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pintura de Ajanta , Índia
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“Onde quer que a Irmandade...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia no parque Ghosita próximo a Kosambi, relativa a certo povo briguento de Kosambi. O incidente que levou à história é encontrado na seção do Vinaya relativa a Kosambi ( Mahavagga X, 1-10 ). Aqui um pequeno resumo dela. Naquele tempo, é dito, dois Irmãos viviam na mesma casa, um versado no Vinaya, o outro nos Sutras. Este último um dia tendo ido ao lavatório saiu deixando um resto de água para enxaguar a boca em um pote. Depois disto aquele versado no Vinaya entrou e vendo àgua saiu e perguntou a seu companheiro se àgua fora deixada lá por ele. A resposta foi, “Sim, senhor.” “O quê ! Não sabes que isto é pecado ?” “Não, não estava ciente disto.” “Bem, Irmão, é pecado.” “Então compensarei isto.” “Mas se fizestes inadvertida e desatentamente, não é pecado.” Então ele ficou como alguém que não viu pecado no que era pecado. O estudioso do Vinaya disse a seus pupilos, “Este estudioso dos Sutras, apesar de cair em pecado não está consciente disto.” Estes vendo os pupilos do outro Irmão disseram, “O mestre de vocês apesar de cair em pecado não reconhece isto.” Eles foram e contaram ao mestre deles. Ele disse, “Este estudioso do Vinaya antes disse que não havia pecado e agora diz que há pecado : ele é um mentiroso.” Eles foram e contaram aos outros, “O mestre de vocês é um mentiroso.” Assim começaram uma querela entre eles. O estudioso do Vinaya então, vendo uma oportunidade, começou um processo de excomunhão do Irmão por recusar a ver a ofensa. A partir daí mesmo os laicos que proviam os requisitos ( hábitos, agulha, filtro, cinto, navalha ) aos sacerdotes, ficaram divididos em duas facções. As irmãs também que aceitam seus conselhos e deuses tutelares, com seus amigos e próximos e deidades que descansam no espaço até aquelas do Mundo de Brahma, mesmo todos os inconversos, formaram dois partidos e a discussão alcançou o domícilio dos deuses Sublimes.
Então um certo Irmão aproximou-se do Tathagata e falou do ponto de vista do partido excomungante que dizia, “O sujeito está excomungado na forma ortodoxa,” e o ponto de vista dos seguidores do excomungado que diziam, “Ele está ilegalmente excomungado,” e a prática daqueles que, apesar de proibidos pelo partido excomungante ainda reuniam-se ao redor dele para ampará-lo. O Abençoado disse, “Há um cisma, sim, um cisma na Irmandade,” e foi até eles e apontou a miséria envolvida na excomunhão àqueles que excomungaram e a miséria resultante no sigilo de um pecado ao partido oposto e depois partiu. Novamente quando estavam realizando o Uposatha e serviços similares no mesmo lugar, dentro dos limites e disputavam no refeitório e em outros lugares, ele estabeleceu a regra de que deveriam sentar juntos, um do lado do outro alternadamente. E entendendo que eles ainda assim brigavam no mosteiro ele foi lá e disse, “Basta, Irmãos, que não tenhamos mais brigas.” E um do lado herético que não queria importunar o Abençoado, disse, “Deixemos o Abençoado Senhor da Verdade ficar em casa. Deixemos o Abençoado residir em paz, gozando da benção que já obteve nesta vida. Nos tornaremos famosos por esta querela, disputa, briga e altercação.”
Mas o Mestre disse a eles, “Certa vez, Irmãos, Brahmadatra, reinava no reino de Kasi em Benares e ele roubou Dighati, rei de Kosala, de seu reino e o matou quando vivia disfarçado e quando príncipe Dighavu poupou a vida de Brahmadatra, tornaram-se a partir daí amigos próximos. E já que tal deve ter sido a brandura e a resignação destes reis cetrados e portadores de espadas, verdadeiramente, Irmãos, deve ficar claro que vocês também, tendo abraçado a vida religiosa de acordo com uma doutrina e disciplina tão bem ensinada, podem ser brandos e pacientes.” E então advertindo-os pela terceira vez ele disse, “Basta Irmãos, que não haja disputa.” E quando ele viu que não cessavam apesar do seu pedido, ele foi embora dizendo, “Verdadeiramente, este povo tolo são como pessoas possuídas, não são de fácil persuasão.” Dia seguinte retornando da coleta de oferta ele descansou um pouco em sua câmara perfumada e colocou seu quarto em ordem e então pegando sua tigela e hábito ficou pousado no ar e pronunciou estes versos no meio d'assembléia :
Onde quer que a Irmandade divida-se em duas,
O povo comum dá ouvidos a gritos de bocas barulhentas :
Cada um acredita que si mesmo é sábio,
E vê seu vizinho com olhos desdenhosos.
Almas desnorteadas, infladas com auto estima,
Com boca aberta blasfemam tolamente ;
E como através de toda extensão da palavra eles extraviam,
Não sabem a quem como líder obedecer.
“Este sujeito abusou de mim, e aquele me socou,
Um terceiro me dominou e tempos atrás me roubou.”
Todos acolhem sentimentos deste tipo,
E a mitigar sua ira nunca estão inclinados.
“Ele abusou de mim e me deu um tapa tempos atrás,
Me dominou e me oprimiu até machucar.”
Aqueles que se recusam a tais pensamentos entreter,
Apaziguam sua ira e vivem unidos novamente.
Não o ódio mas o amor apenas, faz o ódio cessar :
Esta é a perpétua lei da paz.
Algumas pessoas, a lei do auto controle desprezam,
Mas aqueles que querelas conciliam , são sábios.
Se pessoas todas marcadas deferidas em disputas mortais,
Ladrões e assaltantes, tirantes de vida humana,
Até aqueles que saqueiam um reino inteiro, podem ser
Amigos de seus inimigos, devem Irmãos não concordarem ?
Encontres tu um sábio e honesto camarada,
Alma gentil, inclinada a contigo habitar,
Todos perigos ultrapassados, com ele ainda tu te extraviarás,
Em feliz contemplação por todo o dia.
Mas falhando tu em encontrares com tal amigo,
Tua vida será melhor gastar em solitude,
Como um príncipe que abdica do trono,
Ou um elefante que vaga sozinho apenas.
Por escolha adote a vida solitária,
Companhia de tolos só leva a luta ;
Em inocência descuidada persiga teu caminho,
Como elefante na floresta selvagem extraviado.
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Quando o Mestre falou assim, já que falhava em reconciliar estes Irmãos, ele foi para Balakalonakaragama ( a cidade de Balaka, o fazedor de sal ), e discursou para o venerável Bhagu sobre a benção da solidão, soledad. Depois ele encaminhou-se para o domicílio dos três jovens nobres e conversou com eles sobre a benção achada na doçura da concórdia. Em seguida ele viajou para a floresta Parileyyaka e residiu lá por três meses sem retornar para Kosambi foi direto para Savatthi. E o povo laico de Kosambi se reuniu e disse, “Certamente estes reverendos Irmãos de Kosambi nos fizeram muito dano ; chateado com eles o Abençoado foi embora. Nós não saudaremos nem mostraremos respeito a eles nem daremos ofertas quando nos visitarem. Assim irão embora ou retornarão ao mundo ou pedirão desculpa ao Abençoado.” E fizeram isto. E estes Irmãos acabrunhados com esta forma de punição foram a Savatthi e pediram perdão ao Abençoado.
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O Mestre assim identificou o Jataka : “O pai era o grande rei Suddhodana, a mãe era Mahāmāyā, príncipe Dighavu era eu mesmo.”
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