terça-feira, 1 de abril de 2008

83 Anatha-pindika e um amigo de infância


83
Um amigo é aquele que...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um amigo de Anātha-pindika. Tradição diz que os dois fizeram tortas de lama juntos, e foram para a mesma escola; mas, com o passar dos anos, o amigo, cujo nome era ‘Maldito,’ afundou em grande dor e não conseguia arranjar como viver de nenhum modo. Então veio até o rico homem, que foi gentil com ele, e o pagou para olhar por toda sua propriedade; e o amigo pobre empregou-se com Anātha-pindika e fez todos os seus negócios para ele. Depois que ele foi para a casa do homem rico era comum escutar – “Levante-se, Maldito,” ou “Sente-se, Maldito,” ou “Coma seu jantar, Maldito.”

Um dia os amigos e conhecidos do Tesoureiro o chamaram e disseram, “Senhor Tesoureiro, não deixe este tipo de coisa acontecer em sua casa. Dá para assustar um ogro escutar tais observações malfadadas como – ‘Levante-se, Maldito,’ ou ‘Sente-se, Maldito, ou ‘Jante, Maldito.’ O sujeito não é um igual socialmente; ele é um vilão miserável, atormentado pelo fado. Por quê ter alguma coisa a ver com ele?” “Nada disso,” respondeu Anātha-pindika; “um nome apenas serve para denotar alguém, e o sábio não mede a pessoa pelo seu nome; nem é próprio dar vazão a superstição por causa de meros sons. Nunca expulsarei, por causa de seu nome apenas, a amigo com quem fiz tortas de lama quando criança.” E rejeitou o conselho deles.

Um dia o grande homem partiu para visitar um vila de que era chefe, deixando o outro encarregado da casa. Escutando da partida dele certos ladrões decidiram invadir a casa; e armados até aos dentes, eles a cercaram durante a noite. Mas ‘Maldito’ suspeitava que assaltantes seriam esperados, e sentado os esperava. E quando soube que chegaram, começou a correr como se para levantar seu povo, mandando um tocar a concha, outro bater o tambor, até que tinha toda a casa cheia de som, como se levantasse um exército inteiro de empregados. Disseram os ladrões, “A casa não está tão vazia quanto nos disseram; o patrão deve estar em casa.” Jogando fora suas pedras, porretes e outras armas, fugiram temendo por suas vidas. Dia seguinte grande alarme foi dado com a visão de todas as armas descartadas ao redor da casa; e Maldito foi louvado até os céus com elogios tais como estes:- “Se a casa não fosse vigiada por alguém tão sábio quanto este homem, os ladrões teriam simplesmente entrado a bel prazer e saqueado a casa. O Tesoureiro deve este golpe de sorte a seu amigo corajoso.” No momento em que o mercador chegou de volta de sua vila, correram para contar a ele toda a história. “Ah,” ele disse, “este é o fiel guardião da minha casa a quem vocês queriam que eu expulsasse. Se eu tivesse escutado o conselho de vocês e tivesse expulsado ele, seria mendigo ho-je. Não é o nome mas o coração dentro que faz a pessoa.” Assim falando aumentou o salário dele. E pensando que aí tinha uma boa história para contar, foi até o Mestre e fez a ele um relato completo de tudo. “Esta não é a primeira vez, senhor,” disse o Mestre, “que um amigo chamado Maldito salva a riqueza de seu amigo dos ladrões; a mesma coisa aconteceu em dias idos.” Então, ao pedido de Anātha-pindika, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva era um Tesoureiro de grande renome; e ele tinha um amigo que se chamava Maldito, e segue como na história anterior. Quando da volta de seu zamindar, o Bodhisatva escutou o quê acontecera e disse a seus amigos, “Se eu tivesse escutado o conselho de vocês e me livrado de meu amigo fiel, ho-je seria mendigo.” E ele repetiu esta estrofe:-

Um amigo é aquele que daria sete passos
Para nos ajudar; doze atesta um verdadeiro camarada.
Uma quinzena ou um mês de lealdade testada
Faz parentes, tempo mais longo um outro si-mesmo.
- Como poderia então, a quem conheço todos estes anos
Meu amigo, ser prudente expulsar 'Maldito'

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Ānanda era o Maldito daqueles dias, e eu mesmo o Tesoureiro de Benares.”



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