segunda-feira, 17 de outubro de 2011

436 Buddha e o Asura


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                            pintura de Ajanta, Índia

436
De onde vens, amigos...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre um Irmão com mente mundana. O Mestre, dizem, perguntou a ele se era verdade que ansiava pelo mundo e ele confessando que sim, disse, “Por quê, Irmão, desejas mulher ? Muitas vezes as mulheres são fracas e ingratas. Antigamente, demônios Asura engoliam mulheres e apesar de guardarem-nas na barriga deles, não conseguiram mantê-las fiéis a um único homem. Como então você seria capaz disso ?” E com isto ele contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva prevendo prazeres pecaminosos entrou nos Himalaias e adotou a vida religiosa. E vivia lá de frutos selvagens e desenvolveu as Faculdades e as Consecuções. Não distante de sua cabana de folhas vivia um demônio Asura ( não Sura ; devas e asuras, suras e asuras ). De tempos em tempos ele se aproximava do Grande Ser e escutava a Lei ( Dharma ) mas ficava na floresta na autoestrada onde as pessoas reuniam-se, ele as pegava e comia. Neste tempo um certa senhora nobre do reino de Kasi, de beleza extrema, estabeleceu-se na vila da fronteira. Um dia ela ia visitar os pais e quando voltava este demônio viu as pessoas que formavam o cortejo dela e correu até eles em forma terrível. Os homens deixaram cair as armas das mãos e fugiram correndo. O demônio vendo uma mulher amável sentada na carruagem, caiu de paixão por ela e levando-a para sua caverna, fez dela sua esposa. Daí em diante ele trazia para ela ghee, arroz escolhido, peixe, carne, e semelhantes, assim como frutos maduros para comer e a vestia em roupas e ornamentos e de modo a mantê-la segura, a colocava em uma caixa que ele engolia, e assim a guardava na barriga [ n. do tr. : este tema mítico é antigo, aparecendo na história da chapeuzinho vermelho e na do pequeno polegar assim como na de Shiva e na mitologia grega tb – significa dentro de um mundo mesmo, protegido como num útero ]. Um dia ele desejou se banhar, e vindo a um tanque, lago, ele puxou para cima a caixa e tirando-a de dentro dela a banhou e a ungiu e quando ele já a havia vestido disse-lhe, “Por um pouco de tempo divirta-se em ar aberto,” e sem suspeitar de nenhum dano, ele foi para uma pequena distância se banhar. Neste momento o filho de Vāyu ( Vento ), que era um mágico, cingido com uma espada, andava pelos ares. Quando ela o viu, ela gesticulou de tal modo e fez sinais para ele vir até ela. O mágico rapidamente desceu para o chão. Então ela o colocou dentro da caixa e sentou nela, caixa, esperando a aproximação do Asura e assim que ela o viu vindo, antes que ele se aproximasse da caixa, ela a abriu e entrando dentro deitou por cima do mágico e com sua veste o envolveu. O Asura veio e sem examinar a caixa, pensou que era somente a mulher e engoliu a caixa e partiu para sua caverna. Enquanto ainda no caminho ele pensou, “Já faz muito tempo desde que vi o asceta : irei ho-je e prestarei respeito a ele.” Então foi visitá-lo. O asceta, vendo-o enquanto ainda estava distante, soube que haviam duas pessoas na barriga do demônio e pronunciando a primeira estrofe, ele disse, :

De onde vens amigos ? Bem vindos sejam todos os três !
Estejam a vontade para descansar comigo por enquanto, prego :
Creio que vives em paz e feliz ;
Já faz tempo que vocês não passam por aqui.

Escutando isto o Asura pensou, “Venho completamente só para ver este asceta e ele fala de três pessoas : o quê quer ele dizer ? Ele fala com conhecimento exato do estado das coisas ou está doido e falando tolices ?” Aproximou-se então do asceta e o saudou e sentando em uma distância respeitosa, conversou e falou a segunda estrofe :

Venho sozinho te ver ho-je
Nenhuma criatura me acompanha.
Por quê então tu, Oh santo eremita, diz,
De onde vens amigos ? Bem vindos sejam todos três.”

Disse o asceta, “Queres realmente escutar a razão ?” “Sim, santo Senhor.” “Sim, santo Senhor.” “Escute então,” ele disse e falou a terceira estrofe :

Tu e tua esposa são dois, esteja certo ;
Fechada numa caixa ela está segura :
Guardada salva sempre em tua barriga, ela
Com o filho de Vayu diverte-se feliz.

Escutando isto o Asura pensou, “'Máyacos' certamente são cheios de truques : supondo que sua espada está em mãos, ele me rasgará a barriga e escapará.” E ficando muito assustado ele tirou para fora a caixa e a deixou diante dele.

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O Mestre, em sua Perfeita Sabedoria em esclarecer as questões, repetiu a quarta estrofe :

O demônio ficou muito assustado com a espada.
E de seu estômago despejou a caixa no chão ;
Sua esposa com grinalda maneira adornada, qual noiva,
Com o filho de Vayu se divertindo feliz, foi encontrada .

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Assim que a caixa foi aberta o 'máyaco' pronunciou um encanto e tomando sua espada elevou-se nos ares. Vendo isto o Asura ficou agraciado com o Grande Ser que ele falou os restos dos versos, inspirado principalmente em seus louvores :

Oh implacável asceta, tua visão viu claro
Quão baixo pode afundar um pobre, escravo de mulher ;
Como a vida mesma conquanto guardada no estômago,
O tratante ainda foi libertino, penso eu.

Cuidava dela com carinho dia e noite,
Como eremitas da floresta cuidam de chama,
Ainda assim ela pecou para além de qualquer retidão :
Lidar com necessidades femininas acaba em vergonha.

Homem com seus milhares de artifícios em vão aguentará,
Crê em vão que suas defesas são seguras :
Como precipícios que descem aos Ínferos,
Pobres almas descuidadas ela está destinada a enfeitiçar.

O homem que evita o caminho das mulheres
Vive feliz e livre de todo sofrer ;
Ele sua benção verdadeira achará na solidão,
Distante de mulher e sua traição.

Com estas palavras o demônio caiu aos pés do Grande Ser e louvou-o dizendo, “Santo Senhor, Através de ti minha vida foi salva. Devido àquela mulher má quase fui morto pelo 'máyaco'.” Então o Bodhisatva expôs a Lei ( Dharma ) dizendo, “Não a machuque : guarde os preceitos,” e estabeleceu-o nos cinco preceitos morais. O asura disse, “Apesar de guardá-la na barriga, não consegui protegê-la. Quem conseguiria ?” e assim ele a deixou ir e voltou direto para sua casa na floresta.

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O Mestre, sua lição terminada, proclamou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão de mente mundana atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naqueles dias o asceta com poderes sobrenaturais de visão era eu mesmo.”




quinta-feira, 13 de outubro de 2011

435 Buddha Asceta


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               pintura de Ajanta, Índia. 

435
Na floresta solitária...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um jovem que foi tentado por uma certa garota tosca. A história introdutória será encontrada no Jataka 348 e é a mesma do 477.
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Na velha lenda esta garota sabia que se o jovem asceta quebrasse a lei moral, ele estaria em poder dela e pensando em engambelá-lo e trazê-lo de volta ao valhacouto das pessoas, ela disse, “Virtude que está protegida na floresta, onde as qualidades dos sentidos tais como beleza e semelhantes não têm existência, não se mostra muito frutífera mas carrega fruto abundante na companhia das pessoas, na presença imediata da beleza e afins. Então venha comigo e guarde tua virtude lá. O quê você tem a ver com uma floresta ?” E ela pronunciou a primeira estrofe :

Na floresta solitária se pode ser puro,
É fácil lá resistir à tentação ;
Mas na cidade com seduções em cascata,
Um homem pode se elevar a uma vida mais nobre.

Escutando isto o jovem asceta disse, “Meu pai está indo para a floresta. Quando ele voltar, peço licença a ele e te acompanho.” Ela pensou, “Ele tem um pai, parece ; se ele me encontrar aqui, irá me bater com a ponta do cajado e me matará : devo partir antes.” Então ela disse para o jovem, “Vou pegar a estrada antes de você e deixarei uma trilha atrás de mim : você me segue depois.” Quando ela o deixou, ele nem catou lenha, nem trouxe água para beber mas apenas se sentou meditando e quando o pai chegou, não foi para fora para recebê-lo. Então o pai soube que seu filho havia caído sob o poder de uma mulher e disse, “Por quê meu filho nem cataste lenha nem trouxestes água para beber nem comida para comer mas não fizestes nada e estais sentado e meditando ?” O jovem asceta disse, “Pai, as pessoas dizem que virtude guardada na floresta não frutifica mas que produz muito fruto no valhacouto das pessoas. Irei e guardarei minha virtude lá. Minha companheira foi na frente, pedindo que a seguisse : então irei com minha amiga. Mas quando estiver morando lá, a que tipo de pessoa devo dar predileção ?” E fazendo esta pergunta ele falou a segunda estrofe (estes versos aparecem no Jataka 348 ) :

Esta dúvida, meu pai, resolva para mim, prego ;
S'eu extraviar desta floresta em alguma cidade,
Pessoas de que escola moral ou de qual seita
Devo mais sabiamente dar preferência como amigos ?

Então o pai falou e repetiu o resto dos versos :

Alguém que possa ganhar tua confiança e amor,
Que acredite em tua palavra e contigo prove paciência,
Que em pensamento, palavra e ato nunca ofenderá –
Tome em teu coração e a esta apegue-se como amiga.
Às pessoas caprichosas como macacos
Instáveis, não estejas inclinado,
Ou àlguma solidão deserta teu lote será confinado.
Evite tolos caminhos assim como te afastarias
De serpente raivosa ou um auriga
Esquiva-se de estrada esburacada. Dor abunda
Onde quer que se encontre uma pessoa no cortejo da Tolice :
Não te juntes a idiotas – obedeça minha palavra -
O companheiro de néscios é vítima de aflição.

Sendo assim aconselhado por seu pai, o jovem disse, “S'eu for para o valhacouto das pessoas, não encontrarei sábios como você. Temo ir para lá. Viverei aqui em tua presença.” Então seu pai o aconselhou ainda mais e o ensinou os ritos preparatórios para induzir a meditação mística. E logo sem demora o filho desenvolveu as Faculdades e Consecuções e com seu pai tornou-se destinado a nascer no Mundo de Brahma.

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O Mestre, sua lição terminada, proclamou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão que desejava o mundo atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naqueles dias o jovem asceta era o Irmão com pensamentos mundanos, a garota então era a mesma de agora mas o pai era eu mesmo.”