segunda-feira, 7 de abril de 2008

86 Buddha Capelão


86
Nada pode se comparar...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um brahmin que colocou em teste sua reputação de bom. Este Irmão, que era mantido pelo Rei de Kosala, buscou os Três Refúgios; ele guardava os Cinco Mandamentos, e versara-se nos Três Vedas. “Este é um bom homem,” pensou o Rei, e mostrou grande reverência. Mas aquele Irmão pensou consigo mesmo, “O Rei mostra maior reverência por mim que pelos outros brahmins e manifestou esta consideração fazendo-me seu diretor espiritual. Mas é, este favor, por causa de minha bondade ou devido a nascimento, linhagem, família, país e realizações? Devo esclarecer, sem demora, isto. “ Conformemente um dia quando deixava o palácio, ele tomou sem permissão uma moeda diante da conta do tesoureiro, e seguiu seu caminho. Tal era a veneração do tesoureiro pelo brahmin que permaneceu sentado parado e não disse palavra. Dia seguinte o brahmin pegou duas moedas; e ainda o oficial nada reclamou. No terceiro dia o brahmin encheu a mão de moedas. “Este é o terceiro dia,” gritou o tesoureiro, “que roubas Sua Majestade;” e ainda gritou três vezes, - “Peguei o ladrão que rouba o tesouro.” Juntando de todo lado a multidão continuou falando alto, “Ah, faz tempo que posas como modelo de bondade.” E dando nele dois ou três golpes levou-o para diante do Rei. Com grande tristeza o Rei disse-lhe, “O quê o levou, brahmin, a fazer uma coisa tão má ?” E deu ordens dizendo, “Fora com ele, para o castigo.” “Não sou ladrão, senhor,” disse o brahmin. “Então por quê tirou dinheiro do tesouro ?” “Porque demonstravas muita reverência, senhor, e porque decidi descobrir se esta reverência era prestada pelo nascimento, ou semelhantes ou apenas pela bondade. Este foi meu motivo, e agora sei certo ( já que ordenas que eu saia e seja punido ) que era minha bondade e não meu nascimento e outras vantagens, que me valeu o favor de sua majestade. Bondade sei ser o principal e supremo bem ; sei também que a bondade nunca poderei atingir nesta vida, enquanto permanecer leigo, vivendo no meio de pecados prazerosos. Portanto ho-je mesmo estou disposto a ir ao Mestre em Jetavana e renunciar o mundo pela Irmandade. Dê-me sua licença, senhor.” O Rei consentindo, o brahmin saiu para Jetavana. Seus amigos e parentes em conjunto tentaram dissuadi-lo do propósito, mas, verificando que de nada valiam os esforços, deixaram-no sozinho. Ele veio ao Mestre e pediu para ser admitido à Irmandade. Após admissão nas ordens menores e maiores, ele ganhou, por aplicação, insight espiritual e tornou-se um Arahat, sobre o quê ele aproximando-se do Mestre, disse, “Senhor, minha adesão à Ordem gerou o Supremo Fruto,” – com isto significando que ganhara Arahat(idade).

 Escutando isto, os Irmãos, reunidos no Salão da Verdade, falavam um com o outro sobre as virtudes do capelão do Rei que testou sua própria reputação de bom, e que, deixando o Rei, elevava-se agora a Arahat. Entrando no Salão, o Mestre perguntou o quê os Irmãos discutiam, e disseram a ele. “Não é sem precedente, Irmãos,” disse ele, “o ato deste brahmin de colocar em teste sua reputação de bom e pôr em prática sua salvação após renunciar ao mundo. O mesmo foi feito pelo sábio e bom em dias idos.” E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era seu capelão, - uma pessoa dada a caridade e outras obras boas, cuja mente estava na retidão, sempre mantendo inquebrável os Cinco Mandamentos. E o Rei o reverenciava acima dos outros brahmins; e tudo aconteceu como na história acima.

Mas, enquanto o Bodhisava estava sendo levado em laços amarrado para o Rei, chegou onde um grupo de encantadores de serpentes exibiam uma cobra, que seguravam pelo rabo e garganta, e a enrolavam em volta dos pescoços deles. Vendo isto, o Bodhisatva pediu aos homens que parassem com aquilo pois a cobra podia mordê-los e encurtar-lhes as vidas. “Brahmin,” responderam os encantadores de serpentes, “esta é uma cobra boa e comportada; ela não é má como você, que por sua maldade e falta de conduta está sendo arrastado para a prisão.”

Pensou o Bodhisatva consigo mesmo, “Mesmo cobras, se não mordem ou ferem, são chamadas ‘boas’. Muito mais este deve ser o caso com aqueles que vem a ser humanos ! Verdadeiramente deve ser justamente esta bondade a coisa mais excelente em todo o mundo, e nada pode superá-la.” Então ele foi trazido diante do Rei. “O quê é isto, meus amigos ?” disse o rei. “Aqui está o ladrão que tem roubado seu tesouro majestade.” “Fora com ele, para a execução.” “Senhor,” disse o brahmin, “não sou ladrão.” “Então por quê viestes a pegar dinheiro?” Aqui o Bodhisatva responde precisamente como acima, terminando como segue:- “Por isto então cheguei a conclusão que bondade é a mais alta e excelente de todas as coisas no mundo. Mas sendo assim, ainda, vendo que uma cobra, que não morde nem fere, deva ser chamada simplesmente de ‘boa’ e de nada mais, por esta razão também é bondade apenas  a coisa mais alta e mais excelente.” Então em louvor à bondade pronunciou esta estrofe:-

Nada pode se comparar à Bondade; todo o mundo
Não se iguala a ela. A cobra consternada,
Se os homens a chamam 'boa,' está salva da morte.

Após pronunciar a verdade ao Rei nesta estrofe, o Bodhisatva, abjurando de todas Luxúrias e renunciando ao mundo pela vida de eremita, seguiu para os Himālaias, onde atingiu os cinco Conhecimentos e as oito Consecuções, ganhando para si a certeza da esperança de re-nascer depois no Reino de Brahma.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Meus discípulos eram os seguidores do rei naqueles dias, e eu mesmo o capelão do Rei.”

(Cf. Jātakas // : 290, 330, 362. Cf. tb início da segunda parte da Santi Parva do Mahabhāratha onde vemos o discurso completo da grande mulher sábia Pingalā, que também entendera a 'grande renúncia', com quem este Bodhisatva se encontra no caminho para os Himālaias)



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