quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

246 O mau mata...etc.


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246
O mau mata...etc.” - Esta é uma história que o Mestre contou enquanto estava em sua câmara oitanada próxima a Vesali, sobre Sihasenapati.

É dito que este homem, após ter fugido para os Refúgios, ofereceu hospitalidade e então ofertou comida com carne nela. Os ascetas nus escutando isto ficaram com raiva e desgostosos ; queriam fazer mal ao Buddha ; “O sacerdote Gautama,” eles zombavam, “com seus olhos abertos, come carne carne preparada de propósito para ele.”

Os Irmãos discutiam este assunto no seu Salão da Verdade : “Amigo, Nathaputra o Asceta, zomba dizendo, 'Sacerdote Gautama come carne preparada de propósito para ele, com olhos abertos '.” Escutando isto, o Mestre respondeu:- “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Nathaputra zomba de mim por comer carne preparada de propósito para mim ; ele fez justo o mesmo em tempos anteriores.” E contou a eles um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu um brahmin. Quando cresceu abraçou a vida religiosa.

Ele desceu do Himalaia para conseguir sal e temperos e dia seguinte andava pela cidade na coleta de ofertas. Um certo homem rico planejou irritar o asceta. Então o trouxe para sua casa, indicou um assento e o serviu com peixe. Após a refeição, o homem sentou em um dos lados e disse, Esta comida foi preparada de propósito para você, com morte de criaturas vivas. Este erro não está sobre minha cabeça mas sobre a tua !” E ele repetiu a primeira estrofe :-

O mau mata, cozinha e dá de comer :
Ele é maculado com o pecado que tem em tal carne.

Escutando isto, o Bodhisatva recitou a segunda estrofe:-

O homem mau, de presente mata esposa ou filho,
Ainda assim, se o santo come, nenhum pecado é feito.

E o Bodhisatva com estas palavras de instrução levantou-se do assento e partiu.

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Este discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka : “Nathaputra o Asceta Nu era este homem rico e eu era o asceta.”

[ N. do Tr.: Nigantha Nathaputra é Maha Vira, Grande Irmão, de Buddha, contemporâneo deste e o último Tirthankara da religião dos Jainas.

"O sexto século antes de Cristo na antiga Índia foi um período central numa idade de insatisfação intelectual, ceticismo, e de experimentos psicológicos. Os grandes monumentos desta idade são os Upanishads, os ensinamentos de Buddha, e os ensinamentos de Mahavira. "

"Enquanto a comunidade Budista não mais existe na Índia, exceto no Nepal e no Ceilão, mas está representada em toda a Ásia Oriental, os Jainas sobreviveram na Índia até os dias de hoje, mas não estabeleceram-se fora. Os Jainas encontram-se em quase todas as cidades grandes da Índia, principalmente entre comerciantes. Eles são politica e economicamente poderosos. Deve-se a eles o esplendor arquitetônico de muitas cidades da Índia Ocidental ..." Ananda Coomaraswamy em Jaina art.

Em todos estes exemplos Buddha está representado em atitude de meditação (Dhyana) com as pernas cruzadas e as mãos colocadas no colo em pose de yoga. Na mesma atitude encontram-se por toda a Índia as imagens dos vinte e quatro Tirthankaras dos Jainas e mesmo pessoas altamente educadas não são capazes de distinguir uma classe de imagens de outra ... As imagens dos Jainas estão completamente desvestidas de roupa...”. Gopinatha Rao, Elements of Hindu Iconography, p. 220. ]













segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

245 Tempo tudo consome...etc.


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   ( Imagem d'árvore da jujuba, goma arábica, que na realidade é goma indiana )

245
Tempo tudo consome...etc.” - Esta é uma história contada pelo Mestre enquanto ele estava próximo a Ukkattha no Parque Subhagavana que se conecta com o Capítulo sobre a Sucessão das Causas.

Naquele tempo, é dito, quinhentos brahmins que dominavam os três Vedas, tendo abraçado a salvação, estudavam os Três Pitakas. Estes aprendidos, eles ficaram intoxicados de orgulho, pensando consigo mesmo - “O Supremo Buddha sabe apenas os Três Pitakas e nós o sabemos também. Então, qual é a diferença conosco ?” Eles interrompem suas visitas ao Buddha e seguem com séquito próprio.

Um dia o Mestre, quando estes homens estavam sentados diante dele, repetia o Capítulo sobre a Sucessão das Causas e o adornava com os Oito Estágios do Conhecimento. Eles não entenderam nem uma palavra. Veio o pensamento à mente deles - “Até agora acreditávamos que, comparando conosco, ninguém era tão inteligente e disto não entendemos nada. Ninguém é tão inteligente quanto os Buddhas : Ó, a excelência dos Buddhas !” Após isto tornaram-se mais humildes, tão mansos quanto serpentes com suas presas extraídas.

Quanto o Mestre já tinha permanecido tanto quanto queria em Ukkattha, ele partiu para Vesāli ; e no santuário de Gautama ele repetiu o Capítulo sobre Gautama. Houve um estrondo de mil mundos ! Escutando isto, estes Irmãos tornaram-se santos.

Contudo, após o Mestre terminar a fala do Capítulo sobre a Sucessão das Causas, durante sua visita a Ukkattha os Irmãos discutiram o acontecimento todo no Salão da Verdade. “Como é grande o poder dos Buddhas, amigo ! Pois, estes brahmins mendicantes, que estavam acostumados a estar bêbados de orgulho, tornaram-se humildes com a lição sobre a Sucessão das Causas !” O Mestre entrou e perguntou sobre o quê conversavam. Eles disseram. Ele falou, “Irmãos, esta não é a primeira vez que torno estes homens mais humildes, eles que estavam acostumados a manter suas cabeças altas de orgulho ; fiz o mesmo antes.” E então ele contou a eles um conto(a) de tempos antigos.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como um brahmin ; que quando cresceu e a dominou os Três Vedas, tornou-se um professor de larga fama e instruía quinhentos pupilos nos versos sacros. Estes quinhentos, tendo dado suas melhores energias para o trabalho e aperfeiçoado seu entendimento, disseram consigo mesmos, “Nós sabemos tanto quanto nosso professor : não há diferença.”

Assoberbados e teimosos, deixaram de vir para diante (da face) do professor deles e de fazer sua ronda de dever.

Um dia, eles viram o mestre deles sentado debaixo de uma árvore jujuba ; e desejando zombar dele, batiam com os dedos na árvore. “Uma árvore sem valor !” eles disseram.

O Bodhisatva observou que zombavam dele. “Meus pupilos,” ele disse, “vou fazer uma pergunta para vocês.”

Ficaram deliciados. “Fale”, eles disseram, “nós responderemos.”

O professor deles fez a questão repetindo a primeira estrofe :-

Tempo a tudo devora, até ao próprio tempo.
Quem devorará o quê a tudo devora ? - digam !

[N. do Tr.: Kalaghaso, 'o quê consome o tempo,' é aquele que, destruindo a sede por existência, vive assim como para não nascer novamente (explicação da Glosa).]

Os jovens escutaram o problema ; mas nenhum entre eles pôde respondê-lo. Então o Bodhisatva disse, “Não pensem que esta questão está nos Três Vedas. Vocês imaginam que sabem tudo que eu sei e daí agem como a árvore jujuba [N. do Tr.: O fruto da jujuba é frequentemente contrastado com o côco, como sendo apenas exteriormente agradável]. Vocês não sabem que sei um bocado que é desconhecido de vocês. Deixem-me agora : dou a vocês sete dias – pensem sobre esta questão por este tempo.”

Assim o saudaram e partiram, cada um para sua própria casa. Nelas por uma semana ponderaram, e ainda assim não deram conta do problema. No sétimo dia, foram ao professor e o saudaram, sentando.
Bem, vocês de fala auspiciosa, resolveram o problema ?”
Não, não resolvemos,” eles disseram.
Novamente o Bodhisatva falou censurando, pronunciando a segunda estrofe :-

Crescem cabeças em pescoços e cabelos nas cabeças crescerão :
Quantas cabeças têm ouvidos, gostaria de saber ?

Tolos, vocês são,” ele continuou, censurando os jovens : “vocês tem ouvidos com furos neles e não sabedoria;” e ele resolveu a questão. Eles escutaram. “Ah,” eles disseram, “grandes são nossos Professores !” e pediram perdão a ele e diminuindo oorgulho, permaneceram junto ao Bodhisatva.

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Quando o Mestre terminou este discurso, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo estes Irmãos eram os quinhentos pupilos ; e eu mesmo era o professor.”

sábado, 27 de dezembro de 2008

244 Buddha Brahmin


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244
O qu'ele vê...etc.”- Esta história o Mestre contou em Jetavana, sobre um errante que dava voltas vagando pelo campo.

É dito que este homem não conseguia encontrar ninguém para polemizar, argumentar com ele em toda Índia ; até que chegou em Savatthi e perguntou se haveria alguém que disputasse com ele. Sim – foi-lhe dito – o Supremo Buddha ; escutando isto, ele e uma multidão com ele dirigiram-se a Jetavana e colocaram uma questão para o Mestre, enquanto ele estava discursando no meio dos quatro tipos de discípulos. O Mestre respondeu a pergunta dele e então fez uma em resposta para ele. A esta o homem falhou em responder, levantou-se e deu a volta. A multidão sentada ao redor exclamou, “Uma palavra, Senhor, venceu o itinerante !” Disse o Mestre, “Sim, Irmãos, e justo como o venci agora com uma palavra, do mesmo modo fiz antes.” Então ele contou uma história dos dias antigos.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu um brahmin no reino de Kāsi. Ele cresceu, e dominou as paixões ; abraçando a vida religiosa, ele morou um longo tempo nos Himalayas.

Ele desce das terras altas e toma residência próximo a uma cidade considerável, em uma cabana de folhas construída junto a uma curva do rio Ganges.

Um certo peregrino, que não encontrara ninguém que o pudesse responder por toda Índia, chegou naquela cidade. “Há alguém aqui,” perguntou ele, “que possa argumentar comigo ?”

Sim, eles disseram, e contaram a ele sobre o poder do Bodhisatva. Assim, seguido por uma grande multidão, ele fez seu caminho até o lugar onde o Bodhisatva morava, e após saudação, tomou assento.

Você beberia,” ele perguntou, “d'água do Ganges, infusa de odores selvagens do mato ?”
O peregrino tentava pegá-lo com estas palavras. “O quê é Ganges? Ganges pode ser àreia, Ganges pode ser àgua, Ganges pode ser a próxima praia, Ganges pode ser a praia distante !”

Disse o Bodhisatva ao peregrino, “Além d'areia, d'água, da praia de lá e de cá, que outro Ganges podes ter ?” O peregrino não tinha resposta para isto ; ele levantou-se e saiu fora. Quando já tinha ido, o Bodhisatva falou estes versos a guisa de discurso à multidão em assembléia :-

O qu' ele vê, ele não terá ;
O qu' ele não vê, ele anelará.
Ele pode ir ainda por um longo caminho -
O qu' ele quer ele não obterá.

Ele desconsidera o que tem;
Uma vez ganho, não quer.
Ele anela tudo sempre:
Quem nada anela ganha nosso encômio.

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[Cacófato canônico]. Quando este discurso estava terminado, o Mestre identificou o Jataka : “O errante é o mesmo em ambos os casos e eu mesmo o asceta então.”












terça-feira, 23 de dezembro de 2008

243 Buddha Guttila o Músico


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243
Tive um pupilo...etc.” - Esta história o Mestre contou no Bosque de Bambu sobre Devadatra.

Nesta ocasião os Irmãos diziam a Devadatra: “Amigo Devadatra, o Supremo Buddha é teu professor ; dele aprendeste os Três Pitakas e como produzir os Quatro tipos de Ênstase ; não deves agir como inimigo de teu próprio professor!” Devadatra respondeu : “Por quê amigos – Gautama o Asceta meu professor ? Nem um pouco : não foi por meu próprio poder que aprendi os Três Pitakas e produzi os Quatro Ênstases ?” Ele recusava-se a reconhecer seu professor.

Os Irmãos ficaram falando sobre isto no Salão da Verdade. “Amigo! Devadatra repudia seu professor! Ele tornou-se inimigo do Supremo Buddha ! E que destino miserável caiu sobre ele !” O Mestre chegou e inquiriu sobre o quê conversavam. Eles disseram. “Ah, Irmãos,” disse ele, “esta não é a primeira vez que Devadatra repudia seu professor, mostra-se meu inimigo e acaba em um fim miserável. Foi justo o mesmo antes.” E então contou a seguinte história.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu em uma família de músicos. Seu nome era Mestre Guttila. Quando cresceu, profissionalizou-se em todos os ramos da música e sob o nome de Guttila o Músico tornou-se o chefe deles em toda a Índia. Ele não casou mas mantinha seus pais, cegos. [ n. do tr.: Guttila é uma das quatro pessoas que 'em seus corpos terrenos mesmos, atingiram a glória da cidade dos deuses.' ]

Naquele tempo certos mercadores de Benares faziam uma viagem de comércio para Ujjeni. Um feriado foi proclamado ; eles todos se reuniram ; procuraram incensos, perfumes, unções e todo tipo de comidas e carnes. “Paguem o salário,” eles gritaram, “e arranjem um músico !”

Aconteceu que naquele tempo um certo Mūsila era o chefe dos músicos em Ujjeni. Contrataram ele e o fizeram músico deles. Musila tocava violão ; e o afinava no tom mais alto para tocar. Mas eles conheciam o tocar de Guttila o Músico, e a música de Musila parecia arranhar de esteira. De modo que ninguém gostou. Quando Musila viu que não exprimiam nenhum prazer, disse para si mesmo - “Muito agudo, eu suponho,” e afinando o violão num tom médio, assim tocou. Ainda assim permaneceram sentados indiferentes. Pensou ele então, “Suponho que eles não entendem nada disto” ; e fazendo como se ele fosse também ignorante, tocou com as cordas todas soltas. Como antes, eles não deram nenhum sinal. Então Musila pergunta a eles, “Bons mercadores, por quê vocês não gostam da minha música ?”

O quê ! Você está tocando ?” eles gritaram. “Pensávamos que você estava afinando.”
Pois então, vocês conhecem algum músico melhor,” ele perguntou, “ou vocês são muito ignorantes para gostarem da minha música ?”

Os mercadores disseram, “Nós escutamos a música de Guttila o Músico, em Benares ; e a sua parece com a de mulheres cantarolando para fazer bebês dormirem.”

Aqui, peguem seu dinheiro de volta,” disse ele, “não o quero. Apenas levem-me com vocês quando forem para Benares.”

Eles concordaram e levaram ele de volta para Benares com eles ; eles mostraram a casa de Guttila e cada um foi para sua casa.

Musila entrou na moradia do Bodhisatva ; viu o belo violão dele onde estava amarrado : pegou-o e tocou. Com isto os pais anciãos, que não podiam vê-lo porque eram cegos, gritaram -
Os camundongos estão roendo o violão ! Xô! Xô! Os ratos estão mordendo o violão !”

Imediatamente Musila largou o violão e saudou os velhos pais.

De onde você vem? “ eles perguntaram.

Ele respondeu, “Vim de Ujjeni para aprender aos pés de um professor.”

Oh, muito bem,” eles disseram. Ele perguntou onde estava o professor.

Ele está fora, senhor ; mas voltará ho-je,” foi a resposta. Musila sentou e esperou até que ele chegasse ; então após algumas palavras amigáveis, ele contou seu objetivo. Bem o Bodhisatva era hábil em adivinhar a partir das linhas do corpo. Ele percebeu que este não era um bom homem ; então ele recusou. “Vá, meu filho, esta arte não é para você.” Musila então abraça os pés dos pais do Bodhisatva, para que o ajudassem na sua demanda e rogou a eles - “Faça-o me ensinar !” Várias e várias vezes seus pais rogam ao Bodhisatva que faça isto ; até que ele não consegue mais aguentar e faz o quê é pedido. E Musila vai junto com o Bodhisatva para o palácio do rei. 

Quem é este, mestre ?” pergunta o rei, vendo-o.

Um pupilo meu, grande rei !” foi a resposta.

Logo logo ele passa a ser escutado pelo rei.

Bem, o Bodhisatva não lesa seu conhecimento mas ensina seu pupilo tudo que ele mesmo sabe. Isto feito, ele diz, “Seu conhecimento está agora perfeito.”

Pensou Musila, “Agora me profissionalizei na minha arte. Esta cidade de Benares é a cidade principal de toda a Índia. Meu professor está velho ; aqui portanto devo permanecer.” Diz ele então a seu professor, “Senhor, servirei ao rei.” “Bom, meu filho,” respondeu ele, “falarei ao rei sobre isto.”
Ele foi para diante do rei e disse, “Meu pupilo está desejoso de servir sua Alteza. Fixe o salário qual será.”
O rei respondeu, “O salário dele deve ser metade do seu.” E ele voltou e contou isto a Musila. Musila disse, “S'eu receber o mesmo que tu, servirei ; mas se não, então não o servirei.”
Por quê ?” “Diga : não sei tudo que você sabe sabe ?” “Sim, você sabe.” “Então por quê ele me oferece a metade ?”
O Bodhisatva informou ao rei o quê aconteceu. O rei disse, “S'ele é tão perfeito quanto você em sua arte, ele receberá o mesmo que tu.” Esta fala do rei o Bodhisatva contou ao pupilo. O pupilo consentiu na barganha ; e o rei, sendo informado disto, respondeu - “Muito bem. Que dia vocês vão competir, os dois ?” “Que seja no sétimo dia a partir de ho-je, ó rei.”
O rei manda chamar Musila. “Estou entendendo que você está pronto para a disputa com seu mestre ?”
Sim, sua Majestade,” foi a resposta.
O rei tenta dissuadí-lo. “Não faça isto,” ele disse, “não deve nunca existir rivalidade entre mestre e pupilo.”
Calma, ó rei !” gritou ele - “deixe haver uma disputa entre eu e meu professor no sétimo dia ; saberemos qual de nós é mestre em sua arte.”
Então o rei concordou ; e envia o tambor ao redor da cidade batendo com a notícia :- “Escutais! No sétimo dia Guttila o Professor e Musila o Pupilo, se encontrarão às portas do palácio real, para mostrarem suas habilidades. Que o povo da cidade se reúna para ver a habilidade deles !”

O Bodhisatva pensou consigo mesmo, “Este Musila é jovem e novo, eu sou velho e minha força já foi. O quê um homem velho faz não prospera. Se meu pupilo for vencido , não há grande crédito nisto. Se ele me vencer, morte na floresta é melhor que a vergonha que me caberá.” Então para a floresta ele foi mas ficou voltando com medo da morte e indo para a floresta com medo da vergonha. E desse jeito ele passou os seis dias. A grama morreu enquanto ele andava e seus pés fizeram um caminho.
Neste momento, o trono de Sakra ficou quente. Sakra meditou e percebeu o quê acontecia. “Guttila o Músico está sofrendo muita dor na floresta por causa do pupilo. Devo ajudá-lo !” Então ele foi rápido e ficou diante do Bodhisatva. “Mestre,” disse ele, “por quê vais para a floresta ?”
Quem és tu ?” perguntou òutro.
Sou Sakra.”
Então disse o Bodhisatva, “Estou temeroso de ser derrotado por meu pupilo, Ó rei dos deuses ; e por isto fujo para a floresta.” E ele repetiu a primeira estrofe :-

Tive um púpilo, que de mim aprendeu
As melodiosas trovas do violão de sete cordas ;
Ele agora anseia superar em habilidade o professor
Ó Kosiya ! me ajude !

[N. do Tr.: Kosyia quer dizer Coruja,Skr. kauçika, título de Indra, e um dos muitos clãs Indianos que são também nomes de animais.]

Nada tema,” disse Sakra, “sou sua defesa e refúgio :” e ele repetiu a segunda estrofe :-

Nada tema pois te ajudarei na necessidade ;
Pois a honra é a recompensa justa ao professor.
Nada tema! teu púpilo não é rival para ti,
Mas provarás realmente que és melhor pessoa.

Enquanto tocas, deves quebrar uma das cordas do teu violão e tocar só com seis ; e a música será tão boa quanto antes. Musila também deverá quebrar uma corda e ele não será capaz de fazer música com seu violão ; ele então será derrotado. E quando vires que ele está derrotado, deves quebrar uma segunda corda de teu violão, e uma terceira, até a sétima mesmo, e continuarás tocando com nada mais que o corpo ; e com as cordas quebradas o som se espalhará e preencherá toda a terra de Benares pelo espaço de doze léguas.” Com estas palavras ele deu ao Bodhisatva ao Bodhisatva três dados de jogar e continuou : “Quando o som violão tiver preenchido toda a cidade, deves jogar um destes dados para o ar ; e trezentas ninfas descerão e dançarão diante de ti. Enquanto elas dançam atire o segundo dado e trezentas dançarão em frente ao teu violão ; depois o terceiro e entao trezentas mais descerão e dançarão dentro da arena. Eu também haverei de vir com elas ; vá e nada tema !”

De manhã o Bodhisatva voltou para casa. Na porta do palácio um pavilhão foi levantado e um trono colocado à parte para o rei. Ele desceu do palácio e tomou seu lugar no divan no belo pavilhão. Ao redor dele estavam milhares de escravos, mulheres belamente vestidas, cortesãos, brahmins, cidadãos. Todo o povo da cidade se reuniu. No jardim da corte fixaram os lugares em círculos, fila após fila. O Bodhisatva, de banho tomado e ungido, comeu todo tipo de carnes finas ; e de violão na mão sentou esperando em seu lugar. Sakra estava lá, invisível, pousado no ar, cercado de uma grande companhia. Contudo o Bodhisatva o via. Musila também estava lá e sentado em seu assento. Ao redor havia um grande concurso de pessoas.

Primeiro os dois tocaram a mesma peça. Quando ambos tocaram iguais a multidão ficou deliciada e aplaudiu abundantemente. Sakra falou ao Bodhisatva do seu lugar no ar : “Quebre uma das cordas !” disse ele. Então o Bodhisatva quebrou uma corda sonora ; e a corda, apesar de quebrada, soava um som da extremidade quebrada ; parecia música divina. Musila também quebrou uma corda ; mas dela nenhum som veio. Seu professor quebrou a segunda e assim por diante até a sétima corda : ele tocava com o corpo apenas e o som continuava e preenchia a cidade :- a multidão em milhares agitavam e agitavam seus lenços nos ares e aos milhares aplaudiam. O Bodhisatva atirou um dos dados nos ares e trezentas ninfas desceram e começaram a dançar. E quando ele atirou o segundo e o terceiro do mesmo modo, passou a haver novecentas ninfas dançando como Sakra dissera. Então o rei fez um sinal para a multidão ; a multidão se levantou e gritou - “Foi um grande erro querer disputar contra teu professor ! Não conheces tua medida !” Assim gritavam contra Musila ; e com pedras e paus e com o que chegava às mãos, bateram e machucaram ele até a morte e pegando ele pelos pés, o jogaram em um monte de lixo. 

O rei deliciado deu muitos presentes ao Bodhisatva e o mesmo fizeram os da cidade. Sakra do mesmo modo falou agradavelmente com ele e disse, “Sábio Senhor, enviarei daqui a pouco meu auriga Mātali com um carro puxado por um milhar de puro-sangues ; e deverás subir no meu divino carro, puxado por mil corcéis e viajar para o céu ;” e ele assim se foi.

Quando Sakra voltou e sentou em seu trono, feito todo de uma pedra preciosa, as filhas dos deuses perguntaram a ele, “Onde estavas, Ó rei ?” Sakra disse a elas tudo que acontecera e louvou as virtudes e as obras do Bodhisatva. Então as filhas dos deuses disseram,
Ó rei, ansiamos em ver este professor ; traga ele aqui !” 

Sakra chama Mātali. “As ninfas do céu,” disse ele, “desejam ver Guttila o Músico. Vá, faça-o sentar no carro divino e traga-o aqui.” O auriga foi e trouxe o Bodhisatva. Sakra deu a ele saudações amigáveis. “As filhas dos deuses,” disse ele, “desejam escutar tua música, Mestre.”

Nós músicos, Ó grande rei,” disse ele, “vivemos da prática de nossa arte. Por uma recompensa eu tocarei.”
Toque, que eu te recompensarei.”
Não quero nenhuma outra recompensa do que esta : deixe que as filhas dos deuses me digam que atos de virtude as trouxeram para cá ; então eu tocarei.”
Então disseram as filhas dos deuses, “Com prazer te diremos depois que virtudes praticamos ; mas primeiro você toca para nós, Mestre.”
Pelo espaço/tempo de uma semana o Bodhisatva tocou para elas e sua música ultrapassava a música celeste. No sétimo dia ele perguntou às filhas dos deuses sobre suas vidas virtuosas, começando pela primeira. Uma delas, no tempo de Buddha Kassapa, teria dado um manto a um certo Irmão ; e tendo uma existência renovada como uma atendente de Sakra, tornou-se chefa entre as filhas dos deuses, com um séquito de um milhar de ninfas : a ela o Bodhisatva perguntou - “ O quê fizeste em uma existência prévia, que te trouxe para cá ?” O modo desta pergunta e o dom que ela dera estão contados na história de Vimāna : elas dizem como segue :-

Ó deusa brilhante, como a estrêla da manhã,
Soltando tua luz de beleza perto e longe,
De onde vem esta beleza ? de onde esta felicidade ?
De onde todas as bençãos que um coração pode abençoar-se ?
Te pergunto, deusa excelente em poder,
De onde vem esta luz maravilhosa que a tudo invade ?
Quando foste mulher mortal, que fizeste
Para ganhar a glória que te rodeia agora ?

[ A filha dos deuses respondeu :]

Chefe entre homens e chefa entre as mulheres também
Quem dá uma túnica em caridade.
Aquela que dá coisas agradáveis certo é ganhar
Uma casa divina e justa para entrar.
Veja esta habitação, como é divina !
Como fruto de minhas ações boas esta casa é minha:
Mil ninfas prontas no meu chamado ;
Belas ninfas - eu a mais bela delas.
E assim sou excelente de poder;
Daí veio esta luz maravilhosa que a tudo invade !

Outra teria ofertado flores para veneração a um Irmão que anelava ofertas. À outra foi pedido uma grinalda cheirosa de cinco ramos para um santuário e ela deu. Uma outra ofertou doces frutos. Outra, essências finas. Outra deu cinco ramos cheirosos para o santuário do Buddha Kassapa. Outra escutou o discurso dos Irmãos ou Irmãs no caminho, ou tais residiram na casa de alguma família. Outra estava na água e ofereceu água a um Irmão que comera sua refeição em um barco. Outra, vivendo no mundo fez seu dever para com o sogro e a sogra, nunca perdendo a calma. Outra dividia a parte mesmo que recebia e assim comia e era virtuosa. Outra que fora escrava em alguma propriedade, sem raiva e sem orgulho ofertava uma parte da sua porção e nasceu novamente como uma atendente do rei dos deuses. Assim também todas aquelas que estão escritas no livro da história de Guttila-vimana, trinta e sete filhas dos deuses, foram questionadas pelo Bodhisatva cada uma, o que fizera para chegar lá e elas também contaram o que fizeram do mesmo modo em versos.

Escutando tudo isto, o Bodhisatva exclamou : “É bom para mim, em verdade, verdadeiramente é muito bom para mim, ter vindo aqui e escutado como méritos tão pequenos alcançaram grande glória. Portanto, quando eu voltar para o mundo dos homens, darei todo tipo de presentes e realizarei obras boas.” E ele pronunciou esta aspiração :-

Ó, feliz aurora ! Ó, feliz eu devo ser !
Ó feliz peregrinação, onde vejo
Estas filhas dos deuses, divinamente belas,
E ouço suas falas doces ! De agora em diantre juro
Pleno de doce paz, e generosidade,
De temperança e verdade será minha vida,
Até que eu vá para onde não há tristeza.

Então após passarem sete dias, o rei do céu deu ordem a seu auriga Matali e ele sentou Guttila no carro e enviou-o para Benares. E quando ele chegou em Benares, contou ao povo o quê vira com seus próprios olhos no céu. A partir daquele momento o povo resolveu fazer boas ações com todas suas forças.

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Quando o discurso estava terminado, o Mestre identificou o Jataka : “Naqueles dias Devadatra era Musila, Anurudha era Sakra, Ananda era o rei e eu era Guttila o Músico.”