sexta-feira, 20 de setembro de 2013

467 Buddha e o Brahmin


                As três cidades do Jataka se referem ao Mahabharata e a causa da guerra seria a ganância, cobiça, luxúria, ira, soberba, gula, etc.  No meio dos quadrinhos tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio dos quadrinhos.

467
Aquele que deseja ...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre um certo brahmin.
Um brahmin, assim dizem, que residia em Savatthi, estava derrubando árvores às margens do Aciravati para cultivar a terra. O Mestre percebendo seu destino ( i.e., sua capacidade para a vida espiritual ), quando visitou Savathi para coleta de ofertas, desviou-se de sua rota para falar amigavelmente com ele. “O quê estás fazendo brahmin ?” ele perguntou. “Ó Gautama,” disse o homem, “estou abrindo um espaço livre para cultivar.” “Muito bom,” ele respondeu, “continue com seu trabalho brahmin.” Do mesmo modo o Mestre veio e falou com ele quando os troncos derrubados estavam todos fora e o homem estava limpando seu acre e novamente no tempo de arar e ao fazer pequenos quadrados para represar àgua. Bem, no dia da semadura, o brahmin disse, “Ho-je,Ó Gautama, é meu festival do arado ( havia uma grande cerimônia anual deste tipo,na qual o Rei segurava o arado ). Quando este milho estiver maduro, farei ofertas abundantes à Ordem com o Buddha na sua liderança.” O Mestre aceitou esta oferta e partiu. Outro dia ele voltou e viu o brahmin olhando o milho. “O quê estás fazendo, brahmin ?” ele perguntou. “Olhando o milho, Ó Gautama !” “Muito bem brahmin,” disse o Mestre e partiu. Então o brahmin pensou, “Como o asceta Gautama vem frequentemente para cá ! Sem dúvida ele quer comida. Bem, comida darei a ele.” No dia em que este pensamento surgiu na mente dele, quando foi para casa, lá encontrou o Mestre também. Por isto surgiu no brahmin uma grande e extraordinária confiança.
Logo logo, quando maduro estava o milho, o brahmin resolveu, a-manhã ele faria a colheita no campo. Mas enquanto ele estava deitado na cama, nas regiões altas do Aciravati a chuva caiu aos cântaros : desce a enchente e carrega toda a colheita para o mar de modo que nem um pé de milho foi deixado. Quando a enchente diminuiu e o brahmin viu a destruição de sua colheita, ele não teve força para resistir : apertando a mão contra o coração ( pois foi tomado de grande dor ) foi para casa chorando e deitou se lamentando. De manhã o Mestre viu este brahmin tomado por sua dor e pensou, “Serei o amparo do brahmin.” Então, dia seguinte, após sua coleta de ofertas em Savatthi, no retorno de receber comida mandou os Irmãos de volta ao mosteiro e ele mesmo com um mais novo que o ajudava foi visitar a casa do brahmin. Quando o brahmin escutou sua chegada, se animou, pensando - “Meu amigo deve ter vindo para uma conversa amigável.” Ofereceu a ele um assento ; o Mestre entrando sentou no assento indicado e perguntou, “Porquê estais triste, brahmin ? O quê aconteceu que te deu desprazer ?” “Ó Gautama !” disse o homem, “desde quando cortei as árvores às margens do Aciravati, você sabe o quê estive fazendo. Estava atarefado e prometendo presentes para tiquando a colheita estivesse madura : agora a enchente levou a colheita inteira para o mar, não sobrou nada ! Grãos foram destruídos na quantidade de cem carretos carregados e por isto estou em tristeza profunda !” - “Por quê, o quê foi perdido voltará com a tristeza ?” - “Não, Gautama, não voltará.” - “Se isto é assim, por quê chorar ? As riquezas dos seres neste mundo, ou o milho deles, quando as têm, as têm, quando vai embora, vai embora. Nenhuma coisa composta não está sujeita a destruição ; não se remoa com isto.” Assim confortando-o, o Mestre repetiu a Escritura do Desejo ( os versos canônicos mais a frente deste Jataka ) como apropriada para este caso. Na conclusão da citação, o brahmin que se lamentava foi estabelecido na Fruição do Primeiro Caminho. O Mestre tendo-o aliviado de sua dor, levantou-se de seu assento e retornou para o mosteiro.
Toda a vila escutou como o Mestre encontrou tal brahmin atingido pelas dores da tristeza, o consolou e o estabeleceu na Fruição do Primeiro Caminho. Os Irmãos falavam sobre isto no Salão da Verdade : “Escute, Senhores ! O Dasabala fez amizade com um brahmin, ficaram íntimos, e aproveitou a oportunidade de declarar o Dharma para ele, quando atingido pelas dores da tristeza, aliviando-o do sofrimento, estabelecendo-o na Fruição do Primeiro Caminho !” O Mestre entrou e perguntou, “Sobre o quê conversam aí sentados juntos Irmãos ?” Eles disseram. Ele respondeu, “Esta não é a primeira vez , Irmãos, que curei este sofrimento mas fiz o mesmo, muito tempo atrás :” e com estas palavras ele contou uma história do passado. Cf. Jataka 228 a mesma história.
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Certa vez Brahmadatra rei de Benares teve dois filhos. Ao mais velho deu o vicereinado, o mais jovem fez comandante em chefe. Depois quando Brahmadatra morreu, os cortesãos foram fazer o mais velho rei através da aspersão cerimonial. Mas ele disse, “Não me importo nenhum pouco com o reinado : que meu irmão mais novo o tenha.”  Eles pediram e suplicaram a ele mas não queria ; e o mais jovem foi aspergido rei. O mais velho também não queria o vice reinado nem coisa parecida ; e quando pediram a ele para ficar e se alimentar da gordura da terra, “Não,” disse ele, “nada tenho para fazer nesta cidade,” e saiu de Benares. Foi para a fronteira ; e residiu com uma rica família de mercadores, trabalhando com suas próprias mãos. Estes após um tempo, sabendo que ele era filho de rei, não o permitiram trabalhar mas o serviram como um príncipe deve ser servido.
Bem, após um tempo os oficiais do rei vieram para a cidade, para fazer um levantamento dos campos. Então o mercador veio até o príncipe e disse, “Meu senhor, nós o amparamos ; você mandaria uma carta a seu irmão mais jovem pedindo que nos isentasse dos impostos ?” Ele concordou e escreveu como segue : “Vivo com a família de tal mercador ; peço a você que os isente de impostos por minha causa.” O rei consentiu e assim o fez. Com isto todos os cidadãos e povo do campo veio até ele e disse, “Nos isente de impostos que pagaremos taxas a você.” Por eles também ele mandou uma petição e conseguiu isenção de impostos. Após o quê o povo pagou impostos para ele. Então suas receitas e honra foram grandes ; e com sua grandeza cresceu sua cobiça também. E gradualmente pediu por todo o distrito, pediu o cargo de vicerei e o irmão mais jovem concedeu tudo. Como sua ganância continuava crescendo e ele não estava contente mesmo com o vicereinado, determinou tomar o reino ; para cuja finalidade partiu com uma hoste e tomando posição fora da cidade, enviou uma carta a seu irmão mais moço - “Dê-me o reino ou lute por ele.”
O irmão mais novo pensou : Este tolo recusou o reino uma vez e o vicereino e todo o resto ; e agora me diz, o tomarei pela guerra ! S'eu matá-lo em batalha, seria vergonha minha ; que me importa ser rei ?” Então mandou uma mensagem, “Não tenho desejo de lutar : pode ficar com o reino.” O Outro aceitou e fez seu irmão mais novo vicerei.
A partir daí ele legislou o reino. Mas tão ganancioso era que um reino não o poderia contentar mas anelava, dois reinos, depois por três e não se via fim na sua cobiça.
Naquele tempo Sakra, rei dos Deuses, olhava ao redor : “Quem são aqueles,” pensava ele, “que cuidadosamente cuidam dos pais ? Que dão esmolas e fazem o bem ? Quem está no poder da ganância ?” Ele percebeu que este homem estava sujeito à cobiça : “Tolo aquele lá,” pensou ele, “não está satisfeito em ser rei de Benares. Bem, darei uma lição nele.” Então disfarçado de um jovem brahmin, ficou na porta do palácio e mandou dizer que na porta estava um jovem inteligente. Ele foi admitido e desejou vitória ao rei ; então o rei disse,”Por quê vieste ?” “Poderoso Rei !” ele respondeu, “Tenho algo a dizer a você mas desejo privacidade.” Pelo poder de Sakra, naquele instante mesmo o povo se retirou. Então disse o jovem, “Ó grande rei ! Conheço três cidades, prósperas, repletas de gentes, forte em tropas e cavalos : estas por meu próprio poder obterei o senhorio e entregarei a ti. Mas você não deve se atrasar e ir imediatamente.” O rei estando cheio de cobiça deu seu consentimento ( Mas pelo poder de Sakra ele foi impedido de eprguntar, “Quem é você ? De ondes vens ? E o quê você receberá ?” ). Tanto foi dito por Sakra e então ele retornou para o domicílio dos Trinta e três.
O rei então reuniu seus cortesãos e assim falou a eles : “Um jovem esteve aqui , prometendo conseguir e me entregar o senhorio de três reinos ! Vão, procurem por ele ! Enviem um tambor a bater pela cidade, reúna o exército, não atrasem, pois estou prestes a tomar três reinos !” “Ó grande rei !” eles disseram, “ofereceste hospitalidade ao jovem ou perguntaste onde ele mora ?” “Não, não, não ofereci a ele hospitalidade nem perguntei onde ele morava : vão e procurem por ele !” Eles buscaram mas não o encontraram ; informaram o rei, que não o conseguiram encontrar em toda a cidade . Escutando isto o rei tornou-se abatido, deprimido. “O senhorio sobre três cidades está perdido,” pensava repetidamente : “Fui despojado de grande glória. Sem dúvida o jovem foi embora com raiva de mim, por não dar nenhum dinheiro para as despesas nem um lugar para morar.” Em seu corpo então, cheio de cobiça, surge uma febre ; enquanto seu corpo queima, suas entranhas projetam um fluxo de sangue ; o modo como a comida entra é igual a como sai ; médicos não podem curá-lo, o rei fica exaurido. Sua doença é divulgada por toda a cidade.
Naquele tempo, o Bodhisatva voltava para a casa de seus pais em Benares vindo de Takkasila ( Taxila ), após aprender todos os ramos do conhecimento. Escutando as notícias sobre o rei, dirigiu-se à porta do palácio, com a intenção de curá-lo e mandou uma mensagem, de que um jovem estava lá pronto para curar o rei. O rei disse, “Grandes e renomados médicos, longe conhecidos por aqui, não foram capazes de me curar : o quê pode um jovem rapaz fazer ? Pague as despesas dele e deixe-o ir embora.” O jovem respondeu, “Não quero dinheiro pela minha medicina mas vou curá-lo ; que ele pague apenas e somente o preço do remédio.” Quando o rei escutou isto, concordou e o admitiu. O jovem saudou o rei, “Nada tema, Ó rei!” disse ele ; “Vou te curar ; apenas me diga a origem de tua desordem.” O rei respondeu irado, “O quê te importa isto ? Faça teu remédio.” “Ó grande rei,” disse, “é o jeito dos médicos, primeiro saber por quê a doença surgiu e depois fazer o remédio adequado.” “Bem, meu filho,” disse o rei e continuou contando a origem da doença, começando quando o jovem veio e fez sua promessa de que daria a ele o senhorio sobre três cidades. “assim, meu filho, a doença surgiu da ganância ; agora cure se você pode.” “O quê, Ó rei !” disse, “podes capturar estas cidades se afligindo ?” -”Não, meu filho.” -”Já que é assim, por quê sofres, Ó grande rei ? Todas as coisas, animadas ou inanimadas, devem perecer e deixar tudo para trás, mesmo seu próprio corpo. Mesmo que obtivesses senhorio sobre quatro cidades, não poderias comer ao mesmo tempo em quatro pratos de comida, deitar em quatro sofás, vestir quatro conjuntos de roupas. Você não deve ser escravo do desejo ; pois desejo, quando aumenta, não permite a libertação dos quatro estados de sofrimento.” Assim advertindo-o, o Grande Ser declarou a Lei nas estrofes seguintes ( que pertencem ao Sutta Nipata, IV,1, 766 ) :

Aquele que deseja uma coisa e este seu desejo realiza-se abençoadamente,
Certamente é uma pessoa com coração contente porque possui sua ambição.

Aquele que deseja uma coisa e este seu desejo realiza-se abençoadamente,
Desejos aglomeram-se nele mais e mais, qual a sede em tempo de calor opressivo.

Como no gado de chifres, o chifre com seu crescimento cresce mais :
Do mesmo modo em um homem tolo sem discernimento, que nada sabe,
Enquanto cresce a pessoa, mais e mais cresce a sede, cresce anseio .
Dê todo o arroz e o milho na terra, escravos e gado e cavalo,
Isto não é suficiente para alguém : saiba disto e mantenha um curso reto.

Um rei que deve dominar todo o largo mundo,
Todo o largo mundo subindo até a borda do oceano,
Com este lado do mar não satisfeito
Anseias o quê pode ser encontrado para além do mar.

Incubar desejos dentro do coração – contentamento nunca surgirá.
Quem se afasta destes e cura verdadeira vislumbra,
Está contente, quem a sabedoria satisfaz.

Melhor ser cheio de sabedoria : estes nenhuma luxúria colocará em chamas ;
Nunca uma pessoa cheia de sabedoria é escrava dos desejos.

Esmague seus desejos e queira pouco, sem gananciosamente desejar tudo :
Aquele que é como o mar não arde de desejo dentro,
Como o sapateiro corta o couro no molde do pé.

Por cada desejo que se deixa ir, uma felicidade é ganha :
Aquele que toda a felicidade tem, deve com toda a luxúria acabar.

Mas enquanto o Bodhisatva repetia estas estrofes, sua mente estando concentrada no branco do parassol rela, surgiu nele o rapto místico atingido através da luz branca ( este é um dos dez tipos de kasina ou caminhos em que o devoto pode cair no transe místico ). O rei por seu lado ficou íntegro e bem ; levantou-se alegre de seu assento e dirigiu-se a ele assim : “Quando todos aqueles médicoss não puderam me curar, um jovem sábio me fez íntegro pelo remédio de sua sabedoria !” E ele então repetiu a estrofe décima :

Oito versos pronunciaste, válidos mil dinheiros cada :
Tome, Ó grande brahmin ! Pegue a soma, pois doce é esta tua fala.

Com o quê o Grande Ser repetiu a undécima :

Por milhares, centenas, milhões vezes milhões, não quero nada :
Como no último verso que pronunciei, em meu coração desejo morreu.

Cada vez mais deliciado, o rei recitou a última estrofe em louvor ao Grande Ser :

Sábio e bom realmente é este jovem, sabendo todo conhecimento de todos os mundos :
Todo desejo em verdade ao se apresentar é mãe de miséria.

Grande rei !” disse o Bodhisatva, “seja circunspecto eande retamente.” Assim admoestado o rei, passou pelos ares para o Himalaia e vivendo a vida de recluso, enquanto a vida durou, cultivou as Excelências e tornou-se destinado ao mundo de Brahma.
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Este discurso terminado, o Mestre disse, “Assim, Irmãos, em dias anteriores como agora, fiz este brahmin ficar inteiro” : assim falando identificou o Jataka : “Naquele tempo este brahmin era o rei e eu era o jovem sábio.”


 

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