quinta-feira, 17 de abril de 2008

92 Ananda e a joia


92
Na guerra as pessoas anseiam...etc”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre o venerável Ānanda.

Certa vez as esposas do Rei de Kosala pensaram consigo mesmas, assim, “Muito raro é a vinda de um Buddha; e muito raro é nascer na forma humana com todas as faculdades perfeitas. Sim, apesar de presenciarmos uma forma humana em uma vida de Buddha, não podemos ir à vontade ao Mosteiro escutar a verdade de seus próprios lábios, nem prestar obediência, ou fazer ofertas a ele. Vivemos aqui como numa caixa. Peçamos ao Rei que envie um Irmão adequado para cá para ensinar-nos a verdade. Aprendamos o quê pudermos dele, e sejamos caridosas e façamos obras boas, até o fim, para que lucremos em termos nascidos nesta feliz conjuntura.” Então foram todas juntas até o Rei e contaram a ele o quê tinham em mente; e o Rei deu seu consentimento.

Bem, aconteceu um dia do Rei ter intenção de gozar do jardim real e ter dado ordens para que varressem o chão posto que iria. Quando o jardineiro estava trabalhando, viu o Mestre sentado ao pé de uma árvore. Então ele foi até o Rei e disse, “O jardim está pronto, senhor; mas o Abençoado está sentado lá ao pé de uma árvore.” “Muito bom,” disse o Rei, “iremos e escutaremos o Mestre.” Montando em sua carruagem de estado, ele foi até o Mestre no jardim.

Bem, havia sentado aos pés do Mestre, escutando seus ensinamentos, um irmão-leigo chamado Chattapāni, que entrara no Terceiro Caminho. Vendo este irmão-leigo, o rei hesitou; mas, refletindo que devia ser uma pessoa virtuosa, ou não estaria sentada escutando a instrução do Mestre, aproximou-se e com uma reverência sentou-se também ao lado do Mestre. Sem reverência pelo supremo Buddha, o irmão leigo nem se levantou em honra ao Rei nem saudou sua majestade; e isto fez o Rei ficar irado. Notando o desprazer do Rei, o Mestre prosseguiu exaltando os méritos daquele irmão-leigo, dizendo, “Senhor, este irmão-leigo é mestre em toda a tradição; ele sabe de cor(ação) as escrituras que foram transmitidas; e ele libertou-se dos laços da paixão.” “Certamente,” pensou o Rei, “aquele a quem o Mestre louva não deve ser pessoa comum.” E disse a ele, “Diga-me, irmão-leigo, se precisares de qualquer coisa.” “Obrigado,” disse o sujeito. Depois o Rei escutou o ensinamento do Mestre e ao final levantou-se e cerimoniosamente saiu.

Outro dia, encontrando este mesmo irmão-leigo indo tomar café da manhã em Jetavana, guarda-sol (chuva) à mão, o Rei o chamou à sua presença e disse, “Escutei, irmão-leigo, que és uma pessoa de muito estudo. Bem, minhas esposas estão ansiosas em escutar e aprender a verdade; eu ficaria contente se você ensinasse elas.” “Não é conveniente, senhor, que um leigo exponha ou ensine a verdade no harém do Rei ; isto é prerrogativa dos Irmãos.”

Reconhecendo a força desta observação, o Rei, após dispensar o leigo, reuniu suas esposas e anunciou sua intenção de pedir ao Mestre que mande um dos Irmãos como instrutor na doutrina. Qual dos oitenta discípulos chefes vocês querem ? Depois de conversarem reunidas, as senhoras de comum acordo escolheram Ānanda ( n. do tr.: Ānanda sustentava ‘visões avançadas na questão da mulher.’ Foi ele que persuadiu o relutante Buddha aceitar mulheres na Ordem, como registrado no Vinaya (S.B.E. XX, 320 et seqq. [ S.B.E. significa ‘Sacred Books of the East’ coleção de cinqüenta volumes de textos sacros orientais traduzidos para o inglês editada no final do século XIX em Oxford; entre os tradutores Samuel Beal, Max Muller, Rhys Davids, Hermann Oldenberg, na Inglaterra de então. A edição logo se esgotou mas o Sr. Barnasidass de Delhi reimprimiu tudo de novo em 1965, 1969, 1975, etc, lá na Índia desta vez. ]) o Ancião, denominado Tesoureiro da Fé. Então o Rei foi até o Mestre e com uma saudação cortês sentou do lado dele, após o quê prosseguiu colocando o desejo de suas esposas, e sua esperança mesma, que Ānanda pudesse ser o professor delas. O Mestre tendo consentido em enviar Ānanda às esposas do Rei, elas então começaram a ser ensinadas regularmente pelo Ancião e a aprender com ele.

Um dia a joia de fora do turbante do Rei se perdeu. Quando o rei escutou a perda enviou seus ministros e mandou-os prenderem todos que tinham acesso aos recintos e achar a joia. Então os Ministros procuraram em todos, mulheres e todas as pessoas, pela joia perdida, aborrecendo todo mundo, mas nenhum traço da joia pode ser encontrado.

 Naquele dia Ānanda veio ao palácio, só para encontrar as esposas do Rei desanimadas, apesar de estarem gostando dele ensinar a elas. “Por quê vocês estão assim ho-je ?” perguntou o Ancião. “Oh, senhor,” elas disseram, “o rei perdeu a joia de fora do turbante; e com ordens dele os ministros estão aporrinhando todo mundo, mulheres e todos, azucrinando a vida, para encontrar a joia. Não sei dizer o quê acontecerá conosco; e por isto estamos tão tristes.” “Não se preocupem mais com isto,” disse o Ancião alegremente, enquanto saía para encontrar o Rei. Tomando o assento determinado para ele, o Ancião perguntou se era verdade que sua majestade perdera sua joia. “É verdade, senhor,” disse o Rei. “E ela não pode ser achada?” “Já atazanei a vida de todos nos palácios e mesmo assim não pude achá-la.” “Há um jeito, senhor, de descobri-la, sem aborrecer as pessoas.” “E que jeito é este, senhor?” “Dando um punhadinho, senhor.” “Dando punhadinho? Que pode ser isto, prego?” “Reúna todas as pessoas, senhor, de que suspeitas, e privadamente dê a cada uma, separadamente, um punhado de palha ou um pouco de argila, dando e dizendo, ‘Tome isto e ponha em tal e tal lugar a-manhã àurora.’ A pessoa que pegou a joia a colocará na palha ou na argila, e assim a trará de volta. Se ela for trazida de volta no primeiro dia, bem e bom. Se não, a mesma coisa deve ser feita um segundo e um terceiro dia. Assim, um grande número de pessoas deixarão de ser apoquentadas, e terás sua joia de volta.” Com estas palavras o Ancião partiu.

Seguindo o conselho acima, o Rei fez com que palha e argila fossem dadas por três dias seguidos; mas mesmo assim a joia não foi recuperada. No terceiro dia o Ancião veio de novo, e perguntou se a joia tinha sido trazida de volta. “Não, senhor,” disse o Rei. “Então, senhor, deves colocar um grande vaso d’água num canto afastado de seu jardim, e deves encher este vaso de água e colocar uma cortina na frente dele. Então dê ordens para que todos que frequentam os recintos, mulheres e homens igualmente, retirem suas vestes exteriores e lavem as mãos atrás da cortina e voltem.” Com este conselho o Ancião partiu. E o Rei fez como ele ordenou.

Pensou o ladrão, “Ānanda tomou em suas próprias mãos o problema; e, se ele não encontrar a joia, não deixará as coisas pararem aqui. Chegou verdadeiramente o momento de devolver a joia sem mais barulho.” Assim ele escondeu a joia em sua pessoa, e indo para trás da cortina, jogou-a na água antes de sair fora. Quando todos já tinham ido, o vaso foi esvaziado, e a joia encontrada. “Deve-se tudo ao Ancião,” exclamou o Rei em sua alegria, “que eu tenha recuperado minha joia, e sem atrapalhar a vida de uma hoste de pessoas.” E todas as pessoas dos recintos ficaram igualmente gratas a Ānanda por ter salvado-as do problema. A história de como os poderes maravilhosos de Ānanda recuperaram a joia, espalhou-se por toda a cidade, até alcançar a Irmandade. Disseram os Irmãos, “O grande conhecimento, estudo e inteligência do Ancião Ānanda foi o meio ao mesmo tempo de recuperação da joia perdida e de salvamento de muitas pessoas serem atrapalhadas em suas vidas.” E enquanto sentavam juntos no Salão da Verdade, cantando os louvores de Ānanda, o Mestre entrou e perguntou o tema da conversa. Tendo escutado, ele disse, “Irmãos, esta não é a primeira vez que o quê foi roubado é encontrado, nem é Ānanda o único que fez tal descoberta. Em dias idos o sábio e bom também descobriu o quê tinha sido roubado, e também salvou uma hoste de pessoas de problemas, mostrando que a propriedade perdida havia caído em mãos de animais.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva, tendo completado sua educação, tornou-se um dos ministros do Rei. Um dia o Rei com um largo séquito foi para o jardim, e, depois de andar pelas florestas, teve desejo de divertir-se na água. Assim foi para o tanque real e mandou chamar seu harém. As mulheres do harém, tirando as jóias da cabeça e dos pescoços e assim por diante, colocaram-nas de lado junto com suas vestes de cima em caixas sob os cuidados de empregadas mulheres e entraram na água. Bem, quando a rainha tirava suas jóias e ornamentos, e os deixava com sua veste de cima na caixa, era observada por uma macaca, escondida nos galhos de uma árvore perto. Concebendo desejo de vestir o colar de pérolas da rainha, esta macaca vigiava quando a empregada encarregada estaria fora de guarda. No princípio a garota manteve vigilância em tudo ao redor guardando as jóias; mas com o tempo passando, ela começou a cabecear, cochilar. Logo que a macaca viu isto, rápida como o vento ela pulou para baixo, e rápida como o vento estava acima na árvore novamente, com as pérolas ao redor de seu próprio pescoço. Então, temendo que as outras macacas vissem, ela escondeu o colar de pérolas em um buraco na árvore e sentou guardando seu espólio séria como se nada houvesse acontecido. Logo a empregada acorda, e, aterrorizada ao descobrir que as jóias se foram, não encontrou nada para fazer a não ser gritar, “Um homem levou o colar de pérolas da rainha.” Vieram os guardas de todos os lados, e escutando esta história contaram ao Rei. “Peguem o ladrão,” disse sua majestade; e saíram os guardas buscando no alto e embaixo pelo ladrão no jardim. Escutando o barulho, um rústico pobre supersticioso saiu correndo assustado. “Lá vai ele,” gritaram os guardas, olhando o que corria; e o seguiram até pegá-lo e batendo nele perguntavam o que queria para roubar jóias tão preciosas.

Ele pensou, “Se eu negar a culpa, vou morrer apanhando destes cruéis. É melhor dizer que peguei.” Então ele confessou o roubo e foi levado como prisioneiro até o Rei. “Você pegou aquela joia preciosa ?” perguntou o Rei. “Sim, sua majestade.” “Onde elas estão agora ?” “Por favor, sua majestade, sou pobre; nunca tive nada na vida, nem mesmo uma cama ou uma cadeira, ou qualquer coisa de valor,- muito menos uma joia. Foi o Tesoureiro que me fez pegar aquele colar precioso; e eu peguei e dei a ele. Ele sabe tudo sobre.”

Então o Rei mandou chamar o Tesoureiro, e perguntou se o rústico tinha passado o colar para ele. “Sim, senhor,” foi a resposta. “Onde está ele então ?” “Dei ao Capelão de sua majestade.” Então o Capelão foi chamado, e interrogado do mesmo jeito. E ele disse que havia entregue ao Músico Chefe, que por sua vez disse que havia entregue a uma cortesã como presente. Mas ela, tendo sido trazida diante do Rei, negou completamente ter recebido ele.

Enquanto os cinco eram assim questionados, o Sol se pôs. “É tarde agora,” disse o Rei; “continuaremos isto a-manhã.” Então entregou os cinco a seus ministros e voltou para a cidade. Aqui o Bodhisatva ficou pensativo. “Esta joia,” ele pensou, “foi perdida dentro do jardim, enquanto o rústico estava fora. Há uma forte guarda nos portões e seria impossível para alguém dentro sair com o colar. Não vejo como alguém, estivesse dentro ou fora, pudesse arranjar isto. A verdade é que este sujeito pobre e infeliz deve ter dito que deu ao Tesoureiro meramente para salvar sua pele; e o Tesoureiro deve ter dito que deu ao Capelão, na esperança de se safar disto misturando o Capelão no assunto. Depois, o Capelão disse que deu ao Chefe dos Músicos porque pensou que este último faria o tempo passar mais agradavelmente na prisão; enquanto o Chefe Músico objetivou implicar a Cortesã, simplesmente para consolar-se com a companhia dela durante a prisão. Nenhum dos cinco tem nada a ver com o roubo. Por outro lado, o jardim está cheio de macacos, e o colar deve ter ido para as mãos de alguma macaca.”

Quando ele chegou a esta conclusão, o Bodhisatva foi até o Rei com o pedido que os suspeitos fossem entregues aos cuidados dele e que permitisse que examinasse pessoalmente a matéria. “De todos os modos, meu sábio amigo,” disse o Rei; “pode examinar.”

Então o Bodhisatva chamou seus empregados e contou a eles onde manter os cinco prisioneiros, dizendo, “Mantenha-os em estrita vigilância; escutem tudo que eles disserem, e me relatem tudo depois.” E seus empregados fizeram como ele ordenou. Quando os prisioneiros estavam sentados juntos, o Tesoureiro disse ao rústico, “Diga-me, infeliz, onde que nós já nos encontramos antes; diga-me quando me entregaste o colar.” “Venerável senhor,” disse o outro, “nunca foi meu nada tão valioso quanto um escabelo ou um estrado de cama sem solidez. Pensei que com sua ajuda sairia desta enrascada, e por isto disse o quê disse. Não fique irado comigo, meu senhor.” Disse o Capelão por sua vez ao Tesoureiro, “Como então passaste para mim o quê este sujeito nunca entregou para ti ?” “Só disse isto porque pensei que se você e eu, ambos altos oficiais de estado, estivéssemos juntos, logo esclareceríamos o problema.” “Brahmin,” dizia agora o Chefe Músico ao Capelão, “quando, prego, deste para mim a joia ?” “Só disse que dei,” respondeu o Capelão, “porque pensei que você ajudaria a passar o tempo mais agradavelmente.” Por último a Cortesã disse, “Ah, seu músico tratante, sabes que nunca me visitaste, nem eu a ti. Então quando me terias dado o colar que disseste ?” “Por quê irar-se, minha querida ?” disse o Músico, “nós cinco temos que manter casa junto por causa de um bocado; coloquemos então caras alegres e sejamos felizes juntos.”

Esta conversa sendo relatada ao Bodhisatva por seus agentes, deixou ele convencido que os cinco eram inocentes do roubo, e que uma macaca tomou o colar. “E devo encontrar um meio de fazê-la largá-lo,” disse ele para si mesmo. Então ele arranjou que se fizessem numerosos colares de contas. Depois fez com que se pegassem um número de macacos e soltassem novamente, com colares de contas nos pescoços, punhos e tornozelos. 

Enquanto isto a macaca culpada ficou sentada na árvore guardando seu tesouro. Então o Bodhisatva ordenou que pessoas observassem cuidadosamente cada macaco no jardim, até que vissem um que vestisse o colar de pérolas perdido, e então a assustasse para que largasse-o.

Adornados em novo esplendor, os macacos pavonearam-se até chegar ao verdadeiro ladrão, diante da qual ostentaram sua riqueza. O ciúme sobrepujou a prudência  e ela exclamou, “Estes são apenas contas !” e colocou seu próprio colar de pérolas preciosas. Isto foi logo visto pelos vigias, que a fizeram largar o colar, que eles pegaram e trouxeram ao Bodhisatva.

 Ele levou ao Rei, dizendo, “Aqui, senhor, está o colar. Os cinco presos são inocentes ; foi uma macaca no jardim que pegou ele.” “Como você descobriu ?” perguntou o Rei; “e como arranjou para pegar de volta ?” Então o Bodhisatva contou a história toda, e o Rei agradeceu ao Bodhisatva, dizendo, “Você é a pessoa certa no lugar certo.” E falou esta estrofe em louvor ao Bodhisatva:-

Na guerra as pessoas anseiam por um herói poderoso,
Na assembléia, sobriedade sábia,
Camaradas são premiados com alegria,
Mas em questões difíceis é necessário juízo.

Depois e além destas palavras de louvor e gratidão, o Rei deu tesouros ao Bodhisatva como uma nuvem de tempestade jogando chuva dos céus. Após seguir os conselhos do Bodhisatva através de uma longa vida em caridade e obras boas, o rei passou sendo tratado depois de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre, após exortar os méritos do Ancião, identificou o Jātaka dizendo, “Ānanda era o Rei daqueles dias e eu mesmo seu sábio conselheiro.”





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