sexta-feira, 17 de abril de 2009

274 Buddha Pombo



274
“Quem é esta siriema ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um Irmão ganancioso. A ele também trouxeram para a Sala de Audiência quando o Mestre disse - “Não é apenas agora que ele é ganancioso ; ganancioso ele foi antes e sua ganância o fez perder a vida ; e por causa dele sábios antigos foram afastados de casa e do lar.” Então ele contou uma história.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o cozinheiro de um rico mercador desta cidade pendurou uma cesta-gaiola na cozinha para com ela ganhar mérito. O Bodhisatva naquele tempo era um Pombo ; e ele veio e lá vivia.

Bem, um Corvo ganancioso enquanto voava pela cozinha foi atraído pelos peixes que lá haviam em grande variedade. Ficou faminto após isto. “Como posso conseguir um pouco ?” pensou ele. Então seus olhos perceberam o Bodhisatva. “Já sei !” pensou ele, “farei desta criatura minha garra de gato.” E assim foi como ele decidiu seu propósito.

Quando o Pombo saiu na busca de sua comida diária, atrás dele, seguindo, veio o Corvo.

“O que queres comigo, Sr. Corvo ?” disse o Pombo. “Você e eu não nos alimentamos do mesmo modo.”

“Ah, mas eu gosto de ti,” disse o Corvo. “Deixe-me ser teu humilde servo e me alimentar contigo.”

O Pombo concordou. Porém, quando saíram alimentando-se juntos, o Corvo só fingia que comia ; uma vez ou outra ele virava e bicava alguns pedaços em esterco de vaca e apanhava um verme ou dois. Quando já tinha a barriga cheia, elevava-se em vôo - “Alô, Sr. Pombo ! Quanto tempo levas para se alimentar ! Não sabes traçar um limite. Vamos, voltemos antes que fique tarde.” E assim fizeram. Quando voltavam juntos, o Cozinheiro, vendo que o Pombo trouxera um amigo, pendurou outra gaiola-cesta.

Deste jeito a coisa prosseguiu por quatro ou cinco dias. Então uma grande compra de peixes chegou na cozinha do homem rico. Como o Corvo ansiava por comer alguns ! Lá ficou deitado, desde manhã cedo, gemendo e fazendo barulho. De manhã, disse o Pombo ou Corvo :
“Vamos, camarada, - refeição matinal !”
“Você pode ir,” ele disse, “estou com alguma indigestão !”
“Um Corvo com indigestão ? Nonsense !” disse o Pombo. “Mesmo uma bucha de lampião dificilmente permanece um momento sequer em teu estômago ; e qualquer outra coisa você digere em um triz, assim que come. Agora faça o que te digo. Não se comporte assim só por ter visto um pequeno peixe. !”
“Pois, senhor, o que estais dizendo ? Te digo que estou com dor na barriga !”
“Está certo, está certo,” disse o Pombo ; “apenas tome cuidado.” E voou para fora.

O Cozinheiro aprontou todos os pratos e depois permaneceu na porta da cozinha, enxugando o suor. “Agora é minha hora !” pensa o sr. Corvo e pousa em um prato de comidas finas. Click ! O cozinheiro escuta o barulho e olha ao redor. Ah ! Em um piscar de olhos ele pega o Corvo e depenando-o todo, exceto um tufo no topo da cabeça ; depois passou gengibre e canela misturados em manteiga por todo o corpo do pássaro. “Isto é por ter estragado o prato do patrão e me fazer jogá-lo fora !” disse ele e jogou o pássaro na cesta. Oh, como dói !

Logo logo chega o Pombo de sua caça. A primeira coisa que ele vê é nosso Corvo, fazendo grande barulho. Que troça não fez dele, esteja certo ! Caiu poeticamente assim como segue :-

Quem é esta siriema de crista que vejo
Onde não deveria estar ?
Saia ! meu amigo Corvo aproxima-se,
E temo te machucará .

A isto respondeu o Corvo com outro verso:

Nenhuma siriema de crista eu sou - não, não !
Nada mais que um Corvo ganancioso.
Não faria como a mim foi dito
Portanto como vês depenado estou.

E o Pombo adicionou um terceiro :-

Estais em sofrimento de novo, eu sei -
É da sua natureza estar assim.
Se pessoas fazem prato de carne,
Não devem pássaros comerem.

Então o Pombo voou embora, dizendo - “Não posso viver com esta criatura.” E o Corvo ficou lá gemendo até que morreu.
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Quando o Mestre terminou este discurso, declarou as Verdades e identificou o Jataka :- na conclusão das Verdades o Irmão ganancioso alcançou o Fruto do Terceiro Caminho :- “O Irmão ganancioso naqueles dias era o Corvo ganancioso ; e eu era o Pombo.” Cf. Jataka 42



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