quinta-feira, 9 de outubro de 2008

206 Sariputra Pica-pau, Moggaallana Tartaruga


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                     ( Veluvana, bosque de bambus, Índia )


206
Venha Tartaruga...etc.” - Esta história o Mestre contou em Veluvana sobre Devadatra. Informações chegaram ao Mestre que Devadatra planejava sua morte. “Ah, Irmãos,” disse ele, “justo o mesmo aconteceu tempos atrás; Devadatra tentou me matar como está tentando agora.” E ele contou a eles esta história.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva tornou-se um Antílope e vivia dentro de uma floresta, num bosque perto de um lago. Não longe do mesmo lago, um Pica-pau pendurava-se no topo de uma árvore; e no lago morava uma Tartaruga. E os três tornaram-se amigos e viviam juntos em amizade.

Um caçador, vagando pela mata, viu as pegadas do Bodhisatva quando descia para água ; ele então monta armadilha de couro, forte, como cadeia de ferro, e sai fora. Na primeira vigília da noite o Bodhisatva desce para beber e é pego no laço : no que ele grita alto e longamente. Com o quê o Pica-pau desce voando do seu topo de árvore e a Tartaruga sai da água e buscam saber o quê aconteceu.

Diz o Pica-pau à Tartaruga, “Amiga, você têm dentes – corte com os dentes esta armadilha toda ; eu vou e farei com que o caçador fique afastado ; e se nós dois fizermos o máximo, nosso amigo não perderá a vida.” Para se fazer entender ele pronunciou a primeira estrofe:-

Venha Tartaruga, rasgue esta armadilha de couro e corte ela toda,
Eu cuidarei de manter o caçador afastado de vocês.

A Tartaruga começa a roer a correia de couro : o Pica-pau dirige-se à casa do caçador. Àurora do dia o caçador saía, faca à mão. Assim que o pássaro o vê sair, grita um grito, bate as asas e atinge-o na face enquanto deixava a porta da frente. “Um pássaro de mau agouro me bateu !” pensou o caçador ; ele volta e descansa deitado um pouco. Então ele se levanta de novo e pega a faca. O pássaro raciocina consigo mesmo, “Na primeira vez ele saiu pela porta da frente, então agora ele vai sair pela porta de trás” : e se pendurou em baixo em frente à porta de trás. O caçador também raciocinou do mesmo modo : “Quando sai pela porta da frente, vi um mau agouro, agora sairei pela de trás!” e assim fez. Mas o pássaro grita alto de novo e atinge ele na face. Dando-se conta de que era atingido novamente pelo pássaro de mau agouro, o caçador exclama, “Esta criatura não vai me deixar sair !” e virando-se descansa até que o sol se levantasse e quando o sol já estava alto, ele pega a faca e sai.

O Pica-pau voa correndo para os companheiros. “Aí vem o caçador !” ele grita. Nesta hora a Tartaruga já tinha roído todas as correias de couro faltando só uma correia : seus dentes pareciam que iam cair e sua boca estava coberta de sangue. O Bodhisatva viu o jovem caçador vindo correndo como um raio, faca na mão : ele rompe a correia e foge para o bosque. O Pica-pau pousa no seu topo de árvore. Mas a Tartaruga estava tão fraca que deitou onde estava. O caçador joga ela num saco e amarra numa árvore.

O Bodhisatva viu que a Tartaruga foi pega e resolve salvar a vida de sua amiga. Então deixa o caçador vê-lo e finge que está fraco. O caçador o vê e pensando que está fraco, pega sua faca e sai atrás perseguindo. O Bodhisatva, mantendo-o justo fora o alcance, leva-o para a floresta ; e quando viu que já tinham se afastado desviou-se dele e retornou rápido como o vento por outra trilha. Levantou o saco com os chifres e a atirou no chão, abre-o rasgando, e deixa a Tartaruga sair. E o Pica-pau desce do topo d' árvore.

Então o Bodhisatva assim se dirige a eles : “Minha vida foi salva por vocês e fizestes a parte de amigos para comigo. Agora o caçador vem para pegar-nos ; então amigo Pica-pau, migre para outro lugar com tua ninhada e tu, amiga Tartaruga, mergulhe nas águas.” Eles assim fizeram.

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O Mestre, tornando-se perfeitamente iluminado, pronunciou a segunda estrofe:-

A Tartaruga entrou no lago, o Cervo no bosque,
E da árvore o Pica-pau levou sua ninhada.

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O caçador retornou e não viu nenhum deles. Encontrou seu saco rasgado ; o pegou e voltou chateado para casa. E os três amigos viveram a vida toda em amizade inquebrável e então passaram sendo tratados de acordo com seus méritos.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, ele identificou o Jataka:- “Devadatra era o caçador, Sāriputra o Pica-pau, Moggallāna a Tartaruga e eu mesmo o Antílope.”

[N. do Tr.: esta história está gravada em pedra em um Stupa de Bharhut (Cunninham, p.67 e pl. XXVII).]



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