terça-feira, 11 de março de 2008

72 Buddha Elefante



72Na ingratidão mais falta,...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu sobre Devadatra. Os Irmãos sentados no Salão da Verdade, diziam, “Senhores, Devadatra é um ingrato e não reconhece as virtudes do Abençoado.”

 Retornando ao Salão, o Mestre perguntou qual o tema da conversa, e disseram. “Esta não é a primeira vez, Irmãos,” ele disse, “que Devadatra mostra-se um ingrato ; ele foi justo o mesmo em dias idos, e ele nunca conheceu minhas virtudes.” E assim falando, com o pedido deles, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva foi concebido em uma aliá (elefanta) no Himālaias. Quando nasceu, ele era todo branco, como uma poderosa massa de prata. Como bolas de diamantes eram seus olhos, como uma manifestação dos cinco brilhos; vermelha sua boca, como roupa escarlate ; seu tronco como prata salpicada de ouro vermelho ; e suas quatro patas como que pintadas com laca. Assim, sua pessoa, adornada com as dez perfeições, era de beleza consumada. Quando crescido, todos os elefantes dos Himālaias em um só corpo o seguiam como líder. Enquanto residia nos Himālaias com um séqüito de 80.000 elefantes, ele ficou consciente de que havia pecado na horda. Então, destacando-se do resto, viveu em solidão na floresta e a bondade da sua vida lhe valeu o nome de Bom Rei Elefante.

Bem, um mateiro de Benares veio aos Himālaias, e entrou na floresta em busca de implementos ao seu ofício. Perdendo o caminho e o rumo, vagou para cá e para lá, esticando os braços de desespero e choro, com o medo da morte diante dos olhos.

Escutando os gritos humanos, o Bodhisatva foi movido por compaixão e resolveu ajudá-lo na necessidade. E assim aproximou-se do ser humano. Mas ao ver o elefante, o mateiro fugiu correndo apavorado. Vendo ele fugir, o Bodhisatva ficou parado, e isto fez o homem parar também. Então o Bodhisatva novamente avançou, e o mateiro fugiu, parou outra vez quando o Bodhisatva parou. Daí a verdade se revelou ao homem que o elefante parava enquanto ele mesmo fugia, e só avançava quando ele estava parado. Conseqüentemente ele conclui que a criatura não tencionava machucá-lo mas ajudá-lo. Então com valentia ficou parado na sua vez. E o Bodhisatva aproximou-se e disse, “Por quê, amigo ser humano, vagas por aí chorando ?”

Meu senhor,” respondeu o mateiro, “perdi meu caminho e minha direção e temo perecer.”
Então o elefante levou o ser humano para sua própria morada, e lá o acolheu por alguns dias, regalando-o com frutas de vários tipos. Então, dizendo, “Não tema, amigo humano, levarei você de volta aos lugares dos humanos,” o elefante sentou o mateiro nas costas e o trouxe de volta com ele para onde os seres humanos moravam. Mas o ingrato pensou consigo mesmo, que, se questionado, deveria ser capaz de revelar tudo. Então, enquanto viajava nas costas do elefante, ele marcava os montes e as árvores. Por fim o elefante o trouxe para fora da floresta e o colocou na auto estrada para Benares, dizendo, “Aí está seu caminho, amigo humano : nada diga a ninguém, sejas questionado ou não, sobre o lugar em que vivo.” E com esta despedida o Bodhisatva fez seu caminho de volta para sua morada.

Chegando em Benares, o homem veio, no curso de suas andanças pela cidade, ao bazar dos trabalhadores em marfim, onde viu marfim sendo trabalhado em diversas formas e tamanhos. E ele pergunta aos artesãos se dariam algo por uma presa de elefante vivo.
Por quê fazes tal pergunta ?” foi a resposta. “Uma presa de elefante vivo vale grande quantia mais que de elefante morto.”

Ah, então trarei a vocês algum marfim,” ele disse, e saiu partindo para a morada do Bodhisatva com provisões para a jornada e com serra amolada. Sendo questionado o quê o trazia de volta, ele queixou-se que estava numa tal aflição que não tinha como sobreviver. Portanto vinha para pedir um pedaço da bela presa do elefante para vender como sustento ! “Certamente ; te darei uma presa inteira,” disse o Bodhisatva, “se tiveres boa serra para cortá-la.” “Ah, eu trouxe uma serra comigo senhor.” “Então serre minhas presas, e leve-as contigo,” disse o Bodhisatva. E ele dobrou os joelhos até deitar-se no chão como um boi. O mateiro então serrou ambas as presas principais do Bodhisatva ! Quando elas já estavam cortadas, o Bodhisatva tomou-as na sua tromba e assim dirigiu-se ao ser humano, “Não pense, amigo humano, que é porque não prezo as presas nem as aprecio que as dou a ti. Mas mil vezes, cem mil vezes, me são mais caras as presas da onisciência que pode compreender todas as coisas. E portanto possa este meu presente destas me trazer onisciência.” Com estas palavras, ele deu o par de presas ao mateiro como preço da onisciência.

E o ser humano as levou e as vendeu. E quando já tinha gasto o dinheiro, ele voltou ao Bodhisatva, dizendo que as duas presas apenas renderam o suficiente para pagar velhas dívidas, e pedindo o resto do marfim do Bodhisatva. O Bodhisatva consentiu e desistiu do resto do seu marfim após tê-lo cortado como antes. E o mateiro foi embora e vendeu este também. Retornando novamente, ele disse, “De nada adiantou, meu senhor ; não consigo sustento. Então dê-me os tocos das presas.”

Assim seja,” respondeu o Bodhisatva ; e ele sentou como antes. Então aquele vil tratante, trepando no tronco do Bodhisatva, aquele sacro tronco que era como prata em cordas, e escalando as têmporas da futuro Buddha, que eram como o cume nevado do Monte Kelāsa,- chutou as raízes das presas até que elas saíssem da carne. Então ele serrou os tocos e seguiu seu caminho. Mas logo que o tratante saiu da vista do Bodhisatva, a sólida terra, inconcebível em sua vasta extensão, que pode suportar o peso do Monte Sineru e seus picos circundantes, com toda a sujeira e impureza insípida do mundo, agora rompia-se separando-se numa fenda bocejante,- como se incapaz de suportar o peso de tal fraqueza ! E direto, chamas do mais baixo Ínfero envolveu o ingrato, embrulhando-o ao redor como numa mortalha do destino, e levou-o embora. E enquanto o vil era engulido pelos intestinos da terra, a Fada da árvore que morava naquela floresta fez a região ecoar com estas palavras:- “Nem mesmo o presente do império do mundo pode satisfazer o mal agradecido e o ingrato !” E na estrofe seguinte a Fada ensinou a Verdade:-

Na ingratidão, mais falta, quanto mais se tem;
Nem todo o mundo satisfaz seu apetite.

Com tais ensinamentos a Fada da árvore fez a floresta re-ecoar. Quanto ao Bodhisatva, viveu o resto de seus dias, passando por fim sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Disse o Mestre, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Devadatra mostrou-se ingrato; ele foi justo o mesmo em dias idos.” Sua lição terminada, ele identificou o Jātaka dizendo, “Devadatra era o ser humano ingrato daqueles dias, Sāriputra a Fada da árvore, e eu mesmo Bom Rei Elefante.”




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