode viver feliz todos os anos de sua vida, então agora alguns de vocês façam contorces de penitência, alguns deitem em cama de pregos, alguns agüentem as cinco chamas, alguns pratiquem mortificações de sentar, alguns o ato de mergulhar, alguns repitam textos,” e depois destas ordens ele mesmo se colocou na porta da cabana em uma cadeira com descanso de cabeça, colocou um livro com capa brilhante numa estante pintada, e explicou os textos enquanto era inquirido por quatro ou cinco alunos inteligentes. Naquele momento o rei chegou e vendo-os praticarem estas falsas penitências, ficou deliciado : chegou em Setaketu, o saudou e sentou do lado : então conversando com o padre da família falou a terceira estrofe:

Com dentes sujos, e roupa de pele de cabra e cabelo
Todo em tranças, murmurando palavras sagradas pacificamente:
Certamente não poupam meios humanos para o bem atingir,
Sabem a Verdade, e ganharam Livramento.

O padre escutando isto falou a quarta estrofe:

Um sábio sabido pode praticar atos ruins, ó rei:
Um sábio sabido pode falhar em seguir retidão:
Mil Vedas não trarão segurança,
Faltando obras justas, ou salvará da aflição.

Quando o rei escutou isto, tirou o favor aos ascetas. Setaketu pensou: “Este rei gostou dos ascetas mas o padre destruiu tudo cortando como com um machado : devo falar-lhe”: dizendo a quinta estrofe:

“Um sábio sabido pode praticar ato ruins, ó rei:
Um sábio sabido pode falhar em seguir retidão”
Você diz : então os Vedas é coisa sem valor :
Apenas trabalhos com auto domínio são necessários.

O padre escutando falou a sexta estrofe:

Não, Vedas não são totalmente inúteis :
Apesar de trabalhos com auto-domínio ser doutrina verdadeira:
Estudo dos Vedas alto eleva o nome da pessoa,
Mas é pela conduta que ela alcança Benção.

Assim o padre refutou a doutrina de Setaketu. Ele os fez todos laicos, dando-lhes escudos e armas, e apontando-os como atendentes do rei, Oficiais Superiores: e assim dizem, surgiu a raça dos Oficiais Superiores [ segundo Hiuen-Tsiang, viajante e tradutor dos textos sagrados do sânscrito para o chinês, que morre em 664 A.D. depois de viajar da China para a Índia e voltar. Viagem que em si é como uma saga. ].
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Após a lição o Mestre identificou o Jataka : “ Naquele tempo Setaketu era o irmão mentiroso, o candala era Sariputra e o capelão do Rei era eu mesmo.”




quinta-feira, 22 de outubro de 2009

376 Buddha e o barqueiro no Ganges


376
“Nunca se irrite...etc.” - O Mestre contou este conto enquanto morava em Jetavana, sobre um barqueiro. Este homem, dizem, era tolo e ignorante : ele não conhecia as qualidades da Tríplice Jóia e de todos os seres excelentes : era impaciente, grosseiro e violento. Um certo Irmão do campo, desejoso de visitar o Buddha, veio uma tarde para a barca, balsa, de Aciravati e disse para o barqueiro : “Irmão leigo, desejo atravessar, leve-me no teu barco.” “Senhor, é muito tarde já, fique aqui.” “Irmão leigo, não posso ficar aqui, atravesse-me.” O ferreiro disse irritado, “Venha então, Senhor Padre,” e o colocou dentro do barco : mas ele conduzia mau e fez entrar água no barco, de modo que o hábito do Irmão se molhou e ficou escuro antes do atracarem na margem oposta. Quando o Irmão chegou no mosteiro, não podia visitar o Buddha naquele dia. Dia seguinte ele foi até o Mestre saudou-o e sentou em um lado. O Mestre cumprimentou-o e perguntou quando chegara. “Ontem.” “Então por quê só me visitaste ho-je ?” Quando escutou a razão, o Mestre disse, “Não agora apenas mas antes também este homem foi rude : e importunou sábios antigos, como fez contigo.” E quando ele pediu, contou um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família brahmin. Quando cresceu foi educado em todas as artes em Takkasilā ( Taxila ), e tornou-se asceta. Depois de viver muito tempo de frutos selvagens do Himālaya, veio a Benares em busca de sal e vinagre: ficou no parque real e no dia seguinte foi à cidade para as ofertas. O rei o viu no jardim do palácio e agradando-se de sua postura fez com que fosse trazido e alimentado : tomou depois a promessa de que moraria no jardim : e lá iria diariamente conversar. O Bodhisatva disse-lhe, “Ó grande rei, um rei deve legislar com retidão, evitando os quatro desvios, tendo zelo, e cheio de paciência e gentileza e compaixão,” e com tal exortação diária falou duas estrofes:

Nunca fiques irado, príncipe dos guerreiros; nunca fiques irritado, senhor da terrra:
Ira nunca retribuída com ira: assim a um rei vale venerar-se.

Na cidade, na floresta, no oceano ou na praia,
Nunca fiques irritado, príncipe dos guerreiros: é para sempre meu conselho.

Assim o Bodhisatva falava estas estrofes para o rei todo dia. O rei ficou feliz com ele e lhe ofereceu uma cidade cuja renda era de mil dinheiros: mas ele recusou. Desse jeito o Bodhisatva viveu por doze anos. Então ele pensou, “Já fiquei muito tempo, vou fazer uma viagem pelo país e depois voltarei para cá” : então sem falar ao rei e apenas comunicando o jardineiro, “Amigo, estou ocupado, viajarei pelo país e volto para cá, fale ao rei por favor,” foi para a estação das balsas no Ganges. Lá um barqueiro tolo chamado Avāriyapitā vivia: não entendia nem os méritos dos homens bons nem dos seus próprios ganhos e perdas: quando o povo atravessava o Ganges, primeiro ele levava ao outro lado depois cobrava a passagem; quando não lhe davam nada, brigava e batia, tendo mais tapas que ganhos, tão tolo cego era.
Em relação a ele, o Mestre em sua Sabedoria Perfeita falou a terceira estrofe:

O pai de Avāriya,
Sua barca navegava no Ganges:
Primeiro atravessava o povo
Depois pedia a passagem:
E daí que ele só ganhava discussão,
Perdulário, azarado, ladrão !

O Bodhisatva veio até este barqueiro e disse, “Amigo, leve-me ao outro lado.” Ele disse, “Padre, o quê pagarás de passagem?” “Amigo, te direi como aumentar tua riqueza, teu bem estar, e tua virtude.” O barqueiro pensou, “Certamente ele me dará algo,” e o levou para outro lado e depois disse, “Pague-me a passagem.” O Bodhisatva disse, “Muito bem, amigo,” e primeiro dizendo como aumentar sua riqueza, falou a primeira estrofe:

Peça a passagem antes de atravessar, nunca no cais distante:
Mentes diferentes tem as gentes, barqueiro, diferentes antes e depois.

O barqueiro pensou, “Isto é só um conselho dele para mim, agora ele me dará algo”: mas o Bodhisatva disse, “Amigo, antes tens o caminho para aumentar tua riqueza, agora escute o caminho para aumentar teu bem estar e virtude,” falando uma estrofe de conselho:

Na cidade, na floresta, no oceano ou na praia,
Nunca fiques irado, meu bom barqueiro; é para sempre meu conselho.

Assim tendo-lhe dado o caminho para aumentar bem estar e virtude, ele disse, “Aí tens o caminho para aumentar o bem estar e a virtude.” Então o estúpido, considerando os conselhos como nada, disse, “Padre, é isto que me dás como preço passagem?” “Sim, amigo.” “Não tenho uso nenhum para isto, me dê outra coisa.” “Então por que entraste na minha barca?” ele disse, e atirou o asceta na areia, sentando em cima de seu peito e batendo em sua boca.
O Mestre disse: “Então você veja que quando o asceta deu este conselho ao rei, ganhou o prêmio de uma cidade, e quando deu o mesmo conselho ao barqueiro estúpido recebeu um soco na boca: assim quando alguém aconselha deve fazê-lo à pessoa adequada,” e então na sua Perfeita Sabedoria falou uma estrofe:

Pelo bom conselho o rei deu a renda de uma vila
O barqueiro pelo mesmo conselho noucauteou o conselheiro.

Enquanto o homem batia no padre, sua esposa veio trazendo seu arroz, e vendo o asceta, ela disse, “Esposo, este é um asceta da corte do rei, não bata nele.” Ele estava irado, e dizendo, “Você me proíbe de bater neste falso padre!” ele explodiu e derrubou ela também. O prato de arroz caiu e quebrou, o fruto do ventre dela também abortou. O povo aglomerou-se em volta dele e gritou, “Assassino tratante!” amarrou-o e o levaram até o rei. O rei julgou-o e fez com que fosse punido.
O Mestre em sua Perfeita Sabedoria explicando a matéria falou a última estrofe:

O arroz foi derramado, sua esposa atingida, a criança morta antes de nascer,
Para ele, como ouro fino para animal, conselho nada valia.
______________

Quando o Mestre terminou a lição, declarou as Verdades : - após as Verdades o irmão foi estabelecido no fruto do primeiro caminho : e identificou o Jataka : “Naquele tempo o barqueiro era o barqueiro de ho-je, o rei era Ānanda, o asceta era eu mesmo.”





quarta-feira, 21 de outubro de 2009

375 Buddha Pombo


375
“Sinto-me bem...etc.” - Esta história o Mestre, enquanto residia em Jetavana, contou relativa a um Irmão ganancioso. Esta história do Irmão ganancioso já foi toda contada diversas vezes. Nesta versão, o Mestre tendo questionado-o sobre se era ganancioso e em ele confessando que era, disse, “Não apenas agora, mas antes também, Irmão, fostes ganancioso e por causa da cobiça encontraste tua morte.” E aí contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares( Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida como um jovem pombo e vivia numa gaiola de vime, na cozinha de um rico mercador de Benares. Um corvo ansiando por carne e peixe fez amizade com um pombo, e vivia no mesmo lugar. Um dia ele viu grande quantidade de peixe e carne e pensou, “Comerei isto,” e deitou gemendo na gaiola. E quando o pombo disse, “Venha, meu amigo, vamos partir em busca de comida,” ele recusou em ir, dizendo, “Estou caído tomado com um tipo de indigestão. Vá você.” E quando o pombo já saíra, ele disse, “Meu inimigo problemático está fora. Agora comerei peixe e carne até o coração ficar satisfeito.” E assim pensando repetiu a primeira estrofe:

Sinto-me bem e satisfeito,
Já que o Sr. Pombo saiu.
Apaziguarei meus anseios:
Carne e verduras fortalecem qualquer um.

Então quando o cozinheiro que assava carne e peixe saiu da cozinha com rios de suor dele escorrendo, o corvo pulou da gaiola e escondeu-se numa bacia de temperos. A bacia fez ‘click’ e o cozinheiro voltou correndo, pegando o corvo e tirando suas penas. E misturando mostarda branca com gengibre em tâmaras podres, esfregou no corvo com uma louça, machucando-o. Depois amarrou a louça no pescoço com uma linha e o atirou de volta na gaiola, saindo.
Quando o pombo chegou de volta e o viu disse, “Quem é esta siriema que descansa na gaiola de meu amigo? Ele é esquentado e virá e matará este estranho.” E assim brincando, falou a segunda estrofe:

‘Filho das Nuvens,’ com tufo de crista,
Por que roubarias o ninho de meu pobre amigo?
Venha aqui sr. Siriema. Meu amigo o corvo
É esquentado, deves saber.

O corvo escutando falou a terceira estrofe:

Podes rir com tal cena
Pois estou em má condição.
O cozinheiro me depenou e espancou
Com tâmaras podres e temperos.

O pombo, ainda brincando, falou a quarta estrofe:

Banhado e bem ungido, penso,
Te encheste de comida e bebida.
Teu pescoço brilha com jóia reluzente,
Estiveste, amigo, em Benares?

O corvo falou a quinta:

Não deixe nem amigo nem o pior inimigo
Ir em visita a Benares.
Eles deixaram-me pelado e como pilhéria
Amarrando uma louça no meu peito.

O pombo escutando falou a última:

Estes maus hábitos, superar
É difícil com tal natureza, corvo.
Pássaros devem ter o cuidado d‘evitar
A comida que vêem as pessoas desfrutar.

Depois de assim reprová-lo, o pombo não mais lá morou e abrindo suas asas voou para outro lugar. Mas o corvo morreu lá e então, then and there ‘cause of fish and flesh.
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O Mestre aqui terminou sua lição e revelou as verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão ganancioso atingiu a fruição do Segundo Caminho :- “Naquele tempo o corvo era o Irmão ganancioso, o pombo era eu mesmo.”

Jātakas 42 e 274 //.





terça-feira, 20 de outubro de 2009

374 Buddha Sakra


374
“Já que ganhastes...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia em Jetavana sobre a tentação de um Irmão pela esposa dos tempos de inconverso. Quando o Irmão confessou que era devido a esposa que havia deixado, que arrependia-se de se ter ordenado, o Mestre disse, “Não apenas agora, Irmão, esta mulher te faz mal. Antes também devido a ela, tiveste a cabeça cortada.” E a pedido dos Irmãos contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ) o Bodhisatva renasceu como Sakra. Naquele tempo um certo jovem, brahmin de Benares adquiriu todas as artes liberais em Takkasilā ( Taxila ), e tendo obtido perícia em arco e flecha, era conhecido como o Pequeno Arqueiro inteligente.
Então seu mestre pensou, “Este jovem adquiriu habilidades iguais as minhas,” e deu-lhe sua filha como esposa. Ele a tomou e desejando voltar para Benares, foi pela estrada. No meio do caminho, um elefante aterrorizava um certo lugar e ninguém ousava subir até lá. O Pequeno Arqueiro inteligente, apesar das pessoas tentarem pará-lo, tomou sua esposa e subiu até a entrada da floresta. Então quando estava no meio da mata, o elefante levantou-se e o atacou. O Arqueiro feriu o elefante na testa com uma flecha, que atravessou e saiu na nuca, e o elefante caiu morto no lugar. O inteligente Arqueiro depois de fazer este lugar seguro continuou andando e foi para outra floresta. Lá cinqüenta ladrões infestavam a estrada. Para este lugar também, apesar das pessoas tentarem pará-lo, ele subiu até chegarem onde os ladrões tendo matado um cervo e assado, comiam a carne, perto da estrada. Os ladrões vendo-o aproximar, com a esposa ricamente vestida, fizeram um grande esforço para pegá-lo.

Mas o ladrão chefe, hábil em ler o caráter das pessoas, à primeira vista o reconheceu como herói distinto, e não deixou-os levantarem-se contra ele, apesar de ser apenas um. O inteligente Arqueiro mandou a esposa até os ladrões dizendo, “Vá e peça-os que me dêem um pedaço de carne e traga para mim.” Então ela foi e disse, “Dêem-me um pedaço de carne.” O ladrão chefe disse, “Ele é um sujeito nobre,” e disse que lha dessem a carne. Os ladrões disseram, “O quê ?! Ele vai comer nossa carne assada ?” E deram a ela um pedaço de carne crua. O Arqueiro, que tinha auto-estima, ficou irado com os ladrões por terem oferecido carne crua. Os ladrões disseram, “O quê ?! Só ele é macho, e nós apenas fêmeas ?” E assim ameaçando-o, levantaram-se contra ele. O arqueiro feriu e jogou ao chão cinqüenta ladrões com o mesmo número de flechas. Não sobrou flecha para ferir o chefe dos ladrões. Em sua aljava haviam cinqüenta flechas. Com uma delas matou o elefante e com o resto os cinqüenta ladrões menos um. Então ele noucauteou o ladrão chefe e sentando em cima dele pediu à esposa que trouxesse a espada para cortar a cabeça dele. Naquele momento ela concebeu uma paixão pelo ladrão chefe e colocou o cabo da espada na mão dele e a bainha na mão do marido. O ladrão pegando o cabo tirou a espada e cortou a cabeça do Arqueiro. Depois de matar o marido pegou a mulher com ele e enquanto viajavam juntos perguntou sobre a família dela. “Sou filha,” ela disse, “de um famoso professor de Takkasilā ( Taxila ).”
“Como ele a conseguiu como esposa ?” ele perguntou.
“Meu pai,” ela disse, “ficou tão feliz dele ter adquirido habilidade na arte igual a dele, que me deu como esposa. E porque me apaixonei por você, deixei que matasse meu leal marido.”
Pensou o ladrão chefe, “Esta mulher matou seu leal esposo. Logo que veja outro homem vai me tratar do mesmo jeito. Devo me livrar dela.”
E enquanto caminhavam viu uma trilha que passava por dentro de um rio raso mas que estava cheio, e ele disse, “Minha querida, há um crocodilo selvagem neste rio. Que faremos?”
“Meu senhor,” ela disse, “pegue minhas jóias e faça com ela uma trouxa com a roupa, e leve-as para o outro lado do rio, e depois volte para me pegar.”
“Muito bem,” ele disse, e tomando todas as jóias, e descendo para a corrente, com pressa, chegou no outro lado, e deixando-a fugiu.
Vendo isto ela gritou, “Meu senhor, vais como alguém que me deixa. Por que fazes isto ? Volte e venha me pegar.” E falou a primeira estrofe:

Já que ganhastes o outro lado,
Com todos os meus bens amarrado em fardo
Retornes o tão rápido quanto possas
E atravesse-me contigo.

O ladrão, escutando-a, enquanto ela estava na margem distante, falou a segunda estrofe: (cf. jātaka 318)

Tua fantasia, senhora, vagabundeia
De amores fiéis bem-testados para mais leves,
Eu também antes trairia,
Disto não posso fugir.

Mas quando o ladrão disse, “Eu vou daqui: você fica onde está,” ela começou a gritar alto, e ele fugiu com as jóias todas. Tal é o fado que assoma ao pobre tolo pelo excesso de paixão. E estando totalmente desamparada dirigiu-se para uma acácia e sentou lá chorando. Naquele momento Sakra, examinando o mundo, viu-a abatida pelo desejo e chorando a perda de ambos do marido e do amante. E pensando em ir lá e repreendê-la, chamou Mātali e Pañcasikha (um Gandharva), e foram para a margem do rio e disse, “Mātali você torna-se um peixe, Pañcasikha, transforme-se em um pássaro e eu me tornarei um chacal. E tomando um pedaço de carne na boca, irei colocar-me em frente desta mulher, e quando você me ver lá, você, Mātali, pula fora da água, e cai diante de mim, é quando vou largar o pedaço de carne que está na minha boca, e me esticarei para pegar o peixe. Neste momento Pañcasikha, você agarre o pedaço de carne e voe com ele, e você Mātali, volta para as águas.”
Assim Sakra os instruiu. E eles disseram, “’Tá bem, senhor.” Mātali transformou-se em peixe, Pañcasikha em pássaro, e Sakra em chacal. E tomando um pedaço de carne na boca, ele foi e colocou-se em frente da mulher. O peixe pulou fora da água e caiu diante do chacal. O chacal largando o pedaço de carne que estava na boca, esticou-se para pegar o peixe. O peixe pulou e voltou para a água, e um pássaro agarrou o pedaço de carne e voou pelos ares. O chacal tendo perdido ambos peixe e carne sentou amuado olhando para a acácia. A mulher vendo isto disse, “Em sendo muito ganancioso, perdeu carne e peixe,” e, como se visse o ponto da questão, riu de coração.
O chacal, escutando, pronunciou a terceira estrofe:

Quem faz a acácia soar
Com riso, quando ninguém dança nem canta,
Ou bate palmas, festejando ?
Bela, não ria, quando deves chorar.

Escutando ela respondeu com a quarta estrofe:

Ó chacal bobo, desejarias
Não teres perdido ambos carne e peixe.
Pobre tolo ! Bem deves chorar em ver
O que aconteceu com tua estupidez.

Então o chacal falou a quinta estrofe:

Os erros dos outros são vistos amplamente,
É difícil ver os próprios, penso.
Acho que deves fazer as contas,
Quando perdestes esposo e amante.

Escutando ela falou esta estrofe:

Rei chacal, é justo como dizes,
Então me apressarei em ir para longe,
Buscar outro amor devotado
E batalhar para me provar esposa fiel.

Então Sakra, rei do céu, escutando estas palavras desta mulher viciada e não casta, repetiu a estrofe final:

Aquele que rouba um pote de argila
Um de bronze roubará qualquer dia :
Assim aquela que foi a ruína do marido
Será tão má ou pior novamente.

Assim Sakra a envergonhou e a fez se arrepender e voltou para seu próprio domicílio.
_________________

O Mestre aqui terminou sua lição e revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão relapso atingiu o fruto do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo o Irmão relapso era o arqueiro, a esposa que deixou era a mulher e eu mesmo era Sakra ( Indra ), rei do céu.”

[ Esopo Buddhista repete a cena com o cão atravessando o rio com um pedaço de carne nos dentes e vendo seu reflexo, da carne, n'água, abre a boca para pegar o reflexo !!!  Semelhante ao do macaco com as ervilhas e também se remetendo a frase famosa e evangélica 'onde está a carne aí estão os pássaros' que já vimos aparece nos Jatakas na história de Pingala e o brahmin que testa a virtude.]







segunda-feira, 19 de outubro de 2009

373 Buddha Professor




           Veluvana, Bambual, Bosque de Bambus, Índia.



373
“As pessoas gritam...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia no Bosque de Bambus, sobre Ajātasatru. O incidente que levou à história já foi contado no Jātaka 338. Aqui o Mestre também vê o rei no mesmo momento brincando com seu garoto e também escutando a Lei. E sabendo como sabia que adviria perigo ao rei a partir deste seu filho, ele disse, “Senhor, reis antigos suspeitaram do que estava aberto a suspeita, e mantiveram seus herdeiros em confinamento, dizendo, ‘Deixe-os exercerem a lei depois que nosso corpo estiver queimado na pira fúnebre.’ “ E com isto ele contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família brahmin, e tornou-se um famoso professor. O filho do rei de Benares, que chamava-se príncipe Yava (Cevada), depois de aplicar-se diligentemente na aquisição de todas as artes liberais com ele, e estando ansioso em partir , deu-lhe adeus. O professor, sabendo pelo seu poder de adivinhação que perigo adviria a ele através do filho, considerou como remover este perigo, e começou a procurar ao redor uma ilustração apropriada.
Bem, ele tinha nestes dias um cavalo e um machucado apareceu na sua pata. De modo a ter atenção apropriada ao machucado, o cavalo foi mantido no estábulo. Perto havia um poço. E um camundongo usava aventurar-se para fora de sua toca e mordiscar o machucado da pata do cavalo. O cavalo não podia parar com isto e um dia incapaz de agüentar a dor, quando o camundongo veio mordê-lo, matou-o com o casco e chutou-o para o poço. Os tratadores não vendo o camundongo disseram, “Outros dias o camundongo vinha e mordia o machucado mas agora não o vemos mais. O quê aconteceu com ele?” O Bodhisatva testemunhou a coisa toda e disse, “Outros por não saberem perguntam, ‘Onde está o camundongo?’ Mas eu apenas sei que o camundongo foi morto pelo cavalo, e atirado no poço.” E fazendo deste fato mesmo uma ilustração, compôs a primeira estrofe e a deu ao jovem príncipe.
Procurando por outra ilustração, ele viu o mesmo cavalo, quando o machucado estava curado, sair e caminhar para um campo de cevada comer um pouco, e atravessar a cabeça por um buraco na cerca, e tomando isto por ilustração compôs a segunda estrofe e a deu ao príncipe. Mas a terceira estrofe ele compôs com o conhecimento de sua mãe mesma e a deu também a ele. E disse, “Meu amigo, quando estiveres estabelecido no reino, e fores à tarde para a piscina de banho, caminhando em frente a escada, repita a primeira estrofe ; e quando entrares no palácio em que moras, andando ao pé da escada, repita a segunda ; e quando estiveres no topo da escada, repita a terceira. E com estas palavras se despediu. [N. do tr.: a escada aqui tem um sentido de ponte entre céu e terra].
O jovem príncipe retornou para casa e ficou com a função de vice-rei, e com a morte de seu pai tornou-se rei. Teve um filho único, e quando este tinha dezesseis anos estava ansioso em tornar-se rei. E fazendo a cabeça para matar seu pai, disse a seus criados, “Meu pai ainda é jovem. Quando eu vier a olhar a sua pira fúnebre já serei um velho caquético. Então que vantagem teria em asssumir o trono ?” “Meu senhor,” eles disseram, “está fora de cogitação para ti ir para a fronteira enfrentar rebeldes. Deves encontrar um jeito ou outro de matar teu pai e tomar o reino.” Ele logo concordou, e foi à tarde, tomando a espada esperar no palácio real junto da piscina de banho , preparado para matar seu pai. O rei à tarde enviou uma empregada chamada Musikā (Camundonga), dizendo, “Vá e limpe a piscina. Tomarei banho.” Ela foi e enquanto estava limpando viu o príncipe. Temendo que fosse revelado o que faria, ele a cortou em duas com sua espada e atirou o corpo no poço. O rei veio se banhar. E todos disseram, “Ho-je a empregada Musikā não voltou. Onde ela foi?” O rei foi para a borda do tanque e repetiu a primeira estrofe:

As pessoas gritam, ‘Onde ela foi?
Camundonga, para ondes fugistes?’
Só eu sei :
No poço jaz morta.

Pensou o príncipe, “Meu pai descobriu o quê fiz.” E tomado de pânico fugiu e contou tudo aos empregados. Depois de sete ou oito dias, eles novamente dirigiram-se ao príncipe e disseram, “Meu senhor, se o rei soubesse não silenciaria. O que ele disse foi apenas suposição. Mate-o.” Então um dia ele ficou no pé da escada com a espada na mão, e quando o rei viesse, ele procuraria uma oportunidade de atingí-lo. O rei veio repetindo a segunda estrofe:

Como uma besta com carga, parada
Tu tens que virar e revirar
Tu que Camundonga mataste,
Satisfeito Cevada comerá, duvido.

Pensou o príncipe, “Meu pai me viu,” e fugiu apavorado. Mas no final de quinze dias ele pensou, “Matarei o rei com um golpe de pá.” Então pegou um instrumento da forma de uma colher com um cabo longo e esperou parado. O rei que subira ao alto da escada, repetiu a terceira estrofe:

Tu és apenas um covarde doido,
Como um bebê com seu brinquedo,
Segurando este instrumento que parece colher,
Vou acabar contigo, garoto infeliz.

Naquele dia incapaz de fugir prostrou-se aos pés do rei e disse, “Senhor, poupe minha vida.” O rei depois de repreendê-lo amarrou-o em cadeias e jogou na prisão. E sentando num magnífico assento real sombreado por um parassol branco , disse, “Nosso professor, brahmin famoso anteviu para nós este perigo e deu-nos três estrofes.” E estando altamente feliz, na intensidade da sua alegria pronunciou o resto dos versos:

Não sou livre por morar no céu,
Nem por algum ato de piedade filial.
Não, quando minha vida foi buscada por este meu filho,
Ganhei escape da morte através do poder dos versos.
Conhecimento de todo tipo apto esteja a aprender,
E tudo o que ele possa significar discirna :
Apesar de não usá-lo, tempo chegará
Quando o que ouviste poderá te ajudar.

Logo logo com a morte do rei o jovem príncipe foi estabelecido no trono.
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O Mestre aqui terminou a lição e identificou o Jataka : “Naquele tempo o professor famoso era eu mesmo.”





quinta-feira, 15 de outubro de 2009

372 Buddha Sakra (Indra)


372
“Em chorar o morto...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um certo ancião. Diz-se que ele admitiu um jovem às ordens, e que este noviço, depois de ajudá-lo com zelo, passou um tempo ficou doente e morreu. O velho foi tomado de dor com a morte do jovem e saiu lamentando-se em alto som. Os Irmãos, ao falharem em consolá-lo, levantaram uma discussão no Salão da Verdade, dizendo, “Um certo ancião com a morte de seu noviço saiu lamentando-se. Habitando no pensar da morte, ele certamente tornar-se-á um pária.” Quando o Mestre veio, e perguntou qual o tema da discussão, e escutando o que era, disse, “Não apenas agora mas antes também, o ancião saiu lamentando-se, quando este jovem morreu.” E com isto contou uma estória do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu na forma de Sakra [Indra]. Naquele tempo um homem, que vivia no reino de Kāsi, veio para a região do Himālaia, e adotando a vida ascética, vivia de frutos selvagens. Um dia ele encontrou na floresta um jovem cervo que perdeu-se do rebanho. O levou para o eremitério, cuidando e alimentando-o. O jovem cervo cresceu e tornou-se um animal belo e gracioso e o asceta o tratava como seu próprio filho. Um dia o jovem cervo morreu de indigestão de grama. O asceta saiu lamentando-se e dizendo, “Minha criança morreu.” Então Sakra, rei do céu, explorando o mundo, viu o asceta, e pensando em alertá-lo, veio e ficou pousado no ar e falou a primeira estrofe:

Em chorar o morto mal deve advir
Ao asceta solitário, livre de laços do lar.

O asceta logo que escutou isto falou a segunda estrofe:

Devem as pessoas com amigos animais, Sakra, chorar
Pois a perda de um companheiro encontra alívio em lágrimas.

Então Sakra repetiu duas estrofes:

Os ansiosos em chorar podem mitigando-se lamentar o morto,
Não chore, ó sábio, é vão chorar diz a razão.

Se pelas lágrimas vencêssemos a cova,
Todos unidos juntos salvaríamos nossos amados.

Enquanto Sakra falava, o asceta reconhecendo que era inútil chorar, e cantando louvores a Sakra, repetiu estas estrofes:

Como chama alimentada de ghee que inflama vigorosamente
É apagada com água, assim ele apagou minha dor.

Com flecha de sofrimento meu coração estava ferido :
Ele curou minha ferida e restaurou minha vida.

A ponta extraída, cheio de alegria e paz,
Com as palavras de Sakra cessa a minha dor.

Depois de aconselhar o asceta, Sakra voltou à seu domicílio.
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O Meste aqui termina a lição e identificando o Jātaka diz: -“Naquele tempo o ancião era o asceta, o noviço o cervo, e eu mesmo era Sakra.”





terça-feira, 13 de outubro de 2009

371 Buddha Príncipe Dighavu



                     Savatthi, capital de Kosala, Índia.

371
“Estais sob meu poder...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana relativa a querela entre o povo de Kosambi. Quando vieram a Jetavana, o Mestre dirigiu-se a eles para reconciliarem-se e disse, “Irmãos, vocês são meus filhos leais na fé, criados com as palavras da minha boca. As crianças não devem menosprezar os conselhos dados pelos pais mas vocês não seguem minha advertência [ N. do tr.: a história é contada inteira no jātaka 428 à frente. Trata-se de um cisma na realidade entre os que seguem o Vinaya e os que seguem os Sutras: um destes últimos teria deixado um pouco de água no copo depois de lavar os dentes, e um dos primeiros acusou-o de pecar por causa disto ; o primeiro depois disse que prestaria mais atenção e o segundo que afinal não era um pecado tão grande mas depois espalhou que o que deixou água no copo era pecador (!!). Segue o cisma e a disputa por causa disto (!!) chegando a querela aos céus ]. Sábios antigos, quando homens que mataram seu pai e sua mãe e tomaram seus reinos, foram pegos por eles na floresta, não os mataram, apesar de serem rebeldes confirmados mas disseram, ‘Não desprezaremos os conselhos dados por nossos pais’.” E daí ele contou uma história do passado. [ A história é semelhante ao jātaka 336 em que o príncipe Chatra de Kosala toma de volta o quê o rei de Benares roubara. Nesta versão príncipe Dighāvu de Kosāla perdoa o usurpador ].
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Príncipe Dighāvu então, tendo encontrado o rei de Benares descansando no seu lado da floresta, pegou-o pelo cabelo e disse, “Agora cortarei em quatorze pedaços o usurpador que matou meu pai e minha mãe.” E naquele mesmo momento em que brandia a espada, lembrou-se o conselho dado por seus pais e pensou, “Apesar de sacrificar minha própria vida não desprezarei o conselho deles. Contentarei-me em assustá-lo.” E falou a primeira estrofe:

Tu estais em meu poder, ó rei,
Pronado jazes aí :
Que estratégia apresentas para
Libertar-te do temor ?

O rei então falou a segunda estrofe:

Em teu poder, meu amigo, jazo
No chão sem ajuda,
Nem sei de nenhum meio por onde
Livramento possa ser achado.

Então o Bodhisatva falou os versos restantes [que também são do Dhammapada] :

Ações e palavras boas apenas, não riquezas, Ó rei,
Na hora da morte podem trazer algum conforto.
“Esta pessoa abusou de mim, aquela me deu um golpe,
Uma terceira me dominou e me roubou há um tempo atrás.”
Todos que nutrem sentimentos deste tipo,
Nunca inclinam-se a mitigar a ira.
“ Ele abusou e me esbofeteou antes,
Ele me dominou e me oprimiu até sofrer.”
Aqueles que tais pensamentos recusam-se a entreter,
Apaziguam suas iras e vivem juntos novamente.
Não o ódio mas o amor apenas faz o ódio cessar:
Esta é a perene lei da paz.

Depois destas palavras o Bodhisatva disse, “Não te farei mal, Senhor. Mas você me mate.” E colocou sua espada na mão do rei. O rei também disse, “Nem eu te farei mal.” E fez um juramento, e foi com ele para a cidade e o apresentou aos conselheiros e disse, “Este, Senhores, é príncipe Dighāvu, filho do rei de Kosala. Ele poupou-me a vida. Não devo-lhe fazer nenhum mal.” E assim dizendo deu-lhe a filha em casamento, e estabeleceu-o no reino que pertencia a seu pai. E daí em diante os dois reis reinaram em harmonia e felizes juntos.
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O Mestre aqui terminou sua lição e identificou o Jataka : o pai e a mãe naqueles dias são agora os membros da casa real e o príncipe Dighavu era eu mesmo.”




segunda-feira, 12 de outubro de 2009

370 Buddha Ganso dourado


370
“O ganso disse àrvore da Judéia...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto morava em Jetavana sobre a censura ao pecado. O incidente que leva à história será estabelecido no Pañña Jātaka [que parece desconhece-se mas com a referência direta aos quinhentos convertidos que moravam numa rua de Jetavana] (cf. Jataka 459). Nesta ocasião o Mestre dirigiu-se aos Irmãos e disse, “Irmãos, deve-se suspeitar do pecado. Apesar de pequeno como um broto de banian, pode-se mostrar fatal. Sábios antigos também suspeitaram do que era para ser suspeito.” E assim contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como um gansinho dourado e quando tornou-se um ganso crescido, vivia numa caverna dourada, no monte Citrakuta no Himālaia e acostumara-se a ir constantemente comer em um arrozal selvagem que crescia em um lago natural. No caminho do seu chegar e sair havia uma árvore da Judéia, grande. Sempre chegando e saindo pousava e descansava nesta árvore. Assim brota uma amizade entre ele e a divindade que nela habitava. Passa o tempo e uma galinha depois de comer o fruto maduro de uma banian, veio e pousou na árvore da Judéia, e deixou cair os excrementos na forquilha. De lá então espalha-se uma jovem banian que cresceu uma altura de quatro polegadas e era brilhante com brotos vermelhos e as folhas. O ganso real, vendo isto, dirigiu-se à deidade guardiã d'árvore dizendo, “Minha amiga, toda árvore em que brota uma banian é destruída com seu crescimento. Não a deixe crescer ou destruirá seu domicílio. Retroceda logo, e arranque a raiz jogue-a fora. Deve-se suspeitar do que é suspeito.” E assim conversando com o espírito da árvore o ganso falou a primeira estrofe:-

O ganso disse àrvore da Judéia,
‘ Um broto de banian te ameaça :
O que levanta-se em teu seio
Eu temo, te lacerará membro por membro.’

Ouvindo isto o deus-árvore, sem aceitar o conselho, falou a segunda estrofe:

Bem! Deixe-a crescer e assim serei
Um refúgio para a árvore banian,
E velando-a com amor parental
Se mostrará para mim uma benção.

Então o ganso pronunciou a terceira estrofe:

É um broto maldito, temo,
O que levanta-se em teu seio.
Digo adeus e saio voando daqui,
Este crescimento, ai ! me desgosta.

Com estas palavras o ganso real abriu suas asas e voltou direto para o monte Citrakuta. E depois deste dia não mais lá voltou. Passa o tempo e o broto de banian cresce. Esta árvore também tinha sua deidade guardiã. E no seu crescimento, quebrou a árvore da Judéia, quebrando junto o domicílio do deus árvore que também caiu. Neste momento refletindo sobre as palavras do ganso real, o deus árvore pensou, “O rei dos gansos previu este perigo no futuro e me avisou mas não escutei suas palavras.” E assim lamentando-se pronunciou a quarta estrofe:

Uma aparição implacável como a altura do Meru
Trouxe-me um apuro terrível ;
Desprezando as palavras que o amigo ganso disse,
Estou agora rodeado de pavor.

Assim fez a banian, quando crresceu, quebrou toda a árvore da Judéia e a reduziu a um mero cepo, e a habitação do deus árvore desapareceu totalmente.

Sábios abominam a coisa parasítica
Que sufocam a forma à qual amam pendurar-se.
O sábio, suspeitando perigo da erva daninha,
Destrói a raiz antes que vire semente.

Esta foi a quinta estrofe, inspirada pela Sabedoria Perfeita.
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O Mestre aqui, sua lição terminada, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades os quinhentos Irmãos atingiram a Santidade: - “Naquele tempo eu mesmo era o ganso dourado.”



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

369 a história de Mittavindaka




      A cena esculpida em Borobudur / Barabudur Java Indonésia

369
“Qual o mal...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivendo em Jetavana relativa a um Irmão desregrado. O incidente que leva à história é o dos Jatakas 41, 82, 104, 439.
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Bem este Mittavindaka, quando jogado ao mar, mostrou-se muito ganancioso ( pois não quis esperar passar os dias de tristezas das fadas quando elas voltavam para a ilha e logo passava ao mar e a outro palácio de fada que ele logo abandonava por cobiçar mais ), e seguindo em um caminho de um excesso ainda maior chegou a um lugar de tormento habitado por seres destinados aos ínferos. E entrou na estrada para o ínfero Ussada, pensando ser uma cidade, e lá tomou uma roda tão afiada quanto uma navalha ( via a roda como se lótus fora, sendo segura por um outro que antes dele também ofendera a Mãe, os grilhões no peito como veste, o sangue pingando da cabeça como pó de madeira de sândalo perfumada, e os gemidos de dor como uma bela canção ) fixa em sua cabeça. Só quando tomou que percebeu ser um tormento mas o outro já sumira. Quando o Bodhisatva na forma de um deus foi em missão à Ussada, Mittavindaka o viu e repetiu a primeira estrofe na forma de uma pergunta:-

Qual foi o mal que fiz
Para provocar a maldição celeste,
Que minha pobre cabeça deva sempre ser
Com a circular roda de tortura rasgada ?

O Bodhisatva escutando, fala a segunda estrofe:

Abandonando casas de benção e felicidade,
Aquela dotada de pérolas, esta de cristal,
E salões de brilhos dourado e prateado,
O que te trouxe a esta cena melancólica ?

Então Mittavindaka falou a terceira estrofe:

“Lá, longe, alegrias maiores ganharei
Do que a que estes pobres mundos me apresentam.”
Este foi o pensamento que provou ser minha perdição
E que me trouxe a esta cena de dor.

O Bodhisatva então repetiu as estrofes restantes:

De quatro para oito e depois dezesseis, e então
Para trinta e duas, cobiça insaciável realmente cresce.
Assim cada vez mais fostes levado, alma gananciosa
Até fadares a vestir esta roda sobre tua cabeça.
Assim, todos, que seguem desejos cobiçosos,
Sempre insaciáveis, ainda mais e mais requerem :
O largo caminho do apetite, trilham,
E, como você, carregam esta roda sobre a cabeça.

E enquanto Mittavindaka ainda falava, a roda caiu sobre ele e o esmagou, de modo que não podia falar mais. Mas o ser divino voltou direto para sua residência celeste.
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O Mestre, sua lição terminada, identificou o Jataka : “Naquele tempo o Irmão desregrado era Mittavindaka e eu mesmo o divino ser.”





quinta-feira, 8 de outubro de 2009

368 Quedos em mãos...etc.




              Veluvana, Bosque de Bambus, Índia

368
“Quedos em mãos...etc.” - Esta história o Mestre, enquanto residia em Jetavana, contou relativa a Perfeição da Sabedoria. Foi então que o Mestre disse, “Não apenas agora, Irmãos, mas antes também o Tathagata mostrou-se sábio e cheio de recursos.” E com isto relatou uma velha lenda do passado.
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Certa vez quando Bahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa fazenda do interior. Toda a história acontece exatamente como na anterior. Mas nesta versão quando o doutor morreu, seus vizinhos da vila disseram, “Estes garotos causaram a morte do homem. Que sejam trazidos para diante do rei.” E os amarraram em laços e levaram para Benares. O Bodhisatva no curso da viagem avisou aos outros garotos: “Não fiquem com medo. Mesmo se levados à presença do rei, mostrem-se destemidos e felizes na mente. O rei primeiro falará conosco, e então saberei o que fazer.” Eles logo aceitaram o que ele disse, e agiram de acordo. Quando o rei os encontrou calmos e felizes, disse, “Estes pobres infelizes estão amarrados em laços e sendo trazidos aqui como assassinos, e apesar de terem chegado a tal miséria, estão destemidos e mesmo felizes. Perguntarei a eles a razão de não se atribularem.”
E falou a primeira estrofe:

Quedos em mãos adversárias
Amarrados em grilhões de bambu,
Como vocês conseguem esconder os infortúnios,
E encontrarem-se com face sorridente ?

Ouvindo isto o Bodhisatva pronunciou as estrofes restantes:

Não há nenhum bem por menor que seja,
Que uma pessoa pode ganhar com gemidos e lamentos ;
Seus adversários sentem prazer,
Quando vêem um inimigo tomado de dor.
Mas os adversários enchem-se de tristeza
Quando com face corajosa ele vai ao encontro de seu fado,
E não esquiva-se, como alguém hábil
Todas as coisas com juízo a discriminar.
Seja por fórmulas ou encantos sussurrados,
Com presentes generosos ou ajuda de parentes poderosos
Para que possa escapar da ofensa,
Uma pessoa deve esforçar-se em ganhar posição favorável.
Mas se ela falhar em ter sucesso,
Com ajuda de outros ou por ela mesma,
Não deve chorar mas aquiescer ;
Fado é forte, ela fez seu máximo.

O rei ouvindo o Bodhisatva expondo a lei, investigou o caso, e descobrindo a inocência dos garotos, removeu os grilhões, concedeu muita honra ao Grande Ser e o fez seu conselheiro temporal e espiritual e valoroso ministro. Ele também conferiu honra aos outros jovens e indicou-lhes vários cargos.
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Quando o Mestre terminou a lição, identificou o Jātaka: “Naquele tempo Ānanda era o rei de Benares, o baixo clero eram os outros garotos, e eu mesmo era o jovem sábio.“






quarta-feira, 7 de outubro de 2009

367 Quem chamou um...etc.




                 Veluvana, Bambual, Bosque de Bambus, Índia.

367
“Quem chamou um...etc.” - Esta é uma história contada pelo Mestre enquanto vivia no Bosque de Bambu, Bambual, em referência a fala de que Devadatra nem mesmo dá medo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu na família de um fazendeiro do interior e quando era criança brincava com outros meninos aos pés de uma árvore banian na entrada da vila. Um médico pobre e velho na época sem experiência, extraviou-se para fora da vila naquele lugar e viu uma serpente dormindo numa forquilha d'árvore, com a cabeça franzida. Ele pensou, “Não há nada a fazer no arraial. Vou engambelar estes meninos e fazer a cobra mordê-los, e então pegarei algo para curá-los.” E assim falou ao Bodhisatva, “Se você visse um filhote de ouriço-cacheiro, você pegaria?” “Sim, eu pegaria,” ele respondeu.
“Veja, aqui tem um descansando na forquilha desta árvore,” disse o homem velho.
O Bodhisatva, sem saber que era uma serpente, subiu na árvore e pegou-a pelo pescoço mas quando descobriu que era uma serpente, não deixou que ela se virasse contra ele, mas apertando bem forte, impetuosamente a atirou para longe. Ela caiu no pescoço do médico velho, e enrolando-se ao redor dele, o mordeu, tão severamente, que os seus dentes entraram na carne e o velho homem caiu morto no lugar, e a serpente fugiu. As pessoas juntaram-se ao redor, e o Grande Ser, expondo a Lei reuniu uma multidão, repetindo estes versos:

Quem chamou um amigo para apanhar
Uma serpente mortal, como se ouriço fora, se te agrada,
Foi morto pela mordida da serpente
Como alguém que desejava o mal a seu vizinho.
Aquele que anseia em atacar
Uma pessoa que nunca atacaria de volta,
É atacada e jaz deitada,
Justo como este tratante severamente machucado pelo golpe fatal.
Assim, pó que alguém joga
Contra o vento, é soprado de volta a face ;
E maldade projetada contra alguém
Que é santo, e não fez nenhum mal,
Para a cabeça do tolo por fim
Retorna, como poeira atirada contra a tempestade.
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O Mestre aqui terminou sua lição e iedntificou o Jataka : “Naquele tempo o médico velho era Devadatra, o jovem sábio era eu mesmo.”




terça-feira, 6 de outubro de 2009

366 Buddha e o Yaksha Gumbiya



366
“Veneno em aparência...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto morava em Jetavana, sobre um Irmão que se arrependeu de tomar ordens. O Mestre perguntou a ele se era verdade que ele se arrependia. “É vero, santo Senhor,” ele disse. “O que viste que te causou este sentimento ?” perguntou o Mestre. Quando o Irmão respondeu, “Foi devido aos charmes de uma mulher,” o Mestre disse, “Estas cinco qualidades do desejo são como mel borrifado todo com veneno mortal e deixado na estrada por um chamado Gumbiya.” Daí com o pedido do Irmão ele contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida na residência de um mercador. E quando cresceu, ele saiu de Benares com mercadoria em quinhentas carroças com propósito de comércio. Chegando na auto-estrada, na entrada de uma floresta, chamou todos os membros da caravana e disse, “Vejam! nesta estrada existem folhas, flores, frutos e semelhantes, que são venenosos. Ao comerem vejam se não comem algo estranho, sem antes perguntarem para mim sobre: pois demônios colocam na estrada cestas com arroz fresco e vários frutos selvagens doces, e borrifam veneno em cima. Certifiquem-se de não comerem deles sem meu consentimento.” E após assim avisar, continuou a viagem.
Então um certo Yaksha, chamado Gumbiya, espalhou folhas num lugar no meio da floresta, e largando pedaços de mel [com favo], cobriu-os com veneno mortal, e ele mesmo vagou pela estrada, fingindo perfurar árvores, como se procurasse por mel. Ignorantes os homens pensaram, “Este mel foi deixado aqui como um mérito,” e comendo-o, eles morreram. E os demônios vieram e devoraram a carne deles. Os homens que pertenciam à caravana do Bodhisatva, alguns naturalmente gananciosos, vendo estas comidas finas, não puderam se conter, e as dividiram entre eles. Mas aqueles que eram sábios disseram, “Consultaremos o Bodhisatva antes de comer,” e permaneceram segurando-as nas mãos. E quando ele viu o que eles tinham nas mãos, mandou-os jogar fora. E aqueles que já tinham comido tudo, morreram. Mas os que comeram apenas metade, ele administrou um emético, e após vomitarem, deu-lhes das quatro coisas doces, e assim por seu poder sobrenatural eles se recuperaram. O Bodhisatva chegou em segurança no lugar que queria alcançar, e depois de vender suas mercadorias, retornou para sua casa.

Veneno em aparência, gosto e cheiro, como mel,
Foi deixado por Gumbiya com propósito desumano:
Todo que comer como mel o alimento nocivo,
Pela própria cobiça perecerá na floresta.
Mas aqueles que sabiamente abstem-se da isca,
Estão livres da tortura e permanecem em paz.
Assim a luxúria, como isca venenosa, é deixada para as pessoas;
E o desejo do coração entregam-nas freqüentemente à morte.
Mas quem, apesar de frágil, priva-se dos pecados costumeiros,
Escapa dos laços do sofrimento e da desgraça.
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O Mestre, após declarar estes versos inspirados pela Sabedoria Perfeita, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão relapso atingiu o fruto do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo eu mesmo era aquele mercador.”




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

365 Buddha Fazendeiro de milho



365
“Olhe ! Aqui estamos...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, relativa a um sacerdote de idade. A história já foi relata inteira no Jataka 249. Nesta versão também o velho após ordenar um rapaz da vila, abusava e batia nele. O rapaz escapava e retornava para o mundo. O velho novamente o admitia nas ordens e agia justo como antes. O jovem, após ter retornado ao mundo três vezes, sendo solicitado a voltar, nem mesmo olhou no rosto do velho. O assunto foi falado no Salão da Verdade, como que certo ancião não podia viver com o noviço nem sem ele, enquanto o garoto após entender a falta de têmpera do velho, sendo um rapaz sensível, nem mesmo olhou na cara dele. O Mestre entrou e perguntou qual era o assunto da discussão. Quando disseram a ele, falou, ”Não agora apenas, Irmãos, mas antes também este mesmo jovem foi noviço sensível, que após perceber a falta do ancião nem mesmo quis olhar para ele.” E assim falando ele contou uma história do passado.
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Certa vez no reino de Brahmadatra, rei de Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família de fazendeiro de milho. E quando cresceu, tirava sustento vendendo milho. Então, um certo encantador de serpentes pegou um macaco e o treinou para brincar com uma cobra. E quando o festival foi proclamado em Benares, ele deixou o macaco com o fazendeiro de milho e saiu perambulando por sete dias, brincando com a cobra. O fazendeiro enquanto isto alimentou o macaco com comida sólida e macia. No sétimo dia o encantador de serpente bêbado do festival, veio e bateu no macaco três vezes com um pedaço de bambu e pegando-o e levando-o ao jardim, amarrou-o e caiu no sono. O macaco soltou-se dos laços, e subindo na mangueira, lá sentou comendo manga. O encantador de serpente ao acordar viu o macaco pendurado na árvore e pensou, “Para pegá-lo devo engambelá-lo.” E falando com ele repetiu a primeira estrofe:-

Vejam! Aqui estamos, meu querido,
Como jogador diante de dado parado.
Deixe cair umas mangas: bem sabemos,
Devemos a teus truques nosso sustento.

O macaco, escutando isto, falou os versos restantes:

Teus louvores, amigo, soa sem sentido;
Querido macaco, nunca foi achado.
Quem no depósito, bêbado, prego,
Deixou-me ferido de pancada e faminto, ho-je?
Quando eu, encantador de serpente, lembro
A cama de dor em que me deitei,
Apesar de algum dia poder ser rei,
Nenhum pedido de mim, este favor deve extrair,
Lembrando tua crueldade.
Mas se uma pessoa, sabe-se, vive
Contente em casa, está apta a dar,
E brota de raça gentil, o sábio
Com tais, o laço mais apertado, deve formar.

Com estas palavras o macaco perdeu-se numa multidão de companheiros macacos.
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O Mestre aqui terminou sua lição e identificou o Jataka : “Naquele tempo o velho era o encantador de serpentes, o noviço era o macaco e eu mesmo era o vendedor de milho.”

// Jātaka 249. 

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ajanta, cave 19, Nagaraja e esposa

Ajanta, cave 19, Nagaraja e esposa, em soberba escultura em painel na fachada.   O rei Naga acima de sua cabeça tem qual crista outras cinco cabeças de naga, a esposa apenas uma e as outras quantidades significam hierarquias no reino naga. Clique na imagem para vê-la ampliada.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

364 Osadha e Amara ( cont.)



                                 Pintura de Ajanta : Mah'Osadha e os outros quatro

364
Osadha & Amara (cont.)
O jātaka 546 como é uma história grande e importante toma várias contas para quando chegar no final, posto que é a penúltima conta, já estar meio contada. Seguem os números das contas todas: 110, 111, 112, 170, 192, 350, 364, 387, 402, 452, 471, 500, 508, 515, 517, 528 e o próprio 546. O que se relata aqui  acontece antes do que acontece no Jataka 350.

Um dia Senaka disse aos outros três que vieram vê-lo, “Amigos, não somos páreo para este filho de homem comum Mahosadha ; e agora ele pegou para si uma esposa ainda mais inteligente que ele mesmo. Podemos achar um jeito de estragar a relação dele com o rei ?” “Que sabemos nós, senhor professor – tu deves decidir.” “Bem, não se preocupem, há um jeito. Furtarei uma jóia da coroa real ; você, Pukkusa, furtará o colar dourado ; você, Kavinda, furtará o roupão de lã ; você, Devinda, os chinelos dourados.” Todos os quatros deram um jeito de furtar estas coisas. Então Senaka disse, “Devemos agora colocar estas coisas dentro da casa do sujeito sem que ele saiba.” Assim Senaka colocou a jóia num pote de tâmaras e enviou por uma empregada, dizendo, “Se qualquer outra pessoa quiser o pote recuse ; entregue-o apenas ao povo da casa de Mah'Osadha.” Ela pegou, foi para a casa do sábio e andou para cá e para lá gritando, “Quem quer tâmaras ?” Mas a senhora Amarā parada na porta viu isto : notou que a garota não indo a nenhum outro lugar, devia haver algo por trás ; fazendo então um sinal a seus empregados que se aproximassem, chamou ela mesma a garota, “Venha aqui, menina, comprarei as tâmaras.” Quando ela veio, a dona de casa chamou por seus empregados, mas nenhum veio, de modo que enviou a garota para buscá-los. Enquanto ela estava ausente, Amara colocou a mão na cumbuca e encontrou a joia. Quando a garota voltou , Amara perguntou a ela, “Empregada de quem tu és, menina ?” “Empregada de pandit Senaka.” Perguntou o nome dela e de sua mãe e disse, “Bem, me dê um pouco de tâmaras.” “Se queres, patroa, pegue o pote todo – não quero pagamento.” “Podes ir então,” disse Amara, e despachou-a. Depois escreveu numa folha, “Em tal dia de tal mês o professor Senaka enviou uma joia da coroa real como presente pelas mãos de tal e tal garota.” Pukkusa mandou o colar dourado escondido em uma caixa de flores de jasmin ; Kavinda mandou o roupão em um cesto de vegetais ; Devinda as sandálias douradas em um feixe de palha. Ela recebeu tudo e colocou os nomes de tudo em uma folha, que ela separou, falando ao Grande Ser sobre. Estes quatro homens foram ao palácio e falaram, “Por quê, meu senhor ! não estais com a coroa de jóias ?” “Sim, vou buscá-la,” disse o rei. Mas não encontraram as jóias e as outras coisas. Os quatro então disseram, “Meu senhor, teus ornamentos estão na casa de Mah'Osadha e ele os está usando : aquele filho de um homem qualquer é teu inimigo !” Caluniavam-no deste modo. Os simpatizantes dele, saíram e falaram a Mah'Osadha; e ele disse, “Irei ao rei e descobrirei.” Ele esperou pelo rei que estava irado e que disse, “Não o conheço ! Que quer ele aqui ?” Não concederia audiência. Quando o sábio entendeu que o rei estava irado, voltou para casa. O rei mandou prendê-lo ; o quê, sabendo pelos simpatizantes, indicou a Amara que era tempo de partir. Ele então escapou para fora da cidade disfarçado pela vila do Sul onde passa a exercer o ofício de oleiro numa olaria. A cidade enchia-se com as novidades da fuga dele. Senaka e os outros três escutando que ele se fora, todos sem que os outros soubessem, mandaram cartas para a senhora Amarā, neste sentido : “Não se preocupe : não somos sábios ?” Ela pegou as quatro cartas e respondeu cada uma que ele deveria vir a tal hora. Quando eles vieram, ela fez com que eles fossem raspados com navalhas e os atirou nos mangues e os machucou, e amarando-os em corda de esteira, os enviou ao rei. Levando-os e às quatro coisas preciosas juntas, foi para o paço real e lá saudando-o disse : “Meu senhor, o sábio Mah'Osadha não é ladrão ; aqui estão os ladrões. Senaka roubou a jóia, Pukkusa roubou o colar dourado, Devinda roubou os chinelos dourados : em tal dia em tal mês pelas mãos de tal e tal empregada estes quatro mandaram presentes. Olhe esta folha. Pegue o quê é seu e expulse os ladrões.” Cobrindo de insulto estas quatro pessoas, ela voltou para casa. Mas o rei estava perplexo sobre o aasunto e desde que o Bodhisatva partira e que não havia mais gente sábia ele nada disse mas mandou-os banharem-se e ir para casa.
A deidade que morava no parassol real [aquele branco] não mais escutando a voz das falas do Bodhisatva cogitava qual seria a causa, e quando descobriu, decidiu que ele seria trazido de volta. Assim à noite ela apareceu através de um buraco no círculo do parassol, e perguntou ao rei quatro charadas, os versos começando “ele me bate com mãos e pés.” O rei não pode responder, e disse isso, mas ofereceu-se perguntar aos sábios, pedindo um dia de prazo. No dia seguinte ele enviou uma mensagem convocando-os mas eles responderam, “Estamos envergonhados de nos mostrarmos na rua, pelados como estamos”. Então ele enviou para eles quatro cogulas / capuzes para vestir nas cabeças. ( Esta é a origem desta veste, assim dizem.) Então eles vieram, e sentaram onde foram convidados a fazê-lo, e o rei disse, “Senaka, noite passada a deidade que habita no meu parassol fez-me quatro perguntas, que não pude responder mas que disse iria perguntar aos meus sábios. Por favor, resolva-as para mim.” E recitou a primeira estrofe:
Ele bate com mãos e pés, e dá tapa na cara; ainda assim, Ó rei, ele é querido, e cresce mais querido ainda que um marido. Senaka gaguejou qualquer coisa primeiro, “Bate como, bate em quem,” e não pode achar nem pé nem cabeça da charada ; os outros eram todos débeis. O rei ficou aflito. E quando à noite a deusa perguntou se tinha encontrado a resposta do enigma, ele disse, “Perguntei aos meus quatro sábios mas nem eles sabem.” Ela respondeu, “O que eles sabem? Salvo o sábio Mahosadha ninguém pode resolvê-lo. Se você não mandar buscá-lo e pegá-lo para resolver estes enigmas, clivarei sua cabeça com esta lâmina de fogo.” Depois de assim assustá-lo ela continuou: “Ó rei, quando queres fogo não sopre um vaga-lume, e quando queres leite não ordenhes um chifre.” Então ela repetiu a Questão do Vaga-lume [o conteúdo desta conta mesmo]:

“Quando a luz extingue-se, aquele que sai em busca de fogo, pensa que um vaga-lume é fogo, se o vê à noite? Se esfarela em cima palha, é uma má idéia, ele não fará queimá-la. Assim também um bruto não ganha benefício por meios errados, se ele ordenha uma vaca pelo chifre, de onde não flui leite. Por muitos meios as pessoas obtém benefícios, punindo inimigos, ou sendo gentil com amigos. Ganhando chefes de exércitos, e com conselho de amigos, os senhores/as da terra, a possuem e o que nela há.”

“Eles não são como você, soprando um vaga-lume, crente que é fogo: és como alguém que sopra um vaga-lume enquanto há fogo à mão, como alguém que derruba com a mão balança e pesos, como alguém que quer leite e ordenha chifre, quando perguntas questões profundas a Senaka e semelhantes. O que eles sabem? Como vaga-lumes eles são, como um grande fogo é Mahosadha refulgente de sabedoria. Se não descobrires o enigma, és um homem morto.” Tendo assim aterrorizado o rei, ela desapareceu.

( cont. no Jataka 452 ).