segunda-feira, 3 de março de 2008

66 Buddha e Coração Gentil



66
Até Coração-gentil ser minha...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre concupiscência. Tradição diz que um jovem nobre de Sāvatthi, escutando a Verdade pregada pelo Mestre, deu seu coração à Doutrina das Três Joias. Renunciando o mundo pela vida de Irmão, elevou-se em andar nos Caminhos, praticar meditação e nunca afrouxava na ponderação do tema que tinha escolhido para pensar. Um dia, enquanto estava na jornada de coleta de oferta em Sāvatthi, viu um mulher bem vestida, e, por prazer, quebrou a mais alta moralidade e olhou para ela ! A paixão foi atiçada, instigada dentro dele e ele se tornou como uma figueira derrubada por machado. Deste dia em diante, no vai e vem da paixão, o palato da sua mente, com também do seu corpo, perdeu todo o gosto ; como uma besta bruta, não tinha alegria na Doutrina, e deixou unhas e cabelos crescerem e seu hábito ficou sujo.

Quando seus amigos entre os Irmãos deram-se conta do seu lamentável estado de mente, disseram, “Por quê, senhor, seu estado é outro do que era?” “Minha alegria se foi,” ele disse. Então eles o levaram até o Mestre, que perguntou a eles por quê traziam aquele Irmão lá contra a vontade dele. “Porque, senhor, a alegria dele se foi.” “Isto é verdade, Irmão?” “É , Abençoado.” “Quem te causou este problema?” “Senhor, estava na coleta na rua quando, violando a mais alta moralidade, olhei uma mulher ; e a paixão surgiu dentro de mim. Daí que vem o problema.” Disse o Mestre então, “É maravilha pouca, Irmão, que quando, violando moralidade, você olhe por prazer, um ser excepcional, sejas agitado de paixão. Pois, em tempos passados, mesmo aqueles que ganharam os cinco Altos Conhecimentos e as oito Consecuções, aqueles que pelo poder do Insight temperaram suas paixões, cujos corações estavam purificados e com os pés que podiam andar nos céus, sim, mesmo Bodhisatvas, por olhar violando moralidade um ser excepcional, perdeu seu insight, foi atiçado de paixão, e chegou a grande sofrimento. Pouco importa ao vento que pode virar Monte Sirenu, um montículo qualquer não maior que um elefante; pouco importa a um vento que pode desenraizar uma poderosa árvore Jambu, um arbusto na face de uma montanha ; e pouco importa a um vento que pode secar um vasto oceano, um pequeno lago. Se paixão pode alimentar loucura em Bodhisatvas de luz suprema e mente pura, deve a paixão ser inferiorizada diante de ti ? Pois, mesmo seres puros são extraviados pela paixão, e aqueles avançados nas mais altas honras, são humilhados.” E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu numa rica família brahmin no país Kāsi. Quando estava crescido e tinha terminado sua educação, renunciou todas as Luxúrias, e, abandonando o mundo pela vida de eremita, foi viver nas solidões dos Himālaias. Lá com o preenchimento devido de todas as formas preparatórias de meditação, ele ganhou com o pensar abstrato os Altos Conhecimentos e as Consecuções enstáticas ; e assim vivia a vida em benção do Insight místico.

Falta de sal e vinagre o trouxeram um dia a Benares, fazendo moradia nos jardins do rei. Dia seguinte, depois das necessidades corporais, vestiu a roupa vermelha de casca de árvore que comumente vestia, jogando por cima do ombro uma pele negra de antílope, amarrou seus cachos num coque no topo da cabeça, e com uma canga amarrou duas cestas que colocou nos ombros, e saiu em jornada de coleta de oferta. Seguindo o caminho chegou no portão do palácio, e sua aparência impressionando ao rei, foi até ele levado. Então o asceta sentou num sofá esplendoroso e foi alimentado com as comidas mais finas. E quando ele agradeceu ao rei, foi convidado a morar no jardim. O asceta aceita a oferta, e por dezesseis anos mora no jardim, exortando os da casa do rei e comendo de sua carne.

Bem veio um dia em que o rei teve que ir para as fronteiras apaziguar um levante. Mas, antes dele partir, encarregou sua rainha, cujo nome era Coração-gentil, em prestar serviços ao homem santo. Assim, após a partida do rei, o Bodhisatva continuou a ir quando queria ao palácio.

Um dia a Rainha Coração gentil preparou uma comida para o Bodhisatva ; mas como ele atrasava em chegar, ela foi para seu toilette. Após banhar-se em água-perfumada, ela vestiu-se esplendorosamente, e deitou, esperando ele chegar, num pequeno sofá de um quarto espaçoso.

Acordando do rapto do Insight, e vendo como estava atrasado, o Bodhisatva se transportou pelos ares até o palácio. Escutando o farfalhar da roupa de árvore, a rainha levantou-se apressada para recebê-lo. Na pressa do levantar, a túnica dela caiu, de modo que a beleza dela foi revelada ao asceta enquanto entrava pela janela ; e àquela vista, violando Moralidade ele olhou com prazer a beleza da rainha. Acesa foi luxúria em seu coração ; ele ficou como árvore derrubada por machado. De uma só vez todo Insight saiu dele, e tornou-se como corvo com asas cortadas. Pegando a comida ainda de pé não comeu mas saiu, todo tremendo de desejo, do palácio para sua tenda no jardim, deitou-se debaixo da cama de madeira e lá ficou por sete dias inteiros presa da fome e da sede, escravizado de amor pela rainha, seu coração em chamas de paixão.

No sétimo dia, o rei voltou de pacificar a fronteira. Depois de passar em procissão solene ao redor da cidade, entrou no palácio. Então, querendo ver o asceta, foi para o jardim, e lá na cela encontrou o Bodhisatva deitado na cama. Pensando que o santo homem estava doente, o rei, após esvaziar a cela, perguntou, enquanto batia nos pés do sofredor, o que o machucava. “Senhor, meu coração esta em cadeias de luxúria ; esta é minha única dor.” “Paixão por quem ?” “Por Coração gentil, senhor.” “Então ela é sua ; dou ela para você,” disse o rei. Então foi com o asceta para o palácio, e pedindo à rainha que se vestisse com esplendor, deu ela ao Bodhisatva. Mas, enquanto estava dando ela, o rei privadamente encarregou-a de tentar ao máximo salvar o santo homem.

“Não tema, senhor,” disse a rainha ; “vou salvá-lo.” Então com a rainha saiu o asceta do palácio. Quando eles já tinham passado o grande portão, a rainha gritou que eles deveriam ter uma casa para morar ; e deviam voltar para pedir ao rei uma. Então voltaram e pediram ao rei uma casa para viver, e o rei deu a eles uma moradia caída em que passantes usavam de dormitório. Para esta casa o asceta levou a rainha ; mas ela categoricamente recusou-se a entrar, por causa do estado de sujeira em que estava.

“Que farei?” ele gritou. “Pois limpe-a,” ela disse. E ela o enviou ao rei para buscar um enxadão e uma cesta para remover a sujeira, e catar emboço para as paredes, de estrume. Isto feito, ela o fez arranjar uma cama, um banco, um tapete, e moringa e copo, enviando-o cada vez para uma coisa. Depois, ela o envia para pegar água e milhares de outras coisas. Saiu então ele atrás da água, e encheu os potes, e colocou água para o banho, e fez a cama. E, quando ela sentou com ele na cama, ela o tomou pelas costeletas e o puxou para ela até estarem face a face, e disse, “Esqueceste que és homem santo e brahmin?”

Ali ele voltou a si mesmo após seu intervalo de loucura insana.
(E aqui deve-se repetir o texto que começa, “Assim os obstáculos da Luxúria e do Anseio são chamados Ruins porque brotam da Ignorância, Irmãos; aquilo que brota da Ignorância cria Escuridão.”)

Então tendo ele voltado a si mesmo, pensou como crescendo e crescendo, este desejo fatal o condenaria depois aos Quatro Estados de Punição (n. do tr.: ínferos, criação bruta, reino fantasma e reino ruim). “Neste dia mesmo,” ele gritou, “ devolverei esta mulher ao rei e voarei para as montanhas !” Então ficou com a rainha diante do rei e disse, “Senhor, não quero mais sua rainha ; e era apenas por ela que os anseios nasceram dentro de mim.” E assim dizendo, repetiu esta estrofe:-

Até Coração gentil ser minha, um só desejo
Eu tinha, - ganhá-la. Quando sua beleza
Me pertencia, senhor, desejo amontoou atrás de desejo.

Daí em diante seu poder de Insight perdido, voltou. Elevando-se da terra e sentando-se no ar, ele pregou a Verdade ao rei ; e sem tocar na terra passou pelos ares até os Himālaias. Nunca mais voltou aos caminhos dos homens ; mas cresceu em amor e caridade até, com Insight inquebrável, passar para um novo nascimento no Reino de Brahma.

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Sua lição terminada, o Mestre pregou as Verdades, no final das quais aquele Irmão ganhou Arahat(idade). Mostrou também o Mestre a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Ānanda era o rei naqueles dias, Uppala-vannā era Coração gentil, e eu o eremita.”



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