sábado, 26 de abril de 2008

95 Buddha rei Sudassana


95
Como são transitórias...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre quando ele descansava em seu leito de morte, relativa as palavras de Ānanda, “Ó Abençoado, não sofra seu fim nesta pequena triste vila.”

Quando o Buddha morava em Jetavana,” pensou o Mestre, “o Ancião Sāriputra, que nasceu na vila de Nāla, morreu em Varaka no mês de Kattika, quando a lua estava cheia; e no mesmo mês, quando a lua estava nova, o grande Moggallāna morreu. Meus dois principais discípulos mortos, eu também passarei, em Kusināra.” – Assim pensou o Abençoado; e chegando em peregrinação de coleta de oferta em Kusinarā, lá, sobre o meseta voltada ao Norte entre os Sālgueiros gêmeos ele deitou, para não mais levantar de novo. Então, disse o Ancião Ānanda, “Ó Abençoado, não sofra seu fim nesta pequena triste vila, esta pequena vila rústica dentro da jângal, suburbana vila. Não deveria ser Rājagaha ou outra cidade grande ser o lugar de morte do Buddha ?”

Não, Ānanda,” disse o Mestre; “não diga pequena triste vila, vila rústica na jângal, pequena vila suburbana. Em dias idos, nos dias da monarquia universal de Sudassana, era nesta vila que eu morava. Ela era então uma cidade poderosa cercada de muros em joias por vinte quilômetros ao redor.” Daí ao pedido do Ancião, ele contou esta história do passado e pronunciou o Mahā-Sudassana Sutra ( n. do tr.: Sutra 17 do Digha Nikāya ‘talvez os versos mais populares e mais freqüentemente cotejado nos livros Buddhistas Pāli ).

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Foi então que a rainha de Sudassana, Subhaddā, notou, como depois de descer do Palácio da Verdade, seu marido deitava virado do lado direito na cama preparada para ele no Bosque de Palmeiras ( n. do tr.: ver pp. 267 e 277 do Vol. XI do S. B. E. em relação a este Bosque de Palmeiras ) toda de ouro e jóias, - a cama da qual ele não levantaria de novo. E ela disse, "A cidade real de Kusāvati seu reino é capital de oitenta e quatro mil cidades, tome sua soberania senhor. Ponha seu coração nelas".
Não diga isto, minha rainha,” disse Sudassana ; “antes exorte-me, dizendo, ‘Mantenha seu coração nesta vila, e não se anseie pelas outras’.”
Por quê isto, meu marido?”
Porque morrerei ho-je,” respondeu o rei.
Em lágrimas, limpando os olhos que jorravam, a rainha teve que arranjar-se para soluçar as palavras que o rei pediu que ela dissesse. Então ela explodiu em choro e lamento; e as outras mulheres do harém, que chegavam a oitenta e quatro mil, também choravam e se lamentavam; e ninguém da corte resistiu mas todos juntaram-se num lamento único.
Paz!” disse o Bodhisatva; e com a fala, o lamento deles aplacou. Então, virando-se para a rainha, ele disse, - “Não chore, minha rainha, nem se lamente. Pois, até na menor semente de sésamo, não há tal coisa que como coisa composta seja permanente; tudo é transitório, tudo deve acabar.” Então para benefício da rainha ele disse esta estrofe:-

Como são transitórias as coisas compostas!
Crescer é da sua natureza, e decair:
Produzem e dissolvem-se novamente:
E então é melhor, - quando elas se assentam na paz.

Assim o grande Sudassana dirigiu seu discurso até o Nirvana ambrosíaco como seu objetivo. Além disso para o resto da multidão exortou a que fossem caridosos, que obedecessem os Mandamentos, e que guardassem os dias santos em jejum. O fado que ganhou foi re-nascer depois no Reino dos Devas.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “A mãe de Rāhula era a Rainha Subbhaddā daqueles dias; Rāhula era o filho mais velho do Rei ; os discípulos do Buddha eram os da corte; e eu mesmo o grande Sudassana.”











quarta-feira, 23 de abril de 2008

94 Buddha e Sunakkhatta


94
Agora escorchado...etc.- Esta história o Mestre contou em Pātikārāma perto de Vesāli,sobre Sunakkhatta.

Naquele tempo Sunakkhatta sendo adepto do Mestre, estava viajando pelo país como Irmão com hábito e tigela, quando foi pervertido para os adeptos de Kora, o Kshatria. Assim retornando para o Buda Bendito seus hábitos e tigela e se reconvertendo para a vida leiga por razão de Kora, o Kshatria, quando este renasceu como filho do Asura Kālakañjaka. E ele foi pelos três muros de Vesāli difamando o Mestre afirmando que não havia nada sobrehumano no sábio Gautama, que não se distinguia das outras pessoas por pregar uma fé salvadora; que o sábio Gautama simplesmente elaborou um sistema resultante de seu próprio pensar e estudo individual; e que o ideal de consecução que prega sua doutrina, não leva a destruição do sofrer naqueles que o seguem (n. do tr.: Isto é uma citação do Majjhima Nikāya I, 68 ).

Bem o reverendo Sāriputra estava na sua ronda de ofertas quando escutou as blasfêmias de Sunakkhatta; no retorno de sua coleta relatou isto ao Abençoado. Disse o Mestre, “Sunakkhatta é uma pessoa de cabeça quente, Sāriputra, e fala palavras vãs. A irascibilidade dele o leva a falar assim e a negar a graça salvadora da minha doutrina. Inconscientemente, esta tola pessoa está me elogiando; digo inconscientemente pois ele não tem conhecimento nenhum da minha eficácia. Em mim, Sāriputra, mora os Seis Conhecimentos, e neles sou mais que humano; os Dez Poderes estão em mim, e as Quatro Bases da Confiança. Conheço os limites dos quatro tipos de existência terrena e os cinco estados de re-nascer possíveis após a morte terrena. Isto também é uma qualidade sobrehumana em mim; e quem quer que negue isto deve se retratar de suas palavras, mudar sua crença e renunciar sua heresia ou será lançado sem cerimônias nos ínferos.”

 Tendo assim glorificado a natureza e o poder sobrenatural que nele existiam, o Mestre continuou dizendo, “Sunakkhatta, escutei, Sāriputra, gosta da auto-mortificação desviante do ascetismo de Kora, o Kshatriya; e daí que ele não pode gostar de mim. Noventa e um aeons atrás ( n. do tr.: 91 x 25.920 anos que seria uma era, um éon, um grande-ano, um grau da precessão dos equinócios ) vivi a mais alta vida em suas quatro formas [ n. do tr.: os ashramas : estudioso, dono de casa, religioso, recluso – podemos relacionar respectivamente com as quatro castas a sudra sendo a primeira posto que é quando serve-se literalmente a um professor e aprende-se uma profissão, aqui nos Jātakas em Takkasilā / Taxila  ; a segunda quando se exerce esta profissão, a terceira quando se aposenta e a quarta a pós-aposentadoria cf. Santi Parva segunda parte seção CCXLII e segs, diálogo de Vyasa e Suka, pai e filho : “Os quatro modos de vida constituem uma escada ou lance de‘graus.” Mahabharata ], examinando aquele falso ascetismo para descobrir se a verdade habitava nele. Fui asceta, o chefe dos ascetas; magro e surrado eu fui, mais que todos; morava separado, e inigualável minha paixão por solidão.” Então, com o pedido do Ancião, ele contou esta história do passado.

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Certa vez, noventa e um aeons atrás, o Bodhisatva decidiu a examinar por dentro o falso ascetismo. Então tornou-se um recluso, de acordo com os Ascetas Nus (Ājivikas), - sem roupas e cobertos de cinzas, em ascetismo e solitude, fugia como cervo diante da face das pessoas ; sua comida era peixe pequeno, estrume de vaca e outros restos; e para que sua vigília não fosse perturbada, residia num terrível bosque na jângal. No inverno com neve, ele saía à noite da proteção do bosque para ar aberto, retornando, àurora, ao bosque de novo; e, molhava-se com a neve levada pela noite, e de dia encharcava-se com a garoa dos ramos dos bosque. Assim dia e noite do mesmo modo ele aguentava a extremidade do frio. No verão, morava de dia a ar aberto, e de noite na floresta – escorchado pelo sol brilhante de dia, e sem bafejos de brisas refrescantes à noite, corria suor dele. E lá apresentou-se a sua mente esta estrofe, que era nova e nunca fora pronunciada antes:-


Agora escorchado, depois congelado, só em florestas solitárias
Sem fogo do lado, mas aceso por dentro
Nus, os eremitas lutam pela Verdade.

Mas quando após uma vida em rigores deste ascetismo, a visão do inferno levantou-se diante do Bodhisatva enquanto jazia morrendo, ele entendeu o nada de todas aquelas suas austeridades, e naquele supremo momento saiu das suas ilusões, segurou firme a verdade real, e renasceu no Céu dos Devas.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Eu era o asceta nu daqueles dias.”





terça-feira, 22 de abril de 2008

93 sobre os Requisitos ( outro ).


93
No apegado não apegue-se...etc.- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre apegar-se às coisas.

Tradição nos diz que naqueles dias os Irmãos, na maior parte, costumavam ficar contentes se qualquer coisa fosse dada a eles por suas mães ou pais, irmãos ou irmãs, tios ou tias, ou outros parentes. Argumentando que em seu estado laico tinham como prática receber coisas das mesmas mãos, eles, como Irmãos, do mesmo modo não mostravam circunspecção ou cautela diante de comida, roupa ou outro requisito que seus parentes lhes davam. 

Observando isto o Mestre sentiu que devia falar aos Irmãos. Assim mandou reuni-los e disse, “Irmãos, não importa se o doador é parente ou não, que a circunspecção acompanhe o uso. O Irmão que sem circunspecção usa os requisitos que a ele são dados, pode acarretar em si mesmo uma existência subseqüente como um ogro ou um fantasma. Uso sem circunspecção é como tomar veneno ; e veneno mata do mesmo jeito seja dado por um parente ou por uma pessoa estranha. Houveram aqueles que em dias idos na realidade tomaram veneno dado por aqueles próximos e queridos, e daí encontraram seu fim.” Assim falando, ele contou a seguinte história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um mercador muito rico. Ele tinha um pastor que, quando o milho estava crescendo, levava suas vacas para a floresta e as mantinham num curral, trazendo os produtos de tempos em tempos para o mercador. Perto do curral na floresta morava um leão; e ficaram as vacas com tanto medo do leão que davam pouco leite. Então quando o pastor trouxe ghee um dia, o mercador perguntou por quê havia tão pouco. O pastor conta a razão. “Bem, o leão não está apegado a nada ?” “Sim, mestre; ele gosta de uma gazela.” “Você pode pegar esta gazela ?” “Sim, mestre.” “Bem, pegue-a, e a esfregue toda com veneno e açúcar, e deixe-a secar. Guarde-a um dia ou dois, e depois, torne a soltá-la. Devido a sua afeição por ela, o leão vai lambê-la toda com sua língua e vai morrer. Tire seu couro com as garras e dentes e gordura, e traga-os para mim.” Assim falando, deu para o pastor veneno mortal e o mandou ir. Com o auxílio de uma rede que ele teceu, o pastor pegou a gazela e cumpriu as ordens do Bodhisatva.

Logo que viu a gazela de novo, o leão, no seu grande amor por ela, a lambeu com sua língua e então morreu. E o pastor pegou o couro do leão com o resto, e trouxe-os para o Bodhisatva que disse, “Deve-se evitar afeição por outros. Marque como, com toda sua força, o rei das bestas, o leão, foi levado por este amor pecaminoso pela gazela a envenenar-se ao lambê-la e então morreu.”

No apegado não apegue-se, nem no impegável apegue-se;
Apegar mata ; através do apego o leão comeu poeira.

Tal foi a lição que o Bodhisatva ensinou àqueles ao redor. Após uma vida em caridade e obras boas, passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Eu era o mercador naqueles dias.”



quinta-feira, 17 de abril de 2008

92 Ananda e a joia


92
Na guerra as pessoas anseiam...etc”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre o venerável Ānanda.

Certa vez as esposas do Rei de Kosala pensaram consigo mesmas, assim, “Muito raro é a vinda de um Buddha; e muito raro é nascer na forma humana com todas as faculdades perfeitas. Sim, apesar de presenciarmos uma forma humana em uma vida de Buddha, não podemos ir à vontade ao Mosteiro escutar a verdade de seus próprios lábios, nem prestar obediência, ou fazer ofertas a ele. Vivemos aqui como numa caixa. Peçamos ao Rei que envie um Irmão adequado para cá para ensinar-nos a verdade. Aprendamos o quê pudermos dele, e sejamos caridosas e façamos obras boas, até o fim, para que lucremos em termos nascidos nesta feliz conjuntura.” Então foram todas juntas até o Rei e contaram a ele o quê tinham em mente; e o Rei deu seu consentimento.

Bem, aconteceu um dia do Rei ter intenção de gozar do jardim real e ter dado ordens para que varressem o chão posto que iria. Quando o jardineiro estava trabalhando, viu o Mestre sentado ao pé de uma árvore. Então ele foi até o Rei e disse, “O jardim está pronto, senhor; mas o Abençoado está sentado lá ao pé de uma árvore.” “Muito bom,” disse o Rei, “iremos e escutaremos o Mestre.” Montando em sua carruagem de estado, ele foi até o Mestre no jardim.

Bem, havia sentado aos pés do Mestre, escutando seus ensinamentos, um irmão-leigo chamado Chattapāni, que entrara no Terceiro Caminho. Vendo este irmão-leigo, o rei hesitou; mas, refletindo que devia ser uma pessoa virtuosa, ou não estaria sentada escutando a instrução do Mestre, aproximou-se e com uma reverência sentou-se também ao lado do Mestre. Sem reverência pelo supremo Buddha, o irmão leigo nem se levantou em honra ao Rei nem saudou sua majestade; e isto fez o Rei ficar irado. Notando o desprazer do Rei, o Mestre prosseguiu exaltando os méritos daquele irmão-leigo, dizendo, “Senhor, este irmão-leigo é mestre em toda a tradição; ele sabe de cor(ação) as escrituras que foram transmitidas; e ele libertou-se dos laços da paixão.” “Certamente,” pensou o Rei, “aquele a quem o Mestre louva não deve ser pessoa comum.” E disse a ele, “Diga-me, irmão-leigo, se precisares de qualquer coisa.” “Obrigado,” disse o sujeito. Depois o Rei escutou o ensinamento do Mestre e ao final levantou-se e cerimoniosamente saiu.

Outro dia, encontrando este mesmo irmão-leigo indo tomar café da manhã em Jetavana, guarda-sol (chuva) à mão, o Rei o chamou à sua presença e disse, “Escutei, irmão-leigo, que és uma pessoa de muito estudo. Bem, minhas esposas estão ansiosas em escutar e aprender a verdade; eu ficaria contente se você ensinasse elas.” “Não é conveniente, senhor, que um leigo exponha ou ensine a verdade no harém do Rei ; isto é prerrogativa dos Irmãos.”

Reconhecendo a força desta observação, o Rei, após dispensar o leigo, reuniu suas esposas e anunciou sua intenção de pedir ao Mestre que mande um dos Irmãos como instrutor na doutrina. Qual dos oitenta discípulos chefes vocês querem ? Depois de conversarem reunidas, as senhoras de comum acordo escolheram Ānanda ( n. do tr.: Ānanda sustentava ‘visões avançadas na questão da mulher.’ Foi ele que persuadiu o relutante Buddha aceitar mulheres na Ordem, como registrado no Vinaya (S.B.E. XX, 320 et seqq. [ S.B.E. significa ‘Sacred Books of the East’ coleção de cinqüenta volumes de textos sacros orientais traduzidos para o inglês editada no final do século XIX em Oxford; entre os tradutores Samuel Beal, Max Muller, Rhys Davids, Hermann Oldenberg, na Inglaterra de então. A edição logo se esgotou mas o Sr. Barnasidass de Delhi reimprimiu tudo de novo em 1965, 1969, 1975, etc, lá na Índia desta vez. ]) o Ancião, denominado Tesoureiro da Fé. Então o Rei foi até o Mestre e com uma saudação cortês sentou do lado dele, após o quê prosseguiu colocando o desejo de suas esposas, e sua esperança mesma, que Ānanda pudesse ser o professor delas. O Mestre tendo consentido em enviar Ānanda às esposas do Rei, elas então começaram a ser ensinadas regularmente pelo Ancião e a aprender com ele.

Um dia a joia de fora do turbante do Rei se perdeu. Quando o rei escutou a perda enviou seus ministros e mandou-os prenderem todos que tinham acesso aos recintos e achar a joia. Então os Ministros procuraram em todos, mulheres e todas as pessoas, pela joia perdida, aborrecendo todo mundo, mas nenhum traço da joia pode ser encontrado.

 Naquele dia Ānanda veio ao palácio, só para encontrar as esposas do Rei desanimadas, apesar de estarem gostando dele ensinar a elas. “Por quê vocês estão assim ho-je ?” perguntou o Ancião. “Oh, senhor,” elas disseram, “o rei perdeu a joia de fora do turbante; e com ordens dele os ministros estão aporrinhando todo mundo, mulheres e todos, azucrinando a vida, para encontrar a joia. Não sei dizer o quê acontecerá conosco; e por isto estamos tão tristes.” “Não se preocupem mais com isto,” disse o Ancião alegremente, enquanto saía para encontrar o Rei. Tomando o assento determinado para ele, o Ancião perguntou se era verdade que sua majestade perdera sua joia. “É verdade, senhor,” disse o Rei. “E ela não pode ser achada?” “Já atazanei a vida de todos nos palácios e mesmo assim não pude achá-la.” “Há um jeito, senhor, de descobri-la, sem aborrecer as pessoas.” “E que jeito é este, senhor?” “Dando um punhadinho, senhor.” “Dando punhadinho? Que pode ser isto, prego?” “Reúna todas as pessoas, senhor, de que suspeitas, e privadamente dê a cada uma, separadamente, um punhado de palha ou um pouco de argila, dando e dizendo, ‘Tome isto e ponha em tal e tal lugar a-manhã àurora.’ A pessoa que pegou a joia a colocará na palha ou na argila, e assim a trará de volta. Se ela for trazida de volta no primeiro dia, bem e bom. Se não, a mesma coisa deve ser feita um segundo e um terceiro dia. Assim, um grande número de pessoas deixarão de ser apoquentadas, e terás sua joia de volta.” Com estas palavras o Ancião partiu.

Seguindo o conselho acima, o Rei fez com que palha e argila fossem dadas por três dias seguidos; mas mesmo assim a joia não foi recuperada. No terceiro dia o Ancião veio de novo, e perguntou se a joia tinha sido trazida de volta. “Não, senhor,” disse o Rei. “Então, senhor, deves colocar um grande vaso d’água num canto afastado de seu jardim, e deves encher este vaso de água e colocar uma cortina na frente dele. Então dê ordens para que todos que frequentam os recintos, mulheres e homens igualmente, retirem suas vestes exteriores e lavem as mãos atrás da cortina e voltem.” Com este conselho o Ancião partiu. E o Rei fez como ele ordenou.

Pensou o ladrão, “Ānanda tomou em suas próprias mãos o problema; e, se ele não encontrar a joia, não deixará as coisas pararem aqui. Chegou verdadeiramente o momento de devolver a joia sem mais barulho.” Assim ele escondeu a joia em sua pessoa, e indo para trás da cortina, jogou-a na água antes de sair fora. Quando todos já tinham ido, o vaso foi esvaziado, e a joia encontrada. “Deve-se tudo ao Ancião,” exclamou o Rei em sua alegria, “que eu tenha recuperado minha joia, e sem atrapalhar a vida de uma hoste de pessoas.” E todas as pessoas dos recintos ficaram igualmente gratas a Ānanda por ter salvado-as do problema. A história de como os poderes maravilhosos de Ānanda recuperaram a joia, espalhou-se por toda a cidade, até alcançar a Irmandade. Disseram os Irmãos, “O grande conhecimento, estudo e inteligência do Ancião Ānanda foi o meio ao mesmo tempo de recuperação da joia perdida e de salvamento de muitas pessoas serem atrapalhadas em suas vidas.” E enquanto sentavam juntos no Salão da Verdade, cantando os louvores de Ānanda, o Mestre entrou e perguntou o tema da conversa. Tendo escutado, ele disse, “Irmãos, esta não é a primeira vez que o quê foi roubado é encontrado, nem é Ānanda o único que fez tal descoberta. Em dias idos o sábio e bom também descobriu o quê tinha sido roubado, e também salvou uma hoste de pessoas de problemas, mostrando que a propriedade perdida havia caído em mãos de animais.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva, tendo completado sua educação, tornou-se um dos ministros do Rei. Um dia o Rei com um largo séquito foi para o jardim, e, depois de andar pelas florestas, teve desejo de divertir-se na água. Assim foi para o tanque real e mandou chamar seu harém. As mulheres do harém, tirando as jóias da cabeça e dos pescoços e assim por diante, colocaram-nas de lado junto com suas vestes de cima em caixas sob os cuidados de empregadas mulheres e entraram na água. Bem, quando a rainha tirava suas jóias e ornamentos, e os deixava com sua veste de cima na caixa, era observada por uma macaca, escondida nos galhos de uma árvore perto. Concebendo desejo de vestir o colar de pérolas da rainha, esta macaca vigiava quando a empregada encarregada estaria fora de guarda. No princípio a garota manteve vigilância em tudo ao redor guardando as jóias; mas com o tempo passando, ela começou a cabecear, cochilar. Logo que a macaca viu isto, rápida como o vento ela pulou para baixo, e rápida como o vento estava acima na árvore novamente, com as pérolas ao redor de seu próprio pescoço. Então, temendo que as outras macacas vissem, ela escondeu o colar de pérolas em um buraco na árvore e sentou guardando seu espólio séria como se nada houvesse acontecido. Logo a empregada acorda, e, aterrorizada ao descobrir que as jóias se foram, não encontrou nada para fazer a não ser gritar, “Um homem levou o colar de pérolas da rainha.” Vieram os guardas de todos os lados, e escutando esta história contaram ao Rei. “Peguem o ladrão,” disse sua majestade; e saíram os guardas buscando no alto e embaixo pelo ladrão no jardim. Escutando o barulho, um rústico pobre supersticioso saiu correndo assustado. “Lá vai ele,” gritaram os guardas, olhando o que corria; e o seguiram até pegá-lo e batendo nele perguntavam o que queria para roubar jóias tão preciosas.

Ele pensou, “Se eu negar a culpa, vou morrer apanhando destes cruéis. É melhor dizer que peguei.” Então ele confessou o roubo e foi levado como prisioneiro até o Rei. “Você pegou aquela joia preciosa ?” perguntou o Rei. “Sim, sua majestade.” “Onde elas estão agora ?” “Por favor, sua majestade, sou pobre; nunca tive nada na vida, nem mesmo uma cama ou uma cadeira, ou qualquer coisa de valor,- muito menos uma joia. Foi o Tesoureiro que me fez pegar aquele colar precioso; e eu peguei e dei a ele. Ele sabe tudo sobre.”

Então o Rei mandou chamar o Tesoureiro, e perguntou se o rústico tinha passado o colar para ele. “Sim, senhor,” foi a resposta. “Onde está ele então ?” “Dei ao Capelão de sua majestade.” Então o Capelão foi chamado, e interrogado do mesmo jeito. E ele disse que havia entregue ao Músico Chefe, que por sua vez disse que havia entregue a uma cortesã como presente. Mas ela, tendo sido trazida diante do Rei, negou completamente ter recebido ele.

Enquanto os cinco eram assim questionados, o Sol se pôs. “É tarde agora,” disse o Rei; “continuaremos isto a-manhã.” Então entregou os cinco a seus ministros e voltou para a cidade. Aqui o Bodhisatva ficou pensativo. “Esta joia,” ele pensou, “foi perdida dentro do jardim, enquanto o rústico estava fora. Há uma forte guarda nos portões e seria impossível para alguém dentro sair com o colar. Não vejo como alguém, estivesse dentro ou fora, pudesse arranjar isto. A verdade é que este sujeito pobre e infeliz deve ter dito que deu ao Tesoureiro meramente para salvar sua pele; e o Tesoureiro deve ter dito que deu ao Capelão, na esperança de se safar disto misturando o Capelão no assunto. Depois, o Capelão disse que deu ao Chefe dos Músicos porque pensou que este último faria o tempo passar mais agradavelmente na prisão; enquanto o Chefe Músico objetivou implicar a Cortesã, simplesmente para consolar-se com a companhia dela durante a prisão. Nenhum dos cinco tem nada a ver com o roubo. Por outro lado, o jardim está cheio de macacos, e o colar deve ter ido para as mãos de alguma macaca.”

Quando ele chegou a esta conclusão, o Bodhisatva foi até o Rei com o pedido que os suspeitos fossem entregues aos cuidados dele e que permitisse que examinasse pessoalmente a matéria. “De todos os modos, meu sábio amigo,” disse o Rei; “pode examinar.”

Então o Bodhisatva chamou seus empregados e contou a eles onde manter os cinco prisioneiros, dizendo, “Mantenha-os em estrita vigilância; escutem tudo que eles disserem, e me relatem tudo depois.” E seus empregados fizeram como ele ordenou. Quando os prisioneiros estavam sentados juntos, o Tesoureiro disse ao rústico, “Diga-me, infeliz, onde que nós já nos encontramos antes; diga-me quando me entregaste o colar.” “Venerável senhor,” disse o outro, “nunca foi meu nada tão valioso quanto um escabelo ou um estrado de cama sem solidez. Pensei que com sua ajuda sairia desta enrascada, e por isto disse o quê disse. Não fique irado comigo, meu senhor.” Disse o Capelão por sua vez ao Tesoureiro, “Como então passaste para mim o quê este sujeito nunca entregou para ti ?” “Só disse isto porque pensei que se você e eu, ambos altos oficiais de estado, estivéssemos juntos, logo esclareceríamos o problema.” “Brahmin,” dizia agora o Chefe Músico ao Capelão, “quando, prego, deste para mim a joia ?” “Só disse que dei,” respondeu o Capelão, “porque pensei que você ajudaria a passar o tempo mais agradavelmente.” Por último a Cortesã disse, “Ah, seu músico tratante, sabes que nunca me visitaste, nem eu a ti. Então quando me terias dado o colar que disseste ?” “Por quê irar-se, minha querida ?” disse o Músico, “nós cinco temos que manter casa junto por causa de um bocado; coloquemos então caras alegres e sejamos felizes juntos.”

Esta conversa sendo relatada ao Bodhisatva por seus agentes, deixou ele convencido que os cinco eram inocentes do roubo, e que uma macaca tomou o colar. “E devo encontrar um meio de fazê-la largá-lo,” disse ele para si mesmo. Então ele arranjou que se fizessem numerosos colares de contas. Depois fez com que se pegassem um número de macacos e soltassem novamente, com colares de contas nos pescoços, punhos e tornozelos. 

Enquanto isto a macaca culpada ficou sentada na árvore guardando seu tesouro. Então o Bodhisatva ordenou que pessoas observassem cuidadosamente cada macaco no jardim, até que vissem um que vestisse o colar de pérolas perdido, e então a assustasse para que largasse-o.

Adornados em novo esplendor, os macacos pavonearam-se até chegar ao verdadeiro ladrão, diante da qual ostentaram sua riqueza. O ciúme sobrepujou a prudência  e ela exclamou, “Estes são apenas contas !” e colocou seu próprio colar de pérolas preciosas. Isto foi logo visto pelos vigias, que a fizeram largar o colar, que eles pegaram e trouxeram ao Bodhisatva.

 Ele levou ao Rei, dizendo, “Aqui, senhor, está o colar. Os cinco presos são inocentes ; foi uma macaca no jardim que pegou ele.” “Como você descobriu ?” perguntou o Rei; “e como arranjou para pegar de volta ?” Então o Bodhisatva contou a história toda, e o Rei agradeceu ao Bodhisatva, dizendo, “Você é a pessoa certa no lugar certo.” E falou esta estrofe em louvor ao Bodhisatva:-

Na guerra as pessoas anseiam por um herói poderoso,
Na assembléia, sobriedade sábia,
Camaradas são premiados com alegria,
Mas em questões difíceis é necessário juízo.

Depois e além destas palavras de louvor e gratidão, o Rei deu tesouros ao Bodhisatva como uma nuvem de tempestade jogando chuva dos céus. Após seguir os conselhos do Bodhisatva através de uma longa vida em caridade e obras boas, o rei passou sendo tratado depois de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre, após exortar os méritos do Ancião, identificou o Jātaka dizendo, “Ānanda era o Rei daqueles dias e eu mesmo seu sábio conselheiro.”





quarta-feira, 16 de abril de 2008

91 Sobre os Requisitos


91
Ele atira os dados...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre usar as coisas impensadamente.

Tradição diz que a maioria dos Irmãos naqueles dias habituaram-se a usar as roupas e o resto das coisas que lhes eram dadas, de modo impensado. E o uso impensado dos Quatro Requisitos como regra, barra o escape deles do fado de re-nascer nos ínferos e no mundo animal. Sabendo disto, o Mestre estabeleceu lições de virtude e mostrou o perigo do uso impensado das coisas, exortando-os ao uso cuidadoso dos Quatro Requisitos, e colocou esta regra, “O Irmão pensativo tem em vista um objetivo definido quando veste uma roupa, notadamente, impedir o frio.” Após colocar regras semelhantes para os outros Requisitos, concluiu dizendo, “Tal é o uso consciente que deve ser feito dos Quatro Requisitos. Usá-los impensadamente é como tomar veneno mortal ; e houve aqueles que em dias idos por seu impensar, inadvertidamente tomaram veneno, para grande dano seu, em hora devida.” Assim falando ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família abastada, e quando cresceu, se tornou jogador de dados. Com ele costumava jogar um trapaceiro, que mantinha o jogo quando ganhando mas, quando a sorte virava, acabava com o jogo, colocando um dos dados na boca, para fingir que estava perdido,- depois do que saía do jogo. “Muito bem,” disse o Bodhisatva quando entendeu o quê estava acontecendo; “daremos um jeito nisto.” Então pegou alguns dados, ungiu-os em casa com veneno, deixou-os secar cuidadosamente, e depois carregou-os consigo até o trapaceiro, a quem desafiou para um jogo. O outro estava querendo, o tabuleiro do jogo de dado armado, e o jogo começa. Logo que o trapaceiro começou a perder, jogou um dos dados na boca. 

Observando-o no ato, o Bodhisatva falou, “Cuspa fora; não falharás em descobrir o quê realmente é em pouco tempo.” E pronunciou esta estrofe em censura:

Ele joga o dado com coragem, - não sabendo
Que veneno lá queima e esconde-se invisível
- Ei, jogue-os, trapaceiro! Logo queimarás por dentro.

E enquanto o Bodhisatva falava, o veneno começa a fazer efeito no trapaceiro; ficou pálido, seus olhos giraram, e dobrando-se de dor caiu no chão. “Agora,” disse o Bodhisatva, “devo salvar a vida do tratante.” Assim, misturou amostras e administrou eméticos até sair o vômito. Depois administrou um gole de ghee com mel e açúcar e outros ingredientes, e com estes meios fez o sujeito ficar bom de novo. Então o exortou a não fazer tal coisa novamente. Após vida em caridade e obras boas, o Bodhisatva passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre disse, “Irmãos, o uso impensado das coisas é como o tomar inadvertidamente veneno mortal.” Assim falando, ele identificou o Jātaka nestas palavras, “eu era o sábio e bom jogador daqueles dias.”

(Nota Pali : “Nenhuma menção é feita do trapaceiro, - a razão sendo que, aqui como em todo lugar, nenhuma menção é feita de pessoas de quem não se fala na presente data.”)











terça-feira, 15 de abril de 2008

90 Anatha-pindika e um correspondente


90
A pessoa ingrata...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre Anātha-pindika [ Alimentador do Povo, título dado a Sudattha ].

Na fronteira, assim conta a história, vivia um mercador, que era correspondente e amigo de Anātha-pindika mas eles nunca haviam se encontrado. Até que chegou um dia que este mercador carregou quinhentas carroças com a produção local e deu ordens aos homens encarregados de irem ao grande mercador Anātha-pindika e barganhar os produtos, nas lojas do correspondente, pelo valor deles e trazer os artigos recebidos em troca. Assim vieram a Sāvatthi, e encontraram Anāttha-pindika. Primeiro presenteando-o eles contaram seu negócio. “Vocês são bem-vindos,” disse o grande homem, e ordenou-lhes que lá se alojassem e até deu-lhes dinheiro para as necessidades. Após rapidamente perguntar sobre a saúde do mestre deles, barganhou as mercadorias para eles e deu-lhes produtos em troca . Então eles voltaram para seu próprio distrito, e relataram o que aconteceu.

Logo depois, Anāttha-pindika do mesmo modo despachou quinhentas carroças com mercadorias para o mesmo distrito em que eles moravam; e este pessoal, quando chegou lá, foi, de presente na mão, até o mercador da fronteira. “De onde vocês vêm?” perguntou ele. “De Sāvatthi,” eles responderam; “de seu correspondente, Anāttha-pindika.” “Ninguém pode se chamar Anāttha-pindika” [o título], disse ele com escárnio; e pegando o presente mandou-lhes embora, sem dar nem alojamento nem gentileza. Eles então barganharam eles mesmos seus produtos e trouxeram artigos para trocar em Sāvatthi, com a estória da recepção que tiveram.

Bem, o que acontece, é que este mercador da fronteira, despacha outra caravana de quinhentas carroças para Sāvatthi; e seu pessoal veio com presente nas mãos até Anāttha-pindika. Mas, logo que o pessoal de Anāttha-pindika os viu, disseram, “Oh, cuidaremos, senhor, que sejam propriamente alojados, alimentados e supridos de dinheiro para as necessidades.” E levando os estrangeiros até um determinado lugar disse-lhes para desatrelarem lá as carroças, num lugar adequado, adicionando que arroz e gentilezas viriam da casa de Anāttha-pindika. Ao redor da meia-noite, tendo juntado um bando de servos e escravos, pilharam toda a caravana, pegaram todas as roupas que os homens trouxeram, soltaram o gado, tiraram as rodas do carro, deixando só a carcaça. Sem nem mesmo uma camisa entre eles, os estrangeiros aterrorizados fugiram e tentaram alcançar suas casas na fronteira. Então o pessoal do Anāttha-pindika, contou para ele toda a história. “Esta história muito boa será meu presente para o Mestre ho-je”, ele disse; e saindo foi e a contou ao Mestre.

Esta não é a primeira vez, senhor,” disse o Mestre, “que este mercador da fronteira mostra esta disposição; ele foi justo o mesmo em dias idos.” Então, com o pedido de Anātha-pindika, ele contou o seguinte história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva era um mercador muito rico nesta cidade. E ele tinha também um mercador correspondente na fronteira a quem nunca havia visto e tudo acontece como na história acima.

Escutando do seu pessoal o quê eles haviam feito, disse,
Este problema é resultado da ingratidão mostrada à gentileza que lhes foi prestada.” E continuou instruindo o povo aglomerado com esta estrofe:-

A pessoa ingrata à um gesto gentil
Não encontrará ajuda quando precisar.

Deste jeito ensinou o Bodhisatva a verdade nesta estrofe. Após a vida em caridade e obras boas, passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “O mercador da fronteira de ho-je era o mercador da fronteira de dias idos; e eu era o mercador de Benares.”
Jātaka // 363.





segunda-feira, 14 de abril de 2008

89 Buddha e o ladrão


89
Como é plausível...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre um ladrão. Os detalhes de seu roubo serão relatados no Uddāla jātaka, Jātaka 487.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares (Varanasi ), vivia bem do lado em uma certa vila pequena, um tratante astuto de um asceta, da classe dos que usam tranças longas. O escudeiro do lugar fez um eremitério ser construído para ele morar na floresta, e usava fornecer excelente comida em sua própria casa. Tomando o tratante de cabelos em tranças por modelo de virtude e, vivendo como ele vivia com medo dos ladrões, o escudeiro trouxe cem peças de ouro para o eremitério e lá as enterrou, pedindo ao asceta que as guardasse. “Sem necessidade de dizer tanto, senhor, para uma pessoa que renunciou ao mundo; nós eremitas nunca cobiçamos os bens de outras pessoas.” “Está bem, senhor,” disse o escudeiro, que partiu com inteira confiança nas declarações do outro. O asceta tratante pensou então consigo mesmo, “Há o suficiente aqui para manter uma pessoa por toda sua vida.” Deixando primeiro que alguns dias passassem, ele removeu o ouro e o enterrou no lado do caminho, retornando a viver como antes em seu eremitério. Dia seguinte, após uma refeição de arroz na casa do escudeiro, o asceta disse, “Já faz bastante tempo, senhor, desde que comecei a ser amparado por ti; e viver muito tempo em um lugar e como viver no mundo,- o quê é proibido por ascetas professos. Daí preciso necessariamente partir.” E apesar do escudeiro o pressioná-lo para ficar, nada pode vencer sua determinação.

Bem, então, se tem que ser assim, siga seu caminho, senhor,” disse o escudeiro; e escoltou o asceta até os arredores antes de deixá-lo. Depois de seguir um pouco o caminho o asceta pensou que seria bom engambelar o escudeiro; assim, colocando uma palha nas tranças do cabelo, retornou. “O quê o traz de volta ?” perguntou o escudeiro. “Uma palha de seu telhado, senhor, grudou no meu cabelo; e como nós eremitas não tomamos nada que não nos é concedido, trouxe-a de volta para ti.” “Jogue-a fora, senhor, e siga seu caminho,” disse o escudeiro, que pensou consigo mesmo “Pois, ele não toma nem mesmo uma palha que não lhe pertence. Que natureza sensível !” Altamente agraciado com o asceta, o escudeiro deu-lhe adeus.

Bem naqueles dias aconteceu do Bodhisatva, que estava no seu caminho para um distrito da fronteira com propósitos comerciais, tinha parado durante a noite naquela vila. Escutando o quê o asceta falou, suspeita levantou-se em sua mente que o asceta tratante devia ter roubado o escudeiro de algo; e perguntou a este último se tinha depositado qualquer coisa aos cuidados do asceta.

Sim, - cem moedas de ouro.”
Bem, vá e veja se está tudo a salvo.”

Seguiu o escudeiro para o eremitério, e procurando, descobriu que o dinheiro tinha ido. Correndo de volta para o Bodhisatva, ele gritou, “Não está lá.” “O ladrão não é outro do que o asceta tratante de tranças longas,” disse o Bodhisatva; “persigamos e prendamos a ele.”

 Assim correram em quente perseguição. Quando pegaram o tratante chutaram e socaram ele, até descobrirem aonde havia escondido o dinheiro. Quando procurava o ouro, o Bodhisatva, olhando para ele, zombando falou ao asceta, “Então cem moedas de ouro não pesam na sua consciência tanto quanto aquela palha !” E o censurou com esta estrofe:-

Como é plausível a história que contou o tratante !
Como é cuidadoso com a palha ! Como é descuidado com o ouro !

Depois que o Bodhisatva censurou o sujeito deste jeito, disse ainda, - “E agora, tome cuidado, hipócrita, para não aplicar de novo tal golpe.” Quando sua vida terminou, o Bodhisatva passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre disse, “Assim vocês vêem, Irmãos, que este Irmão era tão ladrão no passado quanto ho-je.” E ele identificou o Jātaka dizendo, “Este Irmão ladrão era o asceta ladrão daqueles dias, e eu o sábio e bom homem.”










quinta-feira, 10 de abril de 2008

88 Buddha Boi Sarambha

                      
88
Fale gentilmente...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Sāvatthi, sobre o preceito relativo a linguagem injuriosa. A história introdutória e a história do passado são as mesmas que no Nandivisāla jātaka acima, Jātaka 28.

Mas neste caso há uma diferença que o Bodhisatva era um boi chamado Sārambha, e pertencia a um brahmin de Takkasilā ( Taxila ) no reino de Gandhāra. Após contar a história do passado, o Mestre, como Buddha, pronunciou esta estrofe:-

Fale gentilmente, não insulte seu companheiro ;
Ame gentileza ; insulto origina dor.

Quando o Mestre terminou sua lição ele identificou o Jātaka dizendo, “Ānanda era o brahmin daqueles dias, Uppalavannā sua esposa, e eu Sārambha.”




87 Buddha Brahmin


87
Aquele que renuncia...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no bosque de Bambu sobre um brahmin hábil em prognósticos a partir de peças de roupas. Tradição diz que em Rājagaha morava um brahmin supersticioso e que guardava falsas visões, não acreditando na Três Gemas. Este brahmin era muito rico e com posses abundantes; e uma camundonga roeu um traje das suas roupas, que estava guardado num baú. Um dia após banhar-se, ele pediu este traje, e então foi comunicado do dano que a camundonga fizera.

 “Se estas roupas ficarem aqui paradas em casa,” pensou ele consigo mesmo, “elas trarão má sorte ; uma coisa com tal mau agouro é certa de trazer maldição. Está fora de questão dá-la a qualquer dos meus filhos ou empregados ; pois quem quer que a vista trará azar ao redor. Devo jogá-la fora em um cemitério ; mas como? Não posso dá-la aos empregados ; pois eles podem cobiçá-la e guardá-la, o quê seria a ruína da minha casa. Meu filho deve levá-la.”

 Assim ele chamou seu filho e contando a ele toda a história, pediu que levasse pendurado por um pau, sem tocar as roupas com as mãos e as jogasse fora no cemitério. O filho depois devia se lavar todo e voltar. Bem naquela manhã, àurora, o Mestre olhava ao redor para ver que pessoa podia ser levada à verdade, e tornou-se cônscio que aquele pai e filho estavam predestinados a atingirem a salvação. Dirigiu-se então como um caçador em seu caminho para a caça, para o cemitério, e sentou-se na entrada, emitindo raios das seis cores que marcam um Buddhha. Logo chega ao lugar o jovem brahmin, cuidadosamente carregando as roupas como seu pai exigiu dele, na ponta de uma vara de madeira,- justo como se carregasse um ninho de cobra.

O quê estais fazendo, jovem brahmin?” perguntou o Mestre. Meu bom Gautama,” foi a resposta, “este traje de roupas, tendo sido roído por camundongas, é como má sorte personificada, e tão mortal quanto se estivesse embebido em veneno; daí, meu pai, temendo que algum empregado cobiçasse e retivesse as roupas, me enviou aqui com elas. Prometi que as jogaria fora e me lavaria depois; esta incumbência que me trouxe aqui.”

 “Jogue a roupa fora então,” disse o Mestre; e o jovem brahmin fez isto. “Elas vão me servir certinho,” disse o Mestre, enquanto pegava as roupas carregadas de fado diante dos olhos mesmos do jovem brahmin, desconsiderando os avisos deste último e as súplicas repetidas para não fazê-lo; e foi em direção ao bosque de Bambu.

O jovem brahmin corre a toda velocidade para casa para contar ao pai como o Sábio Gautama declarou que as roupas cabiam nele certinho, e persistiu, a despeito dos avisos em contrário, pegando e levando as roupas com ele para o bosque de Bambu. “Aquelas roupas,” pensou o brahmin consigo mesmo, “estão enfeitiçadas e amaldiçoadas. Mesmo o sábio Gautama não pode vesti-las sem que destruição caia sobre ele; e isto me trará má reputação. Darei ao Sábio abundância de outras roupas e farei com que ele jogue a veste fora.” Então com um largo número de vestes partiu em companhia de seu filho para o bosque de Bambu.

 Quando ele chegou no Mestre permaneceu respeitosamente em um dos lados e assim falou, - “É verdade, como escutei, que tu, meu bom Gautama, pegaste o traje de roupas no cemitério ?” “É verdade, brahmin.” “Meu bom Gautama, aquela roupa está amaldiçoada ; se fizeres uso dela, elas te destruirão. Se precisas de roupas, toma estas e jogue aquelas fora.”

 “Brahmin,” respondeu o Mestre, “em profissão aberta renunciei ao mundo, e estou contente com os trapos que descansam nos acostamentos de estradas ou em banheiros públicos, ou jogados fora no lixão ou em cemitérios. Enquanto você guarda superstições em dias idos como no presente tempo também.” Assim falando, com o pedido do brahmin, ele contou esta história do passado.

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Certa vez reinava na cidade de Rājagaha, no reino de Magadha, um reto Rei de Magadha. Naqueles dias o Bodhisatva veio à vida novamente como um brahmin do Nor-Oeste. 

Crescendo ele renuncia ao mundo pela vida de eremita, ganha os Conhecimentos e as Consecuções e vai morar nos Himālaias. Naquela ocasião, retornando dos Himālaias, e tomando residência no jardim do Rei, ele foi no segundo dia para a cidade em coleta de ofertas. Vendo-o, o Rei o chama para o palácio e lá provido de assento e comida, - exige dele a promessa de que vai morar no jardim. Então o Bodhisatva usava receber comida no palácio e morar no jardim.

Bem naqueles dias morava naquela cidade um brahmin conhecido como Áugure de roupas. E ele tinha em um baú um traje de roupas que fora roído por camundongas, e tudo acontece como na história anterior. E quando o filho estava no seu caminho para o cemitério o Bodhisatva chega lá primeiro e toma assento no portão; e, pegando a roupa que o jovem brahmin jogou fora, ele retorna para seu jardim. Quando o filho conta isto para o velho brahmin, este último exclama, “Será a morte do asceta do Rei ” ; e suplicou ao Bodhisatva que jogasse aquele traje fora, para que não morresse. Mas o asceta respondeu, “Bons o suficiente para nós são os trapos atirados nos cemitérios. Não cremos em superstições sobre sorte, que não são aprovadas por Buddhas, Pacceka Buddhas, ou Bodhisatvas ; e portanto nenhuma pessoa sábia deve ser crente em sorte.” Escutando a verdade assim exposta, o brahmin abandona seus erros e refugia-se no Bodhisatva. E o Bodhisatva, preservando seu Insight inquebrável, ganhou re-nascer depois no Reino de Brahma.

Tendo contado esta história, o Mestre, como Buddha, ensinou a Verdade ao brahmin nesta estrofe:-

Aquele que renuncia augúrios, sonhos e sinais,
Esta pessoa, dos erros da superstição, livre
Triunfará sobre as Depravações amontoadas
E sobre os Apegos até o fim dos tempos.

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Assim o Mestre então pregou sua doutrina ao brahmin na forma desta estrofe, e continuou pregando as Quatro Verdades, no final das quais aquele brahmin com seu filho, atingiu o Primeiro Caminho. O Mestre identificou o Jātaka dizendo, “O pai e o filho de ho-je foram o pai e o filho daqueles dias, e eu mesmo o asceta.”