quinta-feira, 8 de outubro de 2015

494 Buddha Rei Sadhina





                                              ( Vesali, Vaisali, Stupa, Índia  )



494
Uma maravilha no mundo foi vista...”. - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre Irmãos leigos que fizeram votos de jejum. Naquela ocasião o Mestre disse : “Irmãos Leigos, sábios antigos, em virtude de guardarem votos de jejum, foram com o corpo para o céu e lá habitaram por um longo tempo.” Então com o pedido deles, ele contou uma história do passado.

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Certa vez houve um Rei Sadhina em Mithila, que reinava em retidão. Nos quatro portões da cidade e no meio dela, e na porta mesma do seu palácio, erigiu seis salões de dons, presentes, ofertas, e com sua bondade causou um grande alvoroço por toda a Índia. Diariamente seiscentos mil peças eram doadas em caridade : ele guardou as Cinco Virtudes, observou os votos de jejum ; e as pessoas da cidade também seguindo seus conselhos, fizeram ofertas e obras boas e quando eles morreram, foram viver todos juntos na cidade dos deuses.

Os príncipes do céu, sentados em pleno conclave na sala de justiça de Sakra, louvaram a vida virtuosa e caridosa de Sadhina. O relato sobre ele fez todos os outros deuses desejarem vê-lo. Sakra, rei dos deuses, percebendo a mente deles, eprguntou, “Vocês querem ver Rei Sadhina ?” Eles respodneram que sim, queriam. Então ele falou a Matali, “Vá a meu palácio Vejayanta, atrele meu carro e traga Sadhina aqui.” Ele obedeceu a ordem e atrelou o carro e foi para o reino de Videha.

Era então o dia de lua cheia. Naquele momento quando o Povo já tinha compartilhado a janta e estavam sentados em suas portas tranquilos, Matali direcionou seu carro lado a lado com o disco da lua. Todo o Povo gritou, “Vejam, duas luas no céu!” Mas quando eles viram o carro passar a lua e vir na direção deles, então eles gritaram, “Não é lua mas um carro ; um filho dos deuses, parece. Para quem ele traz este veículo divino, com este time de puro sangues, criaturas da imaginação ? Não será para nosso rei ? Sim, nosso rei é um rei bom e reto !” Em sua alegria eles juntaram as mãos com reverência e de pé repetiram a primiera estrofe :

Uma maravilha no mundo foi vista, que fez os cabelos eriçarem :
Para o grande rei de Videha é enviado um carro dos céus !

Matali aproximou o carro e então enquanto o Povo venerava com flores e perfumes, dirigiu-o por três vezes ao redor da cidade no sentido horário. Depois procedeu para a porta do rei e lá permaneceu no carro parado diante da janela do oeste , fazendo um sinal de que ascenderia. Bem, naquele dia mesmo o rei inspecionava os salões de caridade e deu conselhos sobre como devia ser feita a distribuição ; o que realizado, passou a guardar os votos de jejum e assim passou o dia. Justo então ele estava sentado em um belo sofá, diante da janela leste, com seus cortesãos ao redor, discursando para eles a respeito de direito e justiça. Naquele momento Matali o convidou a entrar no carro e tendo feito isto saiu fora com ele.

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Para explicar isto, o Mestre repetiu as seguintes estrofes :

O deus mais poderoso, Matali, o auriga, trouxe
Uma convocação a Videha, quem em Mithila era rei.

Ó poderoso monarca, nobre rei, suba neste carro comigo :
Indra te verá e os deuses, os gloriosos Trinta e Três,
Agora sentam em pleno conclave, pensando em ti.

Então Rei Sadhina girou a sua face e montou no carro :
O qual com seus mil corcéis o carregou para os deuses distantes.

Os deuses contemplaram o rei chegar : e então, saudando o convidado
Gritaram,'Bem vindo poderoso monarca, a quem somos gratos em conhecer !
Ó Rei ! Ao lado do rei dos deuses pedimos tome assento.'

E Sakra recebeu Videha, o rei da cidade de Mithila,
Sim, Vasava ( Indra / Sakra ) ofereceu a ele todas as alegrias e pediu que sentasse.

'Entre os legisladores do mundo Ó bem vindo a nossa terra :
More com os deuses, Ó rei ! Que tem todos os desejos atendidos,
Goze de prazeres imortais,onde estão os Trinta e Três.'

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Sakra rei dos deuses deu a ele metade da cidade dos deuses, dez mil léguas de extensão e de vinte e cinco milhões de ninfas e do palácio de Vejayanta. E lá ele residiu por setecentos anos pela contagem humana, gozando felicidade. Mas então seu mérito exauriu-se naquele carácter celeste ; insatisfação surgiu nele e então falou a Sakra com estas palavras, repetindo a estrofe :

Alegrei-me quando primeiro vim para o céu,
Danças, canções e claras músicas :
Agora não mais sinto o mesmo.
Minha vida acabou, a morte se aproxima,
Ou é a loucura, rei, que devo temer ?

Então Sakra disse a ele :

Tua vida não acabou e morte está longe,
Nem és doido, poderoso rei :
Mas tuas boas ações estão exauridas
E agora teu mérito está todo acabado.

Permaneça morando aqui, Ó poderoso rei,sob minha divina atenção;
Goze de prazeres imortais,onde estão os Trinta e Três.

[ n. do tr. : o Escoliasta explica : “Te darei metade do meu mérito, portanto permaneça aqui sob meu poder.” ]

Mas o Grande Ser recusou e disse a ele :

Como quando um carro ou bens são dados em demanda,
Do mesmo modo é gozar de benção dada pelas mãos de outro.

Não quero bençãos recebidas pelas mãos de outro,
Meus bens são meus quando permaneço nos meus atos apenas.

Irei e farei muita caridade às pessoas, darei ofertas por toda a terra,
Seguirão virtude, exercício de controle e auto domínio :
Aquele que age assim é feliz e não teme remorso nas mãos.

Escutando isto, Sakra então deu ordens a Matali : “Vá agora, transporte Rei Sadhina para Mithila e coloque-o em seu próprio parque.“ Ele fez isto. O rei andava daqui para lá no parque ; o guardião do parque espreitou-o e após perguntá-lo quem ele era, foi até o Rei Narada com as novidades. Quando ele escutou sobre a chegada do rei, enviou o guardião com estas palavras : “Você vá antes e prepare dois assentos, um para ele e um para mim.” Ele fez isto. Então o rei questionou-o, “Para quem você prepara estes dois assentos ?” Ele respondeu, “Um para você, e um para nosso rei'. Então o rei disse, “Quaoutro ser sentará em minha presença ?” ele sentou em um assento e colocou os pés no outro. Rei Narada chegou e tendo saudado seus pés sentou em um lado : agora, é dito que ele era o sétimo em descendência direta do rei e naquele tempo a idade humana era cem anos. Tal era o tempo que o Grande Ser gastou, pelo poder de sua bondade. Ele tomou Narada pelas duas mãos e subindo e descendo pela mansão, recitou três estrofes :

Aqui estão as terras, os canais ao redor nos quais àgua corre,
A grama verde vestindo tudo, os riachos que fluem,

Os lagos aprazíves, que escutam os gansos dourados chamarem,
Onde lótus branca e azul crescem e árvores quais corais,
- Mas aqueles que amavam este lugar comigo, Ó diga, onde eles estão ?

São estas terras, este lugar,
A mansão e os campos estão aqui :
Mas não vejo nenhum rosto familiar,
Me parece um deserto sombrio.

Aqui Narada disse a ele : “Meu senhor, desde que partiste para o mundo dos deuses, setecentos anos se passaram; sou o sétimo em linhagem de ti, teus ajudantes desceram todos para as mandíbulas da morte. Mas este é teu próprio domínio de direito e peço que receba-o.” O rei respondeu, “Meu querido Narada, não vim aqui para ser rei mas para fazer e bem eu farei.” Então disse como segue :

Vi mansões celestiais, brilhando em todo canto,
Os Trinta e três arcanjos e seu monarca, face a face.

Alegrias mais quehumanas senti, tinha uma casa celeste,
Com tudo que o coração pode desejar, entre os divinos Trinta e três.

Isto vi e para fazer obras virtuosas desci :
Viverei uma vida santa : não quero coroa real.

O Caminho que nunca leva ao pesar, o Caminho que os Buddhas apresentam,
Neste Caminho entro agora pelo qual o sagrado vai.

Assim falou o Grande Ser, por sua onisciência sintetizando tudo nestas três estrofes. Então Narada novamente disse a ele,
Tome o governo do reino para você” ; e ele respondeu, “Meu filho querido, não quero o reino ; mas por sete dias desejo distribuir novamente ofertas dadas durante estes setecentos anos.” Narada estava disposto e fazendo o que ele pediu, preparou uma larga quantidade para distribuição. Por sete dias o rei fez ofertas ; e no sétimo dia ele morreu e nasceu no céu dos Trinta e três.

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Quando o Mestre terminou este discurso, ele disse, “Tal é a realização de votos sagrados que se deve guardar,” e declarou as Verdades : ( bem, na conclusão das Verdades, alguns dos Irmãos leigos entraram na fruição do Primeiro Caminho e alguns do Segundo :) e ele identificou o jataka : “Naquele tempo Ananda era o Rei Narada, Anurudha era Sakra e eu mesmo era o Rei Sadhina.”




[ Cabe aqui uma nota sobre os Trinta e três e a aproximação numérica com as 33 cúrias das 3 tribos romanas – sim é a mesma cultura. A fundação de Roma um ritual védico seguido por Rômulo. A obra do grande historiador francês Georges Dumèzil trata desta aproximação que complementa-se revelando que esta unidade é geral, iraniana, germana, celta, etc, compondo o quadro de uma grande identidade védica do mundo antigo. Flamen = Brahman. Urano = Varuna ( apesar de contestarem ). Numa = Manu. A economia política neste jataka aparece novamente mostrando que a riqueza deve naturalmente ser distribuída e não acumulada como o 1% faz no atual totalitarismo financeiro – a moeda destrói a economia. Etc. ]