sexta-feira, 31 de outubro de 2008

220 Buddha Dharmaddhaja


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220
Você parece como se ...etc.” - Isto foi contado pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu sobre as tentativas de matá-lo. Em certa ocasião, como antes, o Mestre disse, “Esta não é a primeira vez que Devadatra tenta me matar e nem consegue mesmo me amedrontar. Ele fez o mesmo antes.” E ele contou esta história.

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Certa vez reinava em Benares um rei chamado Yasapāni, o Glorioso. Seu capitão chefe chamava-se Kālaka, ou Negrão. Naquele tempo o Bodhisatva era seu capelão e tinha o nome de Dharmaddhaja, a Bandeira da Fé. Havia também um homem chamado Chatrapāni, fazedor de ornamentos para o rei. O rei era um bom rei. Mas seu capitão chefe, ganhava subornos para julgar causas ; ele era caluniador ; ganhava subornos e defraudava os legítimos donos.

Um dia, uma pessoa que perdeu sua causa, deixava a corte, chorando e estirando os braços quando caiu diante do Bodhisatva que se dirigia para prestar serviços ao rei. Caindo a seus pés, o homem gritou, dizendo como fora derrotado em suas causas : “Apesar de pessoas como você, meu senhor, instruir o rei em coisas deste mundo e do próximo, o Comandante em Chefe aceita subornos, e defrauda os legítimos donos !” 

O Bodhisatva teve pena dele. “Venha, meu bom companheiro,” disse ele, “julgarei sua causa para você !” e ele se dirigiu para a corte de justiça. Uma grande multidão se reuniu lá. O Bodhisatva reverteu a sentença e deu juízo para ele que estava com o direito. Os espectadores aplaudiram. Foi grande o barulho. O rei escutou e perguntou - “Que barulho é este que escuto ?”

Meu senhor rei,” eles responderam, “é uma causa julgada erradamente que foi julgada com correção pelo sábio Dharmaddhaja ; daí porque há esta barulhada de aplauso.”
O rei ficou agraciado e mandou chamar o Bodhisatva. “Me disseram,” ele começou, “que julgaste uma causa ?”

Sim, grande rei, julguei aquilo que Kālaka não julgou certo.” 

Seja você a partir de hoje o juiz,” disse o rei ; “seria uma alegria para meus ouvidos e prosperidade para o mundo !” Ele não queria mas o rei pediu muito a ele - “Com misericórdia por todas as criaturas, sente você para julgar !” e assim o rei ganhou o consentimento dele.

A partir daquele momento Kālaka não mais recebeu presentes ; e perdendo seus ganhos, passou a caluniar o Bodhisatva diante do rei, dizendo, “Ó poderoso Rei, o sábio Dharmaddhaja cobiça o reino !” Mas o rei não acreditaria ; e ordenou-lhe que não dissesse isso.

Se não acreditas em mim,” disse Kalaka, “olhes pela janela no momento em que ele chega. Então verás que ele tem toda a cidade em suas própias mãos.”
O rei viu a multidão daqueles que estavam ao redor dele em sua corte de justiça. “Lá está o séqüito dele,” ele pensou. E cedeu. “O quê faremos, Capitão ?” ele perguntou.
Meu senhor, ele deve ser executado.”

Como podemos executá-lo sem encontrar nele algum grande erro ?”
Há um jeito,” disse o outro.
Que jeito ?”
Diga a ele para fazer algo impossível e se ele não puder, execute-o por isto.”
Mas o quê é impossível para ele ?”
Meu senhor rei,” respondeu ele, “leva dois anos ou duas vezes dois para um jardim com solo bom dar fruto, sendo plantado e cuidado. Envie alguém até ele e diga – 'Queremos um jardim para nosso desporte a-manhã. Faça-nos um jardim !' Isto ele não será capaz de fazer ; e nós o mataremos por este erro.”

O rei dirigiu-se ele mesmo ao Bodhisatva. “Sábio Senhor, já fizemos esporte o suficiente em nosso velho jardim ; agora desejamos fazer esporte em um novo. Faça-nos um jardim ! Se não puderes fazer, deves morrer.”

O Bodhisatva raciocinou, “Deve ter sido Kalaka que colocou o rei contra mim, porque deixou de ganhar presentes. - S'eu puder,” disse ele ao rei, “Ó poderoso rei, providenciarei isto.” E ele foi para casa. Após boa refeição ele deitou na cama e ficou pensando. O palácio de Sakra ficou quente ( n. do tr.: supõem-se que isto acontece quando uma boa pessoa está em dificuldades). Ele apressa-se até ele, entra na câmara dele e pergunta - “Sábio Senhor, em que meditas ?” - enquanto pousado no meio do ar.

Quem é você ?” perguntou o Bodhisatva.

Sou Sakra.”

O rei me pediu para fazer um jardim : é sobre isto que medito.”

Sábio Senhor, não se apoquente : farei um jardim para ti como os dos boscos de Nandana e Cittalatā ! Em que lugar devo fazê-los ?”

Em tal e tal lugar,” ele disse a ele. Sakra o fez e retornou à cidade dos deuses.

Dia seguinte, o Bodhisatva verificou que lá verdadeiramente estava o jardim e procurou a presença real. “Ó rei, o jardim está pronto : vá praticar esportes !”
O rei veio ao lugar e viu um jardim com uma cerca de dezoito metros de largura, pintada de vermelha, tendo portões e lagos, embelezado com todos os tipos de árvores carregadas pesadamente de flores e frutos ! “O sábio fez o quê pedi,” disse ele a Kalaka : “agora o quê faremos ?”
Ó poderoso Rei !” ele respondeu, “s'ele pode fazer um jardim em uma noite, não pode tomar seu reino ?”
Bem, o quê faremos ?”
Faremos ele realizar outra coisa impossível.”
Qual é desta vez ?” perguntou o rei.
Faremos ele fazer um lago que possua as sete jóias preciosas !”

O rei concordou e assim falou com o Bodhisatva:
Professor, fizeste um parque. Faça agora um lago para casar com ele, que possúa as sete jóias preciosas. Se não puderes fazer, não viverás !”

Muito bom, grande Rei,” respondeu o Bodhisatva, “o farei se puder.”

Então Sakra fez um lago de grande esplendor, tendo uma centena de lugares para ficar, outra de enseadas, cobertas de lótus das cinco cores diferentes, como o lago em Nandana.

Dia seguinte, o Bodhisatva viu este também e contou ao rei : “Veja, o lago está pronto !” E o rei viu também e perguntou a Kalaka o quê fazer.
Peça a ele, meu senhor, que faça uma casa adequada ao lago,” disse ele.
Faça uma casa, Professor,” disse o rei ao Bodhisatva, “toda de marfim, que combine com o lago e o parque : se não fizeres, deves morrer !”

Então Sakra fez um casa que combinasse. O Bodhisatva a viu no dia seguinte e contou ao rei. Quando o rei a viu, ele pergunta a Kalaka novamente, o quê fazer. Kalaka diz a ele para pedir ao Bodhisatva para fazer uma jóia adequada a casa. O rei disse a ele, “Sábio Senhor, faça uma joia que case com a casa de marfim ; eu passearei por ela olhando com a luz da joia : se não puderes fazer uma, deves morrer !” Então Sakra fez para ele uma joia também. Dia seguinte o Bodhisatva a viu e contou ao rei. Quando o rei também viu, ele novamente pergunta a Kalaka o quê era para ser feito.

Poderoso rei !” respondeu ele, “acho que existe um espírito poderoso que faz as coisas que o Brahmin Dharmaddhaja deseja. Agora peça a ele que faça algo que mesmo uma divindade não possa fazer. Nem mesmo uma divindade pode fazer uma pessoa com as quatro virtudes ( n. do tr.: Caturanga-samannagatam ; é estranha coincidência que os Pitagóricos chamem o homem perfeito τετράγωνος, 'quatro-cantos' (ver poema de Simônides em Plato, Protágoras, 339b)) ; portanto peça-o que faça um guardião com estas quatro.” Então o rei disse, “Professor, fizeste um parque, um lago, e um palácio e uma joia para iluminar. Agora faça-me um guardião com as quatro virtudes, para vigiar o parque ; se não puderes, deves morrer.”

Assim seja,” ele respondeu, “se for possível, vou providenciar.” Ele foi para casa , fez uma boa refeição e deitou. Quando acordou de manhã, sentou na cama e pensou assim. “O quê o grande rei Sakra pode fazer com seu poder, ele fez. Ele não pode fazer um guardião com as quatro virtudes. Isto sendo assim, é melhor morrer solitário na floresta do que morrer nas mãos de outros homens.” Então, sem falar com ninguém, ele desceu de sua morada e passou pelo portão principal da cidade, e entrou na floresta, onde sentou debaixo de uma árvore e refletiu sobre a religião da bondade. Sakra percebeu ; e na aparência de mateiro, aproximou-se do Bodhisatva dizendo, Brahmin, és jovem e delicado : por quê sentas aí nesta floresta, como se nunca tivesses sofrido antes ?” Enquanto ele perguntava isto, repetia a primeira estrofe:-

Você parece como se sua vida fosse feliz;
Ainda assim estais nesta floresta selvagem sem lar
Como um pobre infeliz cuja a vida fosse miséria
E pinha debaixo desta árvore em solitário pesar.

A isto o Bodhisatva respondeu com a segunda estrofe:-

Eu pareço como se minha vida fosse feliz;
Ainda assim estou na floresta selvagem sem lar
Como um pobre infeliz cuja a vida fosse miséria
E pinho debaixo desta árvore em solitário pesar
Ponderando a verdade que todos os santos conhecem.

Disse Sakra então, “Se é assim, então por quê, Brahmin, sentas aí ?”

O rei,” ele respondeu, “pede um guardião de jardim com as quatro qualidades boas ; tal pessoa não pode ser encontrada ; com isto pensei – Por quê perecer às mãos dos homens ? Sairei para a floresta e morrerei morte solitária. Deste modo aqui estou, e aqui sento.”
Ooutro então respondeu, “Brahmin, sou Sakra, rei dos deuses. Por mim foi feito seu parque e as outras coisas todas. Um guardião possuidor das quatro virtudes não pode ser feito ; mas em seu país há um chamado Chatrapāni que faz ornamentos p'ra cabeça, ele é tal pessoa. Se um guardião é pedido, vá e faça deste trabalhador o guardião.” Com estas palavras Sakra partiu para sua cidade divina, após consolá-lo e ordená-lo que nada mais temesse.

O Bodhisatva foi para casa e tendo quebrado seu jejum, dirigiu-se para os portões do palácio e lá naquele lugar viu Chatrapāni. Ele o pega pela mão e pergunta - “É verdade, o quê escutei, Chatrapāni, que estais dotado com as quatro virtudes ?”
Quem te disse isto ?” perguntou  o outro.
Sakra, rei dos deuses.”
Por quê ele te disse isso ?” Ele reconta tudo e conta a razão. O outro diz,
Sim, estou dotado com as quatro virtudes.” O Bodhisatva tomando-o pelas mãos, o leva até a presença do rei. “Aqui, poderoso monarca, está Chatrapāni, dotado com as quatro virtudes. Se há necessidade de um guardião para o parque, faça-o guardião.”
É vero, como ouço,” pergunta o rei a ele, “que tens as quatro virtudes ?”
Sim, poderoso rei.”
Quais são elas ?” ele pergunta.

Não invejo nada e não bebo vinho ;
Não tenho fortes desejos, nem ira alguma,

disse ele.
Por quê, Chatrapāni,” gritou o rei, “dizes que não invejas nada ?”
Sim, Ó rei, nada invejo.”
Quais as coisas que não invejas ?”
Escute, meu senhor!” disse ele ; e então contou como não sentia inveja nenhuma nas seguintes linhas ( n. do tr.: O quê segue é a glosa destas linhas. A história é a mesma do Jataka 120, em que os versos canônicos que seguem agora, aparecem. “Este é o significado. Em dias idos, eu era rei de Benares como este e por causa de uma mulher, prendi um capelão.

O livre é amarrado, enquanto a loucura tem a palavra ;
Quando sabedoria fala, o amarrado liberta-se.

Justo como no Jataka dito, este Chatrapani tornara-se rei. A rainha fez intriga com sessenta e quatro dos escravos. Ela tenta o Bodhisatva e quando ele não consente ela tenta arruiná-lo, caluniando-o ; quando o rei então o atira na prisão. O Bodhisatva é levado para diante do rei, amarrado e explica os acontecimentos reais do caso. Ele é liberto então novamente ; e consegue com o rei a libertação dos escravos todos que estavam presos e aconselha-o a perdoar todos inclusive a rainha. Mas no momento pensara, 'Eu evitei dezesseis mil mulheres e não pude satisfazer esta única no caminho da paixão. Tal é a ira das mulheres, difícil de satisfazer'....A partir daquele momento fiquei livre da inveja”.) :-

Um capelão certa vez em grilhões atirei -
Algo que uma mulher me fez fazer :
Ele me erigiu em ensino santo (holy lore);
Desde então, não mais invejo.

O rei então disse, “Querido Chatrapani, por quê abstem-se de bebida forte ?” E ooutro respondeu com o seguinte verso ( n. do tr.: a glosa conta a seguinte história para ilustrar este verso. - “Eu era antes,” diz o narrador, “rei de Benares ; não podia viver sem bebida forte e carne. Bem naquela cidade animais não podiam ser mortos no Sabbath ( uposatha-divasesu ) ; então o cozinheiro preparara alguma carne para minha refeição de Sabbath na véspera (o décimo-terceiro da quinzena lunar). Esta, armazenada mal, os cachorros comeram. O cozinheiro não ousa aproximar-se do rei no Sabbath para servir seu rico e variado repasto no quarto de cima, sem carne e então pede conselho à rainha. “Minha senhora, ho-je não tenho carne ; e sem ela não ouso trazer comida para ele, o quê farei ?” Ela disse, “O rei é muito afetuoso com meu filho. Quando ele brinca com ele, nem sabe se existe ou não. Vou vestir meu filho e colocá-lo nas mãos do rei e enquanto ele estiver brincando com o garoto, você serve o jantar; ele não notará.” Deste modo vestiu seu filho querido e o colocou nas mãos do rei. Quando brincava com o garoto o cozinheiro serviu a janta. O rei, bêbado louco, e não vendo carne no prato, perguntou onde estava a carne. A resposta foi que não havia carne naquele dia porque não se matava no Sabbath. “É difícil eu conseguir carne, não é?” disse ele ; e então torceu o pescoço do seu filho querido enquanto este estava sentado no seu colo e o matou ; atirou-o aos pés do cozinheiro dizendo que ficasse atento e o cozinhasse. O cozinheiro obedeceu e o rei comeu a carne do seu próprio filho. Por medo do rei nem uma única alma ousou chorar ou lamentar-se ou dizer qualquer palavra. O rei comeu e foi dormir. Dia seguinte, tendo livrado-se de sua intoxicação, perguntou pelo filho. A rainha então cai chorando aos pés dele e diz, “Ó senhor, ontem mataste teu filho e comeste a carne dele !” O rei chorou e gemeu de dor, e pensou, “Isto foi por causa da bebida forte !” Então, percebendo o erro que é beber, tomei uma decisão, temendo nunca me purificar, que não mais tocaria nunca nesta bebida assassina ; pegando poeira e esfregando em meus lábios. A partir daquele momento nunca mais bebi bebida forte.”) :-

Certa vez fui bêbado e comi
A carne de meu próprio filho no prato ;
Depois, tocado de arrependimento e dor,
Jurei nunca mais beber novamente.

Então o rei disse, “Mas o quê, caro senhor, o fez indiferente, sem amor ?” O homem explicou nestas palavras ( n. do tr.: A glosa conta esta história: “O significado é, Certa vez fui um rei chamado Kitavāsa e um filho nasceu para mim. Os adivinhos disseram que o garoto pereceria por falta d'água. E assim foi chamado Durthakumara. Quando ele cresceu, foi vice-rei. O rei mantinha o filho junto dele, atrás e na frente ; e para quebrar a profecia fez construir tanques nos quatro portões da cidade e lá e cá dentro dela ; fez salas nas esquinas e corredores e colocou jarros d'água neles. Um dia o jovem, finamente vestido, foi sozinho para o parque. No seu caminho ele encontrou um Pacceka-Buddha na estrada e muitas pessoas falavam com ele, louvando-o e cumprimentando-o. 'O quê?' pensou o príncipe, 'quando alguém como eu está passando, as pessoas mostram todo respeito para aquele careca ?' Irado, ele desmontou do elefante, e perguntou ao Buddha se ele recebera comida. 'Sim,' foi a resposta. O príncipe pega a tigela dele, joga-a no chão, arroz e tigela juntos, e esmigalha tudo debaixo dos pés. 'O ser humano está perdido, realmente !' disse o Buddha e olhou no rosto dele. 'Sou Príncipe Durtha, filho do rei Kitavasa !' disse o príncipe – 'que dano você me fará, olhando com raiva e abrindo os olhos ?' O Buddha, tendo perdido sua comida , elevou-se nos ares e foi para a caverna no sopé do Nanda no Norte do Himalaia. Naquele mesmo momento a má ação do príncipe começou a dar frutos e ele gritou – 'Queimo ! Queimo!' Seu corpo queimou em chamas e ele caiu na estrada em que estava ; toda àgua que estava perto desapareceu, os dutos secaram, ele pereceu lá e então e passou para os ínferos. O rei escutou o que aconteceu, e foi tomado pela dor. Então pensou – 'Esta dor acontece comigo porque meu filho me era querido. Se eu não tivesse afeição a nada, não teria nenhuma dor. De agora em diante, resolvo que não fixarei minha afeição em nada, animado ou inanimado.'” ) :-

Rei Kitavasa era meu nome
Eu era um rei poderoso ;
Meu filho quebra a tigela do Buddha
E assim ele morre.

Disse o rei então, “O quê, bom amigo, o faz ficar sem raiva ?” E ooutro torna o assunto claro nestas linhas:

Como Araka, por sete anos
Pratiquei caridade ;
E então por sete idades morei
No alto céu de Brahma.

Quando Chatrapāni assim explicou seus quatro atributos, o rei fez um sinal para seus atendentes. E em um instante toda a corte, sacerdotes e leigos, todos, levantaram-se, e gritaram para Kalaka - “Fiau, corrupto, ladrão, e farsante ! Você não consegue seus subornos e daí quer matar o sábio, falando mal dele !” O pegam pelas mãos e pelos pés e jogam ele para fora do palácio ; e cada um pegando o que pode, este uma pedra, este uma vara, quebram na cabeça dele e o matam : e arrastando-o pelos pés o colocam em cima de um monte de lixo.
Daí em diante o rei legislou com retidão, até que passou, sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Este discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka:- “Devadatra era o Comandante Kalaka, Sāriputra era o artesão Chatrapani e eu mesmo era Dharmaddhaja.”






quarta-feira, 29 de outubro de 2008

219 Buddha Macaco


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            ( Escultura de Mamalapuram / MahaBalipuram, Índia )


219
'O ouro é meu...etc” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um irmão que era descontente e de casta baixa.

Esta homem não conseguia concentrar sua mente em nenhum objetivo único mas sua vida estava cheia de descontentamento ; e isto foi contado para o Mestre. Quando questionado pelo Mestre se estava realmente descontente, ele disse sim ; perguntado por quê, ele respondeu que era por causa das suas paixões. “Ó Irmão !” disse o Mestre, “esta paixão foi desprezada mesmo por animais baixos ; e pode você, um padre de tal doutrina, entregar-se a descontentamento que surge de paixão que mesmo brutos desprezam ?” Então ele contou a ele um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio ao mundo como Macaco na região do Himalaia. Um mateiro pegou ele e o levou para casa e o deu ao rei. 

Por um longo tempo ele viveu com o rei, servindo-o com fidelidade e ele aprendeu bastante sobre os modos no mundo das pessoas. O rei ficou agraciado com a fidelidade dele. Ele manda chamar o mateiro e ordena que coloque o macaco em liberdade no mesmo lugar em que fora pego ; e assim o mateiro fez.

Toda a tribo dos macacos se reuniu na superfície de uma grande rocha, para ver o Bodhisatva agora que ele voltara para eles ; e falavam alegremente com ele.

Senhor, onde viveste todo este longo tempo ?”
No palácio do rei em Benares.”
Então, como ganhaste liberdade ?”
O rei fez de mim seu macaco de estimação e ficando agradecido com meus truques, ele me deixou ir.”

Os macacos continuaram - “Você deve conhecer a maneira de viver no mundo das pessoas : fale-nos sobre isto também – queremos escutar !”

Não me perguntem sobre os modos de vida das pessoas,” cotejou o Bodhisatva.

Sim fale-nos – queremos escutar !” eles disseram novamente.

Seres humanos,” disse ele, “ambos, príncipes e Brahmins, gritam – 'Meu ! Meu !' Não sabem da impermanência, pela qual as coisas que são deixam de ser. Escutem agora o caminho destes cegos tolos ;” e ele pronunciou estes versos:-

'O ouro é meu, o precioso ouro !' assim eles gritam, noite e dia :
Este tolo povo não lança nunca olhar sobre o caminho santo.

Existem dois mestres na casa ; um não tem barba para usar,
Mas tem grandes seios, orelhas com furos e anda com cabelo em pregas ;
Seu preço é dado em ouro incontável ; ele aflige todo o povo lá.

Escutando isto, todo os os macacos gritaram – 'Pare, pare ! Escutamos o quê não é conveniente escutar !” e com ambas as mãos eles apertaram firmes os ouvidos. E desgostaram do lugar, porque disseram, “Neste lugar escutamos algo indecente ;” e assim foram para outro lugar. E esta rocha recebeu o nome de Rocha Garahitapitthi ou Rocha da Reprovação.
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Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka:- na conclusão das Verdades este Irmão alcançou o Fruto do Primeiro Caminho: - “Os seguidores presentes do Buddha eram a tropa de macacos e eu mesmo era o chefe deles.”





 

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

218 Buddha Juiz


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218
Bem planejado, realmente...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana sobre um comerciante desonesto.

Haviam dois comerciantes em Sāvatthi, um piedoso e outro tratante. Estes dois uniram-se em parceria e carregaram quinhentos vagões de mercadorias, fazendo jornada de leste a oeste à comércio ; e retornando a Sāvatthi com grandes lucros.

O piedoso comerciante diz ao parceiro para dividirem para dividirem o capital. O tratante pensa consigo mesmo, “Este companheiro está levando vida dura por tanto tempo dormindo e comendo mal. Agora que está em casa novamente, vai comer todo tipo de petisco e morrer empanturrado. Devo então guardar o capital todo para mim.” O quê ele disse, foi, “Nem as estrelas nem o dia é favorável ; a-manhã ou depois vemos isto;” e assim ficou adiando. Contudo o comerciante pio pressionou e a divisão foi feita. Depois foi com essências e guirlandas visitar o Mestre ; e após mesura respeitável, sentou em um lado. O Mestre pergunta quando ele retornara. “Apenas quinze dias atrás, Senhor,” disse ele. 

“Então por quê atrasaste em prestar visita ao Buddha ?” O comerciante explicou. Então o Mestre disse, “Não foi apenas agora que seu parceiro foi tratante ; ele foi justo o mesmo antes;” e ao pedido dele contou-o um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio ao mundo como filho de alguém da corte do rei. Quando cresceu foi feito Juiz de Justiça.

Naquele tempo, dois comerciantes, um da cidade outro da vila, fizeram amizade. O da cidade depositou com o da vila quinhentas relhas de arado. O outro vendeu estas e guardou o capital e no lugar em que elas estavam espalhou cocô de camundongo. Passa um tempo o da cidade veio e pergunta pela sua relha de arado [ n. do tr.: Aqui é usado o singular phālam, e também nos versos. É possivel que possa ser um coletivo mas mais provável que volte atrás, ouça, versões mais antigas, onde apenas fala-se de uma ]. “Os camundongos comeram eles todos [ n. do tr.: Coisas roídas por camundongos dão azar. ... O sujeito pode ter jogado fora porque os camundongos roeram – devemos fazer referência também ao velho ditado grego e latino : 'onde camundongos comem ferro' significando 'lugar nenhum' , cf, Sêneca, Apoc., cap.7 ] !” disse o tratante e apontou o cocô de camundongo para ele.

Bem, muito bem, então 'tá,” respondeu o outro : “que se pode fazer com coisas que camundongos comem ?”

Então no horário do banho ele pegou o filho do comerciante tratante e o colocou na casa de um amigo, em um quarto escondido, mandando que não o deixassem sair para ir em lugar nenhum. E tendo se lavado foi à casa de seu amigo.

Onde está meu filho ?” pergunta o tratante.

Querido amigo,” ele respondeu, “Levei ele comigo e o deixei na praia do rio ; e quando desci n'água, apareceu um gavião e pegou seu filho com suas garras estendidas e voou para os ares. Bati n'água, gritei, briguei – mas não consegui impedi-lo de ir.”

Mentiras !” gritou o tratante. “Nenhum gavião pode carregar um menino !”

Deixe estar, querido amigo : se acontecem coisas impossíveis, que posso fazer? Seu filho foi levado por um gavião, como eu disse.”

O outro xingou ele. “Ah, farsante ! Assassino ! Agora vou até o juiz, vou te arrastar para diante dele !” E ele partiu. O citadino disse, “Como queiras,” e foi à corte de justiça. O tratante dirigiu-se ao Bodhisatva assim :

Meu senhor, este sujeito levou meu filho para tomar banho, e quando pergunto onde ele está, responde que um gavião o carregou, o levou embora. Julgue minha causa!”

Diga a verdade,” disse o Bodhisatva, pedindo ao outro.

Realmente meu senhor,” ele respondeu, “levei-o comigo e um falcão levou o garoto embora.”

Mas onde no mundo existem gaviões que carregam meninos ?”

Meu senhor,” ele respondeu, “Tenho uma pergunta para te fazer. Se gaviões não podem levar meninos pelos ares, podem camundongos comerem relhas de arado ?”

O quê você quer dizer com isto?”

Meu senhor, depositei na casa deste homem quinhentas relhas de arado. Este homem diz que camundongos a devoraram e me mostrou o cocô deles. Meu senhor, se camundongos comem relhas de arado, então gaviões carregam meninos : mas se camundongos não fazem isto, então também gaviões não levariam meninos. Este homem diz que camundongos comeram minhas relhas de arado. Dê sentença se elas estão comidas ou não. Julgue minha causa !”

Ele deve estar querendo dizer,” pensou o Bodhisatva, “que briga com o enganador com as armas mesmas dele. - Bem planejado !” disse ele e então pronunciou estes dois versos:-

Bem planejado mesmo ! O sem freio freado,
O enganador enganado - belo golpe!
Se camundongo come relha de arado, gaviões podem voar
Levando meninos pelos ares !

Um farsante des-farsado, pago na mesma moeda!
Devolva o arado, e após isto
Talvez o homem que perdeu o arado
Possa devolver de volta teu filho !

Assim aquele que perdera o filho o recebeu de volta e o outro recebeu a relha de arado que perdera ; e depois ambos passaram sendo tratados de acordo com seus méritos.

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Quando este discurso estava terminado, o Mestre identificou o Jataka:- “O tratante em ambos os casos era o mesmo e também o homem inteligente ; eu mesmo era o Senhor Juiz de Justiça.”







217 Buddha e o verdureiro


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217
Todo o mundo ao prazer se curva...etc.” - Esta história o Mestre contou, enquanto em Jetavana sobre um verdureiro que era irmão-leigo.

As circunstâncias já foram dadas no Jataka 102. Aqui novamente o Mestre pergunta a ele onde estivera por tanto tempo ; e ele responde. “Minha filha, Senhor, está sempre rindo. Após testá-la dei ela em casamento a um jovem nobre. Como tinha que fazer isto não tive oportunidade de prestar visita.” Com isto o Mestre respondeu, “Não apenas agora tua filha é virtuosa mas virtuosa ela foi em dias idos ; e como você a testou agora, também a testaste naqueles dias.” E ao pedido do sujeito ele contou um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra era rei de Benares, o Bodhisatva era um espírito d'árvore.

Este mesmo pio verdureiro determinou-se a testar a filha. Levou-a à floresta e a segurou pelas mãos, fazendo como se estivesse apaixonado por ela. E enquanto ela gritava aflita, ele dirigia-se a ela nas palavras da primeira estrofe:-

Todo o mundo ao prazer se curva
Ah, minha criança inocente!
Agora que a tenho, peço, não chore;
Como se faz na vila, também faço.

Quando ela escuta isto, responde: “Querido Pai, sou virgem, não conheço os caminhos do prazer :” e chorando falou a segunda estrofe:-

Aquele que devia me manter salva de todo sofrimento
O mesmo me trai enquanto estou só ;
Meu pai, que devia ser minha segura defesa,
Aqui na floresta me faz violência.

E o verdureiro após testar sua filha assim, levou-a para casa e a deu em casamento a um jovem. Depois do que ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos.
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Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka: - no final das Verdades o verdureiro entrou no Fruto do Primeiro Caminho:- “Naqueles dias, pai e filha eram os mesmos que agora e o espírito d'árvore que viu tudo era eu mesmo.”






sexta-feira, 24 de outubro de 2008

216 O lamento do Peixe


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216
Não é o fogo...etc.” - Esta história o Mestre contou durante sua estadia em Jetavana, sobre um que ansiava pela antiga esposa. O Mestre perguntou a este Irmão, “É vero, Irmão, o quê escutei, que estais apaixonado ?” “É, Senhor.” “Por quem ?” “Pela minha antiga esposa.” Então o Mestre disse a ele : “Esta esposa, Irmão, te fez mal. Muito tempo atrás por causa do jeito dela você chegou perto de ser espetado e torrado que nem comida mas homens sábios salvaram a tua vida.” Então ele contou um conto do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era o capelão dele. Alguns pescadores apanharam um Peixe que prendera-se em suas redes e o colocaram na areia quente, dizendo “O cozinharemos na brasa para comer.” E então afiavam o espeto. E o Peixe sucumbiu lamentando-se de sua companheira, dizendo estes dois versos:-

Não é o fogo que me queima nem o espeto que me fere cruelmente :
Mas o pensar que minha companheira possa me chamar de amante infiel.

É a chama do amor que queima e enche meu coração de dor ; Não morrer é a obrigação do amar ; Ó pescadores, libertem-me !

Naquele momento o Bodhisatva aproximara-se da praia do rio ; e escutando o Lamento do Peixe, foi até os pescadores e fez com que colocassem o Peixe em liberdade.
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Este discurso terminado, o Mestre declarou as Verdades e identificou o Jataka:- na conclusão das Verdades o Irmão apaixonado alcançou o Fruto do Primeiro Caminho:- “A esposa naqueles dias era a companheira do peixe, o Irmão apaixonado era o peixe e eu mesmo era o capelão.” Cf. Jataka 34.





quarta-feira, 22 de outubro de 2008

215 Kokalika Tartaruga






215
A Tartaruga precisava falar...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana sobre Kokalika. As circunstâncias que deram origem a ela colocarei no Jataka de número 481. Aqui novamente o Mestre disse “Esta não foi a única vez Irmãos, que Kokalika arruína-se falando, aconteceu o mesmo antes.” E então ele conta a história como segue.

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Certa vez quando Brahmadatra era rei de Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como um da corte do rei, e crescendo, tornou-se conselheiro do rei em todas as coisas humanas e divinas  ( temporais e espirituais ). Mas este rei era muito tagarela e quando começava a falar não dava chance para ninguém tomar a palavra. O Bodhisatva, desejando diminuir o muito falar dele, aguardava por uma oportunidade.

Bem, morava uma Tartaruga em um certo lago. Dois jovens Gansos selvagens da região dos Himalaias, procurando comida, travam amizade com ela ; e logo brota intimidade entre eles. Um dia estes dois dizem a ela : “Amiga Tartaruga, temos uma bela casa nos Himalaias, em um plateau do Monte Cittakuta, em uma gruta dourada ! Virás conosco ?”

Pois,” disse ela, “como posso chegar lá ?”

Ah, nós levamos você, se conseguires manter a boca fechada sem dizer nenhuma palavra para ninguém.”

Sim, posso fazer isto,” disse ela ; “levem-me junto !”

Então fizeram a Tartaruga segurar uma vara entre os dentes ; e eles mesmos segurando as outras duas extremidades, elevaram-se aos ares.

As crianças da cidade viram isto e gritaram - “Dois gansos estão transportando uma tartaruga numa vara !”

( Neste momento os gansos voando velozmente passavam no espaço acima do palácio do rei em Benares.) A Tartaruga quis gritar a resposta - “Sim, meus amigos me transportam, o quê são vocês, seus moleques ?” - e soltou a vara de entre seus dentes e caiu no jardim e partiu-se em duas. Que alvoroço que foi ! “Uma tartaruga caiu no jardim e quebrou-se em duas !” gritavam. O rei, com o Bodhisatva e toda sua corte, veio até o lugar e vendo a tartaruga perguntou ao Bodhisatva. “Sábio Senhor, o quê fez esta criatura cair ?”

Agora é minha hora !” ele pensou. “Por muito tempo venho desejando alertar o rei e buscava uma oportunidade. Sem dúvida a verdade é esta : a tartaruga e os gansos ficaram amigos ; os gansos pretendiam levá-la ao Himalaia e então a fizeram segurar uma vara entre os dentes, elevando-a depois nos ares ; ela deve ter escutado algum comentário e quis responder ; e incapaz de manter a boca fechada, soltou-se ; e assim deve ter tombado do céu e desse jeito morreu.” Então pensou ele ; e dirigiu-se ao rei : “Ó rei, aqueles que têm língua grande que não colocam limite no falar, sempre chegam a tal infelicidade como esta;” e pronunciou os seguintes versos:-

A Tartaruga precisava falar alto,
Apesar de ter entre os dentes
Uma vara que mordia : ainda assim, apesar disto,
Ela falou - e soltou-se para baixo.

E agora, Ó poderoso mestre, marques bem
Vejas se falas sabiamente, na correta estação.
Para a morte, caiu a Tartaruga :

Ela falou muito : foi esta a razão.

Ele está falando de mim !” pensou o rei consigo mesmo ; e perguntou ao Bodhisatva se era isto.

Sejas tu, Ó grande rei, ou seja outro,” respondeu ele, “quem quer que fale além da medida, alcança desgraça deste tipo ;” e assim fez manifesta toda a coisa. E daí em diante o rei absteve-se de tagarelar e tornou-se um homem de poucas palavras.
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Este discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka:- “Kokalika era a tartaruga então, os dois famosos Anciãos eram os dois gansos selvagens, Ānanda era o rei e eu mesmo o sábio conselheiro.”

[Além da existência desta história em Esopo Buddhista e em La Fontaine e de versões com urubu e viola em festa no céu no lugar dos gansos, devemos também aproximar os Dois Pássaros da parábola antiga dos Dois Pássaros na Árvore em que um come e outro não. Os dois pássaros são os mesmos. Mundaka Upanishad III,1. Nara & Narayana. Cf. Jatakas 117 e 160 Buddha rei de Videha.]