quinta-feira, 30 de abril de 2009

282 A não-violência

       
                             Imagem de stupa em Taxila, Takkasilla, no Paquistão.

282
“É melhor que saibam...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana, sobre um cortesão do rei de Kosala. Este homem era muito útil ao rei, nos foi dito, e fazia tudo que devia ser feito. Porque era muito útil, o rei muito o honrava. Os outros ficaram com ciúmes e tramaram difamá-lo e o caluniaram. O rei acreditou no que falaram e sem inquirir sua culpa o amarrou em cadeias, grilhões, apesar de virtuoso e inocente, e o atirou na prisão. Lá ele permaneceu totalmente isolado ; mas devido a sua virtude, poderes, ele tinha paz na mente e com a mente em paz ele entendeu as condições da existência e atingiu a fruição do Primeiro Caminho. Logo logo o rei descobriu que ele era des-culpado, sem culpa, e soltando seus grilhões o honrou mais que antes. O homem desejou prestar seu respeito ao Mestre ; e tomando flores e perfumes, foi ao mosteiro e fez reverência ao Buddha e sentou respeitosamente de um lado. O Mestre falava agradavelmente com ele. “Nós ouvimos sobre o infortúnio que aconteceu contigo,” disse ele. “Sim, senhor, mas transformei minha má sorte em boa ; e enquanto sentado na prisão, produzi a fruição do Primeiro Caminho.” “Bom amigo,” disse o Mestre, “não foste o único que transformaste mal em bem ; pois sábios em tempos antigos transformaram mal em bem como tu fizeste.” E ele contou um conto do mundo antigo.
________________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como filho da Rainha. Ele cresceu e foi educado em Takkasilā ( Taxila ) ; e com a morte do pai tornou-se rei e manteve as dez regras reais : fazia ofertas, praticava a virtude e guardava dias santos.

Bem, um dos seus cortesãos fez intriga no meio das esposas do rei. Os empregados notaram e contaram ao rei que tal e tal estava fazendo intriga. O rei descobriu a verdade sobre o assunto e mandou chamá-lo. “Nunca mais mostre-se diante de mim novamente,” disse ele, e o baniu. O homem partiu para a corte do rei vizinho e então tudo aconteceu como descrito acima no Jataka 51. Aqui também este rei o testou três vezes e acreditando na palavra do cortesão foi com um grande exército para diante de Benares com intenção de tomá-la. Quando foi revelado aos chefes militares do rei de Benares, quinhentos em número, disseram ao rei,
“Tal e tal rei vem para cá, devastando o campo, com intenção de tomar Benares – vamos e o capturemos !”

“Não quero nenhum reino que deva ser mantido pela violência,” disse o rei. “Não façam nada.”

O rei saqueador cercou a cidade. Novamente os cortesãos aproximaram-se do rei e disseram,
“Meu senhor, esteja atento – vamos capturá-lo !”

“Nada pode ser feito,” disse o rei. “Abram os portões da cidade.” Então, cercado por sua corte, sentou-se em pompas debaixo de um grande pavilhão.

O saqueador entrou na cidade derrubando os homens nos quatro portões e subindo ao terraço. Lá ele aprisionou o rei e todo sua corte, em grilhões amarrados e atirados na prisão. O rei, enquanto estava sentado na prisão, teve pena do saqueador e um ênstase de piedade o agitou. Devido a esta piedade, o outro rei caiu em grande tormento corporal ; ardia todo em febre como se em uma chama dupla ; e atingido por grande sofrimento, ele perguntou o que era aquilo.

Responderam, “Jogaste um rei reto na prisão, daí porque estais assim.”

Ele foi e suplicou perdão ao Bodhisatva e devolveu seu reino, dizendo, “Que seu reino seja seu mesmo. De agora em diante deixe que eu cuido de seus inimigos.” Puniu o mau conselheiro e retornou à sua cidade.

O Bodhisatva sentou em pompas sobre seu alto estrado, em roupas de festa, com sua corte ao redor ; e dirigindo-se a eles repetiu as primeiras duas estrofes :-

É melhor que saibam, a melhor parte
Será sempre a melhor coisa a ser feita.
Tratando as pessoas com gentileza no coração,
Salvei cem soldados a morte entregues.

Daí peço a vós, que a todo o mundo mostres
A graça da gentileza e da amizade querida ;
E assim não ireis sozinhos ao céu.
Ó povo de Kasi, escutes !

Deste jeito o grande Ser louvava a virtude de modo a tornar piedosa a grande multidão ; e deixando o parassol branco na grande cidade de Benares, doze léguas em extensão, retirou-se para o Himalaia e abraçou a vida religiosa.

O Mestre, em sua sabedoria perfeita, repetiu a terceira estrofe :

Estas são as palavras que eu, rei Kamsa, digo,
Eu grande legislador da cidade de Benares
Larguei meu arco, larguei meu carcás,
E realizei meu auto-conhecimento.
________________

Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo Ānanda era o rei saqueador mas o rei de Benares era eu mesmo.”

Jataka 282 = 51
“Não quero nenhum reino que deva ser mantido pela violência.”







quarta-feira, 29 de abril de 2009

281 A manga do âmago


281
“Lá cresce um'árvore ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre o Ancião Sariputra oferecer suco de manga à Irmã Bimbadevi. Quando o Supremo Buddha inaugurou o reino universal da religião, enquanto vivia num quarto em Vesali, a esposa de Gautama com quinhentas do clã Sakiya pediram iniciação e receberam iniciação e ordens plenas. Após isto as quinhentas Irmãs tornaram-se santas escutando a pregação de Nandaka. Contudo, quando o Mestre vivia próximo à Savatthi, a mãe de Rahula pensou consigo mesma, “Meu marido ao abraçar a vida religiosa tornou-se onisciente ; meu filho também tornou-se um religioso e vive com ele. Que farei eu no meio da casa ? Vou entrar nesta vida, ir para Savatthi e cuidarei do Supremo Buddha e do meu filho continuamente.” Ela então se dirigiu a um convento de freiras, entrou na ordem, foi e viveu numa cela em Savatthi, em companhia de seus professores e preceptores, contemplando o Mestre e seu amado filho. O noviço Rahula vinha e via sua mãe.

Um dia, a Irmã estava aflita com flatulência ; e quando seu filho veio vê-la, ela não pode levantar-se para vê-lo, mas outros vieram e disseram a ele que ela estava doente. Ele então entrou e perguntou à sua mãe, “O quê você gostaria de tomar ?” “Filho,” disse ela, “em casa esta dor costuma ser curada com suco de manga com açúcar ; mas agora vivemos de ofertas e onde o conseguiremos ?” Disse o noviço, “Conseguirei para você,” e partiu. Bem, o preceptor de sua reverência Rahula era o Capitão da Fé ( Sariputra ), seu professor era o grande Moggaallana, seu tio era o Ancião Ānanda e seu pai era o Supremo Buddha : ele tinha então grande fortuna, sorte. Contudo ele não procurou nenhum outro além de seu preceptor ; e após saudá-lo, permaneceu diante dele com olhar triste. “Por quê pareces triste, Rahula ?” perguntou o Ancião. “Senhor,” ele respondeu, “minha mãe está doente, com gazes.” “O quê ela deve tomar ?” “Suco de manga com açúcar faz bem a ela.” “Está certo, vou conseguir um pouco ; não se preocupe com isto.” Então dia seguinte ele levou o rapaz à Savatthi e sentando-o numa sala de espera, subiu para o palácio. O rei de Kosala pediu ao Ancião que se sentasse. Na mesma hora o jardineiro trouxe uma cesta de mangas doces maduras para comer. O rei tirou a casca, polvilhou açúcar, esmagou ele mesmo e encheu a tigela do Ancião. O Ancião retornou à sala de espera e passou o suco para o noviço, pedindo que entregasse a mãe dele ; e assim ele o fez.

Logo que a Irmã comeu, a dor dela curou. O rei também enviou mensageiros, dizendo, “O Ancião não sentou aqui para comer o suco de manga. Vão e descubram se ele o deu para alguém.” O mensageiro foi até o ancião, inteirou-se do caso e então retornou para contar ao rei. Pensou o rei : “Se o Mestre retornasse para a vida mundana, ele seria um monarca universal ; o noviço Rahula seria seu tesouro, o Príncipe Coroado, a santa Irmã seria seu tesouro a Imperatriz e todo o universo pertenceria a eles. Devo ir e ajudá-los. Agora que vivem bem aqui do lado, não há tempo a perder.” Então a partir daquele dia ele continuamente oferecia suco de manga para a Irmã.

Tornou-se sabido entre os Irmãos como o Ancião ofereceu suco de manga para a santa Irmã. E um dia ficaram conversando no Salão da Verdade : “Amigo, escutei que Ancião Sariputra ajudou Irmã Bimbādevi com suco de manga.” O Mestre entrou e perguntou, “O que vocês conversam aí ?” Quando eles disseram - “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que a mãe de Rahula foi ajudada com suco de manga pelo Ancião ; o mesmo aconteceu antes;” e ele contou a eles um conto do mundo antigo.
________________________

Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin que vivia numa cidade da região de Kāsi. Quando cresceu foi educado em  Takkasilā ( Taxila ), estabeleceu-se em vida familiar e com as mortes dos pais, abraçou a vida religiosa. Após isto, permaneceu na região do Himalaia, cultivando as Faculdades e as Consecuções. Um grupo de sábios reuniu-se ao redor dele e ele se tornou professor deles.

Ao término de um longo tempo, ele desceu das montanhas para conseguir sal e temperos e no curso do seu caminhar chegou em Benares, onde fixou domicílio em um parque. E com a glória da virtude desta companhia de santos homens o palácio de Sakra sacudiu, balançou. Sakra refletiu e percebeu o quê era. Pensou ele, “Vou danificar o domicílio deles ; então sua estadia será perturbada ; ficarão muito estressados para ter mente tranquila. E assim ficarei confortável novamente.” Enquanto considerava como fazer isto, encontrou um plano. “Entrarei na câmara da rainha principal, justo na vigília da meia-noite, e pousado nos ares, direi – 'Senhora, se comeres 'manga do âmago', conceberás um filho, que se tornará monarca universal.' Ela falará ao rei e ele pedirá manga do parque : farei que todos os frutos tenham desaparecido. Dirão ao rei que não há nenhuma e então quando ele perguntar quem comeu, eles dirão 'Os ascetas'.” Assim justo à meia-noite, ele apareceu no quarto da rainha e plainando nos ares, revelou sua divindade e conversando com ela, repetiu as primeiras duas estrofes :-

Lá cresce uma árvore, com divinos frutos ;
As pessoas a chamam a 'mais do âmago' : e se uma mulher
Grávida, dela comer, logo
Dará à luz alguém com feudo da larga terra.

Senhora, és Rainha poderosa realmente ;
O Rei, seu marido, a ama e quer.
Peça-o que procure a manga que tu necessitas,
E ele a fruta 'Mais do âmago' trará aqui.

Estas estrofes Sakra recitou para a rainha ; e então dizendo a ela que se cuidasse , não se demorasse e contasse o problema ao rei ela mesma, ele a encorajou e voltou para seu próprio lugar.

Dia seguinte, a rainha jazia, como se doente estivesse, mas dava instruções a suas empregadas. O rei sentado em seu trono, debaixo do parassol branco, olhava a dança. Não vendo sua rainha, ele perguntou a uma empregada onde ela estava.
“A rainha está doente,” respondeu a garota.
Então o rei foi vê-la ; e sentando ao seu lado, bateu nas costas dela e perguntou, “Qual o problema, senhora ?”
“Nada,” disse ela, “é que tenho desejo de uma coisa.”
“Qual o seu desejo, senhora ?” ele perguntou novamente.
“Manga do âmago, meu senhor.”
“Onde existe tal coisa como manga do âmago ?”
“Não sei o quê é manga do âmago ; mas sei que morrerei se não comer uma.”
“Está certo, conseguiremos uma para você ; não se preocupe com isto.”

Deste modo o rei a consolou e saiu. Sentou no sofá real e mandou chamar os cortesãos. “Minha rainha está com um desejo grande por manga do âmago. O quê faremos ?” disse ele.

Alguém respondeu, “Manga do âmago é uma que cresce entre duas outras. Envie alguém ao seu parque e encontre uma manga que cresça entre duas outras ; colha este fruto e que ele seja dado à rainha.” Assim o rei enviou homens que fizessem isto.

Mas Sakra com seu poder fez com que todos os frutos desaparecessem, como se tivessem sido comidos. Os homens que buscavam as mangas, procuraram por todo o parque e não encontraram nenhuma manga ; e voltaram para o rei e disseram que mangas não haviam nenhuma.
“Quem comeu as mangas ?” perguntou o rei.
“Os ascetas, meu senhor.”
“Dêm pauladas nos ascetas e os expulsem para fora do parque !” ordenou. O povo escutou e obedeceu : o desejo de Sakra foi realizado. A rainha jazia, desejosa de manga.

O rei não conseguia pensar em o quê fazer. Reuniu os cortesãos e os brahmins e perguntou a eles : “Vocês sabem o que é manga do âmago ?”

Disseram os brahmins : “Meu senhor, manga do âmago é uma porção dos deuses. Cresce no Himalaia, na Gruta Dourada. Assim aprendemos com a tradição imemorial.”

“Bem, quem pode ir lá e pegá-la ?”

“Um ser humano não pode ir ; devemos enviar um papagaio jovem.”

Naqueles dias havia um excelente jovem papagaio na família do rei, tão grande quanto o cubo da roda da carruagem dos príncipes, forte, inteligente e cheio de expedientes astuciosos. Este papagaio o rei enviou e deste modo se dirigiu a ele,
“Querido papagaio, te dei um bom bocado : vives em um gaiola dourada ; comes grãos doces em um prato dourado ; tens água com açúcar para beber. Há algo que quero que faças para mim.”
“Fale, meu senhor,” disse o papagaio.
“Filho, minha rainha tem desejo de manga do âmago ; esta manga cresce no Himalaia, na Montanha Dourada ; ela é uma porção dos deuses, nenhum ser humano pode ir lá. Deves trazer o fruto de lá.”

“Muito bem, meu rei, eu irei,” disse o papagaio. Então o rei deu a ele grão doce para comer em um prato dourado e água com açúcar para beber ; e o ungiu debaixo das asas com óleo refinado cem vezes ; então o tomou com ambas as mãos e em pé em uma janela, o soltou em vôo.

O papagaio, com a incumbência, mandado, real, voou nos ares, acima dos caminhos humanos, até encontrar alguns papagaios que moravam na primeira cadeia de montanhas do Himalaia. “Onde está a manga do âmago ?” perguntou a eles ; “digam-me o lugar.”

“Não sabemos,” eles disseram, “mas os papagaios na segunda cadeia de montanhas saberão.”

O papagaio escutou e voou para a segunda cadeia. Após esta ele seguiu para a terceira, quarta, quinta e sexta. Lá também os papagaios disseram, “Não sabemos, mas aqueles que vivem na sétima cadeia saberão.” Assim ele prosseguiu para lá e perguntou onde àrvore da manga do âmago crescia.
“Em tal e tal lugar, na Montanha Dourada,” disseram.

“Venho por causa do fruto dela,” ele disse, “guiem-me até lá, e obtenham o fruto para mim.”

“Ela é parte do rei Vessavana. É impossível chegar próximo dela. Toda àrvore das raízes até em cima está cercada com sete teias de aço ; ela é guardada por milhares de milhões de duendes Kumbhanda ; se vêem alguém, ele está arruinado. O lugar é como o fogo da dissolução e o fogo do inferno. Não peça tal coisa !”

“Se não vão comigo, então descrevam o lugar para mim.” ele disse.

Deste modo disseram a ele para seguir tal e tal caminho. Ele escutou cuidadosamente as instruções deles. Ele não se mostrava de dia ; mas ao final da noite, quando os duendes vão dormir, ele se aproximou d'árvore e começou delicadamente a subir por uma de suas raízes, quando clink ! Caiu a teia de aço – os duendes acordaram – viram o papagaio e o pegaram, gritando, “Ladrão !” Depois discutiam o que seria feito com ele.

Um falou, “Vou atirá-lo dentro da minha boca e enguli-lo !”

Falou outro, “Vou esmagá-lo e amassá-lo com minhas mãos e espalhá-lo em pedaços !”

Disse um terceiro, “Vou dividi-lo em dois e cozinhá-lo em carvão em brasa e comê-lo !”

O papagaio escutava-os deliberarem. Sem qualquer medo ele se dirigiu a eles, “Pergunto, Duendes, vocês são homens de quem ?”

“Pertencemos ao rei Vessavana.”

“Bem, tens um rei como mestre e eu tenho um outro também. O rei de Benares me enviou aqui para buscar o fruto d'árvore da manga do âmago. Lá e então ofereci minha vida ao meu rei e aqui estou. Aquele que perde sua vida pelos pais ou mestre nasce de uma vez no céu. Portanto passarei de uma vez desta forma animal para o mundo dos deuses !” e ele repetiu a terceira estrofe :-

Qualquer que seja o lugar que atingem
Aqueles, que com auto-anulação heroica,
Esforçam-se com todo zelo para alcançar o objetivo de seu mestre -
A este mesmo lugar logo terei acesso.

Deste jeito ele discursava, repetindo esta estrofe. Os duendes escutaram e ficaram agraciados de coração. “Esta é uma criatura reta,” eles disseram, “não devemos matá-lo – deixe-o ir !” Assim o deixaram sair e disseram, “Dizemos, Papagaio, estais livre ! Saia incólume de nossas mãos !”

“Não me deixem voltar de mãos vazias,” disse o papagaio : “dêm-me uma fruta d'árvore !”

“Papagaio,” eles disseram, “não é de nossa alçada dar frutos desta árvore. Todos os frutos desta árvore estão marcados. Se houver um fruto danificado, perdemos nossas vidas. Se Vessavana estiver irado e nos olhar apenas uma vez, mil duendes são dissolvidos e espalhados como ervilhas tostadas saltando em uma chapa quente. Portanto não podemos te dar nenhuma. Mas te diremos um lugar onde podes conseguir algumas.”

“Não me importa quem dê,” disse o papagaio, “mas o fruto preciso conseguir. Digam-me onde posso obtê-lo.”

“Em um dos tortuosos caminhos da Montanha Dourada vive um asceta chamado Jotirasa, que guarda o fogo sagrado em uma cabana com teto de sapê, chamada Kañcana-patti ou Folha dourada, a favorita de Vessavana ; e Vessavana envia a ele constantemente quatro frutos da árvore ; vá até ele.”

O papagaio pediu licença e foi até o asceta ; ele o saudou e sentou em um dos lados. O asceta perguntou,
“De onde viestes ?” “Do rei de Benares.” “Por quê viestes ?”
“Mestre, nossa Rainha está com um grande desejo de manga do âmago e por isto eu vim. Os duendes entretanto não me deram nenhuma mas me enviaram até ti.”

“Sente-se, e terás uma,” disse o asceta. Vieram então as quatro que Vessavana costumava enviar. O asceta comeu duas delas deu uma para o papagaio comer, e quando esta já estava digerida ele pendurou a quarta numa corda e amarrou ao redor do pescoço do papagaio e o deixou partir - “Vá agora !” disse ele. O papagaio voou de volta e a deu a Rainha. Ela comeu e satisfez o desejo mas apesar de tudo não teve filho.
_________________

Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka com estas palavras : “Naquele tempo a mãe de Rahula era a Rainha, Ānanda era o papagaio, Sariputra era o asceta que deu a manga do âmago mas o asceta que vivia no parque era eu mesmo.”








terça-feira, 28 de abril de 2009

280 Sem dúvida o rei...etc.


280
“Sem dúvida o rei ... etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um que destruía potes, cestas. Em Savatthi, nos é dito, um certo cortesão convidou o Buddha e sua companhia e os fez sentar em seu parque. Enquanto ele distribuía (as coisas) entre eles, durante a refeição, disse, “Que aqueles que desejarem andar pelo parque, façam isto.” Os Irmãos andavam pelo parque. Naquele momento o jardineiro havia subido numa árvore com folhas e dizia, apanhando algumas folhas largas, “Esta servirá para flores, e esta para frutos,” fazendo com elas cestas, potes, os quais atirava aos pés d'árvore. Seu filho pequeno destruía-os assim que caíam. Os Irmãos contaram isto para o Mestre. “Irmãos,” disse o Mestre, “esta não é a primeira vez que este rapaz destrói as cestas : ele fez isto antes.” E contou a eles um conto do mundo antigo.
_______________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma certa família de Benares. Quando ele cresceu e vivia no mundo como dono de casa, aconteceu de por alguma razão ir ao parque, onde viviam numerosos macacos. O jardineiro atirava suas cestas como descrevemos e o chefe dos macacos as destruía assim que caíam. O Bodhisatva, dirigindo-se a ele, disse, “Enquanto o jardineiro joga suas cestas, o macaco pensando que ele tenta agradá-lo, as rasgam todas,” e repetiu a primeira estrofe :-

Sem dúvida o rei das bestas é inteligente
Em fazer cestas; ele nunca
Destruiria o que é feito com tanta diligência
A não ser que pense em fazer outras.

Escutando isto o Macaco repetiu a segunda estrofe :-

Nem meu pai nem minha mãe
Nem eu mesmo poderíamos fazer outras.
O que outros fazem, despedaçamos :
Este é o jeito próprio dos macacos !

E o Bodhisatva respondeu com a terceira :-

Se isto é a natureza própria dos macacos
Qual seria a imprópria, desta criatura !
Cai fora - não importa qual
Se própria ou imprópria - as duas juntas !

e com estas palavras de censura ele partiu.
__________________

Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka : “naquele tempo o macaco era o garoto que destruía as cestas ; e o sábio era eu mesmo.”

segunda-feira, 27 de abril de 2009

279 Buddha bom ladrão



279
“Como o jovem no caminho...etc.”- Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre Panduka e Lohita. Entre os Seis Heréticos, dois – Metiya e Bhummaja – viviam próximos à Rajagaha ; dois, Assaji e Punabbasu, próximos à Kitagiri, e em Jetavana próximo à Savatthi os dois outros, Panduka e Lohita. Eles questionavam as matérias dispostas na doutrina ; quem quer que fossem seus íntimos e amigos, eles encorajavam dizendo, “Não és pior que estes, irmão, em nascimento, linhagem ou caráter ; se desistes de suas opiniões, eles levarão a melhor sobre você,” e dizendo este tipo de coisa eles os preveniam de deixar suas opiniões e assim polemizavam e levantavam querela e contenda. Os Irmãos contaram isto ao Abençoado. O Abençoado reuniu a Irmandade por causa disto e fez uma exposição ; e fazendo com que fossem chamados Panduka e Lohita, dirigiu-se a eles : “É verdade, Irmãos, que vocês realmente questionam certas matérias e previnem as pessoas de desistirem de suas opiniões ?” “Sim,” eles responderam. “Então,” disse ele, “o comportamento de vocês é como aquele do Homem e da Siriema;” e contou a eles um conto do mundo antigo.
___________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu em uma certa família na cidade de Kasi. Quando cresceu, ao invés de ganhar a vida arando ou comercializando, ele reuniu quinhentos ladrões e tornou-se chefe deles, e vivia de assaltos na auto-estrada e em residências. ( Bem, os Bodhisatvas, mesmo sendo grande seres, algumas vezes tomam os bens de outros nascendo como pessoas más ; isto dizem vem de uma falha no horóscopo - [ cf. IHS dizendo ao bom ladrão na Crux : "Ainda ho-je (sexta feira mesma portanto) estarás comigo no Pardes.” ] ).
Bem, aconteceu que um fazendeiro emprestara mil dinheiros a alguém e morreu antes de recebê-lo de volta. Algum tempo depois, sua esposa, que jazia em seu leito de morte, dirigiu-se assim ao filho,
“Filho, seu pai emprestou mil dinheiros a um homem e morreu antes de pegá-lo de volta ; eu morrendo também, ele não entregará a ti. Vá, enquanto vivo, faça-o buscá-lo e devolvê-lo a você.”
Assim o filho foi e apanhou o dinheiro.

A mãe morreu ; mas amava tanto seu filho, que ela de repente reapareceu ( n. do tr. : a palavra implica uma criatura não nascida do jeito natural mas tomando forma sem necessidade de progenitores ) como uma chacal fêmea na estrada pela qual ele vinha. Naquele momento, o ladrão chefe com seu bando, descansava na estrada a espera de viajantes para saquear. E quando o filho dela apareceu na entrada da floresta, o Chacal voltava constantemente buscando pará-lo , dizendo, “Meu filho, não entre na floresta ! Há ladrões lá que te matarão e tomarão teu dinheiro !”

Mas o jovem não entendeu o quê ela dizia. “Má sorte !” disse ele, “um chacal tentando me parar no caminho !” ; e a afugentou com pedaços de pau e torrões de terra e para dentro da floresta ele foi.

E uma garça, siriema, voava em direção aos ladrões, gritando - “Aí vai um homem com mil dinheiros nas mãos ! Matem-no e pegue-no !” O jovem não sabia o quê fazia, e então pensou, “Boa sorte ! Aí está um pássaro de bom agouro ! Agora há um bom presságio para mim !” Ele o saudou respeitosamente, gritando, “Solte a voz, solte a voz, meu senhor !”

O Bodhisatva, que conhecia o significado de todos os sons, observou estes dois e pensou : “Aquele chacal lá deve ser a mãe do jovem ; de modo que ela tenta pará-lo e dizer a ele que será morto e roubado ; mas a siriema deve ser algum adversário e daí porque diz 'Mate-o e peguem o dinheiro' e o jovem não sabe o que está acontecendo e afugenta a mãe que deseja o bem dele, enquanto a garça, que deseja seu mal, ele venera, na crença que seja um simpatizante. O jovem é um tolo.”

O jovem continuou e logo logo encontrou os ladrões. O Bodhisatva o pegou e disse, “Onde você mora ?” .
“Em Benares.”
“Onde estavas ?”
“Havia mil dinheiros devidos a mim em uma certa cidade ; e lá é que eu estava.”
“Você o apanhaste ?”
“Sim, apanhei.”
“Quem te enviou ?"
"Meu pai está morto e minha mãe está doente ; ela que me enviou, porque pensa que eu não conseguiria a devolução se ela estiver morta.”
“E você sabe o quê aconteceu com sua mãe agora ?”
“Não, mestre.”
“Ela morreu após você partir ; e ela tanto te amava que ela logo se tornou um chacal e tentava te parar temendo que fosses assassinado. Ela era aquela que afugentaste. Mas a garça era um inimigo, que veio e nos disse para te matar e tirarmos teu dinheiro. És tão tolo que pensastes que tua mãe era um inimigo enquanto ela desejava teu bem e pensaste que a garça era um simpatizante quando desejava teu mal. Ela não te fez bem nenhum mas tua mãe foi muito boa contigo. Guarde teu dinheiro e cai fora !” E o deixou ir.
_________________

Quando o Mestre terminou este discurso, repetiu as seguintes estrofes :-

Como o garoto no caminho
Considerou o chacal da floresta
Como inimigo, seu caminho a interromper,
Enquanto na realidade ela tentava ajudá-lo :
Supondo a falsa garça verdadeira amiga
Mas que planejava sua ruína :

Tal este outro aqui,
Confundiu os amigos ;
Não ganha seus ouvidos
quem bem os aconselham.

Acreditam e louvam outros -
Profetizando terrores horríveis :
Como o garoto de dias antigos
Amava a garça acima no céu.

Quando o Mestre discursou neste tema, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo o chefe ladrão era eu mesmo.”







sexta-feira, 24 de abril de 2009

278 Buddha Búfalo




278
“Por quê você pacientemente...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um certo macaco impertinente. Em Savatthi, nos é dito, havia um macaco doméstico em uma certa família ; ele corria pelo estábulo do elefante, pendurava-se nas costas do virtuoso elefante, evacuava excrementos e andava para cima e para baixo. O elefante, sendo ambos, virtuoso e paciente, nada fazia. Mas um dia no lugar deste elefante, ficou um jovem e ruim. O macaco pensou que era o mesmo e subiu nas costas. O elefante o pegou com sua tromba, atirou ao chão e o esmagou em pedaços pisoteando. Isto foi comentado na reunião da Irmandade ; um dia eles todos começaram a falar sobre isto. “Irmão, escutaste sobre um macaco impertinente que confundiu um elefante bom por um ruim e subindo nas costas dele acabou perdendo sua vida por causa disto ?” Entrou o Mestre e perguntou, “Irmãos, o que conversam aí sentados ?” e quando disseram a ele, “Esta não é a primeira vez,” disse ele, “que este macaco impertinente comporta-se assim ; ele fez o mesmo antes :” e contou a eles um conto do mundo antigo.
___________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu na região do Himalaia como um Búfalo. Ele cresceu grande e forte e vagava pelos montes e montanhas, picos e cavernas, por muitas florestas tortuosas.

Certa vez, enquanto seguia, percebeu uma árvore agradável e pastava debaixo dela.

Então um macaco impertinente desceu da árvore e subindo nas costas dele, evacuou excrementos ; depois segurou um dos chifres do Búfalo e balançando para baixo pelo rabo se divertia. O Bodhisatva, sendo cheio de paciência, gentileza e misericórdia, não tomou conhecimento do mau procedimento. Isto o macaco fez repetidamente.

Mas um dia, o espírito pertencente àquela árvore, em pé em cima do tronco, perguntou a ele, falando. “Me senhor Búfalo, por que aguentas a grosseria deste mau Macaco ? Faça ele parar !” e dissertando sobre o tema, repetiu os primeiros dois versos como seguem :

Por quê pacientemente resistes toda veleidade
Que este macaco danoso e egoísta causa ?

Esmague-o, transpasse-o com suas presas !
Pare-o ou mesmo as crianças mostrarão desprezo !

O Bodhisatva, escutando isto, respondeu, “Se, espírito d'Árvore, eu não suportar o mau tratamento sem atacar o nascimento, a linhagem e os poderes dele, como meu desejo se realizará ? Mas o macaco fará o mesmo com qualquer outro, pensando ser como eu. E fazendo isto com qualquer Búfalo feroz, ele o destruirá realmente. Quando algum outro o tiver matado, serei livre da dor e da culpa de sangue.” E falando isto repetiu o terceiro verso :-

Se ele trata outros como agora me trata,
Eles o destruirão ; assim serei livre.

Poucos dias depois, o Bodhisatva foi para outro lado e outro Búfalo, uma besta selvagem, foi e ficou no lugar dele. O mau Macaco, pensando ser o mesmo, subiu nas costas dele e fez como antes. O Búfalo o sacudiu para fora no chão e acertou o seu chifre no coração do Macaco e pisoteou ele até aos pedaços com seus cascos.
______________

Quando o Mestre terminou este ensinamento, declarou as Verdades e identificou o Jataka : “Naquele tempo o búfalo ruim era aquele que hoje é o elefante ruim, o macaco era o mesmo mas o nobre e virtuoso Búfalo era eu mesmo.”







quarta-feira, 22 de abril de 2009

277 Buddha Pombo (outro)



277
“Aqui nas montanhas...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre uma tentativa de assassinato. As circunstâncias se explicam a si mesmas.
_________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva tornou-se um Pombo com um grande bando de pombos que vivia na floresta numa gruta nas montanhas. Lá havia um asceta, homem virtuoso, que construíra para si uma cabana próxima à fronteira da vila, não distante do lugar onde os pombos estavam e lá numa caverna nas montanhas ele vivia. A ele o Bodhisatva visitava de tempos em tempos e escutava dele coisas valiosas de se ouvir.

Após lá viver um longo tempo, o asceta foi embora ; e lá chegou um asceta shamam e lá vivia. O Bodhisatva, acompanhado do seu bando de pombos, visitava-o e o saudava respeitosamente ; passavam o dia pulando de cá p'ra lá no domicílio do eremita e ciscando comida na frente da caverna e retornavam para casa à tarde. Lá o asceta shamam viveu por mais de cinqüenta anos.

Um dia os aldeões deram a ele um pouco de carne de pombo que haviam cozinhado. Ele gostou do sabor e perguntou o quê era. “Pombo,” eles disseram. Pensou ele, “Aqui vem bandos de pombos para meu eremitério ; devo matar alguns deles para comer.”

Então conseguiu arroz e ghee, leite e cominho e pimenta e aprontou tudo ; em um canto do seu manto, escondeu um porrete e sentou na porta da cabana, caverna, olhando, esperando, os pombos chegarem.

O Bodhisatva veio, com seu bando e espiou que coisa má este asceta shamam planejava. “Aquele asceta mau lá sentado está com falsas intenções ! Talvez tenha se alimentado com alguns de nossa espécie ; vou desmascará-lo !”

Então pousou a sotavento, na direção do vento e sentiu o cheiro dele. “Sim,” ele disse, “o sujeito quer nos matar e nos comer ; não devemos nos aproximar dele ;” e voou embora com seu bando. Vendo que se mantinham a distância, o eremita pensou, “Falarei palavras melíflua, farei amizade e então o matarei e comerei !” e pronunciou as duas primeiras estrofes :-

Aqui nas montanhas, por cinqüenta e um anos,
Ó ave de penas ! os pássaros me visitam
Nada suspeitando, sem temores,
Em segurança doce !

Estes filhos dos ovos agora vejo
Voam suspeitosos para outra montanha.
Esqueceram a velha estima ?
Os mesmos pássaros são ainda ?

O Bodhisatva então deu uma parada e repetiu a terceira :-

Não somos tolos e te conhecemos;
Somos os mesmos e você também :
Planejas contra nossa vida,
Assim, herético, este temor sentimos.

“Eles me descobriram !” pensou o falso asceta. Atirou seu porrete no pássaro mas errou o alvo. “Sai fora !” disse ele - “Te perdi !”

“ Nos perdeste,” disse o Bodhisatva, “mas não perderás os quatro ínferos ! Se permaneceres aqui, chamarei os aldeões e os farei te pegarem como ladrão. Sai fora, rápido !” Deste jeito ele ameaçava o homem e voou para longe. O eremita não pode viver lá mais.
__________________

O Professor tendo terminado este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era o asceta ; o primeira asceta, o asceta bom, era Sariputra ; e o chefe dos Pombos era eu mesmo.”







terça-feira, 21 de abril de 2009

276 A retidão Kuru




276
“Conhecendo tua fé...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre um Irmão que matou um ganso selvagem. Dois Irmãos, grandes amigos, que vieram de Savatthi e abraçaram a vida religiosa, após tomarem as ordens altas costumavam geralmente passear juntos. Um dia eles vieram para Aciravati. Depois de um banho, permaneceram n'areia esquentando ao sol e conversando agradavelmente. Neste momento dois gansos selvagens passaram voando por cima das cabeças deles. Um dos jovens pegou uma pedra. “Vou acertar aquele ganso no olho !” disse ele. “Não consegues,” disse outro. “Consigo,” disse o primeiro, “e não apenas – posso acertar este olho ou aquele olho, qual eu queira.” “Não, não você !” respondeu outro. “Olhe então !” disse o primeiro ; e pegando uma pedra de três pontas, atirou no pássaro. O pássaro girou a cabeça escutando o seixo zoar pelo ar. Então pegando um cristal redondo, jogou de modo que atingiu olho mais próximo e saiu fora pelo outro. O ganso com um grande grito virou e virou até cair aos pés deles mesmos.

Os Irmãos que estavam lá, viram o quê aconteceu e apressaram em repreendê-los. “Que vergonha,” eles disseram, “que vocês, que abraçaram tal doutrina como a nossa, possam tirar a vida de uma criatura vivente !” Fizeram com que ele fosse levado diante do Tathagata. “É verdade o que dizem ?” perguntou o Mestre. “Você realmente tirou a vida de uma criatura viva ?” “Sim, senhor,” respondeu o Irmão. “Irmão,” disse ele, “como é que você faz tal coisa, após abraçar tão grande salvação ? Sábios antigos, antes do Buddha aparecer, apesar de viver no mundo, e a vida mundana é impura, caíram de remorso por mera ninharia ; mas tu, que abraçaste esta grande doutrina, não tem escrúpulos. Um Irmão deve se manter controlado em atos, palavras e pensamentos.” Contou uma história então.
_________________

Certa vez quando Dhanañjaya reinava na cidade de Indrapatra, no reino Kuru, o Bodhisatva nasceu como filho dele com a Rainha. Logo logo cresce e é educado em Taxila (Takkasilā ). Seu pai o fez Vicerei, e depois com a morte do pai tornou-se rei, crescendo na retidão Kuru, mantendo os dez deveres reais. A retidão Kuru significa as Cinco Virtudes ; estas o Bodhisatva observava e guardava pura ; como fazia o Bodhisatva, do mesmo modo fazia a rainha-mãe, a rainha mesma, o irmão mais novo, o vicerei, a família do capelão, brahmin, motorista, cortesão, auriga, tesoureiro, mestre dos celeiros, nobre, porteiro, cortesã, escrava – todos estes faziam o mesmo.

Rei, mãe, esposa, vicerei, capelão também,
Fiscal, auriga e tesoureiro,
E aquele que cuida dos celeiros reais,
Porteiro e cortesã, onze no total,
Observam as regras da retidão Kuru.

Todos estes então, observavam as Cinco Virtudes e as guardavam imaculadas. O rei construiu seis Casas de Caridade ( Ofertas ), - uma em cada um dos quatro portões da cidade, uma no meio mesmo da cidade e uma na sua própria porta ; diariamente distribuía 600.000 peças de dinheiro em ofertas, com o quê agitou a Índia inteira. Toda Índia foi tomada por seu amor e alegria na caridade.

Neste tempo havia na cidade de Dantapura, no reino de Kalinga, um rei chamado rei Kalinga. Nos seus domínios, chuva não caía e devido a seca havia fome na terra. O povo acreditava que falta de comida podia produzir a peste ; e havia medo da seca e medo da fome – estes três temores estavam sempre presentes diante deles. O povo vagava para lá e para cá despossuído, levando suas crianças pelas mãos. Todo o povo do reino reuniu-se e veio para Dantapura ; e lá às portas do rei fizeram protesto e gritaria.

Como o rei estava na janela, escutou o barulho e perguntou por quê o povo fazia todo aquele algazarra.

“Oh, Senhor,” foi a resposta, “três temores tomaram todo teu reino : não cai chuva, as colheitas faltam, há fome. O povo, faminto, doente e despossuído, vaga por aí com suas crianças levadas pelas mãos. Faça chover para nós, Ó rei !”

Disse o rei, “O quê costumavam monarcas anteriores fazer, se não chovesse ?”

“Monarcas anteriores, Ó rei, se não chovesse, costumavam dar ofertas, guardar dia santo, fazer votos de virtude e ficar deitado sete dias em sua câmara numa esteira de palha : então a chuva caía.”

“Muito bem,” disse o rei ; e justo assim ele fez. Mas a chuva não veio. O rei disse para sua corte,
“Como vocês me pediram, eu fiz ; mas não veio chuva. Que faço agora ?”

“Ó rei, na cidade de Indrapatra, há um elefante de estado, chamado Añjana-vasabho, o Elefante Negro. Ele pertence a Dhanañjaya, o rei Kuru. Vamos buscá-lo ; a chuva então virá.”

“Mas como faremos isto ? O rei e seu exército não são fáceis de sobrepujar.”

“Ó rei, não há necessidade alguma de brigar com ele. O rei gostar de fazer ofertas, ele ama a caridade : se fosse apenas pedido, ele cortaria mesmo a cabeça em toda sua magnificência, ou arrancaria fora seus olhos graciosos, ou desistiria de seu reino. Não haverá nem mesmo necessidade de pleitear o elefante. Ele o dará sem falta.”

“Mas quem será capaz de pedi-lo ?” disse o rei.

“Os Brahmins, grande rei !”

O rei convocou oito Brahmins de uma cidade Brahmin e com toda honra e respeito, enviou-os para pedir o elefante. Levaram dinheiro para a jornada e vestiram roupas de viagem e sem descansar, passando a noite em um lugar, viajaram rapidamente até que após uns poucos dias eles tomaram refeição na Casa de Caridade do portão da cidade. Quando já tinham satisfeito suas necessidades corporais, perguntaram, “Quando o rei vem até a Casa de Caridade ?”

A resposta foi, “Em três dias na quinzena – oitavo, décimo quarto, décimo quinto ; mas a-manhã é lua cheia, então ele virá a-manhã também.”

Assim cedo na manhã seguinte, os brahmins vieram e entraram pelo portão do leste. O Bodhisatva também, lavado e ungido, todo adornado e em cortejo raro, montado em um elefante fino ricamente ajaezado, veio em uma grande tropa até a Casa de Caridade do portão leste. Lá desmontou e deu comida a sete, oito, pessoas com suas próprias mãos. “Deste modo ofereçam,” disse ele, e montando seu elefante partiu para o portão sul. No portão leste os brahmins não tiveram nenhuma chance, devido à força da guarda real ; de modo que dirigiram-se para o sul e olhavam quando o rei chegaria.

Quando o rei alcançou um chão elevado não distante do portão, eles levantaram suas mãos e saudaram o rei como vitorioso. O rei guiou seu animal com o chicote de elefante para o lugar em que eles estavam. “Bem, Brahmins, qual o desejo de vocês ?” perguntou ele. Então os brahmins declararam as virtudes do Bodhisatva na primeira estrofe :-

Conhecendo tua fé e virtude, Senhor, viemos ;
Em troca desta besta gastamos todas as riquezas de casa.

A isto o Bodhisatva respondeu, “Brahmins, se toda a riqueza de vocês foi gasta para ganhar este elefante, não se preocupem – eu dou ele para vocês com todo o esplendor junto.” Assim confortando-os, ele repetiu estes dois versos:-

Sirvam vocês ou não como empregados,
Qualquer criatura que venham aqui até mim,
Como meus preceptores me ensinaram tempos atrás,
Todos que venham aqui serão sempre bem vindos.
Este elefante como presente para vocês eu apresento :
É uma porção real, válida para um rei !
Tomem-no, com todos os arreios, correntes douradas,
Condutor , tudo e sigam seus caminhos novamente.

Assim falou o grande Ser, montado nas costas do seu elefante ; então, desmontando, disse a eles - “Se houver um lugar nele não adornado, eu adornarei e depois dou a vocês.” Três vezes ele rodeou a criatura, virando para a direita e a examinando ; mas não encontrou nenhum lugar sem adorno.

Colocou então a tromba nas mãos dos brahmins ; o aspergiu com água perfumada de um vaso dourado fino e o entregou a eles. Os brahmins aceitaram o elefante com os pertences e sentando nas costas dele viajaram de volta para Dantapura, e o entregaram ao rei deles. Mas apesar do elefante ter vindo ainda assim não caiu chuva.

Então o rei perguntou novamente - “Qual será a razão ?”

Eles disseram, “Dhanañjaya, o Rei Kuru, observa a retidão Kuru ; portanto em seus domínios chove a cada dez ou quinze dias. Este é o poder da bondade do rei. Se neste animal há qualquer bondade, como ela deve ser pequena !” Então disse o rei, “Peguem este elefante, ajaezado como está, com todos seus pertences e devolvam ao rei. Escrevam num prato dourado a retidão Kuru que ele observa e traga ela aqui.” Com estas palavras ele despachou os brahmins e cortesãos.

Estes vieram para diante do rei e devolveram seu elefante, dizendo, “Meu senhor, mesmo quando seu elefante veio, nenhuma chuva caiu em nosso país. Dizem que observas a retidão Kuru. Nosso rei deseja também observá-la ; e ele nos envia pedindo que a escreva em um prato dourado e a leve até ele. Diga-nos esta retidão !”

“Amigos,” disse o rei, “na realidade certa vez observei esta retidão ; mas agora estou em dúvida justamente em relação a isto. Esta retidão não abençoa mais meu coração agora : portanto não a posso dá-la a vocês.”

Por quê, vocês podem perguntar, a virtude não abençoa mais o rei ? Bem, todo terceiro ano, no mês de Kattika ( outubro-novembro ) os reis costumam fazer um festival, chamado Festa de Kattika.
Enquanto guardando esta festa, os reis costumam se enfeitar em grande magnificência e ficam vestidos como deuses ; eles permanecem na presença de um duende chamado Cittaraja, o Rei das Muitas Cores e atiram para os quatro pontos do compasso, flechas trançadas em flores e pintadas em diversas cores. Este rei então, guardando a festa, estava na margem do lago, na presença de Cittaraja, e atirou flechas para os quatro quartos. Eles puderam ver para onde três das flechas foram ; mas a quarta , que foi lançada por cima d'água, esta eles não viram. Pensou o rei, “Talvez a flecha que atirei tenha caído em cima de algum peixe !” Quando esta dúvida surgiu, o pecado de tirar uma vida fez uma brecha na virtude dele ; daí porque sua virtude não o abençoa mais como antes. O rei contou isto a eles ; e adicionou, “Amigos, estou em dúvida quanto a mim mesmo, se observo ou não a retidão Kuru ; mas minha mãe a guarda muito bem. Vocês podem consegui-la com ela.”

“Mas, Ó rei,” eles disseram, “não tiveste nenhuma intenção em tirar a vida. Sem a intenção do coração não há como tirar a vida. Dê-nos a retidão Kuru que guardavas !”

“Escrevam, então,” disse ele. E os fez escrever no prato dourado : “Não matar o quê vive ; não pegar o quê não for dado ; não andar erradamente na luxúria ; não mentir ; não beber bebida forte.” Depois adicionou, “Ainda assim não me abençoa ; seria melhor aprenderdes com a rainha mãe.”

Os mensageiros saudaram o rei e visitaram a Rainha-mãe. “Senhora,” eles falaram, “dizem que guardas a retidão Kuru : passa ela p'ra gente !”

Disse a Rainha-mãe, “Meus filhos, realmente certa vez guardava esta retidão mas agora tenho minhas dúvidas. Esta retidão não me faz feliz, e portanto não posso dá-la a vocês.” Bem, nos é dito que ela tinha dois filhos, o mais velho sendo o rei e o mais jovem o vicerei. Um certo rei enviou ao Bodhisatva perfumes de sândalo fino válidos cem mil dinheiros e um colar de ouro válido de cem mil dinheiros. E ele, pensando em honrar sua mãe, mandou tudo para ela. Ela pensou : “Não me perfumo com madeira de sândalo e não uso colares. Darei os presentes para as esposas dos meus filhos.” Então um pensamento ocorreu a ela - “A esposa do meu filho mais velho é minha senhora ; ela é a rainha principal : para ela darei o colar de ouro ; mas a esposa do mais jovem é uma pobre criatura, - para ela darei os perfumes de sândalo.” Assim para uma ela deu o colar e para outra o perfume. Depois ela considerou, “Guardo a retidão Kuru ; sejam elas pobres ou não, não importa. Não é conveniente que eu faça a corte ao mais velho. Talvez não fazendo isto, tenha aberto uma brecha na minha virtude !” E ela começou a duvidar ; daí porque ela falava daquele jeito.

Os mensageiros disseram, “Quando está em suas mãos, uma coisa é dada do modo que você quiser. Se tens escrúpulos sobre coisas tão pequenas quanto estas, que outro pecado você teria ? Virtude não se quebra por uma coisa deste tipo. Dê-nos a retidão Kuru !” E dela também eles receberam e escreveram no prato dourado.

“De qualquer modo, meus filhos,” disse a rainha-Mãe, “não estou feliz com esta retidão. Mas minha nora a observa bem. Perguntem a ela. “

Assim pediram licença respeitosamente e perguntaram à nora do mesmo jeito que antes. E, como antes, ela respondeu, “Não posso, pois não a guardo mais !” - Bem, um dia quando ela estava sentada na varanda, olhando para baixo ela viu o rei fazendo procissão solene ao redor da cidade ; e atrás dele nas costas do elefante estava sentado o vicerei. Ela se apaixonou por ele e pensou, “E se eu fizesse amizade com ele e seu irmão morresse e então ele se tornaria rei e me tomaria por esposa !” Então ocorreu à sua mente - “Eu que guardo a retidão Kuru, que sou casada com um marido, olhei com amor para outro homem ! Aqui há uma brecha na minha virtude !” Remorso tomou ela. Isto contou aos mensageiros.

Eles então disseram, “Pecado não é um mero surgimento de pensamento. Se sentiste remorso por uma coisa tão pequena como esta, que transgressão poderia você cometer ? Por algo tão pequeno virtude não é quebrada ; dê-nos esta retidão !” E ela do mesmo jeito contou a eles , que escreveram no prato dourado. Mas ela falou, “Contudo, meus filhos, minha virtude não é perfeita. Mas o vicerei observa estas regras bem ; vão até ele e recebam-nas dele.”

Eles então foram até o vicerei e como antes pediram a ele a retidão Kuru. - Bem, o vicerei costumava ir e prestar suas obrigações ao rei de tarde ; e quando eles chegavam no jardim do palácio, em seu carro, se ele desejasse fazer a refeição com o rei e passar a noite lá, ele atiraria as rédeas e a chicote no jugo ; e este era o sinal para o povo partir ; e dia seguinte cedo eles voltavam e esperavam o partida do vicerei. E o auriga cuidaria do carro e viria novamente com ele cedo de manhã e esperaria na porta do rei. Mas se o vicerei partisse na mesma hora, ele deixava as rédeas e o chicote na carruagem e entrava para ver o rei. Mas quando ele estava dentro, começou a chover ; e o rei, notando isto, não o deixaria ir embora, de modo que ele tomou a refeição e dormiu lá. Mas uma grande multidão de pessoas ficou lá esperando que ele saísse, e lá ficaram a noite toda se molhando.

Dia seguinte o vicerei saiu e vendo a multidão esperando molhada, pensou - “Eu que guardo a retidão Kuru, coloquei toda esta multidão em desconforto ! Certamente há uma brecha na minha virtude !” e foi tomado de remorso. Então ele disse aos mensageiros : “Agora dúvida existe em mim se realmente guardo esta retidão ; portanto não posso dá-la a vocês;” e ele contou a eles o ocorrido.

“Mas,” eles disseram, “você não teve a intenção de castigar estar pessoas. O que não é intencionado não conta contra alguém. Se sentes remorso por algo tão pequeno, em que você transgrediria ?” Então receberam dele também o conhecimento desta retidão e escreveram no prato dourado. “Contudo,” disse ele, “esta retidão não é perfeita em mim. Mas meu capelão a guarda bem ; vão, perguntem a ele.” Então eles foram até o capelão.

Bem, o capelão um dia estava indo para diante do rei. Na estrada ele viu uma carruagem, enviada para o rei por outro rei, colorida como o sol nascente. “De quem é esta carruagem ?” ele perguntou. “É enviada para o rei,” eles disseram. Então ele pensou, “Sou um velho ; se o rei me desse esta carruagem para andar, como seria bom dirigi-la !” Quando ele chegou diante do rei e permaneceu diante após saudá-lo com prece de prosperidade, eles mostraram a carruagem ao rei. “Este é um carro muito bonito,” disse o rei ; “dê para meu preceptor.” Mas o capelão não queria aceitar ; não, apesar de insistirem várias vezes. Por quê isto ? Por quê o pensamento veio na mente dele - “Eu, que pratico a retidão Kuru, cobicei a propriedade de outra pessoa, Certamente isto é uma brecha na minha virtude !” Então ele contou este ocorrido aos mensageiros , adicionando, “Meus filhos, estou em dúvida sobre a retidão Kuru ; esta retidão não me abençoa agora ; portanto não posso ensiná-la a vocês.”
Mas os mensageiros disseram, “Com o mero surgimento da cobiça a virtude não é quebrada. Se sentes escrúpulo em matéria tão pequena, que transgressão real você faria ?” E dele também receberam a retidão e escreveram no prato dourado. “Ainda assim esta bondade não me abençoa agora,” disse ele ; “mas o fiscal real cuidadosamente a pratica. Vão e perguntem a ele.” Encontraram então o fiscal real e perguntaram a ele.

Bem, o fiscal um dia estava medindo um campo. Amarrando uma corda a uma estaca, ele deu uma extremidade para o dono do terreno segurar e segurou a outra ele mesmo. A estaca amarrada na extremidade da corda que ele segurava, atingiu um buraco em que um siri se escondia. Pensou ele, “Se coloco a estaca no buraco, o siri que se esconde será machucado : se coloco daquele lado, a propriedade do rei se perderá ; e se coloco deste lado o fazendeiro perderá. O que farei ?” Pensou novamente - “O caranguejo deve estar no buraco ; mas se estivesse mesmo, teria se mostrado ;” e então colocou a estaca na cova. O caranguejo fez um 'click !' dentro. Pensou, “A estaca deve ter atingido as costas do siri e o matou ! Observo a retidão Kuru e agora há uma brecha nela !” Contou a eles isto e adicionou, “Portanto agora tenho minhas dúvidas sobre ela e não posso dá-la a vocês.”

Disseram os mensageiros, “Não tivestes nenhum desejo em matar o caranguejo. O que é feito sem intenção não conta contra ; se tens escrúpulo sobre uma questão tão pequena, que real transgressão jamais cometerás ?” E tomaram a retidão dos lábios dele do mesmo modo e a escreveram no prato dourado. “Contudo,” disse ele, “apesar desta não me abençoar, o auriga a pratica cuidadosamente ; vão e perguntem a ele.”

Eles então pediram licença e procuraram o auriga. Bem, o auriga um dia levava o rei para o parque de carro. Lá o rei se divertiu durante o dia e à noite retornou e entrou na carruagem. Mas antes que chegassem na cidade, no momento do crepúsculo uma tempestade levantou-se. O auriga temendo que o rei pudesse se molhar, bateu nos cavalos com o chicote : os corcéis correram rapidamente para casa. Desde então, indo para o parque ou voltando dele, a partir daquele ponto eles passaram a correr. Por quê isso ? Porque eles pensaram que devia haver algum perigo naquele ponto e isso porque o auriga bateu neles com o chicote ali. E o auriga pensou, “Se o rei está seco ou molhado, não é erro meu ; mas bati com o chicote fora de hora neste corcéis bem treinados e daí passam a correr repetidamente até estarem cansados, tudo culpa minha. E eu observo a retidão Kuru ! Certamente há uma brecha nela agora !” Contou isto aos mensageiros e disse, “Por causa disto estou em dúvida sobre ela e não posso dá-la a vocês.” “Mas,” disseram eles, “você não quis cansar os cavalos e o quê é feito sem querer não conta contra. Se tens escrúpulos sobre algo tão pequeno, que real transgressão podes cometer ?” E aprenderam a retidão dele também e escreveram no prato dourado. Mas o auriga os enviou em busca de um certo homem rico, dizendo, “Mesmo que esta retidão não me abençoe mais, ele a guarda cuidadosamente.”

Então até este homem rico eles vieram e perguntaram a ele. Bem, ele um dia tinha ido a um arrozal e vendo uma cabeça de arroz arrebentando da casca, foi amarrá-la com uma mecha de arroz ; e pegando uma mão cheia dele, amarrou a cabeça em um estaca. Então ocorreu a ele - “Deste campo preciso apresentar o devido ao rei, e apanhei uma mão cheia de arroz sem dar o dízimo dela ! Eu, que observo as regras da retidão Kuru ! Certamente devo tê-las quebrado !” E este fato contou aos mensageiros, dizendo, “Agora estou em dúvida sobre esta retidão e assim não posso dá-la a vocês.”

“Mas,” eles disseram, “não tivestes nenhum pensamento em roubar ; por isto ninguém pode ser proclamado culpado de roubo. Se tens escrúpulo com algo tão pequeno quando tomarás o que pertence a outra pessoa ?” E dele também receberam a retidão e a escreveram no prato dourado. Ele adicionou, “ainda assim, apesar de não estar feliz em relação a isto, o Mestre do Celeiro Real guarda bem estas regras. Vá, perguntem a ele sobre elas.” Assim os enviou ao Mestre dos Celeiros.

Bem, este homem, enquanto estava sentado na porta do celeiro, medindo a taxa de arroz do rei, pegou um grão do monte que não estava medido e colocou embaixo para marcar. Naquele momento começou a cair chuva. O oficial contou as marcas, muitas, e então as varreu juntas e as atirou no monte que tinha sido medido. Correu então rapidamente e sentou na casa do portão. “Atirei as marcas no monte medido ou no não medido ?” ele cogitava ; e o pensamento veio a sua mente - “Se os atirei no já medido, a propriedade do rei aumentou, e os proprietários perdem ; guardo a retidão Kuru ; e agora tenho uma falha !” Contou isto aos mensageiros, adicionando que, portanto, ele tinha dúvidas sobre ela e não a podia dar a eles. Mas os mensageiros disseram, “Não pensaste em roubar e sem pensamento ninguém pode ser declarado culpado de desonestidade. Se tens escrúpulos com algo tão pequeno, quando roubarás qualquer coisa que pertence a outrem ?” E dele também receberam a retidão e a escreveram no prato dourado. “Mas,” adicionou ele, “apesar desta virtude não estar perfeita em mim, há o porteiro, que a observa bem : vão e peguem-na com ele.” Então eles saíram e perguntaram ao porteiro.

Bem, aconteceu um dia na hora de fechar o portão da cidade, dele gritar três vezes. E um certo homem pobre, que havia ido à floresta catar gravetos e folhas com sua irmã mais nova, tendo escutado o som, vir correndo com ela. Disse o porteiro - “O quê ! Não sabem vocês que o rei está na cidade ? Não sabem que o portão desta cidade fecha cedo ? É por isto que saíram para a floresta para fazer amor ?” Disse outro, “Não , mestre, esta não é minha esposa mas minha irmã.” Pensou então o porteiro, “Como foi inconveniente dirigir-se a uma irmã como se fosse esposa ! Guardo as regras dos Kurus ; certamente devo tê-las quebrado agora !” Contou isto aos mensageiros, adicionando, “Deste modo tenho minhas dúvidas se realmente guardo a retidão Kuru e portanto não posso passá-las a vocês.” Mas eles disseram, “Dizes isto porque pensas assim ; o fato não quebra tua virtude. Se tens remorso por causa de algo tão pequeno, como podes contar uma mentira com intenção?” E assim pegaram as virtudes com ele também e as escreveram no prato dourado deles.

Então ele disse, “Mas apesar desta virtude não me abençoar, há uma cortesã que a guarda bem ; vão e perguntem a ela.” e assim eles fizeram. Ela recusou como também o fizeram, pela seguinte razão. Sakra, rei dos deuses, projetou testar a bondade dela ; assumindo a forma de um jovem, deu a ela mil dinheiros dizendo, “Voltarei logo logo.” Voltou então para o céu e não a visitou por três anos. E ela, para manter a honra, por três anos não aceitou nem uma folha de bétele ( planta que se mastiga no Oriente ) de outro homem. Gradualmente foi ficando pobre ; então ela pensou - “O homem que me deu mil dinheiros não voltou nestes três anos ; e agora fiquei pobre. Não posso manter corpo e alma juntos. Bem agora devo ir falar com o chefe de Justiça e conseguir meu salário como antes.” Para a corte ela veio e disse, “Houve um homem três anos atrás que me deu mil dinheiros e nunca mais voltou ; se está morto não sei. Não consigo manter corpo e alma juntos ; que devo fazer, meu senhor ?” Disse ele, “Se ele não voltou por três anos, o que podes fazer ? Ganhe teu sustento como antes.”

No momento que deixava a corte, após esta sentença, apareceu um homem oferecendo a ela mil dinheiros. Enquanto esticava as mãos para aceitar, Sakra mostrou-se. Ela disse, “Aí está o homem que me deu mil dinheiros três anos atrás : não devo pegar teu dinheiro;” e ela retirou as mãos. Sakra então mostrou sua forma mesma e flutuou no ar, brilhante como o sol nascente e reuniu toda a cidade.

Sakra, no meio da multidão, disse, “Para testar a bondade dela, dei mil dinheiros três anos atrás. Sejam como ela e do mesmo modo mantenham a honra;” e com este conselho, encheu a morada dela com os sete tipos de jóias e disse, “De agora em diante esteja vigilante,” a confortou, e foi embora para o céu. Por este razão ela recusou dizendo, “Porque antes ganhei um salário e estendi a mão para outro, por isto minha virtude não é perfeita e portanto não posso dá-la a vocês.” Os mensageiros responderam, “Meramente estender as mãos não é uma quebra de virtude : esta virtude tua é a mais alta perfeição !” E dela, como do resto, eles receberam as regras da virtude e as escreveram no prato dourado. Levaram o prato com eles para Datanpura e contaram ao rei como foi a viagem.

O rei deles então praticou os preceitos Kuru e realizou as Cinco Virtudes. Com isto em todo o reino de Kalinga a chuva caiu ; os três temores foram mitigados ; a terra tornou-se próspera e fértil. O Bodhisatva por toda sua vida fez ofertas e obras boas e depois com seus súditos foi preencher os céus.
_____________________

Quando o Professor terminou este discurso, declarou as Verdades e explicou o Jataka. Na conclusão das Verdades, alguns entraram no Primeiro caminho, alguns no segundo, alguns no Terceiro e alguns tornaram-se santos. E o Jataka é explicado assim :

Uppalavanna era a cortesã,
Punna o porteiro e o homem rico era
Kuccana ; Kolita, o fiscal ;
Sariputra, o mestre dos celeiros ;
Anuruddha, o auriga ; e o capelão
Kassapa, o ancião ; o que era
Vicerei, agora é Nandapandita ;
A mãe de Rahula era a rainha,
E a Rainha-mãe era Māyā ; e o Rei
Era o Bodhisatva – assim o Jataka fica claro.”








sábado, 18 de abril de 2009

275 Buddha Pombo (de novo)




275
“Quem é esta bela...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre algum Irmão ganancioso. As duas histórias são as mesmas que a última. E estes são os versos :-
______________

Quem é esta bela Siriema e por quê
Descansa na cesta do amigo Corvo ?
É um pássaro irado, o Corvo !
Este é o ninho dele, é bom você saber !

Não me reconheces mesmo, amigo ?
Juntos costumávamos comer !
Não faria como a mim foi dito,
Portanto como vês depenado estou.

Estais em sofrimento de novo, eu sei -
É da tua natureza estar assim.
Se pessoas fazem pratos de carne
Não devem pássaros comer.

Como antes, o Bodhisatva disse - “Não posso viver mais aqui,” e voou para outro lugar.
____________

Quando o discurso estava terminado, o Mestre declarou as Verdades e identificou o Jataka :- na conclusão das Verdades, o Irmão ganancioso atingiu o Fruto da Terceiro Caminho :- “O Irmão ganancioso era o Corvo e eu era o Pombo.”






sexta-feira, 17 de abril de 2009

274 Buddha Pombo



274
“Quem é esta siriema ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um Irmão ganancioso. A ele também trouxeram para a Sala de Audiência quando o Mestre disse - “Não é apenas agora que ele é ganancioso ; ganancioso ele foi antes e sua ganância o fez perder a vida ; e por causa dele sábios antigos foram afastados de casa e do lar.” Então ele contou uma história.
_______________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o cozinheiro de um rico mercador desta cidade pendurou uma cesta-gaiola na cozinha para com ela ganhar mérito. O Bodhisatva naquele tempo era um Pombo ; e ele veio e lá vivia.

Bem, um Corvo ganancioso enquanto voava pela cozinha foi atraído pelos peixes que lá haviam em grande variedade. Ficou faminto após isto. “Como posso conseguir um pouco ?” pensou ele. Então seus olhos perceberam o Bodhisatva. “Já sei !” pensou ele, “farei desta criatura minha garra de gato.” E assim foi como ele decidiu seu propósito.

Quando o Pombo saiu na busca de sua comida diária, atrás dele, seguindo, veio o Corvo.

“O que queres comigo, Sr. Corvo ?” disse o Pombo. “Você e eu não nos alimentamos do mesmo modo.”

“Ah, mas eu gosto de ti,” disse o Corvo. “Deixe-me ser teu humilde servo e me alimentar contigo.”

O Pombo concordou. Porém, quando saíram alimentando-se juntos, o Corvo só fingia que comia ; uma vez ou outra ele virava e bicava alguns pedaços em esterco de vaca e apanhava um verme ou dois. Quando já tinha a barriga cheia, elevava-se em vôo - “Alô, Sr. Pombo ! Quanto tempo levas para se alimentar ! Não sabes traçar um limite. Vamos, voltemos antes que fique tarde.” E assim fizeram. Quando voltavam juntos, o Cozinheiro, vendo que o Pombo trouxera um amigo, pendurou outra gaiola-cesta.

Deste jeito a coisa prosseguiu por quatro ou cinco dias. Então uma grande compra de peixes chegou na cozinha do homem rico. Como o Corvo ansiava por comer alguns ! Lá ficou deitado, desde manhã cedo, gemendo e fazendo barulho. De manhã, disse o Pombo ou Corvo :
“Vamos, camarada, - refeição matinal !”
“Você pode ir,” ele disse, “estou com alguma indigestão !”
“Um Corvo com indigestão ? Nonsense !” disse o Pombo. “Mesmo uma bucha de lampião dificilmente permanece um momento sequer em teu estômago ; e qualquer outra coisa você digere em um triz, assim que come. Agora faça o que te digo. Não se comporte assim só por ter visto um pequeno peixe. !”
“Pois, senhor, o que estais dizendo ? Te digo que estou com dor na barriga !”
“Está certo, está certo,” disse o Pombo ; “apenas tome cuidado.” E voou para fora.

O Cozinheiro aprontou todos os pratos e depois permaneceu na porta da cozinha, enxugando o suor. “Agora é minha hora !” pensa o sr. Corvo e pousa em um prato de comidas finas. Click ! O cozinheiro escuta o barulho e olha ao redor. Ah ! Em um piscar de olhos ele pega o Corvo e depenando-o todo, exceto um tufo no topo da cabeça ; depois passou gengibre e canela misturados em manteiga por todo o corpo do pássaro. “Isto é por ter estragado o prato do patrão e me fazer jogá-lo fora !” disse ele e jogou o pássaro na cesta. Oh, como dói !

Logo logo chega o Pombo de sua caça. A primeira coisa que ele vê é nosso Corvo, fazendo grande barulho. Que troça não fez dele, esteja certo ! Caiu poeticamente assim como segue :-

Quem é esta siriema de crista que vejo
Onde não deveria estar ?
Saia ! meu amigo Corvo aproxima-se,
E temo te machucará .

A isto respondeu o Corvo com outro verso:

Nenhuma siriema de crista eu sou - não, não !
Nada mais que um Corvo ganancioso.
Não faria como a mim foi dito
Portanto como vês depenado estou.

E o Pombo adicionou um terceiro :-

Estais em sofrimento de novo, eu sei -
É da sua natureza estar assim.
Se pessoas fazem prato de carne,
Não devem pássaros comerem.

Então o Pombo voou embora, dizendo - “Não posso viver com esta criatura.” E o Corvo ficou lá gemendo até que morreu.
_________________

Quando o Mestre terminou este discurso, declarou as Verdades e identificou o Jataka :- na conclusão das Verdades o Irmão ganancioso alcançou o Fruto do Terceiro Caminho :- “O Irmão ganancioso naqueles dias era o Corvo ganancioso ; e eu era o Pombo.” Cf. Jataka 42



quinta-feira, 16 de abril de 2009

272 Buddha Espírito d'árvore


272
“Quando a proximidade...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivia em Jetavana, sobre Kokalika (que era seguidor de Devadatra). As circunstâncias desta história serão dadas no Jataka 481.

 Aqui, novamente Kokalika diz, “Levarei Sariputra e Moggaallana comigo.” Então deixando a região de Kokalika, ele viaja para Jetavana, saúda o Mestre e vai até os anciãos. E diz, “Amigos, os cidadãos da região de Kokalika convocam vocês. Vamos até lá !” “Vá você, amigo, nós não iremos,” foi a resposta. Após esta recusa ele foi embora sozinho.

Os Irmãos seguiram falando sobre isto no Salão da Verdade. “Amigo ! Kokalika não consegue viver nem com nem sem Sariputra e Moggaallana ! Ele não pode conservar o quarto ou a companhia deles !” O Mestre entrou e perguntou o que todos estavam conversando juntos. Eles disseram a ele. Ele falou, “Em dias idos, justo como agora, Kokalika não podia viver nem com nem sem Sariputra e Moggaallana.” E contou uma história.
___________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um espírito d'árvore vivendo na floresta. Não distante da sua morada vivia outro espírito d'árvore, em um grande monarca da floresta. Na mesma floresta habitavam um leão e um tigre. Com medo deles ninguém ousava arar a terra ou cortar abaixo uma árvore, ninguém podia nem mesmo parar para olhar lá. E o leão e o tigre costumavam matar e comer todo tipo de criaturas ; e o quê sobrava após as refeições, eles deixavam no lugar e partiam, de modo que a floresta estava cheia de sujeira e fedor de carcaças.

O outro espírito, sendo tolo e desconhecendo razão e não-razão, um dia dirigiu-se assim ao Bodhisatva : “Bom amigo, a floresta está cheia de fedor de carcaças, tudo por causa deste leão e deste tigre. Vou mandá-los para fora.”

Respondeu ele, “Bom amigo, é justo estas duas criaturas que protegem nossas casas. Uma vez que sejam retirados, nossa casa será devastada. Se as pessoas não veem os rastros do leão e do tigre, elas cortarão toda a floresta abaixo, farão dela um único espaço aberto e vão arar a terra. Por favor não faça tal coisa !” e então pronunciou as primeiras duas estrofes:

Quando a proximidade de um amigo do peito
Ameaça tua paz terminar,
Se és sábio, guarde tua vantagem
como a pupila dos olhos.

Mas quando este amigo querido faz mais crescer
A medida da sua paz,
Deixe a vida de seu amigo em e através de tudo
Ser tão cara quanto a tua.

Quando o Bodhisatva assim explicou o assunto, o tolo espírito contudo não entendeu de coração, mas um dia assumiu um aspecto assustador e fez com que fossem embora o tigre e o leão. O povo, não mais observando os rastros destes, adivinharam que o leão e o tigre tinham ido para outra floresta e cortaram um lado desta floresta. Então o espírito aproximou-se do Bodhisatva e disse a ele,
“Ah, amigo, não fiz como disseste, mas mandei embora as criaturas ; e agora as pessoas descobriram que eles se retiraram e estão cortando abaixo a floresta ! O que deve ser feito ?” a resposta foi, que eles teriam ido viver em tal e tal floresta ; o espírito devia ir buscá-los de volta. O espírito fez isto ; e, de pé diante deles, repetiu a terceira estrofe, com saudação respeitável :

Voltem, Ó Tigres ! Para a floresta novamente,
E não a deixem ser nivelada ao chão ;
Pois sem vocês, o machado vai abaixá-la ;
Vocês, sem ela, para sempre sem lar vagarão.

Este pedido eles recusaram, dizendo, “Sai fora ! Nós não iremos.” O espírito retornou para a floresta sozinho. E então as pessoas após muitos poucos dias cortaram toda a floresta abaixo, fazendo campos e tornando-os cultiváveis.
________________

Quando o Mestre terminou este discurso, declarou as Verdades e identificou o Jataka :- “Kokalika era então o Espírito tolo, Sariputra o Leão, Moggaallana o Tigre e o Espírito sábio era eu mesmo.”








quarta-feira, 15 de abril de 2009

271 Buddha Asceta




271
“Este poço um anchorita da floresta...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Isipatana, sobre um Chacal que sujou um poço.

Nos foi dito que um Chacal costumava sujar um poço quando os Irmãos puxavam água e depois saía fora. Um dia os noviços atiraram torrões de terra nele e o deixaram desconfortável. Após o que nunca mais nem olhou para o lugar novamente.

Os Irmãos escutaram e passaram a discutir o assunto no Salão da Verdade. “Amigo, o chacal que costumava sujar nosso poço, nunca mais nem chegou perto dele desde que os noviços o caçaram com torrões de terra !” O Mestre entrou e perguntou sobre o que falavam, ali sentados juntos. Eles disseram a ele. Então ele respondeu, “Irmãos, esta não é a primeira vez que este chacal suja o poço. Ele fez o mesmo antes;” e então contou um conto do mundo antigo.
___________________

Certa vez neste lugar próximo a Benares ( Varanasi ) chamado Isipatana havia este mesmo poço. Naquele tempo o Bodhisatva nascera numa boa família. Quando ele cresceu, abraçou a vida religiosa e com um grupo de seguidores morava em Isipatana. Um certo Chacal sujava o poço como foi descrito e saía correndo fora. Um dia, os ascetas o cercaram, e tendo-o apanhado, o levaram até o Bodhisatva. Ele se dirigiu ao Chacal nas linhas da primeira estrofe :-

Este poço um eremita da floresta fez
Vivendo longo tempo nesta senda eremítica.
E após todo seu trabalho e esforço
Por que tentas, meu amigo, estragar o poço ?

Escutando isto, o Chacal repete a segunda estrofe :-

Esta é a lei da raça dos Chacais,
Sujar no lugar qualquer que beber :
Meus antepassados sempre fizeram o mesmo;
Assim não há razão na sua acusação.

O Bodhisatva respondeu com a terceira :-

Se isto é 'lei' na política chacal
Imagino o que 'ilegal' seria !
Espero ter visto o suficiente de ti,
Suas ações legais, e ilegais também.

Assim o Grande Ser o censurou e disse, “Não volte lá novamente.” Daí em diante ele nem mesmo parou para olhar o poço.
_______________

Quando o Mestre terminou seu discurso, declarou as Verdades e identificou o Jataka :- “O Chacal que sujou o poço é o mesmo em ambos os casos ; e eu era o chefe do bando de ascetas.”










terça-feira, 14 de abril de 2009

270 Buddha Ganso Dourado



270
       “A coruja é rei...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre uma querela entre Corvos e Corujas.

Na época em questão, os Corvos costumavam comer Corujas durante o dia, e à noite, as Corujas voavam ao redor, bicando para fora, cabeças de Corvos enquanto estes dormiam, e matando-os assim.

 Havia certo irmão que vivia numa cela às margens de Jetavana. Na hora de varrer, costumava ter uma certa quantidade de cabeças de corvos largadas, caídas das árvores, suficiente para encher seis ou sete potes (um pote equivale a ½ galão, o galão por sua vez equivale a 4,5 litros). Ele contou isto aos irmãos. No Salão da Verdade os Irmãos começaram a falar sobre isto. “Amigo, Irmão Tal-e-tal encontra sempre muitas cabeças de corvos largadas todo dia no lugar em que ele vive !” O Mestre entra e pergunta sobre o que conversavam, lá sentados juntos. Eles disseram a ele. Eles prosseguiram perguntando desde quando os Corvos e as Corujas discutem e brigam. O Mestre respondeu, “desde o tempo da primeira idade do mundo;” e então ele contou a eles um conto do mundo antigo.
___________________

Certa vez, o povo que vivia no primeiro ciclo do mundo reuniu-se e tomaram para rei um certo homem, belo, auspicioso, comandante, todo perfeito. Os quadrúpedes também se juntaram e escolheram para rei o Leão ; e os peixes n'oceano escolheram para si o peixe chamado Ānanda. Então todos os pássaros dos Himalaias reuniram-se numa rocha chata, gritando,
“Entre os homens existe um rei, e entre as bestas e os peixes tem um também ; mas entre nós os pássaros não há rei. Não devemos viver na anarquia ; nós também devemos escolher um rei. Escolhamos alguém adequado para ser estabelecido no lugar de rei !”

Procuraram por um tal pássaro e escolheram a Coruja ; “Aí está o pássaro que gostamos,” eles disseram. E um pássaro proclamou três vezes para todos que haveria votação para tal. Após pacientemente escutarem o anúncio duas vezes, na terceira vez levantou-se o Corvo e gritou,
“Parem já ! Se assim é como ela aparece quando para ser consagrada rei, como não parecerá quando irada ? Só de olhar-nos com raiva, espalha-nos como semente de sésamo / gergelim em frigideira quente”. Não quero fazer deste sujeito rei !” e expondo sobre isto ele falou a primeira estrofe:-

A coruja é rei, vocês dizem, sobre todos os pássaros:
Com permissão deixem-me falar?

Os pássaros repetem a segunda, deixando-o falar :-

Tens nossa permissão, Senhor, sejas bom e reto :
Pois outros pássaros são jovens, sábios e brilhantes.

Assim com permissão ele falou a terceira:-

Não gosto (com deferência seja dito)
Ter Coruja ungida à Líder nossa.
Olha a cara dela! se isto é bom humor,
O que será quando olhar zangada ?

E o Corvo voou no ar, grasnando : “eu não gosto dela ! eu não gosto dela !”. A Coruja saiu atrás dele. Deste então estes dois alimentam inimizade um para com o outro. E os pássaros escolheram um Ganso dourado para rei e dispersaram.
_______________

Quando o Mestre terminou este discurso, declarou as Verdades e identificou o Jataka :- “Naquele tempo, o Ganso selvagem escolhido para rei, era eu mesmo.”

[ n. do tr.: em Farid Attar, “A Conferência dos Pássaros” leva-os a um guia e não a um rei, que em grupo buscam o Deus dos Pássaros. Lailla e o louco de amor aparecem aí nesta conferência de Farid Attar (séc. XII, mestre de Rumi, séc. XIII). Lailla é Sofia (de Severino Boécio, Roma, séc. VI), Lúcia (de Dante), Helena (de Paris), o Amor mesmo enquanto Princípio e Fim. É amada por um louco de Deus. Tudo dentro da tradição dervish turca.

Em Esopo Budista o pavão quer ser rei mas a gralha pergunta se ele vai enfrentar a águia quando ela os atacarem. Em outra o próprio gaio gritante pega uma pena de cada pássaro e torna-se também rei mais belo. O gaio torna-se pombo, torna-se corvo.

 Cf Jataka 226
                         http://vidasdebuddha.blogspot.com.br/2008/11/226-h-tempoetc.html

]











segunda-feira, 13 de abril de 2009

269 Sujata


                                                              pintura de Ajanta, Índia.

269
“Aqueles dotados...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivia em Jetavana sobre Sujata, nora de Anatha-pindika, filha do grande mercador Dhanañjaya e irmã mais nova de Visakha.

Nos é dito que ela entrou na casa de Anatha-pindika cheia de arrogância, pensando como era grande a família de que provinha, era obstinada, violenta, irada e cruel ; recusando-se fazer sua parte em relação a seu novo pai e mãe, ou ao seu marido ; e andava pela casa com palavras ásperas e socando todos.

Um dia, o Mestre e quinhentos irmãos visitaram a casa de Anatha-pindika e sentaram-se. O grande mercador sentou-se ao lado do abençoado, escutando o seu discurso. No mesmo momento aconteceu de Sujata estar ralhando com os empregados.

O Mestre parou de falar e perguntou que barulho era aquele. O mercador explicou que tratava-se de sua rude nora ; que ela não se comportava adequadamente para com o marido ou os pais, não fazia ofertas, e não tinha boas qualidades ; sem fé e descrente, andava pela casa resmungando noite e dia. O Mestre pediu que a chamassem.

A mulher veio e após saudá-lo permaneceu em um dos lados. Então o Mestre dirigiu-se a ela assim :
“Sujata, existem sete tipos de esposa que um homem pode ter ; de que tipo é você?” Ela respondeu: “Senhor, falastes pouco para eu entender; por favor explique”. “Bem,” disse o Mestre, “escute com atenção,” e pronunciou os seguintes versos :

Uma é de coração mau, sem compaixão
com o bem; ama outros, mas não seu esposo, que odeia.
Destruindo o quê seu esposo obtém
Esta esposa chama-se Destruidora de ganhos.

O que o esposo ganha no comércio
Ou profissão liberal, ou na enxada de fazendeiro,
Ela tenta tirar um pouco.
Para tal esposa o título de a Ladra cabe.

Sem cuidar das obrigações, preguiçosa, passional,
Gananciosa, de boca cheia, de ódio e raiva
Tirânica com os empregados -
Esta traz o título de Alta e Poderosa.

Que sempre aproxima-se do bem,
Cuida do marido como Mãe,
Guardando tudo que o marido obtém -
Esta esposa ganha o título de Maternal.

Esta respeita o marido no caminho
Irmãs mais novas respeitam as mais velhas,
Modesta, obediente a vontade do marido
Esta tem o título de Fraternal.

Esta a vista do esposo sempre agradará
Como amigo que após longa ausência vê amigo,
Bem nascida e virtuosa, dando sua vida
A ele - esta chama-se Amiga.

Calma quando ofendida, temente de violência
Sem paixão, cheia de paciência canina,
De coração verdadeiro, voltando-se para a vontade do esposo,
Escrava, é o título dada a esta.

"Estas Sujatas são as sete esposas que um homem pode ter. Três destas, a esposa Destrutiva, a esposa Desonesta e a Madame Alta e Poderosa, as de cima, renascerão no ínfero ; e as outras quatro, de baixo, no Quinto Céu.”

Aquelas que são chamadas Destruidoras nesta vida,
A Alta e Poderosa, ou a esposa Ladra,
Sendo iradas, más, desrespeitosas, vão
Fora do corpo para o ínfero abaixo.
Aquelas esposas que são chamadas Amiga nesta vida,
Mãe, Irmã ou Escrava,
Devido à virtude e a suas longas auto-aprendizagens
Passam para o céu quando seus corpos morrem.

Enquanto o Mestre explicava estes sete tipos de esposas, Sujata atingiu o Fruto do Primeiro Caminho ; e quando o Mestre perguntou a que classe ela pertencia, ela respondeu, "Sou uma Escrava, Senhor !" e respeitosamente saudou o Buddha, ganhando o perdão dele.

Assim com um discurso o Mestre domou a megera ; e após a refeição, quando já declarara os deveres deles para com a Irmandade, ele entrou em sua câmara perfumada.

Bem os Irmãos se reuniram no Salão da Verdade e cantaram louvores ao Mestre. “Amigo, com um único discurso o Mestre domou uma megera e elevou-a à Fruição do Primeiro Caminho !” O Mestre entrou e perguntou o quê eles falavam lá sentados. Eles disseram. Ele disse, “Irmãos, esta não é a primeira vez que domei Sujata com um único discurso.” E continuou contando um conto do mundo antigo.
________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como filho de sua Rainha. Quando cresceu, recebeu sua educação em Takkasila ( Taxila ) e após a morte de seu pai, tornou-se rei e reinou em retidão.

Sua mãe era mulher irada, cruel, áspera, rabugenta, de língua ferina. O filho desejava advertir a mãe ; mas sentia que não devia fazer nada muito desrespeitoso ; então aguardava uma chance para dar uma indireta.

Um dia ele desceu para os jardins e sua mãe foi com ele. Um gaio azul soltou um guincho esganiçado na estrada. Com isto todos os cortesãos amparam seus ouvidos, gritando-
“Que voz estridente, que guincho ! - não faças este barulho !”

Enquanto o Bodhisatva andava pelo parque com sua mãe e na companhia dos cortesãos, um cuckoo, pendurado no meio de folhas grossas de uma árvore sal ( Shorea Robusta ), cantou com voz doce.

Todos os que estavam juntos ficaram deliciados com a voz dele - “Oh, que voz macia, que voz doce, que voz gentil ! - continue cantando passarinho, cante !” e lá permaneceram, esticando seus pescoços, ansiosamente escutando.

O Bodhisatva notando estas duas situações, pensou que aí estava a chance de dar uma indireta para a rainha-mãe. “Mãe,” disse ele, “quando escutaram o guincho do gaio na estrada, todos tamparam seus ouvidos e gritaram – Não faça este barulho ! Não faça este barulho ! E fecharam os ouvidos : pois de barulho estridente ninguém gosta.” E repetiu as seguintes estrofes :-

Aqueles dotados de belo aspecto,
Apesar de sempre bonitos e agradáveis à vista
Se tiverem uma voz aguda aos ouvidos
Nem neste nem no outro mundo, são queridos.

Há este pássaro que podemos ver freqüentemente;
Magro, negro, e pintado mesmo,
Mas sua voz macia podemos ouvir:
Quantas criaturas prezam, o caro cuckoo !

Portanto sua voz deve ser gentil e melodiosa,
Falando com sabedoria e não inflada de presunção.
E tal voz – como é doce seu som ! -
Explica o significado da Sagrada Escritura.

Quando o Bodhisatva assim aconselhou sua mãe com estes três versos, ele a trouxe para o seu modo de pensar ; e depois disso ela sempre seguiu um curso correto de vida. E ele tendo com uma fala tornado sua mãe uma mulher abnegada, posteriormente passou sendo tratado de acordo com seus atos.
_______________

Quando o Mestre terminou este discurso, ele então identificou o Jataka : “Sujata era a mãe do rei de Benares e eu era o rei mesmo.”






quarta-feira, 8 de abril de 2009

268 Buddha e o jardineiro




268
“Melhor de todos...etc.” - Esta história o Mestre contou quando residia no campo próximo à Dakkhinagiri, sobre o filho de um jardineiro.

Após as chuvas, o Mestre deixou Jetavana e seguiu em peregrinação de coleta de oferta no distrito ao redor de Dakkhinagiri. Um leigo convidou o Buddha e sua companhia e os fez sentar em sua propriedade, dando a eles arroz e bolos. Disse depois, “Se algum dos santos Padres quiser passear pelo jardim, podem acompanhar o jardineiro ;” e ordenou ao jardineiro que oferecesse qualquer fruta que quisessem.

Logo logo chegaram numa terra nua. “Qual a razão,” perguntaram, “deste lugar estar deserto e sem árvores ?” “A razão é,” respondeu o jardineiro, “que um certo filho de jardineiro, que deveria aguar as mudas, pensou que melhor molharia em proporção aos tamanhos das raízes ; e assim puxou-as todas para vê-las e jogou água conformemente. O resultado foi que o lugar ficou deserto.”

Os Irmãos retornaram e contaram isto ao Mestre. Ele disse, Não apenas agora este rapaz destruiu a plantação ; ele fez justo o mesmo antes ;” e então contou a eles um conto do mundo antigo.
_____________________

Certa vez quando um rei chamado Vissasena reinava em Benares ( Varanasi ), proclamou-se um feriado. O guardião do parque pensou em sair e aproveitar o feriado ; e assim chamando os macacos que viviam no parque, disse :
“Este parque é uma grande benção para vocês. Quero tirar uma semana de feriado. Vocês coloquem água nas mudas nos sete dias ? “Oh, sim,” eles disseram ; passou para eles os regadores e seguiu seu caminho.

Os macacos pegaram água e começaram aguar as raízes.

O macaco mais velho gritou : “Esperem ! É difícil colocar água constantemente. Devemos economizar. Vamos puxar as plantas e ver o tamanho das raízes delas ; se elas tiverem longas raízes, precisam de muita água ; mas se tiverem pequenas, só um pouco.” “Certo, certo,” eles concordaram ; então alguns deles puxavam as plantas ; outros as colocavam de volta com água.

O Bodhisatva naquele tempo era um jovem nobre vivendo em Benares. Alguma ou outra coisa o levou até o parque e ele viu o quê os macacos estavam fazendo.

“Quem mandou vocês fazerem isto ?” ele perguntou.

“Nosso chefe,” eles responderam.

“Se esta é a sabedoria do chefe, qual não será a do resto de vocês !” disse ele ; e para explicar o assunto, pronunciou a primeira estrofe :

Melhor de todos da tropa é este :
Que inteligência a dele!
Se é escolhido como melhor,
Que tipo de criatura não será o resto !

Escutando este comentário, os macacos responderam com a segunda estrofe :

Brahmin, não sabes o que dizes
Acusando-nos deste jeito !
Se não conhecemos as raízes,
Como saber das árvores que crescem ?

Ao que o Bodhisatva replicou com a terceira, como segue :

Macacos, não culpo vocês,
Nem àqueles que vagueiam pela floresta.
O monarca é um tolo, ao falar,
'Por favor cuidem de minhas árvores enquanto estou fora'.
________________

Quando este discurso estava terminado, o Mestre identificou o Jataka : “O rapaz que destruiu o parque era o chefe macaco e eu era o jovem sábio.”





terça-feira, 7 de abril de 2009

267 Buddha Elefante




267
“Criatura de garras douradas...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre uma certa mulher.

Nos é dito que um certo fazendeiro de Savatthi, com sua esposa, estava numa jornada pelo campo com o propósito de recolher dívidas, quando caiu entre ladrões. Bem , a esposa era muito bonita e charmosa. O chefe ladrão foi tão tomado por ela que propôs matar o marido para pegá-la. Mas a mulher era boa e virtuosa, uma esposa devota. Ela cai aos pés do ladrão, gritando, “Meu senhor, se matares meu esposo por amor a mim me envenenarei, ou impeço a minha respiração, e me mato também ! Contigo eu não vou. Não mate meu esposo, desnecessariamente !” Deste jeito ela suplicava por ele.

Ambos voltaram a salvo para Savatthi. Então ocorreu a eles enquanto passavam pelo mosteiro em Jetavana, que deviam visitar e saudar o Mestre. Então para a cela perfumada se dirigiram e após saudação sentaram em um dos lados. O Mestre perguntou a eles onde estiveram. “Recolhíamos dívidas,” eles responderam. “A viagem de vocês transcorreu sem acidentes ?” perguntou ele em seguida. “Fomos capturados por ladrões no caminho,” disse o marido, “e o chefe queria me matar ; mas minha esposa aqui suplicou que me soltassem e devo a ela minha vida.” Então o Mestre disse, “Você não é o único, leigo, cuja vida ela salvou. Em dias idos ela salvou as vidas de outros sábios.” e então com o pedido dele o Mestre contou um conto do mundo antigo.
________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), havia um grande lago no Himalaia, em que habitava um grande Caranguejo dourado. O Caranguejo era bem grande, redondo do tamanho de um pátio, eira ; ele pegava elefantes e matava-os e comia-os ; e com medo dele os elefantes não ousavam descer e pastar no lago.

Bem o Bodhisatva foi concebido pela companheira de um elefante, o líder da horda, que vivia junto deste Lago do Caranguejo. A mãe, de modo a manter-se segura até o parto, buscou outro lugar na montanha e lá pariu um filho ; que no tempo devido cresceu em anos, em sabedoria, era forte e poderoso e prosperava : era como uma montanha púrpura, um colírio.

Ele escolheu outra aliá (elefanta) para sua companheira e resolveu pegar este Caranguejo. Então com sua companheira e sua mãe, ele buscou a horda de elefantes e encontrando seu pai, propôs-se a pegar o Caranguejo.

“Você não será capaz de fazer isto, meu filho,” disse ele.

Mas pediu novamente e insistentemente que o pai lhe desse licença, até que por fim este disse, “Bem, podes tentar.”

Assim o jovem Elefante reuniu todos os elefantes ao lado do Lago do Caranguejo e dirigiu-os a que cercassem o lago. “O Caranguejo pega quando descem, quando pastam ou quando sobem novamente ?” Eles responderam, “Quando as bestas estão retornando, subindo.”

“Bem, então,” disse ele, “vocês todos desçam ao lago e comam o que encontrarem e logo retornem ; seguirei bem atrás de vocês.” E assim eles fizeram. Então o Caranguejo, vendo o Bodhisatva por último, agarrou a pata dele bem apertado com a garra, como um ferreiro que segura um pedaço de ferro com um pesado par de alicates. A companheira do Bodhisatva não o deixou mas permaneceu lá junto dele. O Bodhisatva puxou o Caranguejo mas não conseguiu que ele soltasse. Então o Caranguejo puxou e o arrastou para junto dele. Com isto com medo da morte o Elefante urrou e berrou ; escutando isto, todos os outros elefantes, em terror de morte, fugiram barrindo e cagando.

Mesmo sua companheira não conseguiu ficar mas começou a sair. Então para dizer a ela como fora feito prisioneiro, ele pronunciou a primeira estrofe, na esperança de impedi-la que fugisse :

Criatura de garras douradas com olhos projetados,
Alimentada no lago alto, sem pêlos, vestida de óssea concha,
Ela me pegou ! ouça meus gritos de dor ! -
Companheira ! não me deixe - pois você me ama !

Então a aliá voltou e repetiu a segunda estrofe para conforto dele:

Deixá-lo ? nunca! nunca o deixarei -
Nobre esposo, com seus sessenta anos.
Os quatro cantos da terra mostram
Nunca houve antes ninguém tão querido quanto você.

Assim ela o encorajava ; e falando, “Nobre senhor, agora vou conversar com o Caranguejo um pouco para fazê-lo te soltar,” ela se dirigiu ao Caranguejo na terceira estrofe :

De todos os caranguejos que há no mar,
Esteja no Ganges ou no Nerbudda,
És o melhor e o chefe, eu sei :
Ouça-me - deixe meu esposo ir!

Enquanto ela assim falava, a fantasia do Caranguejo foi atingida com o som de voz feminina e esquecendo todo medo, ele soltou suas garras das patas do Elefante, sem suspeitar de nada que ele faria quando estivesse livre. O Elefante então levantou sua pata e pisou nas costas do Caranguejo ; e imediatamente os olhos deste pularam fora. O Elefante soltou o grito de vitória. Todos os outros elefantes logo correram de volta, puxando o Caranguejo, colocando-o no chão e esmigalhando-o aos pedaços com as patas. Suas duas garras quebradas e separadas do corpo, ficaram a parte. E estando este Lago do Caranguejo próximo ao Ganges, quando havia uma enchente no Ganges, ele ficava cheio de água do Ganges ; quando a cheia cedia, ela corria do lago para o Ganges. Deste modo as duas garras foram levantadas e levadas flutuando pelo Ganges. Uma delas alcançou o mar, a outra foi encontrada pelos dez irmãos reais enquanto brincavam n'água, que a pegaram e fizeram com ela um pequeno tambor chamado Anaka. Os Titãs aquela que alcançou o mar e a transformaram no tambor chamado Alambara. Estes depois tendo sido sobrepujados em batalha por Sakra, fugiram e o deixaram para trás. Sakra então fez com que fosse guardado para seu uso próprio ; e é dele que se diz, “Há trovão como nuvem de Alambara !”
_____________________

Quando este discurso estava terminado, o Mestre declarou as Verdades e identificou o Jataka : na conclusão das Verdades ambos marido e mulher atingiram o Fruto do Primeiro Caminho :- “Naqueles dias, esta irmã leiga era a aliá e eu mesmo era o companheiro dela.”