quarta-feira, 29 de abril de 2009

281 A manga do âmago


281
“Lá cresce um'árvore ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre o Ancião Sariputra oferecer suco de manga à Irmã Bimbadevi. Quando o Supremo Buddha inaugurou o reino universal da religião, enquanto vivia num quarto em Vesali, a esposa de Gautama com quinhentas do clã Sakiya pediram iniciação e receberam iniciação e ordens plenas. Após isto as quinhentas Irmãs tornaram-se santas escutando a pregação de Nandaka. Contudo, quando o Mestre vivia próximo à Savatthi, a mãe de Rahula pensou consigo mesma, “Meu marido ao abraçar a vida religiosa tornou-se onisciente ; meu filho também tornou-se um religioso e vive com ele. Que farei eu no meio da casa ? Vou entrar nesta vida, ir para Savatthi e cuidarei do Supremo Buddha e do meu filho continuamente.” Ela então se dirigiu a um convento de freiras, entrou na ordem, foi e viveu numa cela em Savatthi, em companhia de seus professores e preceptores, contemplando o Mestre e seu amado filho. O noviço Rahula vinha e via sua mãe.

Um dia, a Irmã estava aflita com flatulência ; e quando seu filho veio vê-la, ela não pode levantar-se para vê-lo, mas outros vieram e disseram a ele que ela estava doente. Ele então entrou e perguntou à sua mãe, “O quê você gostaria de tomar ?” “Filho,” disse ela, “em casa esta dor costuma ser curada com suco de manga com açúcar ; mas agora vivemos de ofertas e onde o conseguiremos ?” Disse o noviço, “Conseguirei para você,” e partiu. Bem, o preceptor de sua reverência Rahula era o Capitão da Fé ( Sariputra ), seu professor era o grande Moggaallana, seu tio era o Ancião Ānanda e seu pai era o Supremo Buddha : ele tinha então grande fortuna, sorte. Contudo ele não procurou nenhum outro além de seu preceptor ; e após saudá-lo, permaneceu diante dele com olhar triste. “Por quê pareces triste, Rahula ?” perguntou o Ancião. “Senhor,” ele respondeu, “minha mãe está doente, com gazes.” “O quê ela deve tomar ?” “Suco de manga com açúcar faz bem a ela.” “Está certo, vou conseguir um pouco ; não se preocupe com isto.” Então dia seguinte ele levou o rapaz à Savatthi e sentando-o numa sala de espera, subiu para o palácio. O rei de Kosala pediu ao Ancião que se sentasse. Na mesma hora o jardineiro trouxe uma cesta de mangas doces maduras para comer. O rei tirou a casca, polvilhou açúcar, esmagou ele mesmo e encheu a tigela do Ancião. O Ancião retornou à sala de espera e passou o suco para o noviço, pedindo que entregasse a mãe dele ; e assim ele o fez.

Logo que a Irmã comeu, a dor dela curou. O rei também enviou mensageiros, dizendo, “O Ancião não sentou aqui para comer o suco de manga. Vão e descubram se ele o deu para alguém.” O mensageiro foi até o ancião, inteirou-se do caso e então retornou para contar ao rei. Pensou o rei : “Se o Mestre retornasse para a vida mundana, ele seria um monarca universal ; o noviço Rahula seria seu tesouro, o Príncipe Coroado, a santa Irmã seria seu tesouro a Imperatriz e todo o universo pertenceria a eles. Devo ir e ajudá-los. Agora que vivem bem aqui do lado, não há tempo a perder.” Então a partir daquele dia ele continuamente oferecia suco de manga para a Irmã.

Tornou-se sabido entre os Irmãos como o Ancião ofereceu suco de manga para a santa Irmã. E um dia ficaram conversando no Salão da Verdade : “Amigo, escutei que Ancião Sariputra ajudou Irmã Bimbādevi com suco de manga.” O Mestre entrou e perguntou, “O que vocês conversam aí ?” Quando eles disseram - “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que a mãe de Rahula foi ajudada com suco de manga pelo Ancião ; o mesmo aconteceu antes;” e ele contou a eles um conto do mundo antigo.
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Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin que vivia numa cidade da região de Kāsi. Quando cresceu foi educado em  Takkasilā ( Taxila ), estabeleceu-se em vida familiar e com as mortes dos pais, abraçou a vida religiosa. Após isto, permaneceu na região do Himalaia, cultivando as Faculdades e as Consecuções. Um grupo de sábios reuniu-se ao redor dele e ele se tornou professor deles.

Ao término de um longo tempo, ele desceu das montanhas para conseguir sal e temperos e no curso do seu caminhar chegou em Benares, onde fixou domicílio em um parque. E com a glória da virtude desta companhia de santos homens o palácio de Sakra sacudiu, balançou. Sakra refletiu e percebeu o quê era. Pensou ele, “Vou danificar o domicílio deles ; então sua estadia será perturbada ; ficarão muito estressados para ter mente tranquila. E assim ficarei confortável novamente.” Enquanto considerava como fazer isto, encontrou um plano. “Entrarei na câmara da rainha principal, justo na vigília da meia-noite, e pousado nos ares, direi – 'Senhora, se comeres 'manga do âmago', conceberás um filho, que se tornará monarca universal.' Ela falará ao rei e ele pedirá manga do parque : farei que todos os frutos tenham desaparecido. Dirão ao rei que não há nenhuma e então quando ele perguntar quem comeu, eles dirão 'Os ascetas'.” Assim justo à meia-noite, ele apareceu no quarto da rainha e plainando nos ares, revelou sua divindade e conversando com ela, repetiu as primeiras duas estrofes :-

Lá cresce uma árvore, com divinos frutos ;
As pessoas a chamam a 'mais do âmago' : e se uma mulher
Grávida, dela comer, logo
Dará à luz alguém com feudo da larga terra.

Senhora, és Rainha poderosa realmente ;
O Rei, seu marido, a ama e quer.
Peça-o que procure a manga que tu necessitas,
E ele a fruta 'Mais do âmago' trará aqui.

Estas estrofes Sakra recitou para a rainha ; e então dizendo a ela que se cuidasse , não se demorasse e contasse o problema ao rei ela mesma, ele a encorajou e voltou para seu próprio lugar.

Dia seguinte, a rainha jazia, como se doente estivesse, mas dava instruções a suas empregadas. O rei sentado em seu trono, debaixo do parassol branco, olhava a dança. Não vendo sua rainha, ele perguntou a uma empregada onde ela estava.
“A rainha está doente,” respondeu a garota.
Então o rei foi vê-la ; e sentando ao seu lado, bateu nas costas dela e perguntou, “Qual o problema, senhora ?”
“Nada,” disse ela, “é que tenho desejo de uma coisa.”
“Qual o seu desejo, senhora ?” ele perguntou novamente.
“Manga do âmago, meu senhor.”
“Onde existe tal coisa como manga do âmago ?”
“Não sei o quê é manga do âmago ; mas sei que morrerei se não comer uma.”
“Está certo, conseguiremos uma para você ; não se preocupe com isto.”

Deste modo o rei a consolou e saiu. Sentou no sofá real e mandou chamar os cortesãos. “Minha rainha está com um desejo grande por manga do âmago. O quê faremos ?” disse ele.

Alguém respondeu, “Manga do âmago é uma que cresce entre duas outras. Envie alguém ao seu parque e encontre uma manga que cresça entre duas outras ; colha este fruto e que ele seja dado à rainha.” Assim o rei enviou homens que fizessem isto.

Mas Sakra com seu poder fez com que todos os frutos desaparecessem, como se tivessem sido comidos. Os homens que buscavam as mangas, procuraram por todo o parque e não encontraram nenhuma manga ; e voltaram para o rei e disseram que mangas não haviam nenhuma.
“Quem comeu as mangas ?” perguntou o rei.
“Os ascetas, meu senhor.”
“Dêm pauladas nos ascetas e os expulsem para fora do parque !” ordenou. O povo escutou e obedeceu : o desejo de Sakra foi realizado. A rainha jazia, desejosa de manga.

O rei não conseguia pensar em o quê fazer. Reuniu os cortesãos e os brahmins e perguntou a eles : “Vocês sabem o que é manga do âmago ?”

Disseram os brahmins : “Meu senhor, manga do âmago é uma porção dos deuses. Cresce no Himalaia, na Gruta Dourada. Assim aprendemos com a tradição imemorial.”

“Bem, quem pode ir lá e pegá-la ?”

“Um ser humano não pode ir ; devemos enviar um papagaio jovem.”

Naqueles dias havia um excelente jovem papagaio na família do rei, tão grande quanto o cubo da roda da carruagem dos príncipes, forte, inteligente e cheio de expedientes astuciosos. Este papagaio o rei enviou e deste modo se dirigiu a ele,
“Querido papagaio, te dei um bom bocado : vives em um gaiola dourada ; comes grãos doces em um prato dourado ; tens água com açúcar para beber. Há algo que quero que faças para mim.”
“Fale, meu senhor,” disse o papagaio.
“Filho, minha rainha tem desejo de manga do âmago ; esta manga cresce no Himalaia, na Montanha Dourada ; ela é uma porção dos deuses, nenhum ser humano pode ir lá. Deves trazer o fruto de lá.”

“Muito bem, meu rei, eu irei,” disse o papagaio. Então o rei deu a ele grão doce para comer em um prato dourado e água com açúcar para beber ; e o ungiu debaixo das asas com óleo refinado cem vezes ; então o tomou com ambas as mãos e em pé em uma janela, o soltou em vôo.

O papagaio, com a incumbência, mandado, real, voou nos ares, acima dos caminhos humanos, até encontrar alguns papagaios que moravam na primeira cadeia de montanhas do Himalaia. “Onde está a manga do âmago ?” perguntou a eles ; “digam-me o lugar.”

“Não sabemos,” eles disseram, “mas os papagaios na segunda cadeia de montanhas saberão.”

O papagaio escutou e voou para a segunda cadeia. Após esta ele seguiu para a terceira, quarta, quinta e sexta. Lá também os papagaios disseram, “Não sabemos, mas aqueles que vivem na sétima cadeia saberão.” Assim ele prosseguiu para lá e perguntou onde àrvore da manga do âmago crescia.
“Em tal e tal lugar, na Montanha Dourada,” disseram.

“Venho por causa do fruto dela,” ele disse, “guiem-me até lá, e obtenham o fruto para mim.”

“Ela é parte do rei Vessavana. É impossível chegar próximo dela. Toda àrvore das raízes até em cima está cercada com sete teias de aço ; ela é guardada por milhares de milhões de duendes Kumbhanda ; se vêem alguém, ele está arruinado. O lugar é como o fogo da dissolução e o fogo do inferno. Não peça tal coisa !”

“Se não vão comigo, então descrevam o lugar para mim.” ele disse.

Deste modo disseram a ele para seguir tal e tal caminho. Ele escutou cuidadosamente as instruções deles. Ele não se mostrava de dia ; mas ao final da noite, quando os duendes vão dormir, ele se aproximou d'árvore e começou delicadamente a subir por uma de suas raízes, quando clink ! Caiu a teia de aço – os duendes acordaram – viram o papagaio e o pegaram, gritando, “Ladrão !” Depois discutiam o que seria feito com ele.

Um falou, “Vou atirá-lo dentro da minha boca e enguli-lo !”

Falou outro, “Vou esmagá-lo e amassá-lo com minhas mãos e espalhá-lo em pedaços !”

Disse um terceiro, “Vou dividi-lo em dois e cozinhá-lo em carvão em brasa e comê-lo !”

O papagaio escutava-os deliberarem. Sem qualquer medo ele se dirigiu a eles, “Pergunto, Duendes, vocês são homens de quem ?”

“Pertencemos ao rei Vessavana.”

“Bem, tens um rei como mestre e eu tenho um outro também. O rei de Benares me enviou aqui para buscar o fruto d'árvore da manga do âmago. Lá e então ofereci minha vida ao meu rei e aqui estou. Aquele que perde sua vida pelos pais ou mestre nasce de uma vez no céu. Portanto passarei de uma vez desta forma animal para o mundo dos deuses !” e ele repetiu a terceira estrofe :-

Qualquer que seja o lugar que atingem
Aqueles, que com auto-anulação heroica,
Esforçam-se com todo zelo para alcançar o objetivo de seu mestre -
A este mesmo lugar logo terei acesso.

Deste jeito ele discursava, repetindo esta estrofe. Os duendes escutaram e ficaram agraciados de coração. “Esta é uma criatura reta,” eles disseram, “não devemos matá-lo – deixe-o ir !” Assim o deixaram sair e disseram, “Dizemos, Papagaio, estais livre ! Saia incólume de nossas mãos !”

“Não me deixem voltar de mãos vazias,” disse o papagaio : “dêm-me uma fruta d'árvore !”

“Papagaio,” eles disseram, “não é de nossa alçada dar frutos desta árvore. Todos os frutos desta árvore estão marcados. Se houver um fruto danificado, perdemos nossas vidas. Se Vessavana estiver irado e nos olhar apenas uma vez, mil duendes são dissolvidos e espalhados como ervilhas tostadas saltando em uma chapa quente. Portanto não podemos te dar nenhuma. Mas te diremos um lugar onde podes conseguir algumas.”

“Não me importa quem dê,” disse o papagaio, “mas o fruto preciso conseguir. Digam-me onde posso obtê-lo.”

“Em um dos tortuosos caminhos da Montanha Dourada vive um asceta chamado Jotirasa, que guarda o fogo sagrado em uma cabana com teto de sapê, chamada Kañcana-patti ou Folha dourada, a favorita de Vessavana ; e Vessavana envia a ele constantemente quatro frutos da árvore ; vá até ele.”

O papagaio pediu licença e foi até o asceta ; ele o saudou e sentou em um dos lados. O asceta perguntou,
“De onde viestes ?” “Do rei de Benares.” “Por quê viestes ?”
“Mestre, nossa Rainha está com um grande desejo de manga do âmago e por isto eu vim. Os duendes entretanto não me deram nenhuma mas me enviaram até ti.”

“Sente-se, e terás uma,” disse o asceta. Vieram então as quatro que Vessavana costumava enviar. O asceta comeu duas delas deu uma para o papagaio comer, e quando esta já estava digerida ele pendurou a quarta numa corda e amarrou ao redor do pescoço do papagaio e o deixou partir - “Vá agora !” disse ele. O papagaio voou de volta e a deu a Rainha. Ela comeu e satisfez o desejo mas apesar de tudo não teve filho.
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Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka com estas palavras : “Naquele tempo a mãe de Rahula era a Rainha, Ānanda era o papagaio, Sariputra era o asceta que deu a manga do âmago mas o asceta que vivia no parque era eu mesmo.”








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