sexta-feira, 20 de setembro de 2013

467 Buddha e o Brahmin


                As três cidades do Jataka se referem ao Mahabharata e a causa da guerra seria a ganância, cobiça, luxúria, ira, soberba, gula, etc.  No meio dos quadrinhos tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio dos quadrinhos.

467
Aquele que deseja ...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre um certo brahmin.
Um brahmin, assim dizem, que residia em Savatthi, estava derrubando árvores às margens do Aciravati para cultivar a terra. O Mestre percebendo seu destino ( i.e., sua capacidade para a vida espiritual ), quando visitou Savathi para coleta de ofertas, desviou-se de sua rota para falar amigavelmente com ele. “O quê estás fazendo brahmin ?” ele perguntou. “Ó Gautama,” disse o homem, “estou abrindo um espaço livre para cultivar.” “Muito bom,” ele respondeu, “continue com seu trabalho brahmin.” Do mesmo modo o Mestre veio e falou com ele quando os troncos derrubados estavam todos fora e o homem estava limpando seu acre e novamente no tempo de arar e ao fazer pequenos quadrados para represar àgua. Bem, no dia da semadura, o brahmin disse, “Ho-je,Ó Gautama, é meu festival do arado ( havia uma grande cerimônia anual deste tipo,na qual o Rei segurava o arado ). Quando este milho estiver maduro, farei ofertas abundantes à Ordem com o Buddha na sua liderança.” O Mestre aceitou esta oferta e partiu. Outro dia ele voltou e viu o brahmin olhando o milho. “O quê estás fazendo, brahmin ?” ele perguntou. “Olhando o milho, Ó Gautama !” “Muito bem brahmin,” disse o Mestre e partiu. Então o brahmin pensou, “Como o asceta Gautama vem frequentemente para cá ! Sem dúvida ele quer comida. Bem, comida darei a ele.” No dia em que este pensamento surgiu na mente dele, quando foi para casa, lá encontrou o Mestre também. Por isto surgiu no brahmin uma grande e extraordinária confiança.
Logo logo, quando maduro estava o milho, o brahmin resolveu, a-manhã ele faria a colheita no campo. Mas enquanto ele estava deitado na cama, nas regiões altas do Aciravati a chuva caiu aos cântaros : desce a enchente e carrega toda a colheita para o mar de modo que nem um pé de milho foi deixado. Quando a enchente diminuiu e o brahmin viu a destruição de sua colheita, ele não teve força para resistir : apertando a mão contra o coração ( pois foi tomado de grande dor ) foi para casa chorando e deitou se lamentando. De manhã o Mestre viu este brahmin tomado por sua dor e pensou, “Serei o amparo do brahmin.” Então, dia seguinte, após sua coleta de ofertas em Savatthi, no retorno de receber comida mandou os Irmãos de volta ao mosteiro e ele mesmo com um mais novo que o ajudava foi visitar a casa do brahmin. Quando o brahmin escutou sua chegada, se animou, pensando - “Meu amigo deve ter vindo para uma conversa amigável.” Ofereceu a ele um assento ; o Mestre entrando sentou no assento indicado e perguntou, “Porquê estais triste, brahmin ? O quê aconteceu que te deu desprazer ?” “Ó Gautama !” disse o homem, “desde quando cortei as árvores às margens do Aciravati, você sabe o quê estive fazendo. Estava atarefado e prometendo presentes para tiquando a colheita estivesse madura : agora a enchente levou a colheita inteira para o mar, não sobrou nada ! Grãos foram destruídos na quantidade de cem carretos carregados e por isto estou em tristeza profunda !” - “Por quê, o quê foi perdido voltará com a tristeza ?” - “Não, Gautama, não voltará.” - “Se isto é assim, por quê chorar ? As riquezas dos seres neste mundo, ou o milho deles, quando as têm, as têm, quando vai embora, vai embora. Nenhuma coisa composta não está sujeita a destruição ; não se remoa com isto.” Assim confortando-o, o Mestre repetiu a Escritura do Desejo ( os versos canônicos mais a frente deste Jataka ) como apropriada para este caso. Na conclusão da citação, o brahmin que se lamentava foi estabelecido na Fruição do Primeiro Caminho. O Mestre tendo-o aliviado de sua dor, levantou-se de seu assento e retornou para o mosteiro.
Toda a vila escutou como o Mestre encontrou tal brahmin atingido pelas dores da tristeza, o consolou e o estabeleceu na Fruição do Primeiro Caminho. Os Irmãos falavam sobre isto no Salão da Verdade : “Escute, Senhores ! O Dasabala fez amizade com um brahmin, ficaram íntimos, e aproveitou a oportunidade de declarar o Dharma para ele, quando atingido pelas dores da tristeza, aliviando-o do sofrimento, estabelecendo-o na Fruição do Primeiro Caminho !” O Mestre entrou e perguntou, “Sobre o quê conversam aí sentados juntos Irmãos ?” Eles disseram. Ele respondeu, “Esta não é a primeira vez , Irmãos, que curei este sofrimento mas fiz o mesmo, muito tempo atrás :” e com estas palavras ele contou uma história do passado. Cf. Jataka 228 a mesma história.
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Certa vez Brahmadatra rei de Benares teve dois filhos. Ao mais velho deu o vicereinado, o mais jovem fez comandante em chefe. Depois quando Brahmadatra morreu, os cortesãos foram fazer o mais velho rei através da aspersão cerimonial. Mas ele disse, “Não me importo nenhum pouco com o reinado : que meu irmão mais novo o tenha.”  Eles pediram e suplicaram a ele mas não queria ; e o mais jovem foi aspergido rei. O mais velho também não queria o vice reinado nem coisa parecida ; e quando pediram a ele para ficar e se alimentar da gordura da terra, “Não,” disse ele, “nada tenho para fazer nesta cidade,” e saiu de Benares. Foi para a fronteira ; e residiu com uma rica família de mercadores, trabalhando com suas próprias mãos. Estes após um tempo, sabendo que ele era filho de rei, não o permitiram trabalhar mas o serviram como um príncipe deve ser servido.
Bem, após um tempo os oficiais do rei vieram para a cidade, para fazer um levantamento dos campos. Então o mercador veio até o príncipe e disse, “Meu senhor, nós o amparamos ; você mandaria uma carta a seu irmão mais jovem pedindo que nos isentasse dos impostos ?” Ele concordou e escreveu como segue : “Vivo com a família de tal mercador ; peço a você que os isente de impostos por minha causa.” O rei consentiu e assim o fez. Com isto todos os cidadãos e povo do campo veio até ele e disse, “Nos isente de impostos que pagaremos taxas a você.” Por eles também ele mandou uma petição e conseguiu isenção de impostos. Após o quê o povo pagou impostos para ele. Então suas receitas e honra foram grandes ; e com sua grandeza cresceu sua cobiça também. E gradualmente pediu por todo o distrito, pediu o cargo de vicerei e o irmão mais jovem concedeu tudo. Como sua ganância continuava crescendo e ele não estava contente mesmo com o vicereinado, determinou tomar o reino ; para cuja finalidade partiu com uma hoste e tomando posição fora da cidade, enviou uma carta a seu irmão mais moço - “Dê-me o reino ou lute por ele.”
O irmão mais novo pensou : Este tolo recusou o reino uma vez e o vicereino e todo o resto ; e agora me diz, o tomarei pela guerra ! S'eu matá-lo em batalha, seria vergonha minha ; que me importa ser rei ?” Então mandou uma mensagem, “Não tenho desejo de lutar : pode ficar com o reino.” O Outro aceitou e fez seu irmão mais novo vicerei.
A partir daí ele legislou o reino. Mas tão ganancioso era que um reino não o poderia contentar mas anelava, dois reinos, depois por três e não se via fim na sua cobiça.
Naquele tempo Sakra, rei dos Deuses, olhava ao redor : “Quem são aqueles,” pensava ele, “que cuidadosamente cuidam dos pais ? Que dão esmolas e fazem o bem ? Quem está no poder da ganância ?” Ele percebeu que este homem estava sujeito à cobiça : “Tolo aquele lá,” pensou ele, “não está satisfeito em ser rei de Benares. Bem, darei uma lição nele.” Então disfarçado de um jovem brahmin, ficou na porta do palácio e mandou dizer que na porta estava um jovem inteligente. Ele foi admitido e desejou vitória ao rei ; então o rei disse,”Por quê vieste ?” “Poderoso Rei !” ele respondeu, “Tenho algo a dizer a você mas desejo privacidade.” Pelo poder de Sakra, naquele instante mesmo o povo se retirou. Então disse o jovem, “Ó grande rei ! Conheço três cidades, prósperas, repletas de gentes, forte em tropas e cavalos : estas por meu próprio poder obterei o senhorio e entregarei a ti. Mas você não deve se atrasar e ir imediatamente.” O rei estando cheio de cobiça deu seu consentimento ( Mas pelo poder de Sakra ele foi impedido de eprguntar, “Quem é você ? De ondes vens ? E o quê você receberá ?” ). Tanto foi dito por Sakra e então ele retornou para o domicílio dos Trinta e três.
O rei então reuniu seus cortesãos e assim falou a eles : “Um jovem esteve aqui , prometendo conseguir e me entregar o senhorio de três reinos ! Vão, procurem por ele ! Enviem um tambor a bater pela cidade, reúna o exército, não atrasem, pois estou prestes a tomar três reinos !” “Ó grande rei !” eles disseram, “ofereceste hospitalidade ao jovem ou perguntaste onde ele mora ?” “Não, não, não ofereci a ele hospitalidade nem perguntei onde ele morava : vão e procurem por ele !” Eles buscaram mas não o encontraram ; informaram o rei, que não o conseguiram encontrar em toda a cidade . Escutando isto o rei tornou-se abatido, deprimido. “O senhorio sobre três cidades está perdido,” pensava repetidamente : “Fui despojado de grande glória. Sem dúvida o jovem foi embora com raiva de mim, por não dar nenhum dinheiro para as despesas nem um lugar para morar.” Em seu corpo então, cheio de cobiça, surge uma febre ; enquanto seu corpo queima, suas entranhas projetam um fluxo de sangue ; o modo como a comida entra é igual a como sai ; médicos não podem curá-lo, o rei fica exaurido. Sua doença é divulgada por toda a cidade.
Naquele tempo, o Bodhisatva voltava para a casa de seus pais em Benares vindo de Takkasila ( Taxila ), após aprender todos os ramos do conhecimento. Escutando as notícias sobre o rei, dirigiu-se à porta do palácio, com a intenção de curá-lo e mandou uma mensagem, de que um jovem estava lá pronto para curar o rei. O rei disse, “Grandes e renomados médicos, longe conhecidos por aqui, não foram capazes de me curar : o quê pode um jovem rapaz fazer ? Pague as despesas dele e deixe-o ir embora.” O jovem respondeu, “Não quero dinheiro pela minha medicina mas vou curá-lo ; que ele pague apenas e somente o preço do remédio.” Quando o rei escutou isto, concordou e o admitiu. O jovem saudou o rei, “Nada tema, Ó rei!” disse ele ; “Vou te curar ; apenas me diga a origem de tua desordem.” O rei respondeu irado, “O quê te importa isto ? Faça teu remédio.” “Ó grande rei,” disse, “é o jeito dos médicos, primeiro saber por quê a doença surgiu e depois fazer o remédio adequado.” “Bem, meu filho,” disse o rei e continuou contando a origem da doença, começando quando o jovem veio e fez sua promessa de que daria a ele o senhorio sobre três cidades. “assim, meu filho, a doença surgiu da ganância ; agora cure se você pode.” “O quê, Ó rei !” disse, “podes capturar estas cidades se afligindo ?” -”Não, meu filho.” -”Já que é assim, por quê sofres, Ó grande rei ? Todas as coisas, animadas ou inanimadas, devem perecer e deixar tudo para trás, mesmo seu próprio corpo. Mesmo que obtivesses senhorio sobre quatro cidades, não poderias comer ao mesmo tempo em quatro pratos de comida, deitar em quatro sofás, vestir quatro conjuntos de roupas. Você não deve ser escravo do desejo ; pois desejo, quando aumenta, não permite a libertação dos quatro estados de sofrimento.” Assim advertindo-o, o Grande Ser declarou a Lei nas estrofes seguintes ( que pertencem ao Sutta Nipata, IV,1, 766 ) :

Aquele que deseja uma coisa e este seu desejo realiza-se abençoadamente,
Certamente é uma pessoa com coração contente porque possui sua ambição.

Aquele que deseja uma coisa e este seu desejo realiza-se abençoadamente,
Desejos aglomeram-se nele mais e mais, qual a sede em tempo de calor opressivo.

Como no gado de chifres, o chifre com seu crescimento cresce mais :
Do mesmo modo em um homem tolo sem discernimento, que nada sabe,
Enquanto cresce a pessoa, mais e mais cresce a sede, cresce anseio .
Dê todo o arroz e o milho na terra, escravos e gado e cavalo,
Isto não é suficiente para alguém : saiba disto e mantenha um curso reto.

Um rei que deve dominar todo o largo mundo,
Todo o largo mundo subindo até a borda do oceano,
Com este lado do mar não satisfeito
Anseias o quê pode ser encontrado para além do mar.

Incubar desejos dentro do coração – contentamento nunca surgirá.
Quem se afasta destes e cura verdadeira vislumbra,
Está contente, quem a sabedoria satisfaz.

Melhor ser cheio de sabedoria : estes nenhuma luxúria colocará em chamas ;
Nunca uma pessoa cheia de sabedoria é escrava dos desejos.

Esmague seus desejos e queira pouco, sem gananciosamente desejar tudo :
Aquele que é como o mar não arde de desejo dentro,
Como o sapateiro corta o couro no molde do pé.

Por cada desejo que se deixa ir, uma felicidade é ganha :
Aquele que toda a felicidade tem, deve com toda a luxúria acabar.

Mas enquanto o Bodhisatva repetia estas estrofes, sua mente estando concentrada no branco do parassol rela, surgiu nele o rapto místico atingido através da luz branca ( este é um dos dez tipos de kasina ou caminhos em que o devoto pode cair no transe místico ). O rei por seu lado ficou íntegro e bem ; levantou-se alegre de seu assento e dirigiu-se a ele assim : “Quando todos aqueles médicoss não puderam me curar, um jovem sábio me fez íntegro pelo remédio de sua sabedoria !” E ele então repetiu a estrofe décima :

Oito versos pronunciaste, válidos mil dinheiros cada :
Tome, Ó grande brahmin ! Pegue a soma, pois doce é esta tua fala.

Com o quê o Grande Ser repetiu a undécima :

Por milhares, centenas, milhões vezes milhões, não quero nada :
Como no último verso que pronunciei, em meu coração desejo morreu.

Cada vez mais deliciado, o rei recitou a última estrofe em louvor ao Grande Ser :

Sábio e bom realmente é este jovem, sabendo todo conhecimento de todos os mundos :
Todo desejo em verdade ao se apresentar é mãe de miséria.

Grande rei !” disse o Bodhisatva, “seja circunspecto eande retamente.” Assim admoestado o rei, passou pelos ares para o Himalaia e vivendo a vida de recluso, enquanto a vida durou, cultivou as Excelências e tornou-se destinado ao mundo de Brahma.
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Este discurso terminado, o Mestre disse, “Assim, Irmãos, em dias anteriores como agora, fiz este brahmin ficar inteiro” : assim falando identificou o Jataka : “Naquele tempo este brahmin era o rei e eu era o jovem sábio.”


 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

466 Buddha carpinteiro sábio



 “Estamos diante dos demônios que formam o exército de Mara. Segue que o personagem real apresentado próximo ao meio do lintel deve ser Mara mesmo caracterizado como deus do sexto céu. E a presença da árvore bodhi à esquerda prova que Buddha não está ausente da cena. Daí somos lembrados dos famosos incidentes da 'Tentação' que justo antes da Iluminação levou a uma disputa entre o Sábio, que abole os desejos e o Soberano Senhor dos mundos dos desejos : e realmente para confirmar-nos na ideia de que estamos realmente lidando com este episódio da carreira de Buddha, Sujata entra à esquerda com a ânfora numa mão e a bandeja em outra, atravessando a torana, que age como pórtico até a árvore bodhi, carregando a famosa oferta de mingau de arroz , a última refeição feita pelo Mestre antes da Iluminação. Tendo assim fixado o momento e o local da cena, será fácil perceber três incidentes distintos pelo escultor : Primeiro, ele mostra próximo ao centro, sentado em seu trono real entre figuras femininas carregando o guardassol e o abanador, como é a regra para deuses e para reis : este é sem dúvida o momento em que teme em sua mente que o Abençoado possa ter sucesso em destruir seu império ; não o vemos em um conselho de guerra, como alguns textos relatam ; mas é curioso notar que próximo a ele, com as características de uma criança ( note o coque no alto da abeça ), o escultor retratou um dos Mara putras ou 'filhos de Mara' conhecidos na tradição literária. Em seguida vemos Mara em pé em companhia de seu filho e sem dúvida de uma de suas 'filhas' na direita junto àrvore, procedendo à Tentação propriamente dita, que foi apenas mais ou menos uma troca de palavras de descortesia. Aqui, é curioso notar que a força do hábito fez o escultor juntar as mãos de Mara e tratar o grupo de modo similar a famílias que rezam nos retratos do segundo Grande Milagre. A terceira cena está esculpida entre as duas primeiras : Mara, sua filha e seu filho estão se retirando vencidos e derrotados como seus gestos de dor e desamparo mostram. Enquanto isto a corte dos demônios, completamente indiferente ao que está acontecendo à esquerda do lintel, continua a beber, dançar e cantar música : evidentemente ele ainda não mobilizou-os para um 'assaulto' ou 'ataque'. O escultor deu rédea livre a sua fantasia mostrando este bando de gênios rufiões, enormes, deformados, fazendo caretas ; e é difícil saber exatamente ao quê correspondem na mente popular e se são Asuras caricaturados ou Rakshasas engrandecidos ...” ( Prancha 29, The Monuments of Sañchi, sir John Marshall, Delhi, Swati publications, 1982 ).


466
Outros semeiam.. etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre Devadatra, quando este desceu aos Ínferos, levando com ele quinhentas famílias.
Agora Devadatra, quando os Discípulos Chefes haviam partido, levando seus seguidores com eles, sendo incapaz de segurar a dor, cuspiu sangue quente de sua boca e partiu ; qundo atormentado por grande agonia, quando lembrava as virtudes do Tathagata, ele disse a si mesmo, “Por nove meses pensei mal do Tathagata mas no coração do Mestre nunca houve um único pensamento ruim para mim ; nos oitenta anciãos chefes não há malícia contra mim ; por meus próprios atos que pratiquei fiquei completamente abandonado tendo renunciado ao Mestre, aos grandes Anciãos, ao Ancião chefe Rahula da minha família ( Devadatra era cunhado de Buddha ) e a todos os clãs reais Sakyas. Irei ao Mestre e me reconciliarei com ele.” Assim chamando seus seguidores, fez que seus seguidores o carregassem numa liteira e viajando sempre à noite fez seu caminho até a cidade de Kosala.
Ananda o Ancião contou ao Mestre, dizendo, “Devadatra está vindo, eles disseram, para fazer a paz contigo.” - Ananda, Devadatra não me verá.” Novamente quando ele chegou na cidade de Savatthi, o Ancião disse ao Mestre ; e o Abençoado respondeu como antes. Quando ele estava no portão de Jetavana, e movendo-se em direção ao lago de Jetavana, seu pecado chegou à cumieira :uma febre surgiu em seu corpo e desejando se banhar e beber, mandou que o deixassem fora da liteira para que pudesse beber. Assim que saiu e ficou no chão antes que pudesse se refrescar a si mesmo a grande terra abriu uma chama levantou-se do mais profundo ínfero de Avici e o cercou. Então ele soube que seus atos de pecado chegaram ao cume e lembrando as virtudes do Tathagata, repetiu esta estrofe :

Com estes meus ossos, ao Ser mais supremo,
Marcado com uma centena de marcas afortunadas, onividente,
Deus, mais que deus, que doma o touro do espírito do ser humano,
Com toda minh'alma para Buddha fujo !


Mas no ato mesmo de tomar refúgio, ele foi destinado ao Ínfero de Avici. E haviam as quinhentas famílias de seus ajudantes, famílias que injuriaram o Dasabala e abusaram dele e no ínfero de Avici nasceram, eles também. Assim ele foi para Avici, levando com ele quinhentas famílias.
Então um dia estavam falando no Salão da Verdade : “Irmão, o pecador Devadatra, pela cobiça de ganho, colocou sua cólera sem razão contra o Supremo Buddha e sem considerar os terrores do futuro, com quinhentas famílias foi destinado ao ínfero.” O Mestre entrando perguntou do que eles estavam falando : disseram a ele. Ele falou : “Irmãos, Devadatra sendo ganancioso de ganho e honra não percebia os terrores do futuro, ele com seus seguidores através da cobiça da felicidade presente encontraram a completa ruína.” Assim falando, ele contou a eles uma história do passado.
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Certa vez, quando Brahmadatra era rei de Benares, havia junto a Benares uma grande cidade de carpinteiros, contendo uma mil famílias. Os carpinteiros desta cidade professavam que fariam uma cama, ou uma cadeira, ou uma casa e após receber uma larga soma adiantada, mostravam-se incapazes de fazer qualquer coisa. O povo costumava repreender todo carpinteiro que encontrava e interferia com eles. Então estes devedores foram tão molestados que não podiam mais viver lá. “Vamos para alguma terra estrangeira,” eles disseram, “encontrar algum lugar para residir ;” Foram para a floresta. Cortaram árvores, construíram um grande navio, o lançaram no rio e dirigiram para aquela cidade e a uma distância de ¾ de légua pararam. Então no meio da noite retornaram para a cidade para buscar suas famílias, as quais transportaram para dentro do barco e continuaram o devido curso para o oceano. Lá viajaram à vontade do vento, até alcançarem uma ilha que descansa no meio do mar. Bem, nesta ilha crescia selvagem todo tipo de plantas e árvores frutíferas, arroz, cana de açúcar, banana, manga, jambo, jaca, côco, e outras. Havia outro homem náufrago que apossara-se da ilha antes deles e lá vivia, comendo arroz e gozando da cana de açúcar e todo o resto, com o quê ficou grande e gordo ; ia nu e sua barba e cabelo estavam compridos. Os carpinteiros pensavam, “Se a aquela ilha distante estiver assombrada por demônios, todos pereceremos ; então vamos explorá-la.” Os sete homens bravos e fortes, armados com os cinco tipos de armas ( espada, lança, arco, escudo e machado ) desembarcaram e exploraram a ilha.
Naquele momento o excluído acabara de comer e beber caldo de cana e em grande contentamento descansava de costas em um lugar agradável, no frescor de uma sombra n'areia que cintilava qual metal de prata ; e ele estava pensando, “Uma felicidade como esta, os que moram na Índia, que semeiam e collhem, não têm ; melhor é para mim esta ilha do que a Índia !” ele cantou de alegria e estava no auge da benção.
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O Mestre, para explicar como este excluído canta alegre e abençoado, repetiu a primeira estrofe :
Outros semeiam e outros aram,
Vivendo com suor na sobrancelha ;
Em meu domínio eles não participam :
Índia ? Isto aqui é bem melhor !
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Os batedores que exploravam a ilha apreenderam o som dele cantando e disse, “Parece que escutamos a voz de um homem ; vamos conhecê-lo.” Seguindo o som, eles chegaram próximo mas seu aspecto os horrorizou. “Isto é um duende !” eles gritaram e colocaram flecha no arco. Quando o homem os viu, temia ser ferido, de modo que gritou -”Não sou duende, senhores, mas se humano : poupem minha vida !” - “O quê !?” eles disseram, “pessoas andam nuas e sem proteção como você ?” e perguntaram a ele repetidas vezes, recebendo a mesma resposta, de que ele era uma pessoa. Por fim aproximaram-se dele e todos passaram a conversar alegremente juntos, e os recém chegados perguntaram a ele como chegou ali. O outro contou a eles a verdade sobre. “ Como um prêmio por suas boas ações vocês chegaram aqui,” disse ele, “esta é uma ilha de primeiro nível. Nenhum trabalho às mãos é necessário para viver aqui ; não há fim a quantidade de arroz, de cana de açúcar e todo o resto e tudo crescendo selvagem ; podeis viver aqui sem ansiedade.” “Não há nada mais,” eles perguntaram , “que atrapalhe nossa vida aqui ?” “Há apenas um temor e é este : a ilha é assombrada por demônios e os demônios ficariam enfurecidos em ver os excrementos dos teus corpos ; então quando forem se aliviar, cavem um buraco n'areia e esconda-os lá. Este é o único perigo ; não há outro ; apenas sempre sejam cuidadosos neste ponto.”
Então eles ergueram seus domicílios naquele lugar.
Mas entre estas mil famílias haviam dois mestres trabalhadores, cada um na chefia de quinhentas delas ; e um destes era tolo e cobiçoso da melhor comida, o outro sábio e não inclinado em apanhar o melhor de tudo.
Com o passar do tempo enquanto continuavam a viver lá, todos ficaram robustos e fortes ( stout & sturdy ). Então pensaram : “Não temos sido pessoas alegres todo este tempo ( suro, sura, brandy, água ardente de frutas, para 'alegres' ) : faremos grogue quente ( toddy ) do caldo da cana de açúcar.” Assim eles fizeram bebida forte e bêbados, cantaram, dançaram, jogaram e sem pensar soltaram excrementos aqui e lá e para todo lado sem os esconder, de modo que tornaram a ilha suja e um desgosto. As deidades ficaram exasperadas porque estes homens tornaram seu lugar de diversão uma sujeira. “Devemos trazer o mar por cima dela,” eles deliberaram, “e limpar a a ilha ? - estamos na lua nova : agora nossa reunião está dispersa. Bem, daqui a quinze dias, no primeiro dia da lua cheia, na hora que a lua estiver levantando, faremos subir o mar e daremos um fim a todos eles.” Assim fixaram o dia. Com isto uma deidade correta que estava com eles pensou,”Não quero que estes pereçam diante dos meus olhos.” Então na sua compaixão, quando as pessoas estavam sentadas em suas portas em conversas agradáveis depois da janta, ele fez de toda a ilha um brilho de luz e adornado em todo seu esplendor permaneceu pousado nos ares na direção norte e falou com eles assim : “Ó vocês carpinteiros ! as deidades estão iradas com vocês. Não morem mais neste lugar, pois em quinze dias a partir de agora, as deidades faão subir o mar e destruir vocês todos. Portanto fujam deste lugar.” E ele repetiu a segunda estrofe :

Em três vezes cinco dias a lua surgirá à vista:
Então a partir do mar uma poderosa enchente deve
Esta grande ilha cobrir : então apressem-se
Abriguem-se em outro lugar, que ela não machuque vocês.

Com este aviso, ele voltou para seu próprio lugar. Tendo ele ido, um outro camarada dele, um deus cruel, pensou, “Talvez eles sigam o conselho deste e escapem ; vou prevenir que eles vão e levá-los a completa destruição.” adornado de divino esplendor, ele fez um grande brilho de luz sobre todo o lugar e aproximando-se deles, permaneceu pousado nos ares na direção sul , enquanto perguntava, “Esteve um deus aqui ?” “Esteve,” foi a resposta. “O quê ele disse a vocês ?” Eles responderam, “Tal e tal, meu senhor.” Então ele disse, “Este deus não deseja que vocês vivam aqui e fala com raiva de vocês. Vão não para outro lugar masfiquem aqui mesmo.” E com estas palavras ele repetiu duas estrofes :

Para mim com muitos sinais está claro,
Aquele poderoso dilúvio do oceano do qual ouviste
Nunca encobrirá esta grande ilha :
Portanto divirtam-se, não sofram, nunca temam.
Aqui vocês desceram um amplo domicílio,
Cheio de todas as coisas para comer, beber, se alimentar ;
Não vejo qualquer perigo para vocês : vamos, gozem
Em todas as gerações este teu bem.

Tendo com estas duas estrofes oferecido alívio ànsiedade deles, partiu. Quando já tinha ido, o carpinteiro tolo levantou sua voz e sem prestar consideração as palavras da deidade correta, ele gritou, “Que vossas excelências me escutem !” e dirigiu-se a todos os carpinteiros repetindo quatro estrofes :

Aquele deus, que do quadrante sul claramente
Gritou, 'Tudo salvo !' dele a verdade escutamos ;
Temer ou não temer, o norte não sabe nada :
Por quê sofrer então ? Divirtam-se – nunca temam !

Escutando isto, os quinhentos carpinteiros que eram gananciosos de coisas boas inclinaram-se ao conselho do carpinteiro tolo. Mas então o sábio carpinteiro recusou-se a escutar esta fala e dirigindo-se aos carpinteiros repetiu quatro estrofes :

Enquanto estes dois duendes gritam um contra o outro,
Um chamando ao temor e outro à segurança,
Venham escutem meu conselho, para que não pereçamos
Todos, cedo completa e imediatamente

Vamos nos juntar todos e construir uma grande barca
Uma nave forte e colocar dentro desta arca
Todos os acessórios : se o sul fala a verdade,
E o outro loucura apenas disse, separamos.

Esta nave será boa na necessidade ;
Nem deixaremos esta ilha incontinenti ;
Mas se o deus do norte fala a verdade,
O sul apresentando apenas tolices -
Então no barco todos embarcamos juntos,
E onde estiver nossa segurança, todos se apressarão para lá.

Não tomem por melhor ou pior o quê escutaste primeiro ;
Quem porém deixar tudo passar para dentro do ouvido,
E tendo deliberando ficar com o meio,
Esta pessoa à porto seguro guiará.

Após isto, ele disse novamente : “Vamos agora, seguiremos as palavras de ambas as deidades. Construamos um barco se as palavras do primeiro são verdadeiras, dentro desta nave subiremos e partimos ; mas se as palavras do outro são veras, separamos o barco e continuamos morando aqui.” Quando ele falou assim, disse o carpinteiro tolo : “Vá ! Você vê crocodilo em xícara de chá ! És lerdo, lerdo demais ! O primeiro deus falou com raiva de nós, o segundo com afeição. Se deixarmos esta ilha escolhida, para onde iremos ? Mas se vocês precisam ir, vão, levem seus rabos com vocês e façam seu barco : nós não queremos barco !”
O sábio com aqueles que o seguiam, construíram um navio e colocaram todos os acessórios à bordo e ele e toda companhia permaneceram no barco. Então no dia da lua cheia, na hora da lua surgir, levanta-se do oceano uma onda e até a altura dos joelhos ela varreu toda a ilha. O sábio, quando observou o surgimento da onda, soltou a nave. Aqueles do partido do carpinteiro tolo, quinhentas famílias que eram, sentaram quietos, dizendo um para o outro, “Uma onda se levantou varrendo toda a ilha mas não será funda.” Então a onda oceânica elevou-se até àltura da cintura, àltura de um ser humano, àltura de uma palmeira, até sete palmeiras e por toda a ilha rolou. O sábio, fértil em recursos, sem estar preso na armadilha da ganância de coisas boas, partiu em segurança ; mas o carpinteiro tolo, cobiçoso de boas coisas, sem considerar o temor do futuro, com quinhentas famílias foi destruído.

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As outras três estrofes, cheias de instrução, ilustrando este assunto, são estrofes da Perfeita Sabedoria :

Como atravessando o meio do oceano, pelos atos que obraram,
Os mercadores escaparam felizes :
Assim sábios, compreendendo o quê se esconde
Dentro do futuro, nada transgredirão.

Tolos em sua loucura, devorados pela cobiça
Que não compreendem os perigos futuros,
Afundam esmagados, em face da precisão presente,
Qual estes no meio do oceano encontraram seu fim.

Realize portanto o feito antes da precisão,
Não deixe a falta me prejudicar da coisa necessária.
Quem em tempo, obra o feito necessário
Vem o tempo, nunca vem em sofrimento.


Quando o Mestre terminou este discurso, ele disse :”Não agora pela primeira vez, Irmãos mas anteriormente também Devadatra foi enlaçado pelos prazeres do presente e sem olhar o futuro veio à destruição com todos seus companheiros.” Assim falando, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo, Devadatra era o carpinteiro tolo, Kokalika era a deidade incorreta pousada na região sul, Sariputra era a deidade que pousava na parte norte e eu mesmo era o sábio carpinteiro.”   

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

[ n. do tr. : o escudo que desce dos céus ]

         
 capítulo de 'Plutarco Védico'    isbn 978-85-906438-0-7

            Aproveitemos de duas partes do texto anterior de Ananda Coomaraswamy para explicar um pedaço da história romana que estamos vendo concomitantemente : o escudo que desce do céu. 

Numa, o rei sabino que sucede Rômulo, estabelece, fixa e determina os rituais que prosseguirão na prática diária e na história deste povo. Tanto Plutarco quanto Ovídio são unânimes nos fatos. Amigo de Pitágoras, das musas e esposo / amante da Ninfa Egéria em bosque com fonte na floresta, na Roma ainda nascente, Numa conversa com os sátiros de chifres e pés de bode, Pico e Fauno. Conversa com o próprio Júpiter ( Diu ( Dziu, Dzeu )-pater ).
A história começa quando se vê o povo belicoso tomado da peste da guerra, da epidemia da violência, da volúpia da ira : atracam-se sem parar, em brigas sem fim. Ovídio conta a história em seus Fastos assim como Plutarco em sua Vida de Numa que descreve as festas romanas, esta no início de março, comemora Júpiter Elísio, desligado, acalmado, aplacado.( sendo o mesmo verbo gr. que aparece em 'kirie eleison', o quê nos coloca em plena liturgia da religião que justamente pede a misericórdia, amor, caridade diante da justiça, rigor ).
Numa querendo apaziguar o povo oferece pão e vinho em sacrifício mas o sinal que recebe dos céus são mais raios, relâmpagos e trovões. Sua esposa então, Egéria, diz que há como acalmar Deus e fala para amarrar, prender, atar, os sátiros Pico e Fauno que habitam justamente aquela fonte e bosque ali bebendo água dela : os gênios e semideuses amarrados por Numa. Como com Proteu amarrado, preso, no norte d'África, por Menelau e Helena voltando para casa depois da guerra de Tróia, eles trocam de forma para tentar se soltar, transformando-se, na aparência de todos os bichos - em vão. Apenas são soltos depois de dizerem que sim, Deus se apresentará a ele, Numa. O que acontece em seguida : Dius pater pede que decepe uma cabeça, Numa diz que as há no cebolal ; 'Cabeça humana' teima o Deus , responde o rei querendo a calma 'com cabelos, vou tosquiá-la' ; 'Com viventes' disse Deus, 'Ofereço um peixe' diz Numa : 'Assim seja' responde Júpiter sorrindo : “Desarma-me dessarte, homem ditoso, mortal que estás gozando meu colóquio ! Amanhã quando o Sol já for nascido, clara aprovação te darei de império.”
Na manhã seguinte em tosco trono com o Povo ao redor, “as pias mãos aos deuses conhecidas, para os deuses levanta ... desce do céu em brandas auras boiando etéreo escudo , alta celeuma sobe uníssona ... alça da terra o dom e porque o vê em torno boleado e sem ângulos, põe-lhe o nome de Ancílio, nome que Juba, segundo Plutarco, dedicou-se a afirmar que era grego referindo-se a ter o escudo descido dos céus, an- , e ao fato que aos Dióscuros, os atenienses chamavam de anaces posto que filhos de Dzeus. Neste ponto Plutarco fala de Pico e Fauno : “Estes nas outras coisas pareciam da raça dos Sátiros e Pans ; porém em virtude dos remédios e prestígios que usavam em quanto as coisas divinas, os compararia melhor aos que os gregos chamam de dáctilos ideos, nome popular dos curetes, que em Creta eram os ministros da religião. Os chamavam dáctilos por ser dez como os dedos das mãos ; Ideos pelo monte Ida, berço de Júpiter [ com seu barulho de armas que entrechocavam-se como na dança mesma a qual contamos a história originada com a descida deste escudo dos céus em Roma, os curetes escondiam de Kronos, o pai que engulia os filhos, ficando todos no estômago dele, de onde depois saíram, cobriam, escondiam, o barulho que Dius pater fazia ainda em seu berço, criança, nenem em Creta ]. Bastava nomear os dez dáctilos em ordem para prevenir-se dos males. Embaixadores pois como eles andavam correndo pela Italia”.
O fato contudo é o que acabamos de dizer, o escudo descido dos céus origina a tradição bem viva ainda na Espanha e no Brasil ( onde se chama makulelê ) da dança com armas em que batem-se uns aos outros. Deixemos Jean Bayet falar :

Um escudo bilobado cae do céu ; e Numa faz com que se fabrique mais onze iguais pelo ferreiro Mamurius Veturius ( = Marte ? [ Bayet com a pergunta questiona aqui a posição completamente errada de Georges Dumèzil que simplesmente coloca ser falsa a etimologia do nome do ferreiro veterem memoriam dada por Varro em Lingua Latina e por Plutarco que ainda acrescenta que é tradição antiga ! O significado esclarecido por Ananda Coomaraswamy do objeto de arte que cae do céu mostra que sim é uma 'memória antiga' no sentido de método antigo, arte antiga produzida por rito metafísico, de origem sobrehumana. Mamurius Veturius, veterem memoriam no sentido de método conforme os textos de Coomaraswamy que seguem em seguida ] ). Estes doze ancilia estavam colocados na Curia Saliorum no Palatino, que guardava o bastão augural de Rômulo. No primeiro de março os Sálios os 'colocavam em movimento'. Mas eles se mexiam sozinhos em caso de perigo. Como também o faziam as 'lanças de Marte' na Regia do forum. Sua 'mobilização' pelos padres dançarinos é, ela, funcional. De estação em estação ( mansiones ) através da Cidade eles acordavam a consciência da necessidade sazonal da guerra. Os lugares consagrados onde eles paravam , os Sálios, conduzidos pelo Magister, e levados pelo primeiro dançarino ( praesul ) e um 'cantador inspirado' ( vates ), saltavam no ritmo ternário batendo os escudos com um bastão curto e cantando uma invocação na forma de litanias. À tarde, os anciles eram depositados no local da mansio e os Sálios banqueteavam-se A partir de 9 de março se sucediam os ritos mais e mais urgentes : corridas de cavalos das Equirria no 14 ; lustração das armas ( armilustrium ), e dança no Comitium no 19 ( dia de Quinquatrus ) ; lustração das trombetas de guerra no Palatino no 23 ( Tubilustrium ) ; e dia 26, os Sálios assistem a um sacrifício solene feito pelo Rei – depois pelo Rex Sacrorum .” Jean Bayet, La religion romaine, Payot, Paris, página 86.

Aqui os textos do grande historiador da arte no artigo 'Natureza da Arte Budista' que reproduzimos anteriormente, sobre este acontecimento, sobre este método antigo de arte :
A prática de uma arte não é tradicionalmente, como é para nós, uma atividade secular, ou mesmo uma matéria de “inspiração” afetiva, mas um rito metafísico ; não é somente as primeiras imagens que são formalmente de origem superhumana. Nenhuma distinção pode ser desenhada entre arte e contemplação. Ao artista primeiro de tudo, requer-se que remova-sede níveis de apercepção [intuição] humano para celestiais ; neste nível e estado de unificação, não mais tendo em vista qualquer coisa externa a ele mesmo, ele vêe entende, quer dizer torna-se, o quê ele representará depois em material trabalhado. Esta identificação do artista com a forma imitávelda idéia a ser expressa é insistida repetidamente nos livros Indianos, e responde à premissa Escolástica como estabelecida nas palavras de Dante, “Nenhum pintor pode pintar uma figura, se ele não tiver primeiro que tudo feito a si mesmo tal como a figura deve ser.” Este último artista não está, então, imitando o estilo ou aspecto visual das imagens primeiras, as quais ele pode nunca ter visto, mas sua forma ; a autenticidade das imagens últimas não depende de um saber acidental (tal como com que nosso “Gótico moderno” é construído) em um retorno à fonte em um sentido bem outro. É justo isto que é tão bem expresso na lenda da imagem de Buddha de Udāyana, que é dito ter voado através do ar para Khotān27 e então estabelecido a legitimidade da linhagem da iconografia Chinesa e da Ásia Central28. “Voar através dos ares” é sempre uma técnica implicando independência da posição local e habilidade para atingir qualquer plano desejado de apercepção : uma forma ou idéia é “alada” precisamente naquele sentido em que o Espírito está onde quer que ele opere e entretenha-se, e não pode ser uma propriedade privada. O que a lenda nos conta não é que uma imagem de pedra ou madeira voou através dos ares ; ela nos conta contudo, que o artista Khotanese viu o que o artista de Udāyana viu, a forma essencial da primeira imagem : aquela mesma forma que o artista de Udāyana similarmente viu antes de retornar a terra e tomar o cinzel ou pincel. ...”

Aludimos acima ao “vôo pelos ares “ da imagem Udāyana de Buddha da Índia ao Khotān, cuja imagem se tornou de fato, como Chavannes observa, o protótipo de muitas outras modeladas na Ásia Central. Repetimos, em primeiro lugar, que, a existência mesma de uma “imagem de Udāyana” feita em vida de Buddha é da mais alta improbabilidade. Em segundo lugar, o quê se quer realmente dizer por “vôo aéreo” e “desaparecimento” ? A expressão Sânskrita comum para “desaparecer” é antar-dhānam gam, literalmente “ir-interior-posição.” No Kālingabodhi Jātaka (No. 479), vôo pelos ares depende de uma “investidura do corpo em roupas de contemplação “( jhāna vethanena ). Como Sr. Mus muito acertadamente ressaltou em outra conexão, “Todo o milagre resulta pois de uma disposição íntima” ( BÉFEO , 1929, p. 435 ). Não está envolvida aqui então uma matéria de translocação física, mas literalmente uma de concentração ; o de atingir um centro que é onipresente, e não um movimento local. Isto é totalmente uma matéria de “ser no Espírito” como esta expressão é usada por S. Paulo : aquele Espírito ( ātman ) de quem é dito que “Sentado, ele vai a todo lugar, deitado ele vai a toda parte “( KU, II, 21 ).32 De que importância em tal contexto pode ser uma discussão da possibilidade ou imposssibilidade de uma levitação ou translocação real ? O quê está implicado na designação “o que se move (n)a vontade” ( kāmâcārin ) é a condição de alguém que estando no Espírito não precisa mais mover-se de modo algum de modo a estar em algum lugar. Nem qualquer distinção pode ser feita entre o intelecto possível e as idéias que ele entretem in adaequatione rei et intellectus : falar de uma onipresença intelectual é falar de uma onipresença das formas ou idéias que não têm existência objetiva fora do intelecto universal que as entretêm. A lenda não se refere a transferência física de uma imagem material, mas a universalidade de uma forma imutável que pode ser vista, tanto pelos contemplativos Khotaneses quanto pelos Indianos ; onde o historiador da arte veria o que é chamado a “influência” da arte Indiana na Ásia Central, a lenda assevera uma imaginação independente da mesma forma. Será visto que não tínhamos em vista explicar o milagre ; mas indicar que a maravilha é aquela da disposição interior e que o poder de vôo aéreo não é nada como o do aeroplano, mas tem a ver com a extensão da consciência a outros níveis de referência que os físicos, e de fato, ao “cume do ser contingente.” 33
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27 Hsüan-tsang, Buddhist Records,Beal, II, 322.
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28 Para uma imagem chamada “Udāyana’s” em Lung-men, ver Chavannes, loc. cit., p.392, e Mus, “Le bouddha paré,”BÉFEO, 1928, p.249.
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32 Hermes, Lib. XI, 11, 19 (Scott, Hermetica, I ,221) “ Todos os corpos estãosubmetidos ao movimento ; mas aquilo que é incorpóreo é sem movimento, e as coisas situadas nele não têm movimento . . . Lance sua alma em viagem a qualquer terra que você escolha, e tão logo você a lance, ela estará lá . . . ela não se moveu como alguém que se move de um lugar para outro, mas ela está lá. Lance-a voando ao céu, e ela não precisará de asas.” RV, VI, 9, 5 “Mente (manas, νούς ) é o mais rápido dos pássaros “; PB XIV, 1, 13 “O que Compreende é alado “( yo vai vidvānsas te paksinah ).

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33 “ Pois o ser humano é um ser de natureza divina . . . o que além disso émais que tudo, ele sobe ao céu sem deixar a terra ; para uma distância tão vasta quanto seu poder pode levá-lo “ ( Hermes, Lib. X, 24, Scott, Hermetica, I, 205 ).