Agni = Aristides
Na introdução deste livro citamos um capítulo da vida de
Aristides em que já colocávamos sua aproximação, paralelo, com a história de
Agni e que dizíamos o mesmo paralelo haveria com o fogo olímpico, Agni o fogo
do sacrifício também seria este fogo sagrado grego: então, houve um apagamento,
desligamento, de todos os fogos da Grécia e subsequente religamento,
reacendimento, com o fogo sagrado de
Delphos, Grécia que então fora invadida e destruída pelos persas mas vence a
batalha naval de Salamina e em seguida na batalha em terra, de Platea, também
vence e expulsa este invasor, ressurgindo vitoriosa no ano 479 a. C..
A semelhança também existiria com o fogo
novo do ritual cristão da morte e ressurreição de IHS uma vez que a ideia é a
mesma já que os persas, bárbaros, destroem a Grécia que ressurge das cinzas.
Cabe então agora confirmar este
apagamento, desligamento, com o subsequente religamento, reacendimento, na
história de Agni. E o vemos acontecer logo no início do Mahabharata em uma das
primeiras histórias, com certeza não à toa. Segue a citação de Mahabharata, Adi
parva, seção V-VII :
“ Bhrigu tinha uma esposa chamada
Puloma a quem ele amava carinhosamente. Ela ficou grávida de Bhrigu. E um dia
enquanto a virtuosa e continente Puloma estava nesta condição, Bhrigu, grande
entre aqueles que são verdadeiros a sua religião, deixando-a em casa saiu para
realizar suas abluções. Foi então que o Rakshasa chamado Puloma chegou no
domínio de Bhrigu. E entrando na casa do Rishi, o rakshasa viu a esposa de
Bhrigu irreprovável em tudo. E vendo-a tornou-se cheio de luxúria e perdeu os
sentidos. A bela Puloma entreteve o Rakshasa que queimava de desejo vendo-a,
tornou-se satisfeito e resolveu, Ó bom sábio, carregá-la embora, ela que era
sem culpa em todos os aspectos.
“Meu objetivo está realizado”, disse
o Rakshasa e assim tomando esta bela matrona ele a levou. E, realmente, ela de
sorrisos agradáveis, tinha sido entregue como noiva por seu pai a ele apesar de
posteriormente o pai a ter entregue, de acordo com os ritos devidos, à Bhrigu.
Ó tu da raça de Bhrigu, esta ferida inflamou fundo na mente do Rakshasa e ele
pensou que o presente momento era oportuno para levar a mulher embora.
E o Rakshasa viu o apartamento no
qual o fogo sacrifical era mantido queimando brilhantemente. O Rakshasa então
perguntou ao elemento fogo: “Diga-me, Ó
Agni, esposa de quem esta mulher é por direito. Tu és a boca dos deuses;
portanto tu estás obrigado a responder minha questão. Esta mulher de compleição
foi primeiro aceita por mim como esposa mas seu pai subsequentemente a entregou
ao falso Bhrigu. Diga-me de verdade se esta bela pode ser considerada como
esposa de Bhrigu pois a encontrado sozinha, resolvi levá-la à força do
eremitério. Meu coração queima de raiva quando penso que Bhrigu tomou posse
desta mulher de cintura fina, que foi minha noiva primeiro.
Desta maneira o Rakshasa questionou
o chamejante deus do fogo repetidamente se a mulher era esposa de Bhrigu. E o
deus estava com medo de dar a resposta. ‘Tu, Ó deus do fogo,’ disse ele,
‘resides constantemente dentro de todas as criaturas, como testemunha dela ou
de seus méritos e deméritos. Ó tu, respeitável, responda minha questão então
verdadeiramente. Bhrigu não se apropriou dela que foi escolhida por mim como
esposa? Tu deves declarar verdadeiramente se, portanto, ela é minha esposa por
escolha primeira. Após tua resposta se ela é a esposa de Bhrigu, eu a
carregarei embora deste eremitério diante te teus olhos mesmos. Portanto
responda a verdade.
O deus das sete chamas tendo
escutado estas palavras do Rakshasa tornou-se excessivamente angustiado,
ficando com temor de falar uma falsidade e igualmente com medo da maldição de
Bhrigu. E o deus por fim respondeu em palavras que saíram lentamente. ‘Esta Puloma foi realmente primeira escolhida
por ti, Ó Rakshasa, mas ela não foi tomada por ti com ritos e invocações
sagradas. Mas esta mulher de grande fama foi entregue por seu pai a Bhrigu como
um presente com desejo de benção. Ela não foi entregue a você! Ó Rakshasa, esta
mulher foi devidamente feita pelo Rishi Bhrigu sua esposa com ritos Védicos em
minha presença. Esta é ela – eu a conheço. Não ouso falar uma mentira. Ó tu
melhor dos Rakshasas, mentira nunca é respeitada neste mundo.’
Tendo escutado estas palavras do
deus do fogo, o Rakshasa assumiu a forma de um javali e segurando a mulher a
levou embora na velocidade do vento – ou mesmo do pensamento. Então a criança
de Bhrigu que descansava no corpo dela com raiva de tal violência, caiu do
útero de sua mãe, de onde recebeu o nome de Chyavana. E o Rakshasa percebendo
que a criança caíra do útero de sua mãe, brilhante como o Sol, deixou de
segurar a mulher, caiu e foi instantaneamente convertido em cinzas. E a bela
Pauloma, tonta de tristeza, pegou seu filho Chyavana, filho de Bhrigu e saiu
andando. E Brahma o Avô de todos, ele
mesmo a viu, a esposa sem manchas de seu filho, chorando. E o Avô de todos a
confortou ela que estava junto com seu filho. E as gotas de lágrimas que
rolavam de seus olhos formaram um grande rio. E este rio começou a seguir as pegadas
da esposa do grande asceta Bhrigu. E o Avô dos mundos vendo aquele rio que
seguia os passos da esposa de seu filho deu a ele um nome, e o chamou Vadhusara. E ele passa pelo eremitério
de Chyavana. E desta maneira nasceu Chyavana de grande poder ascético, o filho
de Bhrigu.
E Bhrigu viu seu filho Chyavana e sua
bela mãe. E o Rishi com raiva perguntou a ela, ‘Quem te fez conhecida àquele
Rakshasa que resolveu te levar embora? Ó tu de sorrisos agradáveis, o Rakshasa
não poderia te conhecer como minha esposa. Portanto diga-me quem foi que disse
isto ao Rakshasa, de modo que possa amaldiçoá-lo com minha raiva.’.E Pauloma
respondeu, ‘Ó possuidor dos seis atributos! Fui identificada para o Rakshasa
por Agni ( o deus do fogo). E ele (o Rakshasa) carregou-me embora, e eu
gritando como a Kurari (fêmea da águia pescadora). E foi apenas pelo ardente esplendor
deste teu filho que fui resgatada pois o Rakshasa (vendo esta criança) me
deixou ir e ele mesmo caindo no chão transformou-se em cinzas.
Bhrigu escutando este relato de
Pauloma, tornou-se excessivamente raivoso. E em excesso de paixão o Rishi
amaldiçoou Agni, dizendo, ‘Tu comerás de todas as coisas.’
O deus do fogo enraivecido com a
maldição de Bhrigu, assim se dirigiu ao Rishi, ‘Que significa esta grosseria, Ó
Brahmana, que mostra para comigo? Que
transgressão pode me ser imputada a mim que estava trabalhando para fazer
justiça e falar a verdade imparcialmente? Sendo questionado dei a resposta
verdadeira. Uma testemunha que quando interrogada sobre um fato do qual tem
conhecimento, fala diferente do que é realmente, arruína seus ancestrais e seus
descendentes ambos até a sétima a geração. Aquele, também, que sendo totalmente
conhecedor de todos os particulares de um caso, não apresenta o que ele
conhece, quando questionado, é sem dúvida manchado de culpa. Posso também te
amaldiçoar mas Brahmanas são tidos por mim com grande respeito. Apesar destes
serem conhecidos por ti, Ó brahmana, ainda assim falarei deles, então por favor
escute! Tendo, por poder ascético, multiplicado a mim mesmo, estou presente em
várias formas, em lugares do homa diário,
em sacrifícios que se estendem por anos, em lugares onde ritos sagrados são
realizados (tais como casamentos, etc) e em outros sacrifícios. Com a manteiga
que é derramada na minha chama de acordo com as regras prescritas nos Vedas, os
Devas e os Pitris são apaziguados. Os Devas são as águas; os Pitris são também
as águas. Os Devas tem com os Pitris igual direito aos sacrifícios chamados Darshas e Purnamasas. Os Devas portanto são os Pitris e os Pitris, os Devas.
Eles são seres idênticos, venerados juntos e também separadamente nas mudanças
da lua. Os Devas e os Pitris comem o que é derramado em mim. Sou portanto
chamado a boca dos Devas e dos Pitris.
Na lua nova os Pitris e na lua
cheia os Devas, são alimentados através da minha boca, comendo da manteiga
clarificada que é derramada em mim. Sendo como sou, a boca deles, como seria um
comedor de todas as coisas (puras e impuras)?
Então Agni após refletir um pouco se retirou,
a si mesmo, de todos os lugares; dos lugares do homa diário dos Brahmanas, de todos os sacrifícios longamente
estabelecidos, dos lugares de ritos santos, e de outras cerimônias. Sem seus Oms e Vashats e desprovidos de seus Swadhas
e Swahas (mantras sacrificais durante as ofertas), todo o corpo de criaturas tornou-se muito triste com a
perda de seu fogo sacrifical. Os Rishis em grande ansiedade foram até os deuses
e dirigiram-se a eles assim, ‘Vós seres imaculados! As três regiões do universo
estão confundidas com o cessar de seus sacrifícios e cerimônias em consequência
da ausência do fogo! Ordene o que deve ser feito em relação a este assunto para
que não haja perda de tempo.’ Então os Rishis e os deuses foram juntos em
direção a presença de Brahma. E contaram a ele tudo sobre a maldição de Agni e
a consequente interrupção de todas as cerimônias. E eles disseram, ‘Ó tu, grandemente
afortunado! Desta vez que Agni foi amaldiçoado por Bhrigu por alguma razão.
Realmente, sendo a boca dos deuses e também o primeiro que come o que é
oferecido em sacrifícios, o comedor também da manteiga sacrifical, como será
Agni reduzido a condição de alguém que come de todas as coisas promiscuamente?’
E o criador do universo escutando estas palavras deles chamou Agni a sua
presença. E Brahma dirigiu-se a Agni, o criador de tudo e eterno como ele, com
estas gentis palavras, ‘Tu és o criador dos mundos e tu és seu destruidor! Tu
preservas os três mundos e tu és o promotor de todos os sacrifícios e
cerimônias! Portanto comporte-se de modo que as cerimônias não sejam
interrompidas. E, Ó tu comedor da manteiga sacrifical, porque ages tão
tolamente, sendo, como tu és, o Senhor de tudo? Tu apenas estás sempre puro no
universo e tu és seu esteio! Tu não serás com todo teu corpo reduzido ao estado
de alguém que come de todas as coisas promiscuamente. Ó tu feito de chamas, a
chama que está em tuas partes mais vis comerá sozinha de todas as coisas
igualmente. Teu corpo que come carne (estando no estômago de todos os animais
carnívoros) comerá também de todas as coisas promiscuamente. E como todas as
coisas tocadas pelos raios do Sol tornam-se puras, tudo será purificado que se
queimar nas tuas chamas. Tu és, Ó fogo, a suprema energia nascida do teu
próprio poder. Então, Ó Senhor, pelo teu poder torne a maldição do Rishi
verdadeira. Continue a receber tua própria porção e aquelas dos deuses,
oferecidas em tua boca.’
Então Agni respondeu ao Avô,
‘Assim seja’. Então saiu para obedecer a ordem do supremo Senhor. Os deuses e
os Rishis também retornaram deliciados para o lugar de onde vieram. E os Rishis
começaram a realizar como antes suas cerimônias e sacrifícios. E os deuses no
céu e todas as criaturas no mundo ficaram excessivamente felizes. E Agni também
ficou feliz com o fato de estar livre da perspectiva de pecado.”
Além do apagamento /
religamento propriamente dito o texto mostra Agni : 1) enquanto boca dos
deuses, o portador das ofertas, em um papel que deve ser imparcial, de prestar,
dar testemunho fielmente segundo a verdade sendo impensável a mentira e consequentemente
a injustiça; 2) na tarefa de servir a todos como mensageiro entre deuses e
homens em todas as cerimônias e sacrifícios; 3) há também sua presença dentro
de todos os seres vivos enquanto fogo interior que digere os alimentos e que
vemos em si mesmo purificar todas estas ofertas digeridas. Vejamos como
aparecem estas características na vida de Aristides de Plutarco seguindo a numeração
dos parágrafos/capítulos.
III. “Mas o que sobretudo pareceu
maravilhoso foi sua igualdade nas mudanças a que se expõe o mando, não
envaidecendo-se com as honras e mantendo-se sempre tranquilo e sossegado nas
adversidades, por entender que exigia o bem da pátria que em servi-la se
mostrasse desinteressado, não só com respeito a riqueza, senão com respeito
também à glória. Daí que proveio, sem dúvida, que representando-se no teatro
estes yambos de Ésquilo, relativos a
Anfiarao,
Quero não parecer, mas ser
justo:
Em sua alma o saber
tem deitadas
Fundas raízes e
copioso fruto
De excelentes e
úteis conselhos,
todos se
voltaram para olhar Aristides, como que dele era própria aquela virtude.”
IV.
“Não só contra a benevolência e o agrado mas também contra a ira e a
inimizade, era bastante poderoso em resistir para sustentar o justo. Dizia-se
pois que perseguindo uma ocasião a um inimigo no tribunal, como não quisessem
os juízes, depois da acusação, ouvir ao tratado como réu, mas pediam para
passar a votar contra ele, se pôs Aristides do seu lado a pedir também que lhe
ouvissem e fosse tratado conforme as leis. (...) Elegeram-no procurador das
rendas públicas e não só descobriu que haviam subtraído dinheiro os arcontes de
seu tempo, mas também os que haviam precedido e mais especialmente Temístocles,
Que era largo
das mãos apesar de sábio.
Por esta
causa suscitou este a muitos contra Aristides e perseguindo-o ao dar suas
contas, fez com que se lhe abrisse processo e o condenasse por ocultação,
segundo diz Idomeneo; porém como por ele se tivessem se desgostado os primeiros
e mais autorizados da cidade, não só saiu livre de todo encargo e multa, como
de novo voltaram a elege-lo para a mesma magistratura. Fez-se como se estivesse
arrependido da primeira atuação, manifestando-se mais benigno; com o que
ficaram gratos os usurpadores do dinheiro público, porque não os acusava na
cara nem levava as coisas com rigor; de maneira que enriquecidos com suas
rapinas, enchiam de elogios a Aristides e intercediam ansiosos com o Povo para
que o elegessem outra vez; mas quando iam votar repreendeu os atenienses dura e
severamente dizendo-lhes: “Com que quando me conduzi bem e fielmente me
maltratastes e quando deixei livres dinheiros crescidos em mãos ladras me tens
por melhor cidadão ! Pois mais me envergonho da honra que agora me fazeis que
da injustiça anterior; e me indigno contra vocês, para quem parece mais
glorioso favorecer os maus que defender os interesses da República.” Dito isto,
mostrou as malversações, com o que fez calar a seus defensores e os que o
elogiavam e recebeu dos homens de bem um verdadeiro e justo encômio.”
V. Ano 490 a.C. vitória de
Temístocles e Aristides, que ficou tomando conta do saque ao qual ninguém
tocou, sendo general Milcíades ao qual Aristides, que era segundo, deixa que
permaneça no cargo sem trocar, para mostrar a importância “de governar com o
entendimento e disposições de um só, dando maior alento a Milcíades.”
VI. “Entre todas as suas virtudes
a que mais se deu a conhecer ao Povo foi a justiça porque sua utilidade é mais
contínua e compreende a todos; assim, um
homem pobre e plebeu alcançou o mais excelente e divino renome, chamando-lhe
todos ‘o justo’; renome a que não aspirou nunca nenhum dois reis nem os
tiranos, querendo mais, alguns deles, apelidarem-se sitiadores, fulminadores,
vencedores e alguns águias, gaviões, preferindo, ao que parece, a glória que
dão a força e o poder àquela que provém da virtude. (segue discurso sobre os
três: a indestrutibilidade, o poder e a virtude, sendo esta última o justo e o
direito, a razão e a prudência; única que depende de nosso arbítrio).
VII. “Ainda que a Aristides no princípio lhe foi
muito lisonjeiro aquele renome, por fim veio a conciliar-lhe inveja,
principalmente pelo cuidado que pôs Temístocles em semear o rumor entre a
multidão de que Aristides, fazendo inúteis os tribunais metendo-se a julgar e
decidir tudo, aspirava em silêncio a preparar-se sem armas uma monarquia. Além
disso, envaidecido o Povo com a vitória e crendo de que tudo era por si capaz,
não podia aguentar aos que tinham um nome e uma fama que obscureciam aos
demais. Concorrendo pois à cidade de todas as partes, desterram a Aristides por
meio do ostracismo, apelidando medo da tirania ao que era inveja da sua glória.
(Segue explicação sobre o ostracismo e sua história). Estavam nesta operação de
escrever as conchas, quando se diz que um homem do campo, que não sabia
escrever, deu a concha a Aristides, a quem casualmente tinha à mão e o
encarregou que escrevesse ‘Aristides’; e como este se surpreendesse e
perguntasse se lhe havia feito alguma ofensa: “Nenhuma – respondeu – nem sequer
o conheço, mas estou já cansado de ouvir continuamente que o chamam ‘o justo’;
e Aristides, escutando isto, não respondeu e escrevendo seu nome na concha, a
devolveu. Desterrado da cidade, levantando as mãos aos céus, fez uma prece
inteiramente contrária à de Aquiles, pedindo aos deuses que não chegasse o
tempo em que os atenienses tivessem que lembrar-se de Aristides.”
VIII. “Ao cabo de três anos, quando Xerxes
pela Tessália e Beócia se encaminhava contra a Ática, aboliram a lei (do
ostracismo) e permitiram todos os desterrados que voltassem; por temor
principalmente de que Aristides unindo-se com os inimigos, seduzisse e atraísse
a muitos dos cidadãos ao partido dos bárbaros; no que manifestaram não conhecer
bem a este insigne varão, que antes daquela providência estava já trabalhando
em acalorar os gregos para defender sua liberdade e depois dela sendo
Temístocles o que tinha o mando absoluto, nada deixou de fazer, de obra ou de
conselho, para que com a salvação de todos alcançara seu inimigo a maior
glória.” Aristides atravessa a noite as naves inimigas para falar com
Temístocles: “esqueçamos de nossa vã e juvenil discórdia e estabeleçamos outra
contenda mais saudável e digna de louvor, disputando entre nós dois sobre
salvar a Grécia.”
IX. Aristides comanda a tomada da ilha de
Psitalia local onde foi mais dura a batalha de Salamina e onde prenderam os
três filhos de Sandauca irmã do rei persa que o agoureiro de Temístocles
sacrificou a Baco Omesta, cruel.
X. Mardonio permanece com 300 mil soldados e
envia embaixada dizendo que invadiria Atenas novamente: “e (Aristides)
voltando-se aos (enviados) de Mardonio, assinalando o Sol disse, ‘Enquanto este
astro andar sua carreira, farão os atenienses a guerra aos persas por seus
campos assolados e por seus templos profanados entregues às chamas.”
XI. A guerra em Platea, o
sonho do general Arimnesto que esclarece o oráculo de Delphos sobre como
conseguir a vitória na guerra “que fez Aristides pensar muito.”
XII. Disputa dos de Tegea sobre o lugar no
exército que luta a batalha de Platea e
a fala de Aristides: “Não é próprio desta ocasião que alterquemos com os
tegeatas, sobre linhagem e sobre proezas; mas a vocês, oh lacedemônios, e a
todos os demais gregos os fazemos lembrar que o lugar não tira nem dá valor.
Qualquer que seja o que nos deres, procuraremos, conservando-o e honrando-o,
não fazer-nos indignos da glória adquirida nas guerras anteriores; porque não
viemos nos indispor com aliados mas para lutar contra os inimigos, nem a
exaltar nossos pais mas a acreditar-nos com a Grécia, homens esforçados. Assim
este combate fará ver quanto deve ser tido pelos gregos cada um, cidade,
general ou soldado.”
XVII. A citação que aparece em
Vishnu = Cimón, imagem da luta entre devas x asuras, anjos x demônios,
reproduzindo um conflito primordial no lugar mesmo do sacrifício.
XVIII. Desgostoso Pausânias daquele
estado, vendo que o agoureiro continuamente reprovava as vítimas, voltou-se
para o templo de Juno; caindo-lhe lágrimas e levantando as mãos pedia a Juno
Citeronia e aos demais deuses que presidiam aquela comarca que, se não estava
destinada aos gregos aquela vitória, que lhes desse ao menos o sofrer fazendo
algo e mostrando com obras aos inimigos que contendiam com homens de valor e
adestrados na guerra. Feita esta invocação por Pausânias no mesmo
momento se mostrou fausto o sacrifício e os agoureiros anunciaram a vitória.
Deu-se a todos o sinal de rechaçar os inimigos e de repente todo o exército
tomou o aspecto de uma fera que estremecendo-se, se prepara para fazer uso da
força.”
XX. A citação da introdução: o
fogo novo.
XXII. A ideia louca de Temístocles de
incendiar a armada dos outros gregos para que os atenienses dominassem os mares:
“concordaram que a ninguém se dissesse senão só a Aristides e ele apenas
aprovasse: não podia ser mais útil nem mais injusta foi o julgamento: tão
amante era aquele Povo da justiça! E tanta era a confiança e segurança que lhe
inspirava um homem só!”
XXIII. Nomeou-se Aristides general da guerra
juntamente com Cimón e notando que Pausânias e os demais caudilhos espartanos
eram orgulhosos e insuportáveis aos aliados, tratando-os eles com brandura e
humanidade e fazendo com que Cimón se lhes mostrasse tão bem afável e popular
no comando, não perceberam os lacedemônios que ia a arrebatar-lhes a
superioridade e o império, não a força de armas, de cavalos ou de naves, senão
com a benevolência e a doçura, pois por serem os atenienses bemquistos pelos
demais gregos pela justiça de Aristides e pela bondade de Cimón os faziam
desejar mais seu comando à cobiça e os maus modos de Pausânias “que tratava mal
os caudilhos aliados, açoitando soldados, etc.”
XXIV. “Ainda no tempo em que os lacedemônios tinham
o mando, pagavam os gregos certo tributo para a guerra; mas querendo então que
a exação se fizesse por cidades com igualdade, pediram aos atenienses que
Aristides fosse o encarregado de examinar a extensão do território e as rendas
de cada um e determinasse o que, segundo sua dignidade e possibilidade,
correspondia pagar. Dono, pois, de tão considerável autoridade e tendo de certa
maneira ele só em suas mãos os interesses da Grécia, se pobre saiu a exercer
este cargo, voltou mais pobre ainda, tendo feito a determinação das riquezas,
não só com pureza e justiça mas com a satisfação e gosto de todos. Portanto
assim como os antigos celebravam a vida do reinado de Saturno, da mesma maneira
os gregos, tinham em memória e louvor o repartimento de Aristides e mais quando
ao cabo de pouco tempo, se lhes duplicou e triplicou o tributo; porque o que
lhes impôs Aristides só ascendia à soma de 460 talentos e a ela somou Péricles
próximo de 1/3; pois diz Tucídides que no princípio da guerra do Peloponeso
recebiam os atenienses dos aliados, 600 talentos. “Posteriormente este valor
chega a 1.300 talentos com espetáculos, templos e distribuição de
dinheiro.” A resposta de Aristides a
Temístocles que disse que “o dote maior do general era previr e antever os
desígnios do inimigo”: Bem é necessário isto, Ó Temístocles, porém o mais
essencial e o mais louvável no que manda é por leis às mãos.”
XXV. “Sujeitou Aristides
com juramento aos demais gregos e ele mesmo jurou pelos atenienses, apagando
ferros candentes no mar em seguida às imprecações mas ao fim obrigando o estado
dos negócios, segundo parece, a mandar com maior rigor, propôs aos atenienses
que o acusassem de perjúrio e consultassem nas coisas públicas à utilidade. E
Teofrasto falando em geral, disse que este homem, que como particular e para
com seus concidadãos era estreitissimamente justo, nos negócios públicos se
acomodou muitas vezes a situação da pátria que dele precisou de mais de uma
injustiça, porque tratando-se a proposta dos de Samos de trazer para Atenas as
riquezas de Delos, contra o estipulado nos tratados, se diz ter expressado
Aristides que aquilo não era justo porém convinha. Mas por fim, com ter
alcançado que Atenas imperasse sobre tantos povos, não por isto deixou de ser
pobre e de honrar-se tanto com a glória de sua pobreza como com a de seus
troféus; e a prova é esta: Calias o assistente, era parente seu; acusavam-lhe
seus inimigos de causa capital e depois que falaram o que era próprio sobre os
objetos da acusação, saindo fora dela, dirigiram a palavra aos juízes para
tratar de Aristides dizendo-lhes: ‘Já conheceis a este filho de Lisímaco e quão
grande opinião goza entre os gregos; pois como pensais que acontecerá em seu
caso, quando vês que com aquela túnica se apresenta no tribunal? Por que não é
indispensável que o que em público tem que tiritar de frio em sua casa esteja
miserável e com falta das coisas mais necessárias? Pois Calias o mais rico dos
atenienses sendo seu primo não faz caso de um homem como este, abandonando-lhe
na miséria, com mulher e filhos, apesar de não ter deixado de valer-se dele e
mais de uma vez ter desfrutado de sua influência.’ Viu Calias que esta fala tinha causado grande
impacto sobre os juízes e os haviam indisposto contra ele, pelo que pediu que
se chamasse a Aristides, para que testificasse diante dos juízes que, tendo-lhe
oferecido dinheiro repetidas vezes e rogando-lhe que aceitasse nunca havia
condescendido, respondendo que mais ufano devia estar ele com sua pobreza que
Calias com todos seus bens; porque cada diz estava vendo a muitos usar, uns
bem, outros mal das riquezas, quando não era fácil encontrar quem levasse a
pobreza com ânimo alegre; e que da pobreza se envergonhavam os que não estavam
bem em ser pobres. Entendeu Aristides que Calias dizia bem e não saiu dali
nenhum que não quisesse mais ser pobre como Aristides que rico como Calias. Assim
nos deixou escrito Esquines, discípulo de Sócrates. Platão tendo por dignos e
grandes muitos atenienses, disse que só a este era digno de memória porque
Temístocles, Cimón e Péricles encheram a cidade de pórticos, riquezas e muitas
superfluidades e só Aristides a inclinou com seu governo à virtude. Ainda com o
mesmo Temístocles deu grandes mostras de sua equidade e moderação ... não se
alegrando com a desgraça do inimigo assim como antes não havia invejado a
felicidade.”
Em outros dois capítulos deste
livro, ‘Agni, liturgia’ e ‘Roma e Índia (2)’
vemos também citações de textos da história de Agni: a busca de Agni,
sua procura, refere-se a seu sumiço, o desligamento/apagamento do fogo do
sacrifício e que para ser acendido/ligado novamente precisa ser encontrado.
Fizemos então um paralelo com a liturgia, a busca e reencontro, do fogo
sacrifical, seria a busca litúrgica na/da união do ser humano com Deus. Este
re-acendimento, re-ligamento (re-ligião), é aquele do indivíduo diante, com,
no, fogo do altar, produtor então de um novo ser, de uma nova vida. Àproximação
de Agni do latim agnus, cordeiro, explica-se neste quadro uma vez que sabemos
que a oferta litúrgica diária é a oferta do cordeiro.
A santificação da Pobreza pode-se
entender na medida que o fogo interior existe dentro de todos os seres e sua
atividade é universal neste sentido. Vejamos para finalizar o hino primeiro do
Rig veda dedicado a Agni com comentário do tradutor para entendermos esta
atividade interior do fogo:
1. Venero a energia vital
(Agni) que está colocada dentro de mim e a qual me fornece a luz da
inteligência e a combustível necessário para todos os meus esforços. Sempre que
convocado expõe tudo de bom que guarda dentro de si-mesmo.
2. Este Agni foi elogiado
pelos primeiros rishis, do mesmo modo que está sendo pelos novos atualmente.
Ele é aquele que dirige e estimula nossos sentidos aqui neste corpo. (nota do
tradutor: a palavra rishi foi usada aqui no sentido de transmissores de
conhecimento. Pensadores que transmitem seus conhecimentos e experiência para o
benefício dos outros são todos rishis. Dentro do corpo físico as faculdades dos
sentidos que transmitem todas as percepções para a mente (aferente e eferente)
também são chamadas rishis).
3. Qual comida alimentando o
corpo, nosso zelo (energia) para o trabalho também torna-se rapidamente plena
por Agni no dia-a-dia. Isto é feito bem regularmente e com máximo vigor.
4. Ó Agni! Qualquer
sacrifício (de energia) que fazemos, é você que o permeia em todo lado no céu
(mente) e além. É esta energia que também entra em nossos sentidos. (nota: a
energia é imperecível; a energia nos sentidos é a mesma do cosmos; o céu é
figura da mente.)
5. Para o que o invoca, este
Agni cria inteligência, dispersa a escuridão causada por imagens flutuantes na
mente e revela a realidade. Direciona para dentro a luz, para as faculdades dos
sentidos. (Gosh)
Bibliografia:
Mahabharata, tradução de Kisari Mohan
Ganguli, MMPublishers, New Delhi, 2004, Índia. 1.a edição 1896.
Plutarco, Vida de Aristides in
Vidas Paralelas (trad. Antonio Sanz Romanillos, Jose Ortiz y Sanz e Jose M.
Riaño), Aguillar, Madrid, 1973