terça-feira, 24 de maio de 2016

499 Buddha Rei Sivi



 







 
  (Acima o Rei Sivi sem os olhos e abaixo a distribuição de ofertas com versão à cores ; pinturas de Ajanta )

499
Se houver algum ...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre o presente, oferta, incomparável. A circunstância foi amplamente contada no Jataka 424. Mas aqui, o rei, no sétimo dia, ofertou todos os requisitos e pediu agradecimentos ; mas o Mestre saiu sem agradecê-lo. Após o lanche o rei foi ao mosteiro e disse, “Por quê não agradeceste, Senhor ?” O Mestre disse, “O povo estava impuro, sua majestade.” Ele continuou declarando a Lei, recitando a estrofe que começa “Para o céu o avarento não irá ( Dhammapada, 177 )”. O rei, agradecido de coração, fez reverência ao Tathagata presenteando-o com um manto da país Sivi ( Sibi ) válido mil peças de dinheiro ; depois ele voltou para a cidade.

Dia seguinte falavam disto no Salão da Verdade : “Senhores, o rei de Kosala deu o presente incomparável : e não contente com isto, quando o Dasabala discursou para ele, o rei deu-lhe um roupa de Sivi válida de mil peças ! Como o rei é insaciável em ofertar, com certeza !” O Mestre entrou e questionou o quê conversavam lá sentados : eles lhe disseram. Ele falou, “Irmãos, coisas materiais, exteriores, são aceitáveis, verdadeiras : mas sábios antigos, que deram presentes até toda a Índia soar novamente com a fama deles, cada dia distribuindo aproximadamente seiscentas mil peças de dinheiro, estavam insatisfeitos com presentes exteriores ; e lembrando o provérbio, ‘Dê o quê te é caro e o amor surgirá’, eles, mesmo aos olhos arrancaram e deram àqueles que pediram.” Com estas palavras, ele contou uma história do passado.

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Certa vez, quando o poderoso Rei Sivi reinava na cidade de Aritthapura no reino de Sivi, o Grande Ser nasceu como seu filho. Eles o chamaram de Príncipe Sivi. Quando ele cresceu, ele foi para Takkasila ( Taxila ) e estudou lá; voltando ele mostrou seu conhecimento a seu pai o rei e por ele foi feito vice-rei. Com a morte de seu pai tornou rei ele mesmo e, abandonando os caminhos do mal, ele guardou as Dez Virtudes Reais e legislou com retidão. Ele fez com que se construísse seis salões de ofertas, nos quatro portões, no meio da cidade, e na sua própria porta. Ele foi munificente em distribuir cada dia seiscentas mil peças de dinheiro. No oitavo, décimo quarto e décimo quinto dias ele nunca faltava de visitar os salões de ofertas para ver a distribuição ser feita.

Uma vez no dia da lua cheia, o parassol de estado foi levantado cedo de manhã e ele sentou no trono real pensando sobre os presentes que dera. Pensou ele consigo mesmo, “De todas as coisas exteriores não há nenhuma que não dei ; mas este tipo de oferta não me contenta. Quero doar algo que seja parte de mim mesmo. Bem, neste dia indo para o salão de ofertas, faço o voto de que se alguém me pedir algo não fora de mim mesmo mas nomear algo que seja parte de mim mesmo, - mesmo se mencionar meu coração, cortarei meu peito com uma lança e como se estivesse carregando um lírio d’água, caule e tudo, de um lago tranquilo, arrancarei meu coração pingando de sangue e darei a ele : se mencionar a carne do meu corpo, cortarei fora a carne do corpo e a darei, como se estivesse gravando com um instrumento de gravação : que se mencione meu sangue, darei meu sangue pingando em sua boca ou enchendo uma tigela : ou se alguém disser, não consigo que façam meu serviço doméstico, venha e me faça a parte do empregado em casa, então largarei minha veste real e ficando fora, proclamarei a mim mesmo empregado e farei trabalho de empregado : se alguém pedir meus olhos, arrancarei para fora meus olhos e os darei, como alguém que arranca o âmago de uma palmeira.” Assim ele pensou consigo mesmo :

Se houver algum presente humano que nunca ofertei,
Seja meus olhos, darei agora, inteiramente firme e sem medo.

Então ele se banhou com dezesseis cântaros de água perfumada e adornou-se em toda magnificência e após refeição de comida fina ele montou no elefante ricamente ajaezado e foi para o salão de oferta.
Sakra percebendo sua resolução pensou, “Rei Sivi está determinado a doar seus olhos a qualquer um que vier os pedir. Será ele capaz de fazer isto ou não ?” Determinou testá-lo ; e, na forma de um brahmin velho e cego, postou-se em um lugar alto e quando o rei veio para seu salão de ofertas ele esticou sua mão e ficou gritando, “Vida longa ao rei !” Então o rei dirigiu o elefante até ele e disse, “O quê disseste brahmin ?” Sakra disse a ele, “Ó grande rei ! Em todo o mundo habitado não há nenhum lugar onde a fama de seu coração munificente não tenha soado. Sou cego e você tem dois olhos.” Então ele repetiu a primeira estrofe, pedindo por um olho :

Para pedir um olho o velho vem de longe pois não tenho nenhum :
Ó, me dê um dos teus, prego, então teremos cada um um.

Quando o Grande Ser escutou isto, ele pensou, “Pois isto é justo o quê estava pensando em meu palácio antes de vir ! Que chance boa ! O desejo de meu coração será preenchido ho-je ; darei um presente que ninguém nunca deu.” E ele recitou a segunda estrofe :

( As estrofes seguintes devem ser lidas duas a duas, como facilmente pode ser visto. )

Sujampati entre os deuses, o mesmo
Aqui entre as pessoas chamado Maghava de nome,
Ele me ensinou a seguir nesta direção meu caminho,
Pedir e por um olho clamar, insistir.

O maior de todos os presentes que peço.
Me dê um olho ! Ó, não me diga não !
Dê-me um olho, o presente entre os presentes,
Tão difícil para as pessoas desfazer-se, como dizem !

O desejo que te traz aqui, o desejo que surgiu
Dentro de ti, seja este desejo realizado. Aqui, brahmin, tome meus olhos.

Um olho tu me pedes : veja, te dou dois !
Vá com boa visão, à vista de todo o Povo ;
Seja teu desejo cumprido e agora realizado.

Tal disse o rei. Mas pensando que não era adequado que ele arrancasse os olhos e os concedesse lá então, ele trouxe o brahmin para dentro com ele e sentando no trono real, mandou chamar um cirurgião de nome Sivaka. “Retire meus olhos,” ele disse então.
Bem, toda a cidade soava com a novidade de que o rei desejava arrancar os olhos e dá-los a um brahmin. Então o comandante-em-chefe e todos os outros oficiais, e aqueles amados pelo rei, reuniram-se da cidade e do harém e recitaram três estrofes, em que eles tentavam afastar o rei desta intenção :

Ó, não dê teus olhos, meu senhor ; não nos abandone, Ó rei !
Dê dinheiro, pérolas e coral e coisas muitas preciosas :

Dê corcéis ajaezados, rodem as carruagens para fora,
Ó rei, dirija os elefantes todos elegantes com roupas douradas :

Dê isto, Ó rei ! Para que possamos te preservar são e salvo,
Teu Povo fiel, com nossos carros e carruagens alinhados ao redor.

Com isto o rei recitou três estrofes :

A alma que, tendo jurado doar, é depois encontrada sem fé,
Coloca seu próprio pescoço dentro de uma armadilha escondida embaixo no chão.

A alma que, tendo jurado doar, é depois encontrada sem fé,
É mais pecadora que o pecado e ele à casa de Yama está atado.

Sem ser pedido nada dê ; nem dê a coisa não pedida,
Isto portanto que o brahmin pede, dou imediatamente.

Então os cortesãos perguntaram, “O quê desejas doando os olhos ?” repetiram a estrofe :

Vida, beleza, alegria ou força – qual é o prêmio,
Ó rei, qual motivo teu gesto produz ?
Por quê deveria o rei da terra Sivi, supremo
Pelo bem da vida futura, doar seus olhos ?

O rei respondeu-lhes em uma estrofe :

Em doar assim, glória não é meu objetivo,
Nem filhos, nem riqueza, ou reinos controlar :
Este é o bom antigo caminho das pessoas santas ;
Minha alma ama fazer ofertas.

Às palavras do Grande Ser os cortesãos nada responderam ; então o Grande Ser dirigiu-se a Sivaka o cirurgião em uma estrofe :

Um amigo e camarada, Sivaka, tu és :
Faço como te peço – tens habilidade suficiente -
Retire meus olhos, pois este é meu desejo,
E nas mãos do mendicante entregue-os agora.

Mas Sivaka disse, “Pense, meu senhor, dar os olhos não é coisa à toa.” - “Sivaka, já pensei ; não demore, nem fale muito na minha presença.” Então ele pensou, “Não é apropriado que um cirurgião habilidoso como eu deva cortar os olhos do rei com o bisturi,” então ele pesou algumas substâncias, esfregou o pó numa lótus azul e escovou com isto o olho direito : o olho rolou e houve grande dor. “Reflita, meu rei, posso acertar tudo.” - “Continue, meu amigo, não retarde, por favor.” Novamente ele esfregou o pó e escovou sobre o olho : o olho saltou da órbita, a dor foi pior que antes. “Reflita, meu rei, ainda posso restaurá-lo.” - “Seja rápido com o serviço !” Uma terceira vez ele esfregou o pó ácido aplicando-o : pelo poder da droga o olho rolou, saindo fora da órbita pendurando-se na extremidade do tendão. “Reflita, meu rei, ainda posso restaurá-lo novamente.” -”Seja rápido.” A dor foi extrema, sangue pingava, as roupas do rei estava manchadas de sangue. As mulheres do rei e os cortesãos caíram aos pés dele, gritando, “Meu senhor, não sacrifique teus olhos !” alto chorando e lamentando. O rei resistiu à dor e disse, “Meu amigo, seja rápido.” “Muito bem, meu senhor,” disse o médico ; e com sua mão esquerda segurando o globo ocular pegou uma faca com a direita e cortando o tendão colocou o olho na mão do Grande Ser. Ele, olhando com seu olho esquerdo para o direito e aguentando a dor, disse, “Brahmin, venha aqui.” Quando o brahmin aproximou-se, ele continuou - “O olho da onisciência é mais caro que este olho cem vezes, não, mil vezes : aí está a razão para minha ação,” e o deu para o brahmin, que o levantou e colocou em sua própria órbita ocular. Lá permaneceu fixo através de seu poder como uma lótus azul aberta. Quando o Grande Ser com seu olho esquerdo viu aquele olho na cabeça do outro, ele gritou - “Ah, como é bom este meu presente de um olho !” e todo arrepiado com a alegria que surgiu dentro dele, deu também o outro olho. Sakra colocou este também no lugar de seu próprio olho e partiu do palácio do rei, depois da cidade, com o olhar da multidão sobre ele e foi para o mundo dos deuses.

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O Mestre, explicando isto, repetiu uma estrofe e meia :

Assim Sivi incitou Sivaka e cumpriu o que tinha em mente.
Ele tirou os olhos do rei fora e os entregou para o brahmin :
E agora o brahmin tinha os olhos e o rei estava cego.

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Em pouco tempo os olhos do rei começaram a crescer ; enquanto cresciam e antes de alcançarem o topo dos orifícios, uma massa de carne surgiu dentro como uma bola de lã, preenchendo a cavidade ; eles eram como olhos de boneca mas a dor cessou. O Grande Ser ficou no palácio alguns dias. Então ele pensou, “O quê um cego tem a ver com legislar ? Transmitirei o reino para os cortesãos, irei para o parque e me tornarei asceta vivendo como homem santo.” Ele reuniu seus cortesãos e contou a eles sua intenção. “Uma pessoa,” ele disse, “deve ficar comigo, para lavar meu rosto e assim por diante fazendo o que é devido e vocês devem amarrar uma corda para me guiar para os lugares de descanso.” Chamando então seu auriga, ordenou-o que preparasse a carruagem. Mas os cortesãos não permitiriam que fosse de carruagem ; eles o levaram para fora numa liteira dourada e o colocaram às margens do lago, e então, guardando-o ao redor, retornaram. O rei sentou na liteira pensando sobre seu presente.

Naquele momento o trono de Sakra ficou quente ; e ele ponderando percebeu a razão. “Oferecerei um dom ao rei,” pensou ele, “e farei seu olho ficar são novamente.” Então para aquele lugar ele veio ; e não distante do Grande Ser, ele andava para cima e para baixo, para cima e para baixo.

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Para explicar isto o Mestre recitou estas estrofes :

Poucos dias passaram ; os olhos começaram a se curar e aparecer :
O rei da terra Sivi então chama seu auriga.

Prepare a carruagem, auriga ; faça-me saber :
Vou para o parque, lago, floresta com lírios que crescem’.

Ele o sentou numa liteira às margens do lago e aí
Sujampati , o rei dos deuses, grande Sakra, apareceu.

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Quem está aí ?” gritou o Grande Ser, quando escutou o som do passos. Sakra repetiu uma estrofe :

Sakra, o rei dos deuses, eu sou ; vim visitar você :
Escolha um dom, Ó sábio real ! O quê quer que teu desejo possa nomear.

O rei respondeu com outra estrofe :

Riqueza, força, e tesouros sem fim, estes deixei para trás :
Ó Sakra, morte e nada mais desejo : pois sou cego.

Então Sakra disse, “Você pede a morte, Rei Sivi, porque desejas morrer ou porque estás cego ?” - “Porque estou cego, meu senhor.” - “O presente não é tudo em si mesmo, sua majestade, ele é dado com um olho no futuro. Contudo há um motivo relacionado a este mundo visível. Bem, te pediram um olho e deste dois ; faça um Ato de Verdade sobre isto.” Então ele começou uma estrofe :

Ó guerreiro, senhor dos bípedes, declare o quê é a verdade :
Se declarares a verdade, teu olho será restaurado para ti.

Escutando isto, o Grande Ser respondeu, “Se você deseja me dar um olho, Sakra, não tente outros meios mas deixe meu olho ser restaurado como consequência da minha oferta.” Sakra disse, “Apesar de me chamarem de Sakra, rei dos deuses, sua majestade, ainda assim não posso dar um olho para ninguém ; mas pelo fruto da oferta por ti feita, e por nada mais, teu olho pode ser restaurado para ti.” Então o outro repetiu uma estrofe, mantendo que sua oferta foi bem oferecida :

Qualquer espécie, qualquer tipo de requerente que se aproxime,
Quem quer que venha me pedir algo, este ao meu coração é caro :
Se estas minhas palavras solenes são verdadeiras, que meu olho apareça agora !

Enquanto ele pronunciava as palavras, um dos seus olhos cresceu na órbita. Então ele repetiu um par de estrofes para restaurar o outro :

Um brahmin veio me visitar, um dos meus olhos rogava :
Para aquele brahmin mendicante dei o par deles.

Uma grande alegria mais satisfação aquela ação propiciou.
Se estas palavras solenes são verdadeiras, restaure-se o outro olho !

Imediatamente apareceu seu segundo olho. Mas estes olhos dele não eram nem naturais nem divinos. Um olho dado por Sakra qual brahmin, não pode ser natural, sabemos ; por outro lado, um olho divino não pode ser produzido em nada que esteja machucado. Mas estes olhos são chamados os olhos da Verdade Absoluta e Perfeita. Naquele tempo quando veio à existência, todo o cortejo real foi reunido pelo poder de Sakra ; e Sakra de pé no meio do ajuntamento, pronunciou louvor em um par de estrofes :

Ó filho da terra Rei de Sivi, estes hinos santos teus
Te fez ganhar como fruto da graça este par de olhos

Através da rocha e parede, acima do monte e no vale, qualquer barreira que seja.
Cem léguas para todo lado estes teus olhos veem.
Tendo pronunciado estas estrofes pousado no ar diante da multidão, com um último conselho para o Grande Ser de que ele devia ser vigilante, Sakra retornou para o mundo dos deuses. E o Grande Ser, cercado por seu cortejo, voltou em grande pompa para a cidade e entrou no palácio chamado Candaka, Olho do Pavão. As novidades de que ele conseguiu seus olhos novamente espalhou-se por todo o Reino de Sivi. Todas as pessoas reuniram-se para vê-lo com presentes em suas mãos. “Agora que toda esta multidão está reunida,” pensou o Grande Ser, “devo louvar a oferta que fiz.” Fez com que se colocasse um grande pavilhão no portão do palácio, onde se sentou no trono real, com o parassol branco aberto sobre ele. Então o tambor foi enviado pela cidade a bater, para coletar de todas as guildas de comércio. Então ele disse, “Ó Povo de Sivi ! Agora que vocês viram estes divinos olhos, nunca comam comida sem ofertar um pouco !” e ele repetiu quatro estrofes, declarando a Lei :

Quem, questionado a doar, responderia não,
Mesmo sendo seu dom melhor e mais caro ?
Povo de Sivi reunido em concurso !
Venham aqui, vejam o dom de Deus, meus olhos !

Através da rocha e parede, acima do monte e no vale, qualquer barreira que seja.
Cem léguas para todo lado estes meus olhos veem.
Auto sacrifício em todas as pessoas mortais viventes,
De todas as coisas é a mais preciosa :
Sacrifiquei um olho mortal ; e doando
Recebi um olho divino.

Veja, Povo ! Veja, doe antes de comer, deixeis outros ter uma parte.
Isto feito com tua melhor vontade e cuidado,
Sem culpa para o céu afluireis.

Nestes quatro versos ele declarou a Lei ; e após isto, toda quinzena, no dia santo, ele declarava a Lei com estes mesmos versos sem cessar para um grande aglomerado do Povo. Escutando isto, o Povo fazia ofertas e obras boas e foi preencher as hostes celestes.

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Quando o Mestre terminou este discurso, ele disse, “Assim Irmãos, sábios antigos doavam a quem viesse, quem não estava contente com presentes exteriores, mesmo seus próprios olhos arrancavam da cabeça.” Então ele identificou o Jataka : “Naquele tempo ananda era Sivaka o médico, Anurudha era Sakra, os seguidores do Buddha eram o Povo e eu mesmo era Rei Sivi.”