segunda-feira, 12 de maio de 2014

485 Buddha 'Fado'








                  
                 ( pintura de teto de Ajanta, Índia, antigo mosteiro, convento, vihara buddhista, escavado na rocha )



485
Faleço, parece-me...etc.” - Esta é uma história que o Mestre contou, enquanto residia no bosque de banyan junto a Kapilapura sobre a mãe de Rahula quando ela estava no palácio.
Este Jataka deve ser contado lembrando da Época Distante da existência de Buddha. Mas a história das Épocas, até o rugido de leão de Kassapa de Uruvela ( um dos três irmãos brahmins convertidos por Buddha ) em Latthivana ( próximo de Rajagaha ), a Floresta de Bambu, foi contada antes no Nidana-katha desta coleção. Começando neste ponto você lerá no Vessantara Jataka, nº 547, a continuação dela até a chegada a Kapilavasthu ( a época distante estende-se até o nascimento no céu Tusita, a época média até a obtenção de Buddhidade e a época próxima até a 'morte' ). O Mestre, sentado na casa de seu pai, durante a refeição recontou o Mahadhammapala Jataka, nº 447 ; e após a refeição ter terminado ele disse, - “Louvarei as nobres qualidades da mãe de Rahula na própria casa dela, contando o Canda Kinnara Jataka ( Jataka da Fada da Lua ).” Entregando então sua tigela para o rei, com os dois Discípulos Chefes dirigiu-se para a casa da mãe de Rahula. Naquele tempo haviam 40 mil garotas dançarinas que viviam na presença dela e destas mil e noventa eram empregadas da casta guerreira. Quando a senhora escutou sobre a chegada do Tathagata, pediu que todas elas colocassem hábitos amarelos e elas fizeram isto. O Mestre veio e sentou-se no lugar designado para ele. Então todas as mulheres choraram em uníssono e houve um grande som de lamentação. A mãe de Rahula tendo chorado e assim colocado para fora sua dor, acolheu o Mestre e sentou com a reverência profunda devida a um rei. Então o rei começou a história sobre a bondade dela : “Escute, Senhor, ; ela entendeu que você vestia roupas amarelas e então ela se vestiu de amarelo ; que guirlandas e tais coisas são para ser largadas e veja ela largou guirlandas e sentou no chão. Quando você entrou para a vida religiosa ela se tornou uma viúva ; e recusou os presentes que outros reis mandaram para ela. De modo que o coração ela é fiel a ti.” Assim ele falou da bondade dela de muitos modos diferentes. O Mestre disse, “Não é nenhuma maravilha, grande rei ! Que agora em minha última existência a senhora deva me amar, ser fiel de coração e guiada por mim apenas. Assim também, mesmo quando nascida como um animal, ela foi fiel e minha apenas.” Então com o pedido do rei ele contou uma história do passado.

_________________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares o Grande Ser nasceu na região do Himalaia como uma fada ( kinnara ). Sua esposa chamava-se Canda ( Lua, a história parece conter um mito da natureza ). Os dois moravam juntos em uma montanha prateada chamada Canda-pabbata ou a Montanha da Lua. Naquele tempo o rei de Benares confiou o governo a seus ministros e sozinho vestido com manto e hábito amarelo, armado com as cinco armas ( espada, lança, arco, machado e escudo ), dirigiu-se aos Himalaias.
Enquanto comia sua caça lembrou-se onde havia um pequeno córrego e começou a subir a montanha. Bem, as fadas que viviam na Montanha da Lua na estação das chuvas permaneciam na montanha e desciam apenas no clima quente. Naquele tempo esta fada Canda, com seu companheiro, descera e vagava ao redor, ungindo-se com perfumes, comendo o pólen das flores, vestindo-se com tecidos finos de flores nas roupas interiores e exteriores, balançando-se nas trepadeiras para divertir-se, cantando canções com voz melíflua. Ele também veio para este córrego ; e em um lugar de parada desceu para dentro dele com sua esposa, espalhando flores ao redor e brincando n'água. Então colocaram novamente suas vestes de flores e em uma praia de areia branca como um placa de prata espalharam um leito de flores e lá deitaram. Pegando um pedaço de bambu, a fada macho passou a tocar com ele e cantar com voz melíflua ; enquanto sua companheira ondulando as mãos macias dançava e cantava junto. O rei captou o som e andando delicadamente para que seus passos não fossem escutados, aproximou-se, e permaneceu olhando as fadas em um lugar escondido. Ele imediatamente apaixonou-se pela fada fêmea. “Vou atingir o marido,” ele pensou, “matá-lo e viverei aqui com a esposa.” Então acertou o 'fado' Canda, que lamentando-se de dor pronunciou quatro estrofes :

Faleço, parece-me, meu sangue jorra e flue,
Perco o sustento da minha vida, Ó Canda ! minha respiração se vae !

Afundo, estou com dores, meu coração queima, aquecido :
Mas é por teu sofrimento, Canda, que meu coração apieda-se por dentro.

Qual grama, qual árvore pereço, qual rio sem água, eu seco :
Mas é por teu sofrimento, Canda, que meu coração apieda-se por dentro.

Qual chuva em lago ao sopé de montanha são as lágrimas que caem dos meu olhos :
Mas é por teu sofrimento, Canda, que meu coração apieda-se por dentro.

Assim o Grande Ser lamentava-se em quatro estrofes ; e deitado no leito de flores, ele perdeu sua consciência e desmaiou. O rei ficou onde estava. Mas a fada não sabia que o Grande Ser estava ferido nem mesmo quando pronunciou seu lamento, estando intoxicada com o próprio prazer. Vendo-o deitado lá virado e sem vida, ela começou o pensar em qual seria o problema com seu senhor. Quando o examinava, ela viu sangue vertendo da abertura da ferida e sendo incapaz de suportar a grande dor pelo sofrimento de seu amado marido, ela gritou em alta voz. “O 'fado' deve estar morto,” pensou o rei, saiu e apresentou-se. Quando Canda o viu ela pensou, “Este deve ser o bandido que atingiu meu caro marido !” e tremendo fugiu. De pé no topo da montanha denunciou o rei em cinco estrofes :

Aquele príncipe mau – ah, meu pesar ! - meu marido querido feriu,
Que lá debaixo d'árvore do bosque agora jaz no chão.

Ó príncipe ! o pesar que aperta meu coração possa tua própria mãe pagar,
O pesar que aperta meu coração ver meu 'fado' morto ho-je !

Sim, príncipe ! O pesar que aperta meu coração possa tua própria esposa repagar,
O pesar que aperta meu coração ver meu 'fado' morto ho-je !

E possa tua mãe chorar seu pai e possa ela chorar seu filho,
Quem a meu senhor sem defesa por luxúria cometeu tal ato.

E possa tua esposa olhar e ver a perda de pai e filho,
Pois tu a meu senhor indefeso por luxúria cometeste tal gesto.
Após ela ter feito deste modo seu lamento nestas cinco estrofes, de pé no topo do monte o rei a confortou com outra estrofe :

Não chore, nem sofra : a escuridão da floresta te cegou, creio :
Uma casa real te honrará e serás minha rainha.

O que foi isto que você falou ?” gritou Canda quando escutou a fala ; e alto como o rugido de uma leoa ela proclamou a próxima estrofe :

Não ! Certamente me matarei ! Tua nunca serei,
De quem matou meu marido indefeso e só por luxúria por mim.

Quando ele escutou isto sua paixão o deixou e ele recitou outra estrofe :

Viva se queres, Ó tímida ! Vá para o Himalaia :
Criaturas que se alimentam de árvores e arbustos amam a floresta, eu sei.
( são nomeadas duas plantas Corypha Taliera e Tabernaemontana Coronaria. )

Com estas palavras ele partiu indiferente. Canda logo que o viu partir desceu e abraçou o Grande Ser levando-o para o topo do morro e deixando em um chão reto lá : colocando a cabeça dele no seu colo, ela fez seu lamento em doze estrofes :

Aqui nas montes e nas cavernas das montanhas, em muitas clareiras e grotões,
O que devo fazer, Ó 'fado' meu ! Agora que não te vejo ?

No ambiente das bestas selvagens, folhas espalham-se em muitos lugares legais :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

No ambiente das bestas selvagens, doces flores espalham-se em muitos lugares legais :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Rápido descem os rios dos montes, com flores tudo cobrindo :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que me deixaste sozinha ?

Azul são as montanhas do Himalaia, muito belas de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Ouro entorna os montes dos Himalaias, muito belos de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Brilham de vermelho os montes dos Himalaias, muito belos de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Agudos são os picos dos Himalaias, muito belos de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Lampeja branco os picos do Himalaia, muito belos de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

O Himalaia côr de arco-íris, muito belo de ver :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Monte Fragrante ( Gandha-mandana ) é cara aos duendes ; plantas cobrem todo canto
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

As fadas amam o Monte Fragrante, plantas cobrem todo canto :
Que devo fazer, Ó 'fado' meu, agora que não te vejo ?

Deste modo ela fez seu lamento ; e colocando a mão do Grande Ser em seu seio sentiu que ele ainda estava quente. “Canda ainda vive !” ela pensou : “Vou censurar os deuses até trazê-lo à vida novamente !” Então ela gritou alto, censurando-os, “Não há ninguém que governe o mundo ? Eles estão viajando ? Ou talvez estejam mortos e daí não salvam meu querido marido !” Pelo poder da dor dela o trono de Sakra tornou-se quente. Ponderando ele percebeu a causa ; na forma de um brahmin aproximou-se e de uma cabaça retirou água e aspergiu o Grande Ser com ela. No mesmo instante o veneno cessou de agir, a cor dele retornou, ele soube apenas o lugar em que a ferida tinha sido : o Grande Ser levantou-se completamente bem. Canda vendo seu marido bem amado inteiro, em alegria caiu aos pés de Sakra e cantou seu louvor na seguinte estrofe :

Benção, brahmin santo ! Que deste a uma esposa infeliz
Seu marido bem amado, aspergindo-o com o elixir da vida !

Sakra então deu este conselho : “A partir deste dia não desça da Montanha da Lua para os caminhos dos homens mas more aqui.” Duas vezes repetiu isto e então retornou para seu próprio lugar. E Canda disse a seu marido, “Por quê ficar aqui em perigo, meu senhor ? Vamos, vamos para a Montanha da Lua,” recitando a última estofe :

Para a montanha vamos,
Onde os amáveis rios fluem,
Rios cobertos de flores :
Lá para sempre, enquanto a brisa
Sussurra em árvores mil,
Encantar com conversas as horas felizes.

______________________

Quando o Mestre terminou este discurso, ele disse : “Não agora apenas, mas muito tempo atrás também, ela foi devota e fiel de coração a mim.” Então ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Anurudha era o rei, a Mãe de Rahula era Canda e eu mesmo era o 'fado'.”

Nenhum comentário: