sábado, 31 de maio de 2014

486 Buddha Leão








     
           ( Pintura de teto das cavernas de Ajanta, mosteiro, vihara, buddhista na Índia )


486
Os camponeses rústicos...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre Mitra-gandhaka, um Irmão leigo. Este homem, dizem, rebento de uma família decaída de Savatthi, enviou um companheiro para propor casamento a uma jovem gentil. Uma questão foi perguntada, “Ele tem algum amigo ou camarada que possa dispor em qualquer assunto que precise cuidado ?” Resposta foi dada, “Não, não há nenhum.” “Então ele deve fazer alguns amigos primeiro,” disseram a ele. O homem seguiu este conselho e fez amizade com os quatro guardiães dos portões. Após isto fez amizade por hierarquia, vigias da cidade, os astrólogos, os nobres da corte, mesmo com o comandante em chefe e com o vice rei ; e associando-se com eles tornou-se amigo do rei e após o quê amigo dos oitenta anciãos chefes e através do Ancião Ananda com o Tathagata mesmo. Então o Mestre estabeleceu sua família nos Refúgios e nas Virtudes, o rei deu a ele alto posto e ele ficou conhecido como Mitra-gandhaka, literalmente 'amizade amarrador' ou 'o homem de muitos amigos'. O rei concedeu uma grande casa para ele e fez com que celebrassem sua festa nupcial e um mundo de gente do rei para baixo enviaram-lhe presentes. Então sua esposa recebeu um presente enviado pelo rei, o presente enviado pelo vice-rei, o presente do comandante em chefe, e assim por diante, tendo-se toda a cidade se ligado nela. No sétimo dia, com grande cerimônia o Dasabala foi convidado pelo par recém casado, grandes presentes foram dados ao Buddha e a sua companhia, a Sangha, que somava quinhentos em número ; no final da festa receberam os agradecimentos do Mestre e foram ambos estabelecidos no fruto do Primeiro Caminho.
No Salão da Verdade todos falavam sobre. “Irmãos, o leigo Mitra gandhaka seguindo o conselho de sua esposa e seus modos tornou-se amigo de todos e recebeu grande honra das mãos do rei ; e tendo tornado-se amigo do Mestre ambos marido e mulher foram estabelecidos no fruto do Primeiro Caminho”. O Mestre entrando perguntou o quê falavam. Disseram a ele. Ele falou, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que este homem recebeu grande honra por pela razão desta mulher. Em dias há muito idos, quando ele era um animal, através do conselho dela ele fez muitos amigos e foi liberto da ansiedade em benefício de seu filho.” Assim falando ele contou uma história do passado.
___________________

Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, alguns homens dos mangues usavam fazer acampamento, onde quer que melhor pudessem encontrar alimento, morando na floresta, e caçando carne para eles mesmos e suas famílias a caça que abundasse no lugar. Não longe da cidade deles havia um largo lago natural e na sua praia do sul vivia um Gavião e na oeste uma gavioa, gavião fêmea ; no Norte um Leão, rei das bestas ; no leste uma Águia pescadora, rei dos pássaros ; no meio morava uma Tartaruga numa pequena ilha. O Gavião pediu a gavioa em casamento. Ela perguntou a ele, “Você tem algum amigo ?” “Não, madame,” ele respondeu. “Devemos ter alguém que possa nos defender contra qualquer perigo ou problema que possa surgir e portanto você deve encontrar alguns amigos.” “Com quem devo fazer amizade ?” “Ora ! Com o rei Águia pescadora que vive na praia leste e com o Leão no norte e com a Tartaruga que mora no meio deste lago. Ele seguiu o conselho dela e fez isto. Então os dois viveram juntos ( deve ser dito que numa pequena ilhota no mesmo lago crescia uma árvore kadamba, cercada por água por todos os lados ) em um ninho que fizeram.
Após isto foram dados a eles dois filhotes. Um dia, enquanto as asas destes ainda estavam implumes, alguns camponeses que buscavam alimento pela floresta por todo dia, nada encontraram. Não desejando voltar para casa de mãos vazias, desceram ao lago para pegar um peixe ou uma tartaruga. Chegaram na ilha e deitaram debaixo da árvore kadamba ; e lá atormentados pelas mordidas de insectos e mosquitos, para afastá-los acenderam uma fogueira esfregando gravetos para fazer fumaça. A fumaça elevando-se incomodou os pássaros e os filhotes deram um grito. “É o grito dos pássaros !” disseram os camponeses. “Levantemos o fogo : não podemos ficar famintos aqui deitados mas façamos uma refeição de carne de pássaro.” Fizeram o fogo aumentar elevando a fogueira. Mas a mãe pássara escutando o som, pensou, “Estas pessoas querem comer nossos filhotes. Fizemos amigos para nos salvar deste perigo. Enviarei meu companheiro até a grande Águia pescadora.” Então ela disse, “Vá, meu marido, fale para Àguia pescadora o perigo que ameaça nossos jovens,” repetindo a estrofe :

Os camponeses rústicos fazem fogo na ilha,
Para comer meus filhotes enquanto isto :
Ó Gavião ! Aos amigos e camaradas fale,
Conte a todo pássaro, o perigo que passa minhas crias !

A ave de crista voou a toda velocidade para o lugar e deu um grito para anunciar sua chegada. Licença dada, ele aproximou-se d'Águia pescadora e fez sua saudação. “Por quê vieste ?” questionou Àguia. Então o gavião repetiu a segunda estrofe :

Ó, pássaro alado ! Chefes das aves és tu :
Portanto, rei Águia, busco tua proteção agora.
Alguns rústicos caçando estão ansiosos
Em comer minha cria : sejas tu minha alegria de volta !

Nada tema,” disse Àguia ao Gavião e consolando-o repetiu a terceira estrofe :

Na estação, ou fora dela, sábios fazem
Ambos, amigos e camaradas em vista de proteção :
Por ti, Ó Gavião ! Farei este gesto ;
Os bons devem se ajudar um ao outro quando preciso.

Então seguiu questionando, “Os camponeses subiram àrvore, meu amigo ?” “Não subiram ainda ; estão justamente empilhando lenha na fogueira.” “Então é melhor meu amigo ir rápido e confortar sua companheira e dizer que estou indo.” Ele fez isto. Àguia partiu também e de um lugar próximo d'árvore kadamba olhava os homens subirem, pousado no topo de uma árvore. Justo quando um dos campônios que estava subindo àrvore aproximava-se do ninho, Àguia mergulhou no lago e das asas e do bico espirrou água nos galhos em chamas de modo que apagaram. Para baixo vieram os homens e fizeram outro fogo para cozinhar os pássaros e seus filhotes ; quando subiram novamente , mais uma vez Àguia desmanchou o fogo. Desse jeito quando uma fogueria era acesa, a ave a apagava e assim chegou meia noite. O pássaro ficou cansado : sua pele na barriga ficou fina, seus olhos vermelhos.Vendo-o, a gavioa disse a seu companheiro, “Meu senhor, Àguia está cansada ; vá e diga à Tartaruga, para ela poder descansar.” Quando escutou, o pássaro aproximou-se d'Águia dirigindo-se a ela em uma estrofe :

Bem ajude bem : o ato necessário
Misericordiosamente fizeste quando preciso.
Nossos jovens estão salvos, tu vive : cuide
De si mesmo, não esgote toda tua força.

Escutando estas palavras, altas qual rugido de leão, ele repetiu a quinta estrofe :
Enquanto mantenho guarda em volta desta árvore,
Não cuido se perco a vida por ti :
Assim procede o bem : tal amigo faz para amigo :
Sim, mesmo que pereça no fim.

_______________

A sexta estrofe foi repetida pelo Mestre, em sua Perfeita Sabedoria, enquanto louvava a bondade do pássaro :
Ave nascida d'ovo, que voa nos ares, fez o trabalho mais doloroso,
Àguia pescadora, guardando bem os filhotes antes das trevas da meia noite.

_____________________

O Gavião disse, “Descanse um pouco, amiga Águia,” e dirigiu-se até a Tartaruga, a quem acordou. “O que houve, amigo ?” perguntou a Tartaruga. -”Tal e tal perigo abateu-se sobre nós e Àguia real pescadora está batalhando desde a primeira vigília e está muito cansada ; eis porque venho até ti.” Com estas palavras repetiu a sétima estrofe :

Mesmo aqueles que caem com o pecado gesto ruim
Podem levantar-se novamente se conseguem ajuda quando preciso.
Meus filhotes em perigo, direto voo até ti :
Ó habitante do lago, venha, socorra-me !

Escutando isto a Tartaruga repetiu outra estrofe :

A pessoa boa para uma outra que é sua amiga,
Ambos, comida e objetos, a vida mesmo, darão.
Por ti, Ó Gavião ! Farei este gesto :
Os bons devem se ajudar na necessidade.

Seu filho, que não distante deitava, escutando estas palavras de seu pai pensou, “Não verei meu pai em problemas mas farei a parte dele,” e com isto repetiu a nona estrofe :

Aqui permaneças tranquilo, Ó meu pai,
E eu teu filho farei esta tua tarefa.
Um filho deve servir um pai, assim é melhor ;
Salvarei os filhotes do Gavião no ninho.

O pai Tartaruga respondeu a seu filho em uma estrofe :

Assim faz o bem, meu filho, e é verdade
Que filho deve fazer serviço para o pai.
Contudo podem deixar os filhotes implumes do Gavião
Quiçá, ao me verem crescido inteiro.

Com estas palavras a Tartaruga enviou o Gavião, adicionando, “Nada tema, meu amigo, mas vá na frente, irei em seguida.” Ele mergulhou n'água, coletou alguma lama , foi para a ilha, apagou o fogo, e ficou parado. Então os camponeses gritaram, “Por quê nos preocuparmos com filhotes de gaviões ? Viremos esta maldita ( kala ) Tartaruga, e matê-mo-la. Será suficiente para todos.” Apanharam então alguns gravetos e cordas mas quando estavam já firmes num lugar e outro, e rasgado as roupas em uma parte ou outra para este fim, não conseguiram virar a Tartaruga. A Tartaruga arrastou todos eles com ela e mergulhou em água profunda. Os homens ávidos em pegá-la afundaram atrás : espalharam para todos os lados e revolveram-se para fora com a barriga cheia d'água. “Olhe só,” disseram, “metade da noite uma Águia pescadora manteve-se apagando nosso fogo e agora esta Tartaruga nos faz cair dentro d'água e o consome , para nosso grande desconforto. Bem, acenderemos outro fogo e àurora comeremos aqueles filhotes de gavião.” Passaram então a fazer o fogo. A gavioa escutou o barulho que estavam fazendo e disse, “Meu marido, cedo ou tarde estes homens devorarão nosso jovens e partirão : vá e fale com nosso amigo o Leão.” Direto ele foi no Leão que perguntou a ele porque tinha vindo em hora tão inapropriada. O pássaro contou a ele tudo desde o começo e repetiu a estrofe onze :

Mais poderoso dos animais, ambos bestas e pessoas
Fogem do mais forte quando tomados de medo.
Meus filhotes estão em perigo ; ajude-me pois :
És nosso rei e por isto estou aqui.

Isto dito, o Leão repetiu uma estrofe :

Sim, farei este serviço, Gavião, por ti :
Venha, vamos matar esta gang de inimigos !
Certamente o prudente, aquele que sabedoria conhece,
Protetor de um amigo deve tentar se mostrar.

Tendo assim falado, o demitiu, dizendo, “Agora vá e conforte seus filhos.” Ele então seguiu adiante, batendo àgua cristalina. Quando os campônios perceberam-no, aparecendo, temeram a morte : “Àguia pescadora,” gritaram,” apagou nossas brasas ; a Tartaruga nos fez perder as roupas que vestíamos : mas agora estamos arruinados. Este Leão nos destruirá de uma vez.” Eles correram para todos os lados : quando o Leão chegou no pé d'árvore, não encontrou ninguém. Então Àguia pescadora, o Gavião e a Tartaruga chegaram e aproximaram-se dele. Falou a eles sobre os benefícios da amizade.” Com este conselho partiu : eles também cada um para seu próprio lugar. Então a gavioa olhando seu filhote pensou, - “Ah, pelos amigos tenho meus filhotes dados de volta para mim !” e ele alegrando-se falou ao companheiro recitando seis estrofes sobre o efeito da amizade :

Consiga amigos, uma casa cheia deles, sem falha.
Consiga um grande amigo : benção se mostrará :
Em vão flechas atingem a cota de malha.
E nos alegramos, nossas crias sã e salvas.

Com ajuda de camarada próprio, o amigo que permanece e assume sua parte,
Um pia, o recém emplumado pia em resposta, com notas que encantam o coração.

O sábio pede ajuda a amigos, ou mão a camarada,
Viva feliz com seus bens e família natural :
Assim eu, meu companheiro e filhos, juntos ficamos
Porque nossos amigos estão inclinados à misericórdia.

Uma pessoa precisa de rei e guerreiros para proteção :
E estes são aqueles cuja perfeição é amizade :
Anelas felicidade : ele é forte e famoso ;
Certamente prospera aquele tem partes com amigos.

Mesmo pobres e fracos, Ó Gavião, bons amigos devem necessitados procurar :
Veja agora pela gentileza nós e os nossos estão todos sãos e salvos.

O pássaro que ganha um herói forte para fazer papel de amigo,
Como você e eu somos felizes, Gavião, é feliz também em seu coração.

Assim ela declarou a qualidade da amizade em seis estrofes. E toda a sua companhia de amigos viveu toda a longa vida sem quebrar o laço da amizade e então passaram de acordo com seus atos.

______________________

O Mestre, tendo terminado este discurso, disse, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que ele ganhou benção pelos modos de seua esposa ; foio mesmo antes.” Com estas palavras, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo o casal casado era o par de Gaviões, Rahula era aTartaruga jovem, Moggaallaana era a Tartaruga velha, Sariputra Àguia pescadora e eu mesmo o Leão.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

485 Buddha 'Fado'








                  
                 ( pintura de teto de Ajanta, Índia, antigo mosteiro, convento, vihara buddhista, escavado na rocha )



485
Faleço, parece-me...etc.” - Esta é uma história que o Mestre contou, enquanto residia no bosque de banyan junto a Kapilapura sobre a mãe de Rahula quando ela estava no palácio.
Este Jataka deve ser contado lembrando da Época Distante da existência de Buddha. Mas a história das Épocas, até o rugido de leão de Kassapa de Uruvela ( um dos três irmãos brahmins convertidos por Buddha ) em Latthivana ( próximo de Rajagaha ), a Floresta de Bambu, foi contada antes no Nidana-katha desta coleção. Começando neste ponto você lerá no Vessantara Jataka, nº 547, a continuação dela até a chegada a Kapilavasthu ( a época distante estende-se até o nascimento no céu Tusita, a época média até a obtenção de Buddhidade e a época próxima até a 'morte' ). O Mestre, sentado na casa de seu pai, durante a refeição recontou o Mahadhammapala Jataka, nº 447 ; e após a refeição ter terminado ele disse, - “Louvarei as nobres qualidades da mãe de Rahula na própria casa dela, contando o Canda Kinnara Jataka ( Jataka da Fada da Lua ).” Entregando então sua tigela para o rei, com os dois Discípulos Chefes dirigiu-se para a casa da mãe de Rahula. Naquele tempo haviam 40 mil garotas dançarinas que viviam na presença dela e destas mil e noventa eram empregadas da casta guerreira. Quando a senhora escutou sobre a chegada do Tathagata, pediu que todas elas colocassem hábitos amarelos e elas fizeram isto. O Mestre veio e sentou-se no lugar designado para ele. Então todas as mulheres choraram em uníssono e houve um grande som de lamentação. A mãe de Rahula tendo chorado e assim colocado para fora sua dor, acolheu o Mestre e sentou com a reverência profunda devida a um rei. Então o rei começou a história sobre a bondade dela : “Escute, Senhor, ; ela entendeu que você vestia roupas amarelas e então ela se vestiu de amarelo ; que guirlandas e tais coisas são para ser largadas e veja ela largou guirlandas e sentou no chão. Quando você entrou para a vida religiosa ela se tornou uma viúva ; e recusou os presentes que outros reis mandaram para ela. De modo que o coração ela é fiel a ti.” Assim ele falou da bondade dela de muitos modos diferentes. O Mestre disse, “Não é nenhuma maravilha, grande rei ! Que agora em minha última existência a senhora deva me amar, ser fiel de coração e guiada por mim apenas. Assim também, mesmo quando nascida como um animal, ela foi fiel e minha apenas.” Então com o pedido do rei ele contou uma história do passado.

_________________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares o Grande Ser nasceu na região do Himalaia como uma fada ( kinnara ). Sua esposa chamava-se Canda ( Lua, a história parece conter um mito da natureza ). Os dois moravam juntos em uma montanha prateada chamada Canda-pabbata ou a Montanha da Lua. Naquele tempo o rei de Benares confiou o governo a seus ministros e sozinho vestido com manto e hábito amarelo, armado com as cinco armas ( espada, lança, arco, machado e escudo ), dirigiu-se aos Himalaias.
Enquanto comia sua caça lembrou-se onde havia um pequeno córrego e começou a subir a montanha. Bem, as fadas que viviam na Montanha da Lua na estação das chuvas permaneciam na montanha e desciam apenas no clima quente. Naquele tempo esta fada Canda, com seu companheiro, descera e vagava ao redor, ungindo-se com perfumes, comendo o pólen das flores, vestindo-se com tecidos finos de flores nas roupas interiores e exteriores, balançando-se nas trepadeiras para divertir-se, cantando canções com voz melíflua. Ele também veio para este córrego ; e em um lugar de parada desceu para dentro dele com sua esposa, espalhando flores ao redor e brincando n'água. Então colocaram novamente suas vestes de flores e em uma praia de areia branca como um placa de prata espalharam um leito de flores e lá deitaram. Pegando um pedaço de bambu, a fada macho passou a tocar com ele e cantar com voz melíflua ; enquanto sua companheira ondulando as mãos macias dançava e cantava junto. O rei captou o som e andando delicadamente para que seus passos não fossem escutados, aproximou-se, e permaneceu olhando as fadas em um lugar escondido. Ele imediatamente apaixonou-se pela fada fêmea. “Vou atingir o marido,” ele pensou, “matá-lo e viverei aqui com a esposa.” Então acertou o 'fado' Canda, que lamentando-se de dor pronunciou quatro estrofes :

Faleço, parece-me, meu sangue jorra e flue,
Perco o sustento da minha vida, Ó Canda ! minha respiração se vae !

Afundo, estou com dores, meu coração queima, aquecido :
Mas é por teu sofrimento, Canda, que meu coração apieda-se por dentro.

Qual grama, qual árvore pereço, qual rio sem água, eu seco :
Mas é por teu sofrimento, Canda, que meu coração apieda-se por dentro.

Qual chuva em lago ao sopé de montanha são as lágrimas que caem dos meu olhos :
Mas é por teu sofrimento, Canda, que meu coração apieda-se por dentro.

Assim o Grande Ser lamentava-se em quatro estrofes ; e deitado no leito de flores, ele perdeu sua consciência e desmaiou. O rei ficou onde estava. Mas a fada não sabia que o Grande Ser estava ferido nem mesmo quando pronunciou seu lamento, estando intoxicada com o próprio prazer. Vendo-o deitado lá virado e sem vida, ela começou o pensar em qual seria o problema com seu senhor. Quando o examinava, ela viu sangue vertendo da abertura da ferida e sendo incapaz de suportar a grande dor pelo sofrimento de seu amado marido, ela gritou em alta voz. “O 'fado' deve estar morto,” pensou o rei, saiu e apresentou-se. Quando Canda o viu ela pensou, “Este deve ser o bandido que atingiu meu caro marido !” e tremendo fugiu. De pé no topo da montanha denunciou o rei em cinco estrofes :

Aquele príncipe mau – ah, meu pesar ! - meu marido querido feriu,
Que lá debaixo d'árvore do bosque agora jaz no chão.

Ó príncipe ! o pesar que aperta meu coração possa tua própria mãe pagar,
O pesar que aperta meu coração ver meu 'fado' morto ho-je !

Sim, príncipe ! O pesar que aperta meu coração possa tua própria esposa repagar,
O pesar que aperta meu coração ver meu 'fado' morto ho-je !

E possa tua mãe chorar seu pai e possa ela chorar seu filho,
Quem a meu senhor sem defesa por luxúria cometeu tal ato.

E possa tua esposa olhar e ver a perda de pai e filho,
Pois tu a meu senhor indefeso por luxúria cometeste tal gesto.
Após ela ter feito deste modo seu lamento nestas cinco estrofes, de pé no topo do monte o rei a confortou com outra estrofe :

Não chore, nem sofra : a escuridão da floresta te cegou, creio :
Uma casa real te honrará e serás minha rainha.

O que foi isto que você falou ?” gritou Canda quando escutou a fala ; e alto como o rugido de uma leoa ela proclamou a próxima estrofe :

Não ! Certamente me matarei ! Tua nunca serei,
De quem matou meu marido indefeso e só por luxúria por mim.

Quando ele escutou isto sua paixão o deixou e ele recitou outra estrofe :

Viva se queres, Ó tímida ! Vá para o Himalaia :
Criaturas que se alimentam de árvores e arbustos amam a floresta, eu sei.
( são nomeadas duas plantas Corypha Taliera e Tabernaemontana Coronaria. )

Com estas palavras ele partiu indiferente. Canda logo que o viu partir desceu e abraçou o Grande Ser levando-o para o topo do morro e deixando em um chão reto lá : colocando a cabeça dele no seu colo, ela fez seu lamento em doze estrofes :

Aqui nas montes e nas cavernas das montanhas, em muitas clareiras e grotões,
O que devo fazer, Ó 'fado' meu ! Agora que não te vejo ?

No ambiente das bestas selvagens, folhas espalham-se em muitos lugares legais :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

No ambiente das bestas selvagens, doces flores espalham-se em muitos lugares legais :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Rápido descem os rios dos montes, com flores tudo cobrindo :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que me deixaste sozinha ?

Azul são as montanhas do Himalaia, muito belas de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Ouro entorna os montes dos Himalaias, muito belos de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Brilham de vermelho os montes dos Himalaias, muito belos de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Agudos são os picos dos Himalaias, muito belos de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Lampeja branco os picos do Himalaia, muito belos de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

O Himalaia côr de arco-íris, muito belo de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Monte Fragrante ( Gandha-mandana ) é cara aos duendes ; plantas cobrem todo canto
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

As fadas amam o Monte Fragrante, plantas cobrem todo canto :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Deste modo ela fez seu lamento ; e colocando a mão do Grande Ser em seu seio sentiu que ele ainda estava quente. “Canda ainda vive !” ela pensou : “Vou censurar os deuses até trazê-lo à vida novamente !” Então ela gritou alto, censurando-os, “Não há ninguém que governe o mundo ? Eles estão viajando ? Ou talvez estejam mortos e daí não salvam meu querido marido !” Pelo poder da dor dela o trono de Sakra tornou-se quente. Ponderando ele percebeu a causa ; na forma de um brahmin aproximou-se e de uma cabaça retirou água e aspergiu o Grande Ser com ela. No mesmo instante o veneno cessou de agir, a cor dele retornou, ele soube apenas o lugar em que a ferida tinha sido : o Grande Ser levantou-se completamente bem. Canda vendo seu marido bem amado inteiro, em alegria caiu aos pés de Sakra e cantou seu louvor na seguinte estrofe :

Benção, brahmin santo ! Que deste a uma esposa infeliz
Seu marido bem amado, aspergindo-o com o elixir da vida !

Sakra então deu este conselho : “A partir deste dia não desça da Montanha da Lua para os caminhos dos homens mas more aqui.” Duas vezes repetiu isto e então retornou para seu próprio lugar. E Canda disse a seu marido, “Por quê ficar aqui em perigo, meu senhor ? Vamos, vamos para a Montanha da Lua,” recitando a última estofe :

Para a montanha vamos,
Onde os amáveis rios fluem,
Rios cobertos de flores :
Lá para sempre, enquanto a brisa
Sussurra em árvores mil,
Encantar com conversas as horas felizes.

______________________

Quando o Mestre terminou este discurso, ele disse : “Não agora apenas, mas muito tempo atrás também, ela foi devota e fiel de coração a mim.” Então ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Anurudha era o rei, a Mãe de Rahula era Canda e eu mesmo era o 'fado'.”