segunda-feira, 31 de março de 2008

82 Buddha Rei dos Devas



82Não mais morar...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Irmão teimoso [ cf. Jātakas 41, 104, 369 e 439 , a mesma conta, a história do Ancião Losaka Tissa ].  
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Então o Bodhisatva pronunciou esta estrofe:-

Não mais morar em palácios de ilhas
De cristal, prata, ou de gemas cintilantes,-
Completamente investido agora estais em arreios de pedra;
Nem esta tortura rangente cessará jamais
Até todo teu pecado ser purgado e a vida terminar.

Assim falando, o Bodhisatva passou para sua morada entre os Devas. E Mittavindaka, tendo vestido aqueles arreios, sofreu tormentos dolorosos até que todos seus pecados estavam consumados, gastos e ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos. 

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka, dizendo, “Este mesmo Irmão teimoso era Mittavindaka daqueles dias, e eu mesmo o Rei dos Devas.”



(Jātaka 439: uma variante do 41 com as mulheres nas ilhas em palácios diversos mas com fim diferente, em que Mittavindaka cumpre um tipo de castigo de Tântalo, Sísifo, Danaides, etc, entre os gregos, aqui, de segurar uma roda de lâmina afiada como navalha ; a imagem de purgatório pode ser entendida seguindo Paul Regnaud, 1894, como as dificuldades da libação diante do fogo em que é oferecida ).






quinta-feira, 27 de março de 2008

81 Ancião Sagata e a Naga




81
    “Nós bebemos...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre sobre o Ancião Sāgata enquanto este morava no parque Ghosita perto de Kosambi.

Pois, depois de passar a estação das chuvas em Sāvatthi, o Mestre veio em peregrinação à cidade de comerciantes chamada Bhaddavatikā, onde pastores de cabras e bois e fazendeiros e andarilhos respectivamente imploravam para que não descesse à Estação de barcas da Mangueira; “pois,” eles disseram, “na Estação de barcas da Mangueira, nos domínios dos ascetas nus, mora uma venenosa e mortal Nāga, conhecida como a Nāga da Estação de barcas da Mangueira, que poderia ferir o Abençoado.” Fingindo não ter os escutado, apesar deles terem repetido o aviso três vezes, o Abençoado seguiu seu caminho.

 Quando o Bento estava morando perto de Bhaddavatikā numa certa gruta de lá, o Ancião Sāgata, um servidor do Buddha, que ganhou tantos poderes sobrenaturais como pode uma pessoa do mundo, foi para aqueles domínios, empilhou uma cama de folhas no lugar em que o rei-Nāga morava, e sentou-se lá de pernas cruzadas. Sendo incapaz de esconder sua natureza má, a Nāga fez muita fumaça. O mesmo fez o Ancião. Então a Nāga soltou chamas. Também soltou o Ancião. Mas, enquanto as chamas da Nāga não machucavam o Ancião, as chamas do Ancião machucavam a Nāga, e assim em pouco tempo ele dominou o rei-Nāga e estabeleceu-o nos Refúgios e nos Mandamentos, depois do que ele voltou ao Mestre. E o Mestre, após morar o quanto quis em Bhaddavatikā, foi para Kosambi. Bem, a história da conversão da Nāga por Sāgata, repercutiu largamente por todo o país, e o povo camponês de Kosambi saiu para encontrar o Abençoado e saudá-lo, depois passaram para o Ancião Sāgata e o saudaram também dizendo, “Diga-nos, senhor, o quê te falta e te forneceremos.” O Ancião permaneceu em silêncio; mas os seguidores dos Seis Sectários (cf. Jātaka 1) responderam assim: - “Senhores, àqueles que renunciaram o mundo, bebida destilada é tão rara quanto aceitável. Vocês acham que poderiam arranjar para o Ancião alguma boa bebida destilada (some clear white spirit) ?” “Com certeza podemos,” disseram os camponeses, e convidaram o Mestre para fazer sua refeição com eles no dia seguinte. Então eles voltaram para sua própria vila e arranjaram para que cada um em sua própria casa oferecesse boa bebida destilada para o Ancião, e conformemente todos fizeram estoque e convidaram o Ancião e encheram-no de bebida, de casa em casa. Tão funda foram suas libações que, no seu caminho para fora da vila, o Ancião caiu prostrado no portão e lá deitou soluçando sem sentidos. No seu caminho de volta de alimentar-se na vila, o Mestre encontrou o Ancião deitado neste estado, e pediu que os Irmãos carregassem Sāgata para casa, e seguiram caminho para o parque. Os Irmãos deitaram o Ancião com sua cabeça voltada para os pés do Buddha mas ele girou de modo que passou a dormir com os pés voltados para o Buddha. Então o Mestre fez sua pergunta, “Irmãos, Sāgata mostra agora o mesmo respeito por mim agora que mostrou antes?” “Não, senhor.” “Diga-me, Irmãos, quem dominou o rei-Nāga da Estação de barcas da Mangueira ?” “Foi Sāgata, senhor.” “Vocês acham que Sāgata no seu estado presente pode dominar mesmo uma cobra-d’água inofensiva ?” “Não poderia, senhor.” “Diga-me, então, Irmãos, é apropriado beber tanto que quando bêbado perca-se os sentidos ?” “É impróprio, senhor.” Bem, após discursar aos Irmãos em censura ao Ancião, o Abençoado determinou como preceito que beber intoxicantes é ofensa que requer confissão e absolvição; após o quê ele levantou-se e passou para seu quarto perfumado.

Reunindo-se no Salão da Verdade, os Irmãos discutiram o pecado de beber destilado, dizendo, “Que grande pecado é beber destilado, senhores, vendo que cegou a excelência de Buddha mesmo alguém tão sábio e dotado como Sāgata.” Entrando no Salão da Verdade neste momento, o Mestre perguntou qual o tema da discussão ; e disseram a ele. “Irmãos,” ele disse, “esta não é a primeira vez que aqueles que renunciaram o mundo perderam seus sentidos por causa da bebida ; a mesma coisa aconteceu em dias idos.” E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família-brahmin do norte em Kāsi; e quando cresceu, ele renunciou ao mundo pela vida de eremita. E ele ganhou os mais Altos Conhecimentos e Consecuções, e morava no gozo da benção do Insight nos Himālaias, com quinhentos pupilos ao seu redor. Uma vez, quando as estações das chuvas veio, seus pupilos disseram a ele, “Mestre, podemos ir para os domínios das pessoas e voltar com sal e vinagre ?” “Por mim, senhores, permaneço aqui ; mas vocês podem ir onde quiserem, e voltem quando a estação das chuvas acabar.”

Muito bem,” eles disseram, e tomando respeitável licença com o mestre, vieram para Benares, onde tomaram domicílio no jardim real. De manhã saíram na coleta de oferta na vila justo fora dos portões, onde conseguiram muito para comer; e dia seguinte eles continuaram seu caminho para dentro da cidade mesma. Os gentis cidadãos deram-lhes ofertas, e o rei logo foi informado que quinhentos eremitas dos Himālaias tomaram residência no jardim real, e que eram ascetas de grande austeridade, dominando, a carne, e de grandes virtudes. 

Escutando sobre o bom caráter deles, o rei foi para o jardim e com graça deu boas-vindas para eles ficarem lá por quatro meses. Eles prometeram que ficariam, e daí em diante foram alimentados no palácio real e abrigados no jardim. Mas um dia um festival de bebida foi dado na cidade, e o rei forneceu aos quinhentos eremitas um largo suprimento das melhores bebidas, sabendo que tais coisas raramente chegam no caminho daqueles que renunciam ao mundo e as suas vaidades. Os ascetas beberam as bebidas e voltaram para o jardim. Lá, em hilária bebedeira, alguns dançaram, alguns cantaram, enquanto outros, cansados de dançarem e cantarem, rodaram em volta das cestas de arroz e outros pertences – e juntos deles deitaram para dormir. Quando já tinham dormido da bebedeira e levantaram para ver os traços (rastros, ‘raspas e restos’) da folia, choraram e se lamentaram dizendo, “Fizemos o quê não devia ser feito. Fizemos este erro por estarmos longe de nosso mestre.” Daí eles deixaram o jardim e retornaram para os Himālaias. Deixando de lado suas tigelas e pertences, saudaram seu mestre e sentaram. “Bem, meus filhos,” ele disse, “passaram bem nos domínios dos seres humanos, e cederam cansativas jornadas na coleta de oferta ? Habitaram em unidade, um com outro ?”

Sim, mestre, ficamos confortáveis; mas bebemos bebida proibida, de modo que, perdendo os sentidos e esquecendo quem éramos, dançamos e cantamos.” E para esclarecer a matéria, compuseram e repetiram esta estrofe:-

Bebemos, dançamos, cantamos, exsudamos ; ainda  bem
Que, enquanto bebemos a bebida que rouba
Os sentidos, não nos transformamos em macacos.

Isto é o quê com certeza acontece àqueles que não estão vivendo aos cuidados de um mestre,” disse o Bodhisatva, censurando aqueles ascetas; e os exortou dizendo, “De agora em diante, não façam novamente tal coisa.” Vivendo com Insight inquebrável, ele tornou-se destinado a renascer depois no Reino de Brahma.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka (e de agora em diante omitiremos as palavras ‘mostrou a conexão’), dizendo,- “Meus discípulos eram o bando de eremitas daqueles dias, e eu o professor deles.”






terça-feira, 25 de março de 2008

80 Buddha Sábio Pequeno Arqueiro



80Gabavaste de tua proeza...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um certo fanfarrão entre os Irmãos. Tradição diz que ele usava reunir ao redor de si Irmãos de todas as idades, e ocupava-se em iludir todos com bazófias mentirosas sobre sua ascendência nobre. “Ah, Irmãos,” ele dizia, “não há família tão nobre quanto a minha, nem linhagem assim incomparável. Sou filho das mais altas linhas principescas; nenhuma pessoa é igual a mim em nascimento ou estado ancestral; não há absolutamente fim ao ouro e prata e outros tesouros que possuímos. Nossos escravos mesmos e os empregados são alimentados com arroz e ensopados e vestem-se com as melhores roupas de Benares e com os perfumes mais finos de Benares eles se perfumam; - enquanto eu, porque me uni à Irmandade, tenho que me contentar com esta comida vil e este traje também vil.”

Mas outro Irmão, após inquirir sobre a condição da família deste, expôs aos Irmãos o vazio da pretensão dele. Então os Irmãos se encontraram no Salão da Verdade, e a conversa começou sobre como aquele Irmão, a despeito dos seus votos em deixar as coisas mundanas e em aderir apenas à Verdade salvadora, seguia iludindo os Irmãos com suas bazófias mentirosas. Enquanto o pecado do sujeito estava em discussão, o Mestre entrou e inquiriu sobre o tema da conversa. E contaram a ele. “Esta não é a primeira vez, Irmãos,” disse o Mestre, “que ele se ocupa em gabar-se; em dias idos também ele se ocupou em gabar-se e iludiu o povo.” E assim falando, ele contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como um brahmin em uma vila de comerciantes ao Norte do país, e quando ele estava crescido, estudou com um professor de fama mundial em Takkasilā ( Taxila ). Lá ele aprendeu os Três Vedas e os Dezoito Ramos do conhecimento e completou sua educação.

E ficou conhecido como o sábio Pequeno Arqueiro. Deixando Takkasilā ( Taxila ), ele veio para o país Andhra em busca de experiências práticas. Bem, acontece que neste Jātaka o Bodhisatva era um pequeno anão corcunda, e ele pensou consigo mesmo, “S’eu aparecer diante de qualquer rei, ele com certeza me perguntará para quê serve um anão como eu; por quê não usar um companheiro alto e grande como meu cavalo protetor e ganhar meu sustento à sombra de sua personalidade mais imponente?” Então dirigiu-se ao quarteirão dos tecelões, e lá vendo um tecelão grande chamado Bhimasena, saudou-o, perguntando o nome dele. “Chamo-me Bhimasena,” disse o tecelão. “E o quê leva um homem grande como você a trabalhar em tal triste comércio ?” “Não posso conseguir sustento de outro jeito.” “Não teça mais, amigo. Em todo o continente não há um arqueiro como eu; mas os reis escarneceriam de mim porque sou anão. E assim tu, amigo, deves ser a pessoa que gaba-se da proeza com o arco, e o rei te tomará como assalariado e te fará aplicar-se chamando-te regularmente. Enquanto isto estarei atrás de ti para realizar as obrigações a ti encarregadas, e então ganharei meu sustento a sua sombra. Desta maneira nós dois floresceremos e prosperaremos. Apenas faça como eu te mandar.” “Gostei de você,” disse o outro.

Conformemente, o Bodhisatva levou o tecelão com ele para Benares, agindo como pequeno pagem do arqueiro e colocando o outro na frente; e quando estavam nos portões do palácio, ele fez o outro enviar mensagem de sua chegada ao rei. Sendo chamado à presença real, o par entrou junto e inclinados ficaram diante do rei. “O quê traz vocês aqui ?” disse o rei. “Sou um poderoso arqueiro,” disse Bhimasena; “não há arqueiro como eu em todo continente.” “Que salário queres para entrares a meu serviço ?” “Mil dinheiros por quinze dias, senhor.” “O quê é este homem para você ?” “Ele é meu pequeno pagem, senhor.” “Muito bem, entre em meu serviço.”

Assim Bhimasena entrou a serviço do rei; mas foi o Bodhisatva que fez todo o trabalho para ele. Bem, naqueles dias havia um tigre na floresta de Kāsi que bloqueava uma auto-estrada muito utilizada e devorava muitas vítimas. Quando isto foi relatado ao rei, ele chamou Bhimasena e perguntou se ele poderia pegar o tigre.

Como poderia chamar-me arqueiro, senhor, se não pudesse pegar um tigre ?” O rei deu a ele presentes e o enviou na missão. E para casa do Bodhisatva veio Bhimasena com as novidades. “Tudo bem,” disse o Bodhisatva ; “pode ir meu amigo.” “Mas você também não vem ?” “Não, não irei ; mas te darei um pequeno plano.” “Por favor, faça-o, meu amigo.” “Bem, não seja apressado aproximando-se só da toca do tigre. O quê farás é reunir um bando de fortes camponeses para marchar para o lugar com mil ou dois mil arcos; quando souberes que o tigre levantou-se, você se atirará no matagal deitarás de bruços. O povo do campo baterá no tigre até a morte; e assim que ele estiver quase morto, corte um cipó com seus dentes, e arraste para perto do tigre morto, puxando o cipó com a mão. À visão do corpo morto do bruto, você gritará – ‘Quem matou o tigre ? Eu planejava conduzi-lo com um cipó, como um boi, ao rei, e com esta intenção estava justamente dentro do mato para pegar o cipó. Devo saber agora quem matou o tigre antes que eu pudesse voltar com meu cipó.’ Então o povo do campo ficará com muito medo e o subornará pesadamente para não falares deles ao rei; terás o crédito de teres matado o tigre; e o rei também te dará um monte de dinheiro.”

Muito bem,” disse Bhimasena; e saiu e matou o tigre justo como o Bodhisatva indicou a ele. Tendo feito a estrada segura para os viajantes, voltou com um largo séquito para Benares, e disse ao rei, “Matei o tigre, senhor; a floresta está segura para os viajantes agora.” Agraciado, o rei o encheu de presentes.

Outro dia, novas vieram de que uma certa estrada estava sendo atacada por um certo búfalo, e o rei enviou Bhimasena para matá-lo. Seguindo as instruções do Bodhisatva, ele matou o búfalo do mesmo jeito que o tigre, e retornou ao rei, que mais uma vez deu a ele muito dinheiro. Ele era um grande senhor agora. Intoxicado com suas novas honrarias, ele tratou o Bodhisatva com desprezo e escarneceu de seguir seus conselhos, dizendo, “Posso continuar sem você. Pensas que não há outro homem aqui que você ?” Estas e muitas outras palavras duras disse ele ao Bodhisatva.

Bem, poucos dias depois, um rei inimigo marchou contra Benares e cercou, sitiou-a, e mandou mensagem ao rei que ou entregasse o reino ou desse batalha. E o rei de Benares ordenou a Bhimasena que saísse para lutar. Então Bhimasena armou-se cap-à-pie (da cabeça aos pés) do modo de um soldado e montou em um elefante de guerra revestido em armadura completa. E o Bodhisatva, que estava seriamente assustado de que Bhimasena podia ser morto, armou-se também cap-à-pie e sentou-se modestamente atrás de Bhimasena. Cercado por uma hoste, o elefante passou para fora dos portões da cidade e chegou à vanguarda da batalha. Às primeiras notas do tambor marcial Bhimasena caiu tremendo de medo. “Se caíres agora, serás morto,” disse o Bodhisatva, e conformemente amarrou uma corda rodeando ele, a qual deixou firmemente segura, para prevenir que ele caísse do elefante. Mas a visão do campo de batalha provou-se demais para Bhimasena, e o medo da morte era tão forte nele que ele cagou nas costas do elefante. “Ah,” disse o Bodhisatva, “o presente não talha (condiz) com o passado. Antes mostravas-te um guerreiro; agora sua proeza reduz-se a cagar no elefante que diriges.” E assim falando, pronunciou esta estrofe:-

Gabavaste de tua proeza, e alta foi tua bazófia;
Você jurou que venceria o inimigo !
Mas é coerente, diante de tuas hostes,
Dar vazão a tal emoção, senhor?

Quando o Bodhisatva terminou com este sarcasmo, disse, “Mas nada tema meu amigo. Não estou aqui para proteger-te ?” Então ele fez Bhimasena sair do elefante, lavar-se e ir para casa. “E agora ganhar renome neste dia,” disse o Bodhisatva, soltando seu grito de guerra enquanto caía na luta. Atravessando o campo do rei adversário, ele o toma e leva vivo para Benares. Em grande alegria por sua proeza, seu patrão real o encheu de honras, e daquele dia em diante toda a Índia escutou a fama do Sábio Pequeno Arqueiro. Para Bhimasena deu presentes, e o mandou de volta para casa; enquanto ele mesmo excedendo em caridade e em obras boas, à morte passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Assim, Irmãos,” disse o Mestre, “esta não é a primeira vez que este Irmão gaba-se; ele foi justo o mesmo em dias idos.” Sua lição terminada, o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Este Irmão que se gaba era Bhimasena daqueles dias, e eu mesmo o Sábio Pequeno Arqueiro.”







segunda-feira, 24 de março de 2008

79 Buddha e o Rei.



79Ele deu tempo aos ladrões...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre um certo Ministro. Ele, é dito, depois de insinuar-se com o rei e após coletar a receita real numa vila da fronteira, em segredo arranjou com um bando de ladrões que marcharia com os homens para fora, para a jângal, deixando a vila para os bandidos saquearem, - na condição que dessem a ele metade do saque. Conformemente, aurora quando o lugar foi deixado sem proteção vieram os ladrões, que mataram e comeram o gado, saquearam a vila e saíram com o saque antes que ele voltasse à tarde com os [soldados] que o seguiam.

Mas levou pouco tempo para sua ladroagem vir a público e chegar aos ouvidos do rei. E o rei mandou buscarem-no, e e sua culpa era manifesta, ele foi rebaixado e outro líder colocado no lugar. O rei então foi até o Mestre em Jetavana e contou a ele o que havia acontecido. “Senhor,” disse o Abençoado, “o sujeito apenas mostrou a mesma disposição agora que em dias idos.” Então com o pedido do rei ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), ele indicou certo Ministro para se tornar chefe de uma aldeia da fronteira; acontece tudo igual ao do caso acima.

 Bem, naqueles dias o Bodhisatva fazia a ronda das vilas da fronteira em seu caminho de comércio, e tomou estadia naquela vila mesma. E quando o chefe marchava com seus homens de volta à tarde com os tambores sendo tocados, ele exclamou, “Este patife, que em segredo instigou, impeliu (to egged on) os ladrões a saquearem a vila, esperou até eles terem fugido para a jângal novamente, e agora ele volta tocando os tambores,- fingindo uma feliz ignorância de que nada de errado aconteceu.” E, assim falando, ele pronunciou esta estrofe:-

Ele deu aos ladrões tempo para irem e matarem
O gado, queimarem as casas, prenderem o povo;
E então tocando tambores, marcha para casa,
- filho não mais, pois tal filho é morto.

(N. do Tr.: a explicação do escoliasta, da glosa, é que um filho que perde toda decência e vergonha, cessa ipso facto de ser um filho, e que sua mãe é sem filhos mesmo que tal filho esteja vivo.)

De tal modo o Bodhisatva condenava o chefe de aldeia. Não muito tempo depois, a ladroagem foi detectada e o tratante punido pelo rei com que merecia sua maldade.

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Esta não é a primeira vez, senhor,” disse o rei, “que ele teve esta disposição ; ele fez justo o mesmo em dias idos.” Sua lição terminada, o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “O chefe de ho-je era também o chefe de aldeia daqueles dias, e eu mesmo o sábio e bom homem que recitou a estrofe.”




quarta-feira, 19 de março de 2008

78 Moggallana Sakra



78 Ambos caolhos...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Senhor Alto Tesoureiro avarento. Perto da cidade de Rājagaha, como nos é dito, havia uma vila chamada Açúcar-mascavo, e nela morava um certo Senhor Alto Tesoureiro, conhecido como o Avarento Milionário, que tinha oitenta ‘crores’ [um crore é dez milhões] ! Nem uma gota mínima de óleo que numa folha de grama coubesse, ele dava ou usava para seu próprio prazer. Então ele não fazia nenhum uso de toda sua riqueza seja para sua família seja para os sábios e brahmins: ela ficava sem uso,- como um lago assombrado por demônios.

 Bem, aconteceu de um dia o Mestre levantar-se aurora movido de grande compaixão, e enquanto pesquisava aqueles amadurecidos para a conversão pelo universo, tornou-se cônscio que este Tesoureiro com sua esposa, distantes algo em torno de seiscentos quilômetros, estavam destinados a trilhar os Caminhos da Salvação.

Bem no dia anterior, o Senhor Alto Tesoureiro fez seu caminho até o palácio para esperar o rei, e estava no seu caminho de volta para casa quando viu um aldeão, que estava bastante vazio por dentro [com fome], comendo um bolo recheado. A visão despertou dentro dele desejo ! Mas, chegando em sua casa mesma, pensou consigo, - “Se disser que gostaria de um bolo recheado, uma hoste inteira de gente vai querer partilhar da minha comida; e isto significa terminar para sempre com meu arroz, ghee e açúcar. Não posso dizer uma palavra para ninguém.” Assim ele ficou andando, lutando com seu desejo. Como hora após hora passava, ele foi ficando amarelo, e mais amarelo, e as veias saltaram como cordas na sua estrutura castigada. Incapaz por fim de aguentar, foi para seu próprio quarto e deitou estirado na cama. Mas ainda assim nem uma palavra diria a ninguém por medo de espoliarem seu patrimônio ! Bem, sua esposa veio até ele, e batendo-lhe nas costas, disse: “Meu marido, qual o seu problema ?”

Nada,” ele disse. “Talvez o rei tenha te contrariado?” “Não, ele não contrariou.” “Seus filhos ou empregados fizeram algo que te aborreceu?” “Nada disso, também.” “Bem, então, você está com desejo de alguma coisa?” Mas ainda assim ele não diria nenhuma palavra, - tudo por causa do seu medo pressuposto de poder perder toda sua riqueza; e ficou lá deitado sem palavras na cama. “Fale, marido,” disse a esposa; “diga-me o quê desejas.” “Sim,” disse ele engolindo em seco, “tenho desejo de uma coisa.” “E qual seria, meu marido?” “Eu gostaria de comer bolo recheado!” “Pois por quê não disseste antes? És rico bastante ! Cozinharei bolos o suficiente para alimentar toda a cidade de Açúcar-mascavo.” “Por quê te preocupas com eles? Devem trabalhar para ganhar seu próprio alimento.” “Bem, então cozinharei o suficiente só para nossa rua.” “Como és rica, hem!” “Então, cozinharei justo o suficiente para nossa casa.” “Como és extravagante !” “Muito bem então, vou providenciar só para nós dois.” “Por quê você tem que se meter nisto ?” “Então cozinharei justo o suficiente para você apenas,” disse a esposa.

Devagar,” disse o Senhor Alto Tesoureiro; “existem muitas pessoas buscando sinais de comida neste lugar. Pegue arroz quebrado, - seja cuidadosa em deixar o arroz inteiro,- e pegue um braseiro e panelas e apenas um pouco de leite e de ghee e mel e melado; então suba com tudo para o sétimo andar da casa e lá cozinhe. Lá sentarei sozinho e sem perturbações para comer.”

Obediente aos desejos dele, a esposa carregou todas as coisas necessárias, subiu todo o caminho sozinha, mandou empregados saírem, e mandou avisar ao Tesoureiro para que viesse. Ele sobe, batendo e trancando porta atrás de porta enquanto subia, até que por fim chegou ao sétimo andar, cuja porta logo trancou. Então ele sentou. Sua esposa acendeu o fogo no braseiro, colocou a panela e passou a cozinhar os bolos.

Bem, cedo de manhã, o Mestre disse ao Ancião Grande Moggallāna,- “Moggallāna, este Milionário Avarento na vila de Açúcar-mascavo perto de Rājagaha, querendo comer ele mesmo bolos, está com tanto medo de deixar os outros saberem, que está fazendo eles serem cozidos no alto do sétimo andar. Vá lá; converta o homem para a abnegação, e com poder transcendental transporte marido e esposa, bolos, leite, ghee, e todo o resto, para cá, Jetavana. Neste dia eu e quinhentos Irmãos ficaremos em casa, e farei com que sejam alimentados com os bolos.”

Obediente às ordens do Mestre, o Ancião com poder sobrenatural passou para a vila de Açúcar-mascavo, e parado no meio do ar diante da janela do quarto, devidamente vestido com suas vestes de baixo e de cima, brilhava como uma imagem em jóias. A vista inesperada do Ancião fez o Senhor Alto Tesoureiro tremer amedrontado. Pensou ele consigo mesmo, “Foi para escapar de tais visitantes que subi para cá: e agora há um deles na janela!” E, falhando em entender e compreender aquilo que devia entender e compreender, ele cuspiu com raiva, como açúcar ou sal atirado no fogo, e explodiu dizendo – “O quê conseguirás, sábio, simplesmente pousado no meio do ar ? Pois podes caminhar para cá e para lá até teres feito um caminho no ar sem caminhos,- e ainda assim não conseguirás nada.”

O Ancião começou a caminhar para cá e para lá no seu lugar no ar ! “O quê conseguirás andando para cá e para lá ?” disse o Tesoureiro ! “Podes sentar de pernas cruzadas em meditação no ar, - e ainda assim não conseguirás nada.” O Ancião sentou de pernas cruzadas ! Então disse o Tesoureiro, “O que conseguirás sentado aí? Você pode vir e sentar no peitoril janela; mas mesmo assim não conseguirás nada !” O Ancião sentou no peitoril da janela. “O quê conseguirás sentado no peitoril da janela ? Pois podes arrotar fumaça que ainda assim nada conseguirás !” disse o Tesoureiro. Então o Ancião arrotou fumaça até todo o lugar estar cheio dela. Os olhos do Tesoureiro começaram a arder como se picados por agulhas; e, temendo que por fim sua casa pegasse fogo, atalhou logo dizendo – “Nada conseguirás mesmo que explodas em chamas.” Pensou ele consigo mesmo, “Este Ancião é muito persistente ! Ele simplesmente não irá embora de mãos vazias ! Devo dar apenas um bolo a ele.” E assim disse a sua esposa, “Minha querida, cozinhe um bolinho e dê ao sábio para nos livrar-nos dele.”

Então ela misturou um pouquinho de massa num pote de barro. Mas a massa inchou e inchou até que preencheu todo o pote, e cresceu até se tornar um grande bolo ! “Nossa, quanta farinha você usou !” exclamou o Tesoureiro vendo. E ele mesmo com a ponta de uma colher pegou um pedacinho da massa bem pequeno, e colocou no fogão para assar. Mas aquele pequeno pedaço cresceu tanto quanto a primeira porção ; e, um após outro, cada pedaço da massa que ele pegava ficava assim muito grande ! Então ele perdeu o ânimo e disse à esposa, “Dê a ele bolo, querida.” Mas, assim que ela pegou um bolo na cesta, todos os bolos grudaram nele. Ela então grita para o marido que todos os bolos grudaram um no outro, e que portanto ela não podia separá-los.

Ah, logo irei dividi-los,” disse ele,- mas descobriu que não conseguia !

Marido e mulher então seguraram a massa de bolos no canto e tentaram separá-la. Mas apesar de puxarem o quanto podiam, não conseguiram juntos o que tentaram sozinhos, fazer com a massa. Bem, enquanto o Tesoureiro puxava a massa de bolos, ele explodiu num perspirar, e seu desejo o deixou. Disse assim a sua esposa, “Não quero bolos; dê-os, cesta e tudo, ao asceta.” E ela aproxima-se do Ancião com a cesta na mão. O Ancião então prega a verdade ao casal, e proclama a excelência das Três Gemas. E, ensinando que dar é sacrifício verdadeiro, ele fez brilhar os frutos da caridade e outras obras boas como a lua cheia nos céus. Vencido pelas palavras do Ancião, o Tesoureiro disse, “Senhor, venha aqui e sente nesta cama para comer seus bolos.”

Senhor Alto Tesoureiro,” disse o Ancião, “o Buddha Onisciente com quinhentos Irmãos está sentado no mosteiro esperando uma comida de bolos. Se tal for sua boa-vontade, eu pediria a ti que trouxesse sua esposa e os bolos com você, e fôssemos até o Mestre.”

“Mas, senhor, onde está o Mestre neste momento ?” “Quarenta e cinco léguas de distância no mosteiro de Jetavana.” “Como faremos todo este caminho, senhor, sem perdermos um longo tempo de viagem ?” Se for de sua vontade, Senhor Alto Tesoureiro, transportarei-o para lá com meus poderes transcendentais. O topo da escada em sua casa permanecerá onde está, mas o fundo estará no portão principal de Jetavana. Deste jeito te transportarei até o Mestre, no tempo que leva para descer as escadas.” “Que seja assim, senhor,” disse o Tesoureiro.

Então o Ancião, mantendo o topo da escada onde estava, ordenou dizendo,- “Que o fundo da escada esteja no portão principal de Jetavana.” E assim aconteceu ! Deste jeito o Ancião transportou o Tesoureiro e sua esposa para Jetavana mais rápido do que numa descida de escada.

Daí esposo e esposa chegaram diante do Mestre e disseram que chegara a hora da comida. E o Mestre, passando para o Refeitório, sentou no assento de Buddha preparado para ele, com a Irmandade ao redor. Então o Alto Senhor Tesoureiro derramou a Água da Doação na mãos da Irmandade com o Buddha à cabeça dela, enquanto sua esposa colocava bolo na tigela do Abençoado. Deste tanto ele tomou o suficiente para manter a vida, como também o fizeram os quinhentos Irmãos. Depois o Tesoureiro seguiu servindo leite misturado com ghee e mel e açúcar-mascavo; e o Mestre e a Irmandade terminaram de comer. Por último o Tesoureiro e sua esposa comeram até se satisfazerem, e ainda assim não terminaram os bolos. Mesmo depois que todos os Irmãos e os adjacentes em todo o mosteiro comeram sua parte, ainda assim não se via sinal do fim. E assim falaram ao Mestre, dizendo, “Senhor, o suprimento de bolos não diminui.”
Jogue-os fora então pelo grande portão do mosteiro.”
Assim jogaram-nos fora numa gruta não distante do portão ; e a partir deste dia um lugar chamado ‘Bolo da Panela de barro,’ é apresentado no fundo desta gruta.

O Senhor Alto Tesoureiro e sua esposa aproximaram-se e ficaram diante do Abençoado, que respondeu agradecido; e no final das palavras dele de agradecimento, o casal atingiu Fruição do Primeiro Caminho da Salvação. Então, pedindo licença ao Mestre, os dois subiram na escada junto ao grande portão e descobriram-se novamente em casa. Depois, o Senhor Alto Tesoureiro  doou oitenta ‘crores’ de dinheiro sozinho para a Fé que o Buddha ensinava.

Dia seguinte o Perfeito Buddha, retornando para Jetavana após o giro de coleta de oferta em Sāvatthi, fez um discurso de Buddha para os Irmãos antes de recolher-se para a reclusão do Quarto Perfumado. À tardinha, os Irmãos se reuniram no Salão da Verdade, e exclamaram, “Como é grande o poder do Ancião Moggallāna ! Em um momento ele converteu o avarento à caridade, trouxe-o com os bolos para Jetavana, colocou-o diante do Mestre, e estabeleceu-o na salvação. Como é grande o poder do Ancião !” Enquanto eles assim sentavam falando da bondade do Ancião, o Mestre entrou, e, tendo perguntado, escutou qual era o tema da conversa. “Irmãos,” ele disse, “um Irmão que converte uma casa, deve se aproximar da casa sem causar qualquer perturbação ou avexamento,- como a abelha mesma quando suga o néctar da flor; em tal saber ele se aproxima e declara a excelência do Buddha.” E em louvor ao Ancião Moggallāna, ele recitou esta estrofe:-

Como abelhas, que não danificam nem o cheiro nem a cor das flores
Mas, carregadas com seu mel, voam longe,
Assim, o sábio, dentro de sua vila anda seu caminho.
(Dhammapada, v.49)

Então, para mostrar mais ainda a bondade do Ancião, ele disse, - “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que o Tesoureiro avarento foi convertido por Moggallāna. Em outros dias também o Ancião o converteu, e ensinou-o como atos e seus efeitos estão ligados juntos.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), havia um Tesoureiro, chamado Illisa, que tinha oitenta ‘crores’, e tinha todos os defeitos fadados aos humanos. Ele era coxo e corcunda e caolho; era infiel não converso, um avarento, nada dando de seus estoques para os outros, nem aproveitando ele mesmo; sua casa era como um lago assombrado por demônios. Ainda assim, por sete gerações, seus ancestrais foram bondosos dando liberalmente o melhor que podiam; mas, quando ele tornou-se Tesoureiro, quebrou com a tradição da sua casa. Derrubando a Casa de Caridade e expulsando os pobres a pancada de seus portões, ele entesourou sua riqueza.

Um dia, quando voltava da audiência com o rei, viu um caipira, que tinha viajado muito e estava cansado, sentado num banco, e enchendo a caneca a partir de um jarro de bebida forte, e bebendo dele, com um bom pedaço de peixe seco cheiroso como aperitivo. A visão fez o Tesoureiro sentir sede de bebida forte, mas ele pensou consigo mesmo, “Se eu beber, outros vão querer beber comigo e isto significa uma despesa arruinante.” Assim ele ficou andando, guardando sua sede. Mas, com o passar do tempo não conseguiu mais; ficou amarelo como algodão velho; e as veias pulavam de sua estrutura afundada. Um dia, retirando-se para seu quarto, deitou-se atirado na cama. Sua esposa veio a ele, e esfregou suas costas, e perguntou, “O quê está errado com meu senhor?”

(O quê segue deve ser contado como na história anterior.) Mas, quando ela por sua vez disse, “Então prepararei bebida só para você,” ele disse, “Se você preparar a bebida na casa, haverão muitos olhando; e pedir as bebidas e sentar e beber aqui, está fora de questão.” Então ele arranjou um único centavo, e enviou um escravo para buscar uma jarra de bebida forte na taverna. Quando o escravo voltou, ele o fez sair da cidade para o lado do rio e colocar a jarra num bosque remoto. “Agora saia !” ele disse, e fez o escravo esperar a alguma distância, enquanto enchia o copo e o corpo.

Bem, o pai do Tesoureiro, que por sua caridade e outras obras boas re-nasceu como Sakra no Reino dos Devas, estava naquele momento imaginando se sua bondade ainda era guardada ou não, e tornou-se cônscio de que sua bondade fora interrompida, e do comportamento de seu filho. Ele viu como seu filho, quebrando as tradições da sua casa, botou abaixo a Casa de Caridade, expulsou os pobres a pancada dos portões, e como, em sua avareza, temendo partilhar com outros, aquele filho furtara-se para um bosque para beber sozinho. Movido pela visão, Sakra gritou, “Irei até ele e farei meu filho ver que ações têm suas conseqüências; obrarei a conversão dele, e o farei caridoso e com valor para re-nascer no Reino dos Devas.” Então assim desceu para a terra, e uma vez mais trilhou os caminhos dos homens, usando o semblante do Tesoureiro Illisa, com a coxidão, a corcundez e a caolhice deste último. Deste jeito ele entra na cidade de Rājagaha e caminha para o portão do palácio, onde fez sua chegada ser anunciada ao rei; e tendo entrado ficou com o devido respeito diante de sua majestade.

O quê o traz aqui nesta hora não usual, Senhor Alto Tesoureiro ?” disse o rei. “Vim, Senhor, porque tenho em minha casa oitenta ‘crores’ de tesouro. Conceda carregá-los e encher o tesouro real.” “Não, meu Senhor Tesoureiro; o tesouro dentro do meu palácio é maior que este.” “Se o senhor não o tiver, devo dá-lo a quem quiser.” “Faça isto com todos os meios, Tesoureiro,” disse o rei. “Assim seja, senhor,” disse o pretenso Illisa, quando com a devida obediência partiu para a casa do Tesoureiro. Os empregados todos reuniram-se a seu redor, mas nenhum pode dizer que não era o patrão real. Entrando, ele ficou no hall e enviou o porteiro, a quem deu ordens de que se alguém parecido com ele mesmo aparecesse e clamasse ser o dono da casa eles deveriam sonoramente dar-lhe uma porretada e atirá-lo para fora. Então, subindo as escadas para os andares de cima, sentou num belo sofá e chamou a esposa de Illisa. Quando ela veio ele disse com um sorriso, “Minha querida, sejamos bondosos.”

Com estas palavras, esposa, crianças, e empregados todos pensaram, “Já faz tempo desde que ele assim esteve intencionado. Ele deve ter bebido para estar de boa vontade e generoso ho-je.” E sua esposa disse a ele, “Sejas bondoso o tanto que quiseres, meu esposo.” “Chame o pregoeiro,” ele disse, “e mande-o proclamar pelo toque do tambor por toda a cidade que todos que quiserem ouro, prata, diamantes, pérolas, e semelhantes, devem vir à casa de Illisa o Tesoureiro.” Sua esposa fez o que ele mandou, e larga multidão logo reuniu-se na porta carregando cestas e sacos. Então Sakra mandou abrir os quartos do tesouro e gritou, “Isto é meu presente para vocês; peguem o que quiserem e sigam caminho.” E a multidão pegou as riquezas lá guardadas, empilhando-as em montes no chão e enchendo sacas e vasos que trouxeram, e saíram carregadas com os espólios. Entre eles estava um camponês que atrelou os bois de Illisa à carruagem de Illisa, encheu-a com as sete coisas de valor, e saiu da cidade pela auto-estrada. Enquanto rodava passou perto do bosque, e cantou louvores ao Tesoureiro nestas palavras:- “Possas viver até os cem, meu bom senhor Illisa ! O quê fizeste por mim neste dia me capacitará a viver sem mais esforço de trabalho. De quem eram estes bois? – seus. De quem era esta carruagem ? - seus. De quem esta riqueza na carruagem ? – sua também. Não houve pai nem mãe que me desse tudo isto ; não, isto veio só de ti, meu senhor.”

Estas palavras encheram o Senhor Alto Tesoureiro de medo e tremor. “Por quê este sujeito está mencionando meu nome nesta conversa,” disse ele para si mesmo. “Pode o rei distribuir minha riqueza para o povo ?” Com o mero pensar ele se agarrou ao arbusto, e, reconhecendo seus bois e carro, segurou-os pelo cabresto, gritando, “Pare, sujeito; estes bois e este carro pertencem a mim.” Desceu pulando o sujeito do carro, com raiva exclamando, “Você tratante ! Illisa, o Senhor Alto Tesoureiro, está dando seus bens para toda a cidade. O quê é que é seu?” E empurrou o Tesoureiro e o atingiu nas costas como com um raio que cai, e partiu com o carro. Illisa se recobrou, tremendo todos os membros, limpou o lodo, e correndo atrás do carro, segurou-o. Novamente o camponês desceu, e pegando Illisa pelos cabelos, dobrou-o e socou-o na cabeça por algum tempo ; então segurando-o pela garganta, atirou-o pelo caminho que veio, e partiu. Maltratado por este duro castigo, Illisa corre para casa. Lá, vendo o povo partindo com o tesouro, colocava as mãos em uma pessoa aqui e lá, guinchando, “Ei! O quê é isto? O rei está me espoliando?” E toda pessoa em que ele colocava as mãos, derrubava-o a socos. Machucado e ferido ele busca refúgio em sua própria casa, quando os porteiros o param dizendo, “Alô, seu tratante! Onde pensas estar indo?” E primeiro espancando-o sonoramente com bambus, eles tomam seu patrão pela garganta e o atiram para fora. “Ninguém a não ser o rei pode me fazer justiça,” resmungou Illisa, e dirigiu-se para o palácio. “Por quê, oh por quê, senhor,” ele gritava, “saqueaste-me assim ?”

Não, não fui eu, meu Senhor Tesoureiro,” disse o rei. “Não vieste tu mesmo e declaraste a intenção de doar suas riquezas, e se eu não aceitaria ? E não enviaste então um pregoeiro a proclamar e realizaste o quê intencionavas?” “Oh senhor, na realidade não era eu que vim até ti em tal errância. Sua majestade sabe com sovina e fechado eu sou, e como nunca dei nem uma mínima gota de óleo que caberia numa folha de grama. Posso agradar a sua majestade mandar chamar àquele que deu minhas riquezas e questioná-lo sobre o assunto.”

Então o rei mandou chamar Sakra. E os dois eram tão parecidos que nem o rei nem a corte pode dizer quem era o Senhor Alto Tesoureiro real, verdadeiro. Disse o Illisa avarento, “Quem, e o quê, senhor, é este Tesoureiro ? Eu sou o Tesoureiro.”

Bem, realmente não posso dizer quem é o Illisa real,” disse o rei. “Há alguém que possa distinguí-los com certeza ?” “Sim, senhor, minha esposa.” Então a esposa foi chamada e questionada sobre qual dos dois era seu marido. E ela disse que Sakra era seu marido e foi para o lado dele. Então foi a vez das crianças e empregados de Illisa serem trazidos e questionados do mesmo modo; e todos concordes declararam que Sakra era o Senhor Alto Tesoureiro real. Aqui a mente de Illisa iluminou-se com a idéia de que tinha uma verruga na cabeça, escondida debaixo do cabelo, cuja existência era sabida apenas por seu barbeiro. Então, como um último recurso, ele pediu que seu barbeiro fosse chamado para identificá-lo. Bem, nesta época o Bodhisatva era o barbeiro dele. Conformemente, o barbeiro foi chamado e questionado se podia distinguir o Illisa falso do real. “Eu posso dizer, senhor,” ele falou, “se puder examinar as cabeças deles.” “Então dê uma olhada em ambas as cabeças,” disse o rei. Naquele instante Sakra fez que crescesse uma verruga em sua cabeça ! Após examinar os dois, o Bodhisatva relatou que, como ambos tinham verrugas nas cabeças, ele não poderia dizer quem era a pessoa real. E com isto pronunciou esta estrofe:-

Ambos caolhos; ambos carecas; ambos corcundas também;
E ambos têm verrugas semelhantes ! Não posso dizer
Qual dos dois é o Illisa real.

Escutando sua última esperança falhar assim, o Senhor Alto Tesoureiro caiu em convulsão; e tal era sua angústia intolerável em perder as amadas riquezas, que caiu desmaiado no chão. Daí Sakra mostrou seus poderes transcendentais, e, elevando-se nos ares, dirigiu-se ao rei nestas palavras: “Não sou Illisa, Ó rei, mas Sakra.” Então os que estavam juntos bateram na face de Illisa e jogaram água nela. Recobrando-se, ele levantou-se nos pés e inclinou-se até o chão diante de Sakra, Rei dos Devas. Então disse Sakra, “Illisa, minha era a riqueza, não tua; eu sou teu pai, e tu és meu filho. No meu tempo de vida eu era bondoso com os pobres e alegrava-me em fazer o bem ; e por isto, avancei para este alto estado e me tornei Sakra. Mas tu, não andando nas minhas pegadas, te tornaste sovina e avarento ; derrubaste minha Casa de Caridade, afastaste do portão os pobres, e entesouraste tuas riquezas. Tu dela não gozaste, nem deixaste nenhum outra pessoa o fazer; mas teu estoque se tornou como um lago assombrado por demônios, aonde ninguém pode saciar sua sede. Não obstante, se tu reconstruíres minha Casa de Caridade e mostrar bondade para com os pobres, isto será contado para ti como justiça. Mas, se não, te tirarei tudo que tens, e clivarei tua cabeça com meu raio de Indra, e tu morrerás.”

Com esta ameaça Illisa, tremendo por sua vida, gritou, “De agora em diante serei bom.” E Sakra aceitou a promessa dele, e, ainda sentado no meio do ar, estabeleceu seu filho nos Mandamentos e pregou a Verdade a ele, partindo daí para sua morada. E Illisa foi diligente em fazer ofertas e obras boas, e assim assegurou seu re-nascer depois no céu.

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Irmãos,” disse o Mestre, “esta não é a primeira vez que Moggallāna converte o Tesoureiro avarento; em dias idos também o mesmo homem foi por ele convertido.” Sua lição terminada, ele mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Este Tesoureiro avarento era Illisa naqueles dias, Moggallāna era Sakra, Rei dos Devas, Ānanda era o rei, e eu mesmo o barbeiro.”




terça-feira, 18 de março de 2008

76 Buddha Asceta



76Não me causa medo a cidade...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um irmão-leigo que vivia em Sāvatthi.Tradição diz que este homem, que entrou nos Caminhos e crente diligente era, viajava junto, na companhia de uma caravana e de seu líder ; na jângal os carros foram desatrelados e um acampamento construído ; e o bom homem começou a andar para baixo e para cima aos pés de certa árvore perto do líder.

Bem, quinhentos ladrões, que esperavam a sua hora, haviam cercado o lugar, armados com arcos, porretes e outras armas, com o objetivo de saquear o acampamento. Constante e incessantemente aquele irmão-leigo andava para cá e para lá. “Certamente aquela é a sentinela,” disseram os ladrões quando o notaram; “esperaremos até que ele durma para então saqueá-los.” Assim, incapazes de surpreender o acampamento pararam onde estavam.

Constante aquele irmão-leigo continuou andando para cá e para lá,- durante a primeira vigília, durante toda a segunda vigília, e durante toda a última vigília da noite. Quando dia ‘aurorou’, os ladrões, que não tiveram a mínima chance, jogaram fora as pedras e porretes que trouxeram, e foram embora.

Seu negócio feito, aquele irmão-leigo voltou para Sāvatthi e aproximando-se do Mestre, perguntou-o esta pergunta, “As pessoas que se guardam, Senhor, provam-se guardiães das outras ?”
Sim, irmão-leigo. Em guardando a si-mesmo uma pessoa guarda outras; em guardando outras, ela guarda a si-mesma.”

Oh, como está bem dito, senhor, este pronunciamento do Abençoado ! Quando viajava com um líder de caravana, resolvi guardar a mim mesmo andando de um lado para outro ao redor de uma árvore, e fazendo isto guardei toda a caravana.”

Disse o Mestre, “Irmão-leigo, em dias idos também o sábio e bom guardou outros enquanto guardava a si-mesmo.” E, assim falando, ao pedido do irmão-leigo ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares (Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida como brahmin. Chegando na idade da discrição, tornou-se cônscio dos males que brotam das Luxúrias, e abandonou o mundo para viver como recluso no país ao redor dos Himālaias. Necessidade de sal e vinagre o fez peregrinar por coleta de oferta através do país, viajando no curso de suas perambulações com uma caravana de mercadores.

 Quando a caravana parou num certo lugar na floresta, ele andava para cá e para lá aos pés de uma árvore, perto da caravana, gozando da benção do Insight.

Bem, depois da janta quinhentos ladrões cercaram o acampamento para roubá-lo; mas, notando o asceta, pararam dizendo, “Se ele nos ver, dará o alarme; esperemos até que ele caia para dormir, e então os assaltaremos.” Mas por toda a longa noite o asceta continuou a andar para cima e para baixo; e nenhuma chance tiveram os ladrões ! Assim eles jogaram fora os paus e pedras e gritaram para o povo da caravana;- “Ei aí ! vocês da caravana ! Se não fosse o asceta ficar andando ao redor da árvore teríamos roubado as riquezas de vocês. Lembrem e festejem ele na manhã!” E tendo assim falado, foram embora. Quando a noite deu lugar à luz, o povo viu os porretes e pedras que os ladrões jogaram fora, e vieram temendo e tremendo perguntar ao Bodhisatva com respeitosa saudação se havia visto os ladrões. “Oh, sim, vi, senhores,” ele respondeu. “E não ficaste assustado ou com medo vendo tantos ladrões?” “Não,” disse o Bodhisatva; “a vista de ladrões causa o quê chama-se de medo apenas nos ricos. Quanto a mim,- sou sem centavo; por quê temeria ? Esteja morando numa cidade ou numa floresta, nunca tenho medo ou pavor.” E com isto, para ensiná-los a Verdade, ele repetiu esta estrofe:-

Não me causa medo a cidade;
Nem floresta me desconsola.
Ganhei através do amor e da caridade
O caminho perfeito da Salvação.

Quando o Bodhisatva ensinou a Verdade nesta estrofe ao povo da caravana, paz preencheu os corações deles, e prestaram a ele honra e veneração. Por toda sua longa vida ele desenvolveu as Quatro Excelências,e então re-nasceu no Reino de Brahma.

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Sua lição terminada, o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Os seguidores do Buddha eram o povo da caravana daqueles dias, e eu o asceta.”








sexta-feira, 14 de março de 2008

75 Buddha Peixe

                                       

75Pajjunna, trovão !...etc.”- Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana, sobre a chuva que ele fez que caísse. Pois naqueles dias, assim é dito, não caía nenhuma chuva em Kosala ; as colheitas murcharam; em todo lugar poços, tanques e lagos secaram ; e peixes e tartarugas enterravam-se no lodo. Então chegam os corvos e gaviões com seus bicos como lanças, e com diligência pica-os, colhe-os, torcendo e retorcendo (writhing and wriggling) e os devoram.

Percebendo como os peixes e tartarugas eram destruídos, o coração do Mestre moveu-se de compaixão, e ele exclamou, -“Neste dia devo fazer chuva cair.” Assim, quando da noite nasceu dia, após atender suas necessidades corporais, ele esperou até ser a hora apropriada para sair em busca de coleta, e então, cercado por uma hoste de Irmãos, e perfeito com a perfeição de um Buddha, foi para Sāvatthi em coleta. No caminho de volta para o Mosteiro à tarde após a ronda de coleta de oferta em Sāvatthi, ele parou em um dos degraus que desciam para o tanque de Jetavana, e dirigiu-se ao Ancião Ānanda: -“Ānanda, traga-me roupa de banho ; pois me banharei no tanque de Jetavana.” “Mas com certeza, senhor,” respondeu o Ancião, “a água secou toda, e só há lodo.” “Grande é o poder de um Buddha, Ānanda. Vá, traga-me roupa de banho,” disse o Mestre. Foi então o Ancião e trouxe roupa de banho, que o Mestre vestiu, ficando uma ponta ao redor da cintura e cobrindo até em cima com a outra. Vestido, tomou seu lugar nos degraus do tanque, e exclamou, - “Satisfeito me banharia no tanque de Jetavana.”

Naquele instante o trono pedra amarela de Sakra ficou quente debaixo, e ele buscou descobrir a causa. Percebendo o quê era, ele chama o Rei das Nuvens de Tempestade, e disse, “O Mestre está em pé nos degraus do tanque de Jetavana e deseja banhar-se. Apresse-se e derrame chuva numa torrente única por todo o reino de Kosala.” Obediente a ordem de Sakra, o Rei das Nuvens de Tempestade vestiu-se de uma nuvem como de uma roupa de baixo, e de outra nuvem como de uma veste de fora, e cantando a canção da chuva (Megha-sutra) arremessou-se para leste. E vejam! ele apareceu no leste como uma nuvem do tamanho de um pátio, eira, que cresceu e cresceu até ficar grande como cem, como mil, pátios, eiras ; e ele trovejou e relampejou, e inclinando para baixo sua face e boca ‘diluviou’ toda Kosala com torrentes de chuva. A tempestade caiu sem parar, rapidamente enchendo o tanque de Jetavana e parando apenas quando a água estava no nível do degrau mais alto.

 Então o Mestre banhou-se no tanque, e depois saindo da água vestiu-se com suas duas roupas alaranjadas e com seu cinto, ajustando sua roupa de Buddha de modo que deixou um ombro exposto. Deste jeito partiu, cercado pelos Irmãos, e passou para seu Quarto Perfumado, fragrante de doces cheiros de flores. Aí no assento de Buddha sentou, e quando os Irmãos já haviam realizado suas obrigações, ele levantou-se e exortou a Irmandade dos degraus em jóias de seu trono, e os dispensou. Dentro já de seu próprio quarto de odores doces, ele esticou-se, como um leão, no seu lado direito.

Ao crepúsculo, os Irmãos reúnem-se no Salão da Verdade, sob a clemência e gentileza do Mestre. “Quando as colheitas estavam murchas, quando os poços estavam secos e os peixes e tartarugas estavam em triste apuro, então ele em sua compaixão veio como salvador. Vestindo roupa de banho, ele permaneceu nos degraus de Jetavana e num curto intervalo fez a chuva cair dos céus até que ela parecia cobrir toda Kosala com suas torrentes. E quando voltou para o Mosteiro, tinha libertado a todos de maneira semelhante das tribulações da mente e do corpo.”

Assim corria a conversa quando o Mestre saiu de seu Quarto Perfumado para o Salão da Verdade, e perguntou qual era o tema ; e disseram a ele. “Esta não é a primeira vez, Irmãos,” disse o Mestre, “que o Abençoado fez cair chuva em hora de grande necessidade. Ele fez o mesmo quando nasceu em criação-bruta, nos dias em que era Rei dos Peixes.” E assim falando, ele contou esta história do passado:-

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Certa vez, neste mesmo reino de Kosala e em Sāvatthi também, havia um lago onde o tanque de Jetavana está agora, - um lago cercado por emaranhado de plantas trepadeiras. Dentro dele morava o Bodhisatva, que veio à vida como peixe naqueles dias. E, então como agora, havia seca na terra ; as colheitas murcharam ; água desapareceu dos tanques e poços ; e os peixes e tartarugas enterravam-se no lodo. Do mesmo modo, quando as tartarugas e peixes deste lago escondiam-se no lodo, os corvos e outros pássaros, juntando no lugar, pegavam-nos com seus bicos e os devoravam. Vendo o fado de seus parentes, e sabendo que ninguém a não ser ele poderia salvá-los na hora da necessidade, o Bodhisatva resolveu fazer uma solene Profissão de Bondade, e pela eficácia dela fazer a chuva cair dos céus para salvar seus parentes da morte certa. Assim, separando-se do negro lodo, saiu fora,- um peixe poderoso, enegrecido pelo lodo como a mais fina caixa de madeira de sândalo esfregada com cera. Abrindo seus olhos que eram como rubis escavados pela água, e olhando para os céus ele assim dirigiu-se a Pajjunna, Rei dos Devas,- “Meu coração está pesado dentro de mim por causa dos meus parentes, meu bom Pajjunna. Como aconteceu, prego, que, sendo eu reto esteja estressado por causa de meus parentes, pois não envias chuvas dos céus ? Pois eu, apesar de nato onde é costume presa de semelhantes, nunca desde minha juventude devorei qualquer peixe, mesmo do tamanho de um grão de arroz ; nem nunca roubei uma única criatura viva de sua própria vida. Pela verdade deste meu Protesto, te chamo para que envies chuva e socorra meus semelhantes.” Com isto ele chamou a Pajjunna, Rei dos Devas, como um mestre pode chamar um empregado, com esta estrofe:-

Pajjunna, trovão! Expulse o corvo!
Traga dores a ele; livra-me do meu inimigo!

Deste jeito, como um mestre pode chamar um servente, chamou o Bodhisatva a Pajjunna, a partir daí causando que pesadas chuvas caíssem e aliviassem muitos do medo da morte. E quando sua vida esgotou-se, ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Assim esta não é a primeira vez, Irmãos,” disse o Mestre, “que o Abençoado causou que chuva caísse. Ele fez o mesmo em tempos passados, quando ele era um peixe.” Sua lição terminada, ele identifica o Jātaka dizendo, “Os discípulos do Buddha eram os peixes daqueles dias, Ānanda era Pajjunna, Rei dos Devas, e eu mesmo o Rei dos Peixes.”



Cf. Jātaka 35 que tem várias semelhanças com este.