segunda-feira, 27 de junho de 2011

428 Buddha discursa pousado no ar


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                          pintura de Ajanta , Índia

428
Onde quer que a Irmandade...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia no parque Ghosita próximo a Kosambi, relativa a certo povo briguento de Kosambi. O incidente que levou à história é encontrado na seção do Vinaya relativa a Kosambi ( Mahavagga X, 1-10 ). Aqui um pequeno resumo dela. Naquele tempo, é dito, dois Irmãos viviam na mesma casa, um versado no Vinaya, o outro nos Sutras. Este último um dia tendo ido ao lavatório saiu deixando um resto de água para enxaguar a boca em um pote. Depois disto aquele versado no Vinaya entrou e vendo àgua saiu e perguntou a seu companheiro se àgua fora deixada lá por ele. A resposta foi, “Sim, senhor.” “O quê ! Não sabes que isto é pecado ?” “Não, não estava ciente disto.” “Bem, Irmão, é pecado.” “Então compensarei isto.” “Mas se fizestes inadvertida e desatentamente, não é pecado.” Então ele ficou como alguém que não viu pecado no que era pecado. O estudioso do Vinaya disse a seus pupilos, “Este estudioso dos Sutras, apesar de cair em pecado não está consciente disto.” Estes vendo os pupilos do outro Irmão disseram, “O mestre de vocês apesar de cair em pecado não reconhece isto.” Eles foram e contaram ao mestre deles. Ele disse, “Este estudioso do Vinaya antes disse que não havia pecado e agora diz que há pecado : ele é um mentiroso.” Eles foram e contaram aos outros, “O mestre de vocês é um mentiroso.” Assim começaram uma querela entre eles. O estudioso do Vinaya então, vendo uma oportunidade, começou um processo de excomunhão do Irmão por recusar a ver a ofensa. A partir daí mesmo os laicos que proviam os requisitos ( hábitos, agulha, filtro, cinto, navalha ) aos sacerdotes, ficaram divididos em duas facções. As irmãs também que aceitam seus conselhos e deuses tutelares, com seus amigos e próximos e deidades que descansam no espaço até aquelas do Mundo de Brahma, mesmo todos os inconversos, formaram dois partidos e a discussão alcançou o domícilio dos deuses Sublimes.
Então um certo Irmão aproximou-se do Tathagata e falou do ponto de vista do partido excomungante que dizia, “O sujeito está excomungado na forma ortodoxa,” e o ponto de vista dos seguidores do excomungado que diziam, “Ele está ilegalmente excomungado,” e a prática daqueles que, apesar de proibidos pelo partido excomungante ainda reuniam-se ao redor dele para ampará-lo. O Abençoado disse, “Há um cisma, sim, um cisma na Irmandade,” e foi até eles e apontou a miséria envolvida na excomunhão àqueles que excomungaram e a miséria resultante no sigilo de um pecado ao partido oposto e depois partiu. Novamente quando estavam realizando o Uposatha e serviços similares no mesmo lugar, dentro dos limites e disputavam no refeitório e em outros lugares, ele estabeleceu a regra de que deveriam sentar juntos, um do lado do outro alternadamente. E entendendo que eles ainda assim brigavam no mosteiro ele foi lá e disse, “Basta, Irmãos, que não tenhamos mais brigas.” E um do lado herético que não queria importunar o Abençoado, disse, “Deixemos o Abençoado Senhor da Verdade ficar em casa. Deixemos o Abençoado residir em paz, gozando da benção que já obteve nesta vida. Nos tornaremos famosos por esta querela, disputa, briga e altercação.”
Mas o Mestre disse a eles, “Certa vez, Irmãos, Brahmadatra, reinava no reino de Kasi em Benares e ele roubou Dighati, rei de Kosala, de seu reino e o matou quando vivia disfarçado e quando príncipe Dighavu poupou a vida de Brahmadatra, tornaram-se a partir daí amigos próximos. E já que tal deve ter sido a brandura e a resignação destes reis cetrados e portadores de espadas, verdadeiramente, Irmãos, deve ficar claro que vocês também, tendo abraçado a vida religiosa de acordo com uma doutrina e disciplina tão bem ensinada, podem ser brandos e pacientes.” E então advertindo-os pela terceira vez ele disse, “Basta Irmãos, que não haja disputa.” E quando ele viu que não cessavam apesar do seu pedido, ele foi embora dizendo, “Verdadeiramente, este povo tolo são como pessoas possuídas, não são de fácil persuasão.” Dia seguinte retornando da coleta de oferta ele descansou um pouco em sua câmara perfumada e colocou seu quarto em ordem e então pegando sua tigela e hábito ficou pousado no ar e pronunciou estes versos no meio d'assembléia :

Onde quer que a Irmandade divida-se em duas,
O povo comum dá ouvidos a gritos de bocas barulhentas :
Cada um acredita que si mesmo é sábio,
E vê seu vizinho com olhos desdenhosos.
Almas desnorteadas, infladas com auto estima,
Com boca aberta blasfemam tolamente ;
E como através de toda extensão da palavra eles extraviam,
Não sabem a quem como líder obedecer.
Este sujeito abusou de mim, e aquele me socou,
Um terceiro me dominou e tempos atrás me roubou.”
Todos acolhem sentimentos deste tipo,
E a mitigar sua ira nunca estão inclinados.
Ele abusou de mim e me deu um tapa tempos atrás,
Me dominou e me oprimiu até machucar.”
Aqueles que se recusam a tais pensamentos entreter,
Apaziguam sua ira e vivem unidos novamente.
Não o ódio mas o amor apenas, faz o ódio cessar :
Esta é a perpétua lei da paz.
Algumas pessoas, a lei do auto controle desprezam,
Mas aqueles que querelas conciliam , são sábios.
Se pessoas todas marcadas deferidas em disputas mortais,
Ladrões e assaltantes, tirantes de vida humana,
Até aqueles que saqueiam um reino inteiro, podem ser
Amigos de seus inimigos, devem Irmãos não concordarem ?
Encontres tu um sábio e honesto camarada,
Alma gentil, inclinada a contigo habitar,
Todos perigos ultrapassados, com ele ainda tu te extraviarás,
Em feliz contemplação por todo o dia.
Mas falhando tu em encontrares com tal amigo,
Tua vida será melhor gastar em solitude,
Como um príncipe que abdica do trono,
Ou um elefante que vaga sozinho apenas.
Por escolha adote a vida solitária,
Companhia de tolos só leva a luta ;
Em inocência descuidada persiga teu caminho,
Como elefante na floresta selvagem extraviado.

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Quando o Mestre falou assim, já que falhava em reconciliar estes Irmãos, ele foi para Balakalonakaragama ( a cidade de Balaka, o fazedor de sal ), e discursou para o venerável Bhagu sobre a benção da solidão, soledad. Depois ele encaminhou-se para o domicílio dos três jovens nobres e conversou com eles sobre a benção achada na doçura da concórdia. Em seguida ele viajou para a floresta Parileyyaka e residiu lá por três meses sem retornar para Kosambi foi direto para Savatthi. E o povo laico de Kosambi se reuniu e disse, “Certamente estes reverendos Irmãos de Kosambi nos fizeram muito dano ; chateado com eles o Abençoado foi embora. Nós não saudaremos nem mostraremos respeito a eles nem daremos ofertas quando nos visitarem. Assim irão embora ou retornarão ao mundo ou pedirão desculpa ao Abençoado.” E fizeram isto. E estes Irmãos acabrunhados com esta forma de punição foram a Savatthi e pediram perdão ao Abençoado.

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O Mestre assim identificou o Jataka : “O pai era o grande rei Suddhodana, a mãe era Mahāmāyā, príncipe Dighavu era eu mesmo.”

segunda-feira, 6 de junho de 2011

427 Buddha Abutre


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             pintura de Ajanta, Índia. 

427
Formada por pesados troncos...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana relativa a um Irmão desobediente. Ele era, dizem, de família nobre e apesar de ordenado na doutrina que leva à Salvação, foi aconselhado por seus professores, mestres, conselheiros e colegas deste jeito : “Assim deves andar e assim recuar ; assim olhar os objetos ou afastar a vista ; assim deve o braço ser estendido ou recolhido ; assim as vestes de dentro e de fora devem ser vestidas ; assim deve-se segurar a tigela e quando receberes comida suficiente para o sustento da vida, após auto-exame, assim deves dividí-la, mantendo guarda sobre as portas dos sentidos ; comendo deves ser moderado e exercitar a vigilância ; deves reconhecer tais e tais tarefas em relação aos Irmãos que vêm e vão do mosteiro ; estas são as quatorze tarefas sacerdotais e as oitenta grandes tarefas a serem devidamente realizadas ( conforme contido no Vinaya ) ; estas são as treze práticas Dhuta ; tudo isto deve ser escrupulosamente realizado.” Ainda assim ele era desobediente e impaciente e não recebia as instruções respeitosamente mas recusava a escutá-los dizendo, “Não te fiz nenhum mal porque falas assim comigo ? Saberei o que me fará bem e o quê não.” Então os Irmãos, escutando a desobediência dele, sentaram no Salão da Verdade falando destes erros. O Mestre veio e perguntou-os o que estavam conversando e mandando chamar o Irmão disse, “É vero Irmão que és relapso ?” E quando ele confessou que sim, o Mestre disse, “Por quê, Irmão, após ser ordenado em uma doutrina tão excelente que leva à Salvação, não escutas a fala de teus conselheiros ? Antes também desobedecestes o conselho dos sábios e fostes explodido em átomos pelo vento Veramba.” E com isto ele contou uma história do passado.

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Certa vez o Bodhisatva veio à vida como um jovem abutre no Monte Abutre. Então seu herdeiro Supatra, o rei dos abutres, era forte e poderoso e tinha um séquito de muitos milhares de abutres e ele alimentava os pais pássaros. E devido a sua força costumava voar até distâncias muito grandes. Então seu pai o aconselhou dizendo, “Meu filho, não deves ir além de tal e tal ponto.” Ele disse, “Muito bem,” mas um dia quando chovia, ele voou alto com os outros abutres e deixando o resto para trás e indo para além dos limites prescritos, entrou no alcance do vento Veramba e foi explodido em átomos.

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O Mestre, em sua Perfeita Sabedoria, para ilustrar este incidente, pronunciou estes versos :

Formada por pesados troncos, um antigo caminho leva
A vertiginosas alturas, onde um jovem abutre alimenta
Os pais pássaros. Poderoso e forte de asas
Ele frequentemente trazia gordura de serpentes ;
E quando seu pai o viu voando alto
E aventurando-se longe no céu, assim gritou,
Meu filho, quando não puderes ver com os olhos
A esfera redonda da terra cercada pelos oceanos,
Não vá mais longe, mas retorne imediatamente, peço.”
Então foi este rei dos pássarosrápido em seu caminho,
E inclinando-se sobre a terra, com olhar penetrante
Viu abaixo florestas e montanhas altas :
E a terra aparecia, como seu pai descreveu,
Entre os oceanos ao redor como esfera redonda.
Mas quando além destes limites ele passou,
Apesar de forte pássaro ser, uma tempestade explodiu
Varrendo-o para morte inesperada,
Sem poder para enfrentar o sopro feroz de tempestade de vento.
Assim o pássaro pela desobediência mostrou
Ser fatal àqueles dependentes de seu amor :
Assim morrem todos que desprezam a anciedade
Rindo de avisos pronunciados pelos sábios,
Como o jovem abutre desafiando as palavras da Sabedoria
Desprezando os limites estabelecidos para restringir seu orgulho.

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Portanto Irmão, não seja como este abutre mas obedeça a seus conselheiros.” E sendo assim advertido pelo Mestre, ele a partir daí tornou-se obediente.

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O Mestre, sua lição terminada, identificou o Jataka : “ O abutre desobediente daqueles dias é agora o Irmão desobediente. O pai do abutre era eu mesmo.”

[ Cf. Jatakas 161, 381 e 439 : a lição é a mesma que a de Dédalo para Ícaro : Oriente e Ocidente juntos desde sempre. ]