sábado, 31 de maio de 2008

120 Buddha Capelão


120
Enquanto a palavra louca...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre a garota-brahmin Ciñcā, cuja história será contada no Jātaka 472 [ é a mulher que finge estar grávida de Gautama com uma pedra na barriga e diante de todos a pedra cai em cima do dedão do pé dela e jorra sangue, a terra abre-se e ela vai aos ínferos ]. Nesta ocasião o Mestre disse, “Irmãos, esta não é a primeira vez que Ciñcā me acusa falsamente. Ela fez o mesmo em dias idos.” Assim falando ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ) o Bodhisatva nasceu na família do capelão e com a morte de seu pai o sucedeu na capelania.

Bem, o rei prometeu agraciar sua rainha com qualquer dom que ela a ele pedisse, e ela disse,- “O dom que peço é um bem fácil ; de agora em diante você não deve olhar para nenhuma outra mulher com olhos amorosos.” No começo ele recusou, mas cansado com o importúnio incessante dela, foi obrigado a ceder no fim. E a partir daquele dia ele nunca mais olhou amorosamente para nenhuma das suas dezesseis mil garotas dançarinas.

Então levantou-se um distúrbio na fronteira do reino, e após duas ou três escaramuças com os ladrões, as tropas de lá enviaram carta ao rei dizendo que eram incapazes de dar conta da coisa. O rei então ficou ansioso para ir em pessoa e reuniu uma hoste poderosa. E ele disse a sua esposa, “Querida, vou para a fronteira, onde batalhas raivosas terminarão em vitória ou derrota. O campo de batalha não é lugar de mulher e deves ficar aqui atrás.”

Não posso ficar se você vai, meu senhor,” ela disse. Mas encontrando o rei firme na sua decisão ela fez o seguinte pedido em troca, - “Cada légua, me envie um mensageiro para perguntar como estou.” E o rei prometeu fazer isto. Conformemente, quando marchou para fora com sua hoste, deixando o Bodhisatva na cidade, o rei enviava mensageiros para trás no final de cada légua para deixar a rainha saber como ele estava, e para descobrir como ela passava. Cada homem quando chegava ela perguntava o quê o trazia de volta. E recebendo a resposta que era para saber como ela passava, a rainha chamava o mensageiro para ela e pecava com ele. Bem, o rei viajou trinta e duas léguas e enviou trinta e dois mensageiros, e a rainha pecou com todos eles. E quando ele já tinha pacificado a fronteira, para grande alegria dos habitantes, ele começou sua jornada de volta, despachando uma segunda série de trinta e dois mensageiros. E a rainha comportou-se com estes como com os anteriores.

 Estacionando seu exército vitorioso perto da cidade, o rei enviou uma carta ao Bodhisatva para preparar a cidade para sua entrada. Foram feitas as preparações na cidade e o Bodhisatva estava preparando o palácio para a chegada do rei, quando chegou nos aposentos da rainha. A visão da sua grande beleza mexeu com a rainha de modo que o chamou para satisfazer suas luxúrias. Mas o Bodhisatva pleiteou com ela, exortando a honra do rei, e protestando que ele encolhia-se a todo pecado e não faria o quê ela desejava. “Nenhum pensamento sobre o rei amedrontou os sessenta e quatro mensageiros,” ela disse; “e você pelo bem do rei teme fazer minha vontade ?”

Disse o Bodhisatva, “Pensassem estes mensageiros como eu, não agiriam assim. Quanto a mim que sei o quê é reto, não cometerei tal pecado.”

Nonsense, é o quê falas,” ela disse. “Se recusares, farei que cortem tua cabeça.”
Amém. Corte minha cabeça nesta e em cem mil existências ; e ainda assim não farei o quê queres.”

“’Tá certo ; vamos ver,” disse ameaçadora rainha. E retirando-se para seu quarto, arranhou-se toda, colocou óleo nos membros, vestiu-se com roupa velha e suja e fingiu estar doente. Então chamou seus escravos e e pediu que falassem ao rei, quando ele perguntasse sobre ela, dissessem que ela estava doente. Entrando no quarto com a cama real, o rei fez carinho na rainha e perguntou o quê a afligia. Ela ficou em silêncio ; mas quando o rei perguntou pela terceira vez , ela olhou para ele e disse, “Apesar de meu senhor o rei viver, ainda assim mulheres pobres como eu precisam de professor próprio.”

O quê você quer dizer?”

O capelão a quem deixaste cuidando da cidade veio aqui na pretensão de vigiar o palácio ; e porque não aceitei o desejo dele, me bateu até ficar satisfeito e foi embora.”

O rei então soltou fumaça de ira, como o saltar de sal e açúcar no fogo; e saiu correndo do quarto. Chamando os empregados, mandou-os amarrarem o capelão com as mãos às costas, como alguém condenado à morte, e cortarem a cabeça dele no lugar de execução. Assim correram e amarraram o Bodhisatva. E os tambores tocaram para anunciar a execução.

Pensou o Bodhisatva, “Sem dúvida aquela rainha má colocou o coração do rei já contra mim e agora preciso me salvar deste perigo.” E assim disse a seus captores, “Levem-me à presença do rei antes de me matarem.” “Por quê ?” eles disseram. “Porque como empregado do rei trabalhei muito nos negócios do rei e sei onde grandes tesouros estão escondidos os quais descobri. S’eu não for levado diante do rei, todos estes bens se perderão. Então levem-me à ele e assim cumpram seu dever.”

Conformemente, eles o levaram para diante do rei que perguntou por quê sua reverência não o impediu de tal maldade.

Senhor,” respondeu o Bodhisatva, “nasci brahmin, e nunca tirei a vida de um formigo ou de uma formiga. Nunca peguei o quê não fosse meu, mesmo uma folha de relva. Nunca olhei com olhos luxurientos para a esposa de outro homem. Nem mesmo de brincadeira falo falsamente, e nunca nem uma gota de bebida forte bebi. Sou inocente senhor ; mas aquela mulher má me pegou luxuriosamente pela mão e sendo recusada me ameaçou, e não se retirou para seu quarto antes de me contar seu proceder pecaminoso. Pois houveram sessenta e quatro mensageiros que vieram à ela com cartas suas. Chame estes homens e pergunte a cada um deles se não fez como a rainha mandou.” Então o rei chamou os sessenta e quatro homens e a rainha. E ela confessou-se culpada de pecar com os os homens. O rei então mandou cortar a cabeça dos sessenta e quatro.

Neste momento o Bodhisatva gritou, “Não senhor, os homens não são culpados ; pois foram constrangidos pela rainha. Portanto perdoe-os. E quanto à rainha:- não deve ser culpada, pois as paixões das mulheres são insaciáveis, e ela apenas agiu de acordo com sua natureza interior. Portanto perdoe-a também, Ó rei.”

Com esta súplica o rei teve misericórdia e assim o Bodhisatva salvou as vidas da rainha e dos sessenta e quatro homens e deu a cada um lugar para morar. O Bodhisatva foi ao rei e disse, “Senhor, as acusações infundadas loucas colocam o sábio em laços, sem merecer, mas as palavras do sábio libertam, soltam, da loucura. Portanto loucura erradamente amarra, e sabedoria liberta de laços.” Dizendo isso, pronunciou esta estrofe:-

Enquanto a palavra louca amarra injustamente,
A palavra sábia livra o mesmo laço .

Quando ensinou ao rei a Verdade nestes versos, exclamou, “Todo este problema surgiu por eu ter vida leiga. Devo mudar meu modo de vida e anseio por sua permissão, senhor, para largar o mundo [ contemptus mundi ].” E com o consentimento do rei ele desistiu do mundo e largou suas relações com choro e suas grandes riquezas para tornar-se recluso. Sua morada era os Himālaias e lá, ganhou os Altos Conhecimentos e Consecuções e tornou-se fadado a renascer no Reino de Brahma.

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Sua lição terminada o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Ciñcā era a rainha má daqueles dias, Ānanda o rei, e eu seu capelão.”



sexta-feira, 30 de maio de 2008

119 Buddha Brahmin


119
Os pais não ensinaram...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre um Irmão que era barulhento em horas erradas. É dito que veio de boa família de Sāvatthi e que desistiu do mundo pela Verdade mas por ter negligenciado seus deveres e desprezado instrução. Não levava as horas em conta para os ofícios seja no ministério seja no recitar dos textos. Por toda as três vigílias da noite assim como nas horas de despertar não ficava quieto; - de modo que os outros Irmãos não conseguiam dormir nada. Conformemente, os Irmãos no Salão da Verdade censuravam sua conduta. Entrando no Salão e escutando o que discutiam depois de questionar o quê, o Mestre disse, “Irmãos, como agora também em tempos passados, este Irmão foi barulhento fora da hora, e por sua conduta destemperada foi estrangulado.” Assim dizendo ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família brahmin do norte e quando cresceu aprendeu todos os conhecimentos e tornou-se professor de larga fama com quinhentos jovens brahmins estudando com ele. Bem estes jovens brahmins tinham um galo que cantava em tempo e os levantavam para seus estudos. E este galo morreu. Então procuraram por um outro e um destes jovens que catava lenha no bosque do cemitério viu lá um galo e o trouxe para casa e o manteve numa gaiola. Mas, como este segundo galo foi alimentado no cemitério não tinha conhecimento das estações e das horas e costumava cantar ao acaso, - à meia noite como aurora. Levantados pelo cantar à meia noite os jovens brahmins seguiram a estudar ; aurora estavam cansados e não podiam por causa do sono manter atenção na matéria ; e quando ele saiu a cantar em dia aberto não tiveram chance de quietos repetirem a lição. E como foi o cantar do galo que ambos, à meia noite e de dia, que paralisou o trabalho , eles pegaram o pássaro e torceram o pescoço dele.

 Eles então falaram ao professor que mataram o galo que cantava dentro e fora da hora.

Disse o professor para edificá-los, “Foi seu mal crescimento que trouxe o fim para este galo.” Assim falando ele pronunciou esta estrofe:-

Os pais não ensinaram, nem professores, a este pássaro :
Ambos, dentro e fora da hora ele escutava.

Tal foi o ensino do Bodhisatva no assunto; e quando já vivera seu tempo fadado na terra, ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada o Mestre identificou o Jātaka como segue, - “Este Irmão era o galo daqueles dias que não sabia quando não cantar ; meus discípulos eram os jovens brahmins; e eu o professor deles.”



quinta-feira, 29 de maio de 2008

118 Buddha Codorna



118
A pessoa sem pensamentos...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre o filho de um Tesoureiro estimado. Este Tesoureiro estimado é dito ter sido um homem muito rico de Sāvatthi, e sua esposa tornou-se mãe de um ser correto do reino dos anjos de Brahma, que cresceu amável como Brahmā. Bem, um dia quando o festival Kattikā foi proclamado em Sāvatthi, toda a cidade entregou-se às festas. Seus companheiros, filhos de outros homens ricos, tinham todos esposas, mas o filho do Tesoureiro tinha vivido tanto no Reino de Brahma que havia se purgado da paixão. Seus companheiros planejaram conseguir para ele também uma paixão e fizeram que ficasse na festa com eles. Então indo até ele disseram, “Querido amigo, estamos na grande festa de Kattikā. Podemos arranjar uma esposa apaixonada para você também , e festejarmos juntos ?” Por fim seus amigos conseguiram uma garota charmosa e a enfeitaram e a deixaram na casa dele, indicando o caminho para o quarto dele. Mas quando ela entrou no quarto não conseguiu nem um olhar nem uma palavra do jovem mercador. Provocada com esta desfeita a sua beleza, ela expôs toda sua graça e carinho feminino, sorrindo enquanto mostrava seus belos dentes. A visão dos dentes dela, sugeriu ossos, e sua mente encheu-se da ideia de ossos até que todo o corpo da garota parecia à ele nada além de uma cadeia de ossos. Então ele deu a ela dinheiro e a mandou ir embora. Mas quando ela saía da casa um nobre a viu na rua e deu a ela um presente para acompanhá-lo até a casa dele.

No final de sete dias o festival estava terminado e a mãe da garota, vendo que sua filha não voltava, dirigiu-se aos companheiros do jovem mercador e perguntou onde ela estava, e eles então perguntaram ao jovem mercador. E ele disse que tinha pago ela e a enviado agasalhada logo que a viu.

A mãe da menina insistiu então em ter sua filha de volta, e trouxe o jovem para diante do rei, que passou a examinar o assunto. Em resposta às questões do rei, o jovem admitiu que a garota tinha passado por ele mas que não sabia onde ela estava nem como apresentá-la. O rei então disse, “Se ele não apresentar a garota, mate-o.” O jovem então foi aprisionado com as mãos amarradas às costas para ser executado, e toda a cidade se levantou com o alvoroço da notícia. Com mãos postas aos seios o povo seguia-o com lamentos, dizendo, “O quê significa isto, senhor? Sofres injustamente.”

Pensou o jovem então, “Todo este sofrimento acontece comigo porque vivo vida laica. Se puder escapar deste perigo, desistirei do mundo e me juntarei à Irmandade do grande Gautama, O Todo-Iluminado.”

Bem, a garota escutou o alvoroço e perguntou o quê era aquilo. Entendendo, correu rapidamente para fora, gritando, “Afastem-se senhores! Deixem-me passar! Que os homens do rei me vejam.” Logo que ela assim mostrou-se, foi devolvida à mãe pelos homens do rei, que libertaram o jovem e seguiram seu caminho.

Cercado por seus amigos, o filho do Tesoureiro desceu ao rio e se banhou. Voltando para casa, tomou café e comunicou aos pais a decisão de largar o mundo. Pegando pano para seu hábito de asceta, e sendo seguido de grande multidão, buscou o Mestre e com devida saudação pediu para ser admitido à Irmandade. Primeiro como noviço, e depois como pleno Irmão, ele meditava na ideia de Laço até ganhar Insight e não muito depois ganhou Arahat(idade).

Bem, um dia no Salão da Verdade os Irmãos reunidos falavam da virtude dele, lembrando como na hora do perigo ele reconheceu a excelência da Verdade e sabiamente resolveu desistir do mundo pelo bem dela, ganhando o mais alto fruto que é a Arahat(idade). E enquanto conversavam, o Mestre entrou, e com a pergunta dele, foi comunicado qual era o tema da conversa. E aí ele declarou que, como o filho do grande Tesoureiro, sábio em tempos anteriores, lembrando-se na hora do perigo, escapou da morte. Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva numa mudança de existência nasceu Codorna. Bem, naqueles dias havia um apanhador de codorna que costumava apanhar vários destes pássaros na floresta e levá-los para casa para engordá-los. Quando estavam gordos, usava vendê-los ao povo e disso vivia. E um dia ele apanhou o Bodhisatva e o trouxe para casa com numerosas outras codornas. Pensou o Bodhisatva consigo mesmo, “Se eu comer e beber o quê ele me oferece, serei vendido ; enquanto se não comer, ficarei tão magro que as pessoas notarão e não vão me querer, resultando que me salvarei. Isto então é o quê devo fazer.” Assim ele jejuou e jejuou até ficar tão magro que não era nada além de pele e ossos e ninguém iria querê-lo por nenhum preço.

Tendo vendido todos os outros pássaros exceto o Bodhisatva, o apanhador de pássaros tirou o Bodhisatva da gaiola e o colocou na palma da mão para ver o que doença atingia o pássaro. Olhando quando o homem estava fora de guarda, o Bodhisatva abriu as asas e voou para a floresta. Vendo-o retornar, as outras codornas perguntaram o que acontecera com ele por todo aquele tempo e aonde ele esteve. Ele então contou a eles que havia sido pego por um caçador, e, sendo questionado em como escapou, respondeu, que foi com um artifício que pensara, qual seja, não comer da comida nem da bebida que o caçador dava. Assim falando, pronunciou esta estrofe:-

A pessoa sem pensamentos não colhe frutos. - Mas veja
O Pensar frutifica-se em mim, livre dos laços e da morte.

Desta maneira o Bodhisatva falou sobre o quê tinha feito.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Eu era a codorna que escapou da morte naqueles dias.”





quarta-feira, 28 de maio de 2008

117 Buddha e Kokalika


117
Como morreu a perdiz...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre Kokālika, cuja história se encontra no Jātaka 481 [ ele era cismático com Devadatra ].
Disse o Mestre, “Como agora, Irmãos, do mesmo jeito em dias idos, a língua de Kokālika foi a destruição dele.”

Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ) o Bodhisatva nasceu brahmin do país do Norte. Quando cresceu, recebeu completa educação em Takkasilā ( Taxila ), e, renunciando Luxúrias, desistiu do mundo para se tornar eremita. Ele ganhou os Cinco Conhecimentos e as Oito Consecuções, e todos os reclusos dos Himālaias somando quinhentos reuniram-se e o seguiam como seu mestre.

Naqueles dias havia um asceta sofrendo de hepatite que cortava lenha com um machado. E um Irmão tagarela veio e sentou do lado dele, e resolveu orientar o trabalho mandando cortar aqui e ali até que o asceta com hepatite perdeu a paciência. E com raiva gritou, “Quem é você para me dizer como cortar a lenha ?” e levantando seu machado afiado derrubou o outro morto no chão com um único golpe. E o Bodhisatva enterrou o corpo.

Bem, num cupinzeiro próximo do eremitério morava uma perdiz que cedo e tarde estava sempre piando no topo. Reconhecendo a nota de uma perdiz, um desportista matou o pássaro e o levou com ele. Sentindo falta do piar do pássaro, o Bodhisatva perguntou aos eremitas por quê não escutavam mais a perdiz vizinha. Então contaram a ele o que acontecera, e ele relacionou os dois eventos em uma estrofe:-

Como morreu a perdiz por sua nota glamorosa
Assim tagarelar e falar levou o tolo a morrer.

Desenvolvendo em si os quatro Estados Perfeitos, o Bodhisatva então tornou-se destinado a renascer no Reino de Brahma.

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Disse o Mestre, “Irmãos, como agora, do mesmo jeito em dias idos a língua de Kokālika foi a causa de sua destruição.” E no final da sua lição ele identificou o Jātaka dizendo, “Kokālika era o asceta intrometido daqueles dias, meus seguidores o bando de eremitas, e eu mesmo seu mestre.”




terça-feira, 27 de maio de 2008

116 Buddha Acrobata


116
Demais...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Irmão desregrado cuja história será contada no Jātaka 427 [ Buddha Abutre: 161, 427 e 439, referência direta ao mito de Dédalo e Ícaro, em que este último desobedece o pai, ao voar pra muito longe : as leis de Minos ( qual o Manu hindu ou Numa romano ), legislador da Grécia, são um labirinto ].

O Mestre o censurou com estas palavras:- “Como agora, também em dias idos foste desregrado, Irmão, não escutando os conselhos do sábio e bom. Então por uma ‘zagaia tu morreste.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ) o Bodhisatva nasceu numa família de acrobatas. Quando cresceu era um sujeito muito inteligente e sábio. De outro acrobata aprendeu a dança da ‘zagaia e com seu mestre costumava viajar para demonstrar sua habilidade. Bem, este seu mestre conhecia a dança das quatro azagaias mas não a das cinco ; e um dia quando em exibição numa certa vila, ele, estando bêbado, fez com que levantassem cinco azagaias em uma fila e declarou que dançaria através delas.

Disse o Bodhisatva, “Você não pode lidar com todas as cinco azagaias, mestre. Tire uma. Se tentares com cinco, serás atravessado pela quinta e morrerás.”

Então não sabes o quê posso fazer quando tento,” disse o sujeito bêbado ; e sem prestar atenção ao conselho do Bodhisatva, ele dançou pelas quatro lanças, azagaias, apenas para impalar-se na quinta como a flor Bassia no seu caule. E lá ficou, gemendo. Disse o Bodhisatva, “Esta calamidade aconteceu por desprezares os conselhos do sábio e bom” ; e pronunciou esta estrofe:-

Demais – penosamente contra minha vontade – tentaste ;
Atravessando a quarta, na quinta morreste.

Assim falando, ele retirou o mestre da ponta da ‘zagaia e realizou devidamente os últimos serviços sobre seu corpo.

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Sua história contada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Este Irmão desregrado era o mestre daqueles dias, e eu o pupilo.”



segunda-feira, 26 de maio de 2008

115 Buddha Pássaro


115
A pássara da avidez denunciante...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre uma Irmã que avisava os outros. Pois nos é dito que ela veio de boa família de Sāvatthi mas a partir do dia que entrou na Ordem, perdeu o senso de dever e encheu-se de espírito glutão ; costumava coletar ofertas em quarteirões da cidade que outras Irmãs não-visitavam. E comida fina foi dada a ela. Mas sua glutonia a fez temer que outras Irmãs pudessem ir lá também e tomar dela parte da comida. Conjecturando artifícios para impedi-las de irem e manter tudo só para si, ela passou a avisar as outras Irmãs que aquele era um perigoso quarteirão, que enfrentava problemas com elefante feroz, cavalo feroz e cachorro feroz. E ela implorava para que lá não fossem em coleta de oferta. Conformemente nem uma única Irmã nem mesmo olhou naquela direção.

Bem um dia no seu caminhar por este distrito na coleta, quando entrava apressadamente numa casa, um carneiro feroz deu uma cabeçada nela com tal força que quebrou a perna dela. Correram as pessoas e arrumaram a perna e a trouxeram numa liteira para o convento das Irmãs. E todas as Irmãs zombaram dela dizendo que a perna quebrara por ter ido onde avisara para não ir.

Não muito tempo depois os Irmãos vieram a saber do que aconteceu ; e um dia no Salão da Verdade os Irmãos falavam de como esta irmã teve a perna quebrada por um carneiro feroz num quarteirão da cidade que avisara as outras Irmãs para não irem ; e elas condenaram a atitude dela. Entrando neste momento no Salão, o Mestre perguntou, e escutou, sobre que discutiam. “Como agora, Irmãos,” ele disse, “também em tempos passados ela avisou e não seguiu o aviso ; e então como agora machucou-se.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida como um pássaro, e crescendo tornou-se rei dos pássaros e veio para os Himālaias com milhares de pássaros o seguindo. Durante sua estada naquele lugar, uma certa pássara feroz costumava ir buscar comida numa estrada onde encontrava arroz, feijões, e outros grãos caídos dos carros que passavam. Planejando qual o melhor jeito de manter os outros afastados de lá, ela falava a eles assim:- “A estrada é cheia de perigos. Por ela passam elefantes e cavalos, carros puxados por bois ferozes, e coisas arriscadas semelhantes. E como é impossível voar no instante, não vão lá de jeito nenhum.” E devido a seu aviso os outros pássaros a batizaram como ‘A que avisa’.

Bem, um dia quando ela se alimentava na estrada, escutou o barulho de carruagem vindo rápido e virou a cabeça para olhá-la. “Ah, ainda falta uma longa distância,” ela pensou e continuou como antes. Veloz como o vento veio a carruagem e antes que ela pudesse se levantar, a roda a esmagou e continuou a girar no seu caminho. À reunião da tropa o rei notou ausência dela e ordenou ser feita busca. Por fim a encontraram partida ao meio na estrada e a notícia foi trazida ao rei. “Por não seguir seu próprio aviso dado aos outros pássaros ela foi dividida em duas,” ele disse, e falou esta estrofe:-

A pássara da avidez denunciante, da avidez foi presa;
As rodas do carro a esmagaram na estrada.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “A irmã que avisava era a pássara ‘A que avisa’ daqueles tempos, e eu o rei dos pássaros.”





domingo, 25 de maio de 2008

114 Buddha Peixe


114
Ambos da rede do pescador...”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre dois velhos Anciãos. Depois de passarem a estação das chuvas numa floresta no campo resolveram procurar o Mestre e juntaram provisões para jornada. Mas dia após dia adiavam a saída, até que escoou um mês. Eles então prepararam novo suprimento de provisões e procrastinaram mais um segundo mês e um terceiro. Quando a indolência e a preguiça deles já lhes fizera perder três meses, partiram e vieram a Jetavana. Largando de lado as tigelas e os mantos na sala comum, entraram à presença do Mestre. A Irmandade percebeu a demora no tempo desde a última vez que visitaram o Mestre e perguntaram a razão. Eles então contaram o que aconteceu e toda a Irmandade ficou sabendo da preguiça destes Irmãos indolentes.

Reunidos no Salão da Verdade a Irmandade falava deste assunto. E o Mestre entrou e escutou sobre o que discutiam. Ao serem questionados se eram realmente tão indolentes, aqueles Anciãos admitiram a falta. “Irmãos,” ele disse, “em tempos passados, não menos que agora, eles foram indolentes e relutantes em deixar seu domicílio.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), viviam no rio de Benares três peixes, chamados ‘Pensar demais’, ‘Pleno pensar’, e ‘Sem pensar’. E eles desceram a corrente do lugar selvagem para perto das moradas das pessoas. Aí ‘Pleno de pensar’ disse para os outros dois, “Esta vizinhança é arriscada e perigosa, aqui pescadores pegam peixe com redes, armadilhas e outros aparelhos. Vamos voltar para o lado selvagem do rio.” Mas eram tão preguiçosos os outros dois peixes, e tão gananciosos, que adiavam todo dia a partida até que inteiros três meses s’escaparam. Bem, pescadores jogaram suas redes no rio ; e ‘Pensar demais’ e ‘Sem pensar’ nadavam à frente em busca de comida quando loucos cegos entraram na rede. ‘Pleno pensar’ que estava atrás, viu a rede e o fado dos outros dois.

Devo salvar estes dois tolos preguiçosos da morte,” ele pensou. Então primeiro ele espreitou ao redor da rede e espalhou água à frente dela como um peixe que houvesse quebrado a rede a subir o rio ; e então depois voltando-se para trás, espalhou água ao redor das costas dela, como se um peixe houvesse quebrado a rede a descer o rio. Vendo isto, os pescadores pensaram que peixes romperam a rede e todos haviam escapado ; puxaram então um canto dela e os dois peixes escaparam da rede para água aberta de novo. Deste jeito deveram as vidas a ‘Pleno pensar’.

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Sua história contada, o Mestre, como Buddha, recitou esta estrofe:-

Ambos da rede do pescador foram tirados ;
A eles Pleno pensar salvou e libertou de novo.

Sua lição terminada, e as Quatro Verdades expostas ( no final das quais os Irmãos Anciãos ganharam fruição do Primeiro Caminho ), o Mestre identificou o Jātaka dizendo: “Estes dois Irmãos eram ‘Pensar demais’ e ‘Sem pensar’, e eu era ‘Pleno pensar’”




sábado, 24 de maio de 2008

113 Buddha Espírito d'Árvore


113
O chacal bêbado...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre Devadatra. Os Irmãos reuniram-se no Salão da Verdade e falavam de como Devadatra foi para Gayāsisa com quinhentos seguidores, aos quais levava ao erro declarando que a Verdade era manifesta nele “e não no asceta Gautama” ; e de como por suas mentiras causou cisma na Irmandade ; e de como guardava dois dias de jejum por semana. E enquanto sentavam lá falando da maldade de Devadatra, o Mestre entrou e escutou o tema da conversa. “Irmãos,” disse ele, “Devadatra foi um grande mentiroso no passado como é agora.” Assim falando, contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu Espírito d’Árvore num bosque do cemitério. Naqueles dias uma festa foi proclamada em Benares e o povo resolveu sacrificar aos ogros. Então espalharam peixe e carne pelos jardins e ruas e outros lugares, e colocaram potes de bebida forte. À meia noite um chacal entrou na cidade pelo esgoto, e se regalou de carne e bebida. Rastejando para uns arbustos dormiu até aurora do dia. Acordando e vendo que já estava na luz do dia, soube que não poderia fazer em segurança o trajeto de volta naquela hora. Então esperou quieto deitado na estrada onde não podia ser visto, até que por fim viu um brahmin solitário no seu caminho para lavar a boca no tanque. O chacal pensou consigo mesmo, “Brahmins são gananciosos. Devo então jogar com a cobiça dele para que me carregue para fora da cidade debaixo da roupa, do manto.” Então com voz humana, gritou “Brahmin.”

Quem me chama ?” disse o brahmin, virando-se. “Eu, brahminn.” “Para que ?” “Tenho duzentas moedas de ouro, brahmin ; e se você me esconder debaixo do seu manto na sua roupa de fora e então me tirar da cidade sem ninguém me ver , você fica com elas todas.”

Fechando com a oferta, o brahmin ganancioso escondeu o chacal e carregou a besta no pouco de caminho para fora da cidade. “Que lugar é este, brahmin ?” disse o chacal. “Ah, é tal e tal lugar,” disse o brahmin. “Vá mais um pouco adiante,” disse o chacal e manteve o pedido ao brahmin de ir sempre mais um pouco adiante, até que por fim alcançaram o parque-crematório. “Agora posso sair,” disse o chacal ; e o brahmin deixou-o ir. “Espalhe seu manto no chão, brahmin.” E o brahmin ganancioso assim o fez. “E agora cave esta árvore até as raízes,” disse ele, e enquanto o brahmin trabalhava ele andou por cima do manto e cagou e mijou em cinco lugares, - os quatro cantos e o meio. Isto feito, fugiu para a floresta.

Aí o Bodhisatva, ereto na forquilha d’árvore, pronunciou esta estrofe: -

O chacal bêbado, brahmim, cagou na tua crença!
Tu não encontrarás aqui cem conchas-moedas,
Muito menos o quê buscas, duzentas moedas de ouro.

E quando repetiu os versos, o Bodhisatva ainda disse ao brahmin, “Vá e lave seu manto e banhe-se, e siga seu caminho.” Assim falando ele sumiu da visão, e o brahmin fez como ordenado, partindo bastante mortificado de ter sido assim enganado.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Devadatra era o chacal daqueles dias, e eu o Espírito d’Árvore.”

[“conchas-moedas, cauri, do hindustani kauri, molusco gastrópode da família dos cipreídeos, gênero Cypraea L. As espécies C. Moneda L. e C. Annulus L. foram usadas no século passado como moedas, do Sudão à China. A concha tem fundo castanho com manchas brancas, sendo a parte voltada para baixo mais escura , às vezes azulada ; uma linha ondulada branco-azul percorre longitudinalmente a parte superior da concha ; o comprimento é de 0,07 a 0,10 m”. Aurélio B. de Holanda, 'Novo dicionário da língua portuguesa'. A presença aqui do cauri dá conta da sua antiguidade.]



quinta-feira, 22 de maio de 2008

112 Osadha & Amara III



112 
Osadha & Amara

( Aqui inserem-se os versos canônicos dos Jātakas 170, 192, 471 e suas questões, respectivamente a do camaleão, a da sorte boa e má e a do bode, estando contudo depois os versos canônicos do 112 : onde já se fala de Amara com as questões de Amarā : 364, 452,  500, 508, 515, 517, 518, 528 em cada um destes jatakas continua esta grande história )

Daquele dia a glória do Bodhisatva foi grande, e Rainha Udumbarā arranjou tudo. Quando ele estava com dezesseis ela pensou: “Meu jovem irmão cresceu, e grande é sua glória; devemos achar uma esposa para ele.” Isto ela disse ao rei e o rei gostou. “Muito bom,” disse, “fale com ele.” Ela falou e ele concordou e ela disse, “Então deixe-nos encontrar uma noiva para você, meu filho.” O Grande Ser pensou, “Nunca ficaria satisfeito se eles escolhessem para mim uma esposa ; encontrarei uma por mim mesmo.” E ele disse, “Madame, nada conte ao rei por alguns dias e eu irei procurar uma esposa que adequada ao meu gosto e então depois te falo.” “Faço isto, meu filho,” ela respondeu. Ele pediu licença à rainha e foi para sua casa e informou aos companheiros. Então deu jeito de arranjar uma roupa com alfaiate e sozinho saiu pelo portão norte para a Vila do Norte. Bem naquele lugar havia uma família de mercadores, antiga e decaída, e nesta família havia uma filha, a senhora Amarā, uma bela garota, sábia, e com todos os sinais de boa fortuna. Cedo naquela manhã, esta garota saiu para o lugar em que seu pai para levar à ele mingau de aveia que ela fez, e então aconteceu de irem pelo mesmo caminho. Quando o Grande Ser viu ela vindo, pensou, “Uma mulher com todos os sinais de sorte! Se for solteira, deve ser minha esposa. “ Ela também quando contemplou-o pensou, “Se pudesse viver na casa de tal homem, restauraria minha família.” O Grande Ser pensou, “Se ela é casada ou não, não sei : perguntarei a ela através de gestos de mão se for sábia entenderá.” Então ficando afastado ele fechou os punhos. Ela entendeu que ele perguntava se ela era casada, e abriu as mãos. Então ele subiu a ela e perguntou seu nome. Ela disse, “Meu nome é aquilo que nem é, nem foi, nem nunca será.” “Madame, nada há no mundo, imortal e seu nome deve ser Amarā, a Imortal.” “Isso mesmo, mestre.” “Para quem, madame, carregas este mingau ?” “Para o deus dos velhos tempos.” “Deuses dos velhos tempos são os pais de alguém (pubbadevatā nāma mātāpitaro), e sem dúvida você quer dizer seu pai.” “Assim deve ser, mestre.” “O quê faz seu pai ?” “Ele faz dois de um.” Bem o fazer dois de um é arar. “Ele ara, madame.” “Isso mesmo, mestre.” “E onde seu pai ara ?” “Onde aqueles que vão não voltam mais.” “O lugar da onde os que vão não voltam é o cemitério : ele ara então próximo a um cemitério.” “Isso mesmo, mestre.” “Você irá lá outra vez ho-je, madame ?” “Se vier não irei, se não vier irei.” “Seu pai, me parece, madame, ara ao lado do rio e se vier enchente você não irá, e se não vier irá.” Após esta troca de palavras, a senhora Amarā ofereceu um gole de mingau. O Grande Ser, pensando ser desfeita recusar, disse que queria sim. Ela então colocou embaixo o pote de mingau ; e o Grande Ser pensou, “Se ela oferecer sem primeiro lavar com água o pote e minhas mãos, a largarei e me vou.” Mas ela pegou água para lavar o pote e lhe ofereceu para lavar as mãos, colocando o pote vazio no chão não nas mãos dele, derramou mingau nele, enchendo o pote. Contudo, não havia muito arroz e o Grande Ser disse, “Por quê, madame, há tão pouco arroz aqui ?” “Não tivemos água, mestre.” “Você quer dizer que quando seu campo crescia, não tiveste água nele.” “Isso mesmo, mestre.” Assim ela guardou um pouco de mingau para seu pai e deu um pouco para o Bodhisat. Ele bebeu, e lavou a boca e disse, “Madame, irei à sua casa ; diga-me com gentileza o caminho.” Ela disse recitando uma estrofe [ que são os versos canônicos do Jātaka 112 ]:

Pelo caminho de mingaus e biscoitos, pela árvore de folha-dupla em flor, na mão com a qual como, peço, vá, não por aquela [mão] com a qual não como : este é o caminho para a vila-mercado, este atalho secreto deves achar.

[n. do tr.: O escoliasta explica assim: “Entrando na vila verás uma loja de bolos e depois uma de mingaus, e mais adiante ainda uma árvore ébano em flor (kovilāro, Bauhinia Variegata) : siga a trilha à direita (sul).” ]

Ele chegou na casa pelo caminho indicado ; e a mãe de Amarā o viu e deu-lhe assento. “Posso lhe trazer um pouco de mingau, mestre ?” ela perguntou. “Obrigado, mãe – irmã Amarā já me deu um pouco.” Ela logo reconheceu que ele viera por conta da filha. O Grande Ser, quando viu a pobreza delas, disse, “Mãe, sou alfaiate : não tens nada para remendar ?” “Sim, mestre, mas nada para pagar.” “Não há necessidade de pagamento, mãe ; traga-me panos que os remendarei. “ Ela trouxe velhos panos e cada um que ela trazida o Bodhisat remendava. Os negócios do sábio sempre vão bem, você sabe. Disse ele então, “Vá, fale às pessoas da rua.” Ela tornou público, por toda a vila ; e em um único dia de costura o Grande Ser arrecadou mil peças de dinheiro. A velha senhora cozinhou para ele um almoço, e à tarde perguntou quanto deve cozinhar. “O suficiente, mãe, para todos os que vivem nesta casa.” Ela cozinhou uma quantidade de arroz com algum curry e condimentos.

Bem, Amarā à tarde voltava da floresta, carregando um feixe de lenha na cabeça e folhas no quadril. Ela jogou no chão a lenha na porta da frente e entrou pela porta dos fundos. O pai dela voltou mais tarde. O Grande Ser comeu comida gostosa ; a garota serviu os pais antes dela mesma comer, lavou os pés deles e os do Bodhisat também. Por vários dias ele viveu lá olhando ela. Então um dia para testá-la, ele disse, “Minha cara Amarā, tome metade de uma medida de arroz e com ela faça-me mingau, um bolo, e arroz cozido.” Ela concordou logo ; e tirou a casca do arroz ; com os grãos grandes fez mingau, o arroz de médios grãos cozinhou, e fez um bolo com os menores, adicionando temperos adequados. Ela deu o mingau com seus condimentos para o Grande Ser ; ele, assim que provou, enchendo a boca, sentiu o sabor fino arrepiar através dele : contudo para testá-la, disse, “Madame, se você não sabe cozinhar por quê gastar meu arroz ?” e o cuspiu no chão. Ela porém não ficou com raiva ; só passou o bolo para ele, dizendo, “Se o mingau não ‘tá bom, coma bolo.” Ele fez o mesmo com este, e também rejeitando o arroz cozido, disse, “Se não sabes cozinhar por quê gasta o quê é meu ?” Como se com raiva misturou os três e espalhou, derramou pelo corpo dela da cabeça aos pés, e disse para ela sentar à porta. “Muito bem, mestre,” disse ela, sem nenhuma raiva, e o fez. Descobrindo que nela não havia orgulho, ele disse, “Venha aqui, madame.” Ao primeiro chamado ela foi.

Quando o Grande Rei veio tinha com ele mil rúpias e um vestido na sua bolsa de palha de areca / bétele. Agora, ele tira para fora este vestido e o coloca nas mãos dela, dizendo, “Madame, banhe-se com suas amigas e coloque este vestido e venha para mim.” Ela fez isso. O sábio deu aos pais dela todo o dinheiro que trouxera e que ganhou, e os confortou, e a levou de volta para a cidade com ele. Lá, para testá-la, a fez sentar na pousada do portão [ no abrigo que há nas portas ], e contando à esposa do porteiro seus planos, foi para sua própria casa. Então chamou alguns dos seus homens, e disse, “Deixei uma mulher em tal e tal casa ; pegue mil peças de dinheiro e teste-a.” Ele deu a eles o dinheiro e eles partiram. Fizeram como ele mandou. Ela recusou, dizendo, “Isto não vale a poeira dos pés do meu mestre.” Os homens voltaram e contaram o resultado. Ele os enviou de novo e ainda uma terceira vez; e na quarta mandou que eles àrrastassem a força. Eles fizeram isto, e quando ela viu o Grande Ser em toda sua glória ela não o reconheceu mas sorria e chorava ao mesmo tempo enquanto olhava para ele. Ele preguntou a ela por quê fazia isto. Ela respondeu, “Mestre, sorri quando vi toda sua magnificência e pensei que esta magnificência não foi dada sem uma causa mas por causa de alguma boa ação em vida passada ; vejo o fruto da bondade ! Eu pensei e sorri. Mas chorei em pensar que agora irias pecar contra a propriedade que outro guarda e cuida, e irias para os ínferos : com pena disso chorei.” Após este teste ele soube da castidade dela e a mandou de volta para o mesmo lugar. Colocando sua roupa de alfaiate, ele foi atrás dela e lá passou a noite.

Na manhã seguinte ele voltou para o palácio e contou à Rainha Udumbarā tudo que aconteceu ; ela informou o rei, e adornando Amarā com todos os tipos de ornamentos, a sentou em uma grande carruagem e em grande honra a trouxe para a casa do Grande Ser e fizeram um dia de gala. O rei enviou ao Bodhisat um presente válido mil peças de dinheiro : todo o povo da cidade mandou presente dos porteiros para dentro. Senhora Amarā dividiu os presentes enviados pelo rei em metades, e mandou de volta para o rei uma metade ; do mesmo jeito ela dividiu todos os presentes enviados à ela pelos cidadãos, e retornou metade, ganhando assim o coração do povo. A partir daquele dia o Grande Ser viveu com ela, feliz e instruía o rei nas coisas temporais e espirituais. (continua no Jātaka 170)




quarta-feira, 21 de maio de 2008

111 Osadha & Amara II




  ( Mah' Osadha à direita conversando com os quatro sábios à esquerda pintura de Ajanta vihara buddhista construída por Arhat Acharya )

111
Osadha & Amarā (cont.)

4. “A linha de algodão.” Uma certa mulher que costumava olhar campos de algodão, olhava um dia e pegou um pouco de algodão limpo e fiou um pouco de linha fina e fez com ela um novelo e colocou no seu regaço. Quando ia para casa pensou consigo mesma, “Me banharei no tanque, lago, do grande sábio,” e assim colocou o novelo na roupa e desceu para banhar-se no tanque. Outra mulher viu isto, e concebendo desejo por ele, o pegou dizendo, “Este é um belo novelo de linha; você mesma que fez ?” Ela então estalou levemente os dedos e o colocou no seu regaço como para examiná-lo mais detalhadamente, e saiu andando com ele. (Aqui acontece o mesmo que na história anterior.) O sábio pergunta à ladra, “Quando fizeste o novelo o quê você colocou dentro (para enrolá-lo) ?” Ela respondeu, “Uma semente de algodão.” Então ele perguntou à outra, e ela respondeu, “Uma semente de timbaru.” Quando a multidão escutou o quê cada uma disse, ele desenrolou o novelo de algodão e descobriu uma semente de timbaru dentro e forçou a ladra a confessar a culpa. A grande multidão ficou altamente agraciada e gritou em aplauso pelo jeito como o caso foi solucionado.

5. “O filho.” Uma certa mulher pegou seu filho e desceu para o tanque, lago, do sábio para lavar o rosto. Depois que ela banhou o filho, deixou-o nas roupas e tendo lavado a própria face foi banhar-se. Naquele momento uma mulher duende viu a criança e desejou comê-la, ela então segurou o vestido e disse, “Minha amiga, esta é uma bela criança, é seu filho ?” Depois perguntou se podia dar mamar a ele e obtendo o consentimento da mãe, o pegou, brincou com ele um pouco e tentou fugir correndo com a criança. A outra correu atrás dela e a segurou, gritando, “Para onde você está levando minha criança ?” A duende respondeu, “Por quê tocas na criança ? ele é meu.” E enquanto disputavam passavam pela porta do salão, e o sábio, escutando o barulho, chamou-as e perguntou a causa do barulho. Quando ouviu a história, apesar dele saber logo pelos seus olhos vermelhos que não piscam que uma delas era duende, ele perguntou se aceitariam a decisão dele. Tendo elas assim prometido, ele desenhou um linha e colocou a criança no meio da linha e pediu à duende que tomasse a criança pelas mãos e à mãe pelos pés. E disse a elas, “Segurem firmes a ele e puxem; a criança é daquela que puxá-la mais.” Elas duas puxaram e a criança, sendo machucada enquanto era puxada, soltou um grande grito. Então a mãe, com o coração que parecia a ponto de explodir, soltou a criança e ficou chorando. O sábio perguntou à multidão, “É o coração da mãe que é mole em relação à criança ou o coração daquela que não é a mãe ?” Eles responderam, “O coração da mãe.” “É a mãe aquela que segurou a criança ou aquela que a soltou ?” Eles responderam, “Aquela que a soltou.” “Vocês sabem quem é aquela que roubou a criança ?” “Não sabemos, Ó sábio.” “Ela é uma duende,- ela o pegou para comer.” Quando perguntaram como ele sabia disto, ele respondeu, “Eu a reconheci pelos olhos vermelhos que não piscam e porque ela não joga nenhuma sombra, pelo seu destemor e por sua vontade de um capricho.” Então perguntou-lhe o quê ela era, e ela confessou que era uma duende. “Por quê pegou a criança ?” “Para comê-la.” “Tola cega,” ele disse, “cometeste pecado em tempos passados e por isto nasceste duende; e agora continuas a pecar, tola cega que és.” Então a exortou e a estabeleceu nos cinco preceitos e a mandou embora; e a mãe o abençoou, dizendo, “Que tu possas viver bastante, meu senhor,” pegou o filho e seguiu seu caminho.

6. “O Bola Negra.” Havia um homem que era chamado Golakāla,- bem ele arranjou o nome de gola ‘bola’ por ser do tamanho de um anão, e kāla por causa da sua cor negra. Trabalhava numa certa casa por sete anos e obteve uma esposa que se chamava Dighatālā. Um dia ele disse a ela, “Esposa, cozinhe alguns doces e comidas e façamos uma visita a seus pais.” No começo ela se opôs à proposta, dizendo, “O quê tenho a ver com meus pais agora ?” mas depois dele pedir três vezes ela cozinhou alguns biscoitos, e pegando alguns mantimentos e um presente, ele saiu em viagem com ela. No curso da jornada ele chegou em um rio que não era realmente fundo mas eles estando ambos com medo d’água, não ousavam atravessá-lo e permaneceram na margem. Bem, um homem pobre chamado Dighapitthi chegou naquele lugar enquanto caminhava pela margem e quando eles o viram perguntaram-no se o rio era fundo ou raso. Vendo que eles estavam com medo d’água ele lhes disse que era muito fundo e cheio de peixes vorazes. “Como então você vai atravessar ?” “Fiz amizade com crocodilos e monstros que vivem aqui e daí eles não me atacam.” “Leve-nos com você,” eles disseram. Quando ele aceitou deram-lhe bebida e um pouco de carne; e após se alimentar perguntou a quem levaria primeiro. “Leve esta sua irmã primeiro e depois me pegue,” disse Golakalā. O sujeito então a colocou nos ombros, pegou os mantimentos e o presente e desceu para dentro do rio. Quando já tinha percorrido um pouco do caminho, ele se agachou e passou a andar em postura curvada. Golakāla, enquanto estava na margem, pensou consigo mesmo, “Este rio deve ser realmente muito fundo; se é tão difícil mesmo para um homem como Dighapitthi, deve ser intransponível para mim.” O outro quando já estava com a mulher no meio do rio, disse a ela, “Senhora, cuidarei de ti, e viverás belamente vestida com roupas finas, ornamentos, empregados e empregadas; o quê este anão pobre fará por ti ? ouça o quê te falo.” Ela escutou as palavras dele e deixou de amar seu marido, e ficando logo apaixonada pelo estranho, ela consentiu dizendo, “Se você não me abandonar, farei como você quer.” Então quando chegaram na margem oposta, se divertiram, deixando Golakāla e mandando ele ficar onde estava. Ele ficou lá olhando, eles comeram a carne, beberam e partiram. Quando ele viu isto, exclamou, “Eles fizeram amizade e estão fugindo me deixando aqui.” Enquanto corria de um lado para outro, entrou um pouco n’água e saiu de novo com medo, e então com raiva da conduta deles, deu um salto desesperado, dizendo, “Qu’eu viva ou morra,” e uma vez inteiramente dentro descobriu como era rasa a água. Atravessou e perseguiu-os gritando, “Ladrão depravado, para onde carregas minha esposa ?” O outro respondeu, “Como que ela é sua esposa ? ela é minha” ; e o pegou pelo pescoço e o girou e o atirou longe. O outro segurou a mão de Dighatālā e gritou, “Pare, onde vais ? você é minha esposa que obtive depois de trabalhar sete anos numa casa” ; e enquanto assim brigavam aproximaram-se do salão. Juntou-se grande multidão. O Grande Ser perguntando a razão do barulho e tendo-os chamado e escutado o quê cada um disse, perguntou se aceitariam sua decisão. Ambos aceitando chamou Dighapitthi e perguntou a ele seu nome. Depois perguntou o nome de sua esposa, mas ele, não sabendo qual era, disse qualquer outro nome. Então perguntou o nome dos pais dele e ele disse mas quando perguntou os nomes dos pais da esposa, não sabendo, disse outros nomes quaisquer. O Grande Ser juntou a história e mandou ele sair. Então chamou o outro e perguntou os nomes todos do mesmo jeito. Ele, sabendo a verdade, disse-os corretamente. Então o mandou sair e chamou Dighatālā e perguntou-a seu nome e ela disse. E perguntou a ela o nome do seu marido e ela, sem saber, deu um nome errado. Perguntou depois os nomes dos pais dela e ela disse corretamente mas quando perguntou os nomes dos pais de seu esposo, ela falou qualquer coisa e deu nomes errados. O sábio então chamou os outros dois e perguntou à multidão, “A história da mulher concorda com Dighapitthi ou com Golakāla ?” Eles responderam, “Com Golakāla.” Ele pronunciou então sua sentença, “Este homem é esposo dela, o outro é um ladrão”; e perguntando a ele o fez confessar que agira como ladrão.

7. “A carroça.” Um certo homem, que estava sentado numa carroça, desceu dela para lavar o rosto. Naquele momento Sakra fazia considerações e vendo o sábio resolve que tornaria conhecido o poder e a sabedoria de Mah’Osadha Buddha embrionário. Então desceu na forma de um homem, e seguiu a carroça segurando na parte de trás. O homem sentado na carroça perguntou, “Por quê você está aí ?” Ele respondeu, “Para servi-lo.” O homem concordou, e desmontando da carroça foi para um lado para fazer necessidade. Imediatamente Sakra subiu na carroça e fugiu velozmente. O dono da carroça, feita a necessidade, voltou; e quando ele viu Sakra fugindo com a carroça correu atrás também com velocidade, gritando, “Pare, pare, onde você vai levando minha carroça ?” Sakra respondeu, “Sua carroça deve ser outra, esta é minha.” Assim altercando chegaram no portão do salão. O sábio perguntou, “O que é isto ?” e o chamou : quando ele veio, pelo seu destemor e pelos olhos que não piscavam, o sábio soube que era Sakra e o outro era o dono. Contudo, inquiriu a razão da querela, perguntando, “Vocês aceitam minha decisão ?” Eles disseram, “Sim.” Ele continuou, “Vou fazer a carroça ser dirigida, e vocês seguram atrás da carroça : o dono não a deixará ir , o outro sim.” Disse então a um sujeito para dirigir a carroça, e ele o fez, os outros segurando atrás. O dono seguiu um pouco do caminho e sendo incapaz de seguir adiante deixou-a ir mas Sakra continuou correndo atrás da carroça. Quando chamou de volta a carroça, o sábio disse ao povo : “Este homem correu um pouco do caminho e a deixou ir; este outro correu com a carroça e voltou de volta com ela e ainda assim não há uma gota de suor em seu corpo, nenhum arquejo (no panting), ele está destemido, seus olhos não piscam – este é Sakra, rei dos deuses.” E perguntou, “Você é o rei dos deuses ?” “Sim.” “Por quê veio aqui ?” “Para espalhar a fama da sua sabedoria, Ó sábio !” “Então,” disse ele, “não faça este tipo de coisa novamente.” Revela agora Sakra seu poder e pousado no ar, louva o sábio, dizendo, “Sábio juízo este !” E ele foi para sua morada. Então o ministro conselheiro sem ser convocado foi ao rei, e disse, “Ó grande rei, a Questão da Carroça foi assim resolvida : e até Sakra foi moderado por ele ; por que não reconheces o quê há de superior entre as pessoas ?” O rei perguntou a Senaka, “Você você diz, Senaka, devemos trazer o sábio aqui ?” Senaka respondeu, “Não é isto, tudo o que constitui um sábio. Aguarde um pouco : vou testá-lo e descobrir.”

8. “O pólo (vara).” Então um dia , com o intuito de testar o sábio, eles extraíram um pólo (vara) de acácia, e cortando cerca de um palmo, belamente talhada ao passar no torno, enviou-a para a vila-Mercado, com esta mensagem: “O povo da vila-Mercado tem um nome para sabedoria. Que descubram qual extremidade é do topo e qual da raiz deste pedaço de árvore. Se não conseguirem, haverá multa de mil dinheiros.” O povo se reuniu mas não pode descobrir, e disseram ao chefe deles, “Talvez Mah’Osadha o sábio saiba ; chame-o e pergunte a ele.” O chefe mandou chamar o sábio na sua praça de esportes e contou a ele o problema que não conseguiram resolver e que talvez ele pudesse. O sábio pensou consigo, “O rei nada ganhará em saber qual o topo qual a raiz ; sem dúvida isto foi enviado para me testar.” Ele disse, “Traga isto aqui meus amigos, descobrirei.” Segurando na sua mão, ele soube qual o topo qual a raiz ; ainda assim para agradar o coração do povo, ele pediu um pote de água e amarrou uma corda no meio do pedaço de árvore, e segurando pela extremidade da corda deixou-o pousar na superfície da água. A raiz sendo mais pesada afunda primeiro. Depois perguntou ao povo, “É a raiz da árvore mais pesada, ou o topo ?” “A raiz, sábio senhor !” “Veja então esta parte afunda primeiro e esta portanto é a raiz.” Com esta marca distinguiu a raiz do topo. O povo a mandou de volta ao rei, distinguindo qual a raiz qual o topo. O rei ficou agraciado, e perguntou quem descobriu. Eles disseram, “O sábio Mah’Osadha, filho do chefe Sirivaddhi.” “Senaka, devo mandar chamá-lo ?” perguntou. “Espere, meu senhor,” ele respondeu, “vamos testá-lo de outro jeito.”

9. “A cabeça.” Um dia, duas cabeças foram trazidas, uma de mulher outra de homem ; foram enviadas para serem distintas, com multa de mil dinheiros se falhassem. Os cidadãos não souberam decidir e perguntaram ao Grande Ser. Ele reconheceu logo ao ver, porque, dizem, as suturas no crânio de homem são retas, e no crânio de mulher, curvas. Por esta marca disse quem era quem ; e mandaram de volta para o rei. O resto como antes.

10. “A cobra.” Um dia foram trazidas uma cobra macho e outra fêmea e enviadas aos da vila para decidirem qual era qual. Eles perguntaram ao sábio, e ele soube logo quando as viu ; pois o cauda da cobra macho é grossa, e a da fêmea fina ; a cabeça da cobra macho é grossa, e a da fêmea longa ; os olhos do macho são grandes e os da fêmea pequeno, a cabeça do macho é redonda e a da fêmea cortada. Por estes sinais ele distinguiu o macho da fêmea. O resto é como antes.

11. “O galo.” Um dia uma mensagem foi enviada ao povo da vila-Mercado do Leste com esa informação : “Enviem-nos um touro todo branco, com chifres nas pernas, e uma corcunda na cabeça, que solte sua voz em três notas distintas sem falhar ; ou haverá multa de mil dinheiros.” Sem conhecerem nenhum, perguntaram ao sábio. Ele disse: “O rei quer vocês mandem a ele um galo. Esta criatura tem chifres nos pés, as esporas ; uma corcunda na cabeça, a crista ; e canta em três vozes em três tempos sem falhar. Então enviem a ele um galo tal como descrito.” E eles enviaram um.

12. “A gema.” A gema que Sakra deu ao Rei Kusa era octagonal. A linha dela se rompeu, e ninguém conseguia remover a linha velha e passar uma nova. Um dia enviaram esta gema, com as instruções de tirar a linha velha e colocar uma nova ; os da vila não conseguiram fazer nem uma coisa nem outra, e aflitos falaram ao sábio. Ele comandou-os a nada temerem, e pediu um punhado de mel. Com este untou os dois furos na gema, e torcendo um fio de lã, untou também a extremidade deste com mel, empurrou um pouco no caminho do furo, e colocou num lugar em que formigas passavam. As formigas cheirando o mel saíram do buraco delas e comendo a velha linha morderam a extremidade da nova linha de algodão e a puxaram até a outra extremidade para fora. Quando viu que ela havia passado, solicitou a eles que apresentassem ao rei, que ficou agraciado quando escutou como a linha foi colocada.

13. “Dando cria.“ O touro real foi alimentado por alguns meses, de modo que a barriga dele inchou, seus chifres foram lavados, e ele ungido em óleo, e lavado com cúrcuma (açafrão da Índia) e enviado à vila-Mercado do Leste, com esta mensagem : “Vocês têm um nome para sabedoria. Aqui está o touro real, dando cria ; façam o parto dele e depois o mandem de volta com o bezerro, ou haverá multa de mil dinheiros.” Os da vila, perplexos sobre o que fazer, recorreram ao sábio ; que achou adequado responder uma pergunta com outra, e perguntou, “Podem me achar um careca capaz de falar ao rei ?” “Isto não é difícil,” responderam. De modo que chamaram um e o Grande Ser disse – “Vá, meu bom homem, e deixe este seu cabelo de baixo cair nos ombros, e vá ao portão do palácio chorando e se lamentando angustiado. Não responda a ninguém a não ser ao rei, apenas lamente; e quando o rei mandar perguntar a você por quê choras, diga, ‘Este é o sétimo dia que meu filho está em trabalho de parto e não nasce; Ó ajude-me ! diga-me como parí-lo !’ Então o rei dirá, ‘Que loucura! isto é impossível ; homens não carregam crianças.’ Então deves dizer, ‘Se isto é verdade, como pode o povo da vila-Mercado do Leste parir um bezerro do touro-real ?” Ele fez como foi ordenado. O rei perguntou quem pensou o gracejo ; e escutando que foi o sábio Mah’Osadha ficou agraciado.

14. “O arroz cozido.” Outro dia, para testar o sábio, foi enviada esta mensagem: “O povo da vila-Mercado do Leste deve nos enviar arroz cozido cozido sob estas oito condições, são estas – sem arroz, sem água, sem panela, sem fogão, sem fogo, sem lenha, sem ser enviado seja por homem seja por mulher. Se não puderem fazer isto haverá multa de mil dinheiros.” O povo perplexo recorreu ao sábio ; que disse, “Não se apoquetem. Peguem um pouco de arroz quebrado pois isto não é arroz ; neve pois ela não é água ; uma tigela de barro pois não é panela ; corte lenha pois não é fogão ; acenda o fogo por atrito ao invés de fósforos ; pegue folhas ao invés de lenha ; cozinhe seu arroz estragado, coloque num pote novo, feche bem, ponha na cabeça de um eunuco, que não nem homem nem mulher, deixe a estrada principal e vá por um atalho, e leve ao rei.” Eles fizeram isto ; e o rei ficou agraciado quando escutou por quem foi resolvida a questão.

15. “A areia.” Outro dia, para testar o sábio, enviaram esta mensagem para os da vila : “O rei quer brincar de balanço mas a velha corda esta quebrada ; vocês devem fazer uma corda de areia ou pagar multa de mil dinheiros.” Eles não sabiam o quê fazer e apelaram ao sábio que percebeu ser ocasião de gracejo. Ele confirmou o povo ; e enviando dois ou três bons faladores, mandou-lhes falarem ao rei : “Meu senhor, os da vila não sabem se a corda de areia é para ser grossa ou fina ; mande para eles um pedaço da velha corda, um pedaço longo ou só quatro dedos ; eles olharão e enrolarão uma corda do mesmo tamanho.” Se o rei responder, “Nunca houve corda de areia na minha casa,” eles responderão, “Se vossa majestade não pode fazer corda de areia como podem os da vila ?” Eles fizeram isto ; e o rei ficou agraciado escutando o gracejo que sábio pensara.

16. “O tanque.” Outro dia, a mensagem foi : “O rei deseja brincar na água ; vocês devem me enviar um novo tanque coberto com lírios aquáticos dos cinco tipos ou haverá multa de mil dinheiros.” Contaram ao sábio que percebeu que queriam gracejar. Ele enviou muitos homens inteligentes no falar e disse a eles: “Vão e brinquem n’água até os olhos de vocês estarem vermelhos, vão à porta do palácio com cabelos molhados e roupas molhadas e com limo por todo corpo, segurando nas mãos cordas, estacas e terras ; enviem mensagem ao rei falando da chegada de vocês e quando forem admitidos digam a ele, ‘Senhor, como sua majestade ordenou que o povo da vila-Mercado do Leste enviasse um tanque, nós trouxemos um grande tanque adequado ao seu gosto ; mas ela acostumada à vida na floresta, logo que viu a vila com muros, moinhos e torres de vigia, tornou-se temerosa e rompeu as cordas e fugiu para a floresta : golpeamos a ela com paus e batemos nela com varas mas não conseguimos fazê-la voltar. Dê-nos então o velho tanque que sua majestade disse haver trazido da floresta e amarraremos um n’ outro e o traremos de volta’. O rei dirá, ‘Nunca tive um tanque trazido da floresta e nunca enviarei um tanque para ser amarrado e puxado com outro !’ Então vocês devem dizer, ‘Se é assim como podem os da vila ter enviarem um tanque ?’ ” Eles fizeram assim ; e o rei ficou agraciado de escutar que o sábio pensou tudo isto.

17. “O parque.” Novamente um dia o rei enviou mensagem: “Desejo me divertir num parque e meu parque está velho. O povo da vila-Mercado do Leste deve me enviar um novo parque cheio de flores e árvores.” O sábio os confirmou como antes, e enviou pessoas para falarem da mesma maneira que a anterior.

18. Então o rei ficou agraciado e disse a Senaka: “Bem Senaka, devemos chamar o sábio ?” Mas ele, invejando a prosperidade do outro, disse, “Isto não é tudo que faz um sábio ; espere.” Escutando isto o rei pensou, “ Mah’Osadha já era sábio quando criança , e me agraciou. Em todos estes testes e gracejos misteriosos ele respondeu como um Buddha. Ainda assim este sábio Senaka não deixa convocá-lo à minha presença. O quê tenho a ver com Senaka? Trarei o homem para cá. “ Então com um grande séqüito partiu para a vila montado em seu cavalo real. Mas enquanto ia o cavalo colocou sua pata num buraco e quebrou a perna ; de modo que o rei voltou daquele lugar para a cidade. Então Senaka entrando à presença dele disse, “Senhor, fostes à vila-Mercado do Leste para trazer consigo o sábio ?” “Sim, senhor,” disse o rei. “Senhor,” disse Senaka, “fazes de mim como de alguém que não contasse. Implorei que esperasses um pouco mas saíste apressado e na saída seu cavalo real quebrou a perna.” O rei ficou sem ter nada para dizer. Outro dia de novo ele perguntou a Senaka, “Devemos chamar o sábio, Senaka ?” “Se fizeres isto, sua majestade, não vá você mesmo, mande um mensageiro, dizendo, Ó sábio ! quando estava no caminho para buscá-lo, meu cavalo quebrou a perna : envie-nos um cavalo melhor e um melhor ainda ( n. do tr.:
assataram no pesetu setthatarañ ca. Há um jogo de palavras; assatara podendo significar mula, ou bezerro ). Se ele escolher a primeira alternativa virá ele mesmo se a segunda enviará seu pai. Assim teremos um problema com que testá-lo.” O rei enviou uma mensageiro com esta mensagem. O sábio ao escutá-la reconheceu que o rei desejava vê-lo e a seu pai. Então foi até seu pai e saudou-o assim, “Pai, o rei quer ver você e eu. Você vai na frente com um milhar de mercadores auxiliá-lo ; e quando você for, não vá de mão vazia mas leve uma caixa de madeira de sândalo cheia de ghee fresco. O rei vai falar gentilmente contigo, e te oferecer um assento de chefe de família ; tome-o e sente-se ; quando você já estiver sentado, eu chegarei ; o rei falará gentilmente comigo e me oferecerá assento semelhante. Aí eu olharei para você ; pegue a dica e diga, levantando-se de seu assento, Filho Mah’Osadha o sábio, tome este lugar. A questão então estará madura para a solução.” Ele fez isto. Chegando à porta do palácio fez que sua chegada fosse sabida pelo rei, e ao convite do rei, ele entrou, e saudou o rei, e ficou em um dos lados. O rei falou com ele gentilmente e perguntou onde estava seu filho o sábio Mah’Osadha . “Ele vem depois de mim, meu senhor.” O rei agraciado ao escutar que ele vinha e pediu ao pai que se assentasse no lugar apropriado. Ele encontrou um lugar e lá sentou. Enquanto isto o Grande Ser vestia-se em todo seu esplendor e ajudado por mil jovens ele veio sentado em carruagem magnífica. Enquanto entrava na cidade viu um jumento do lado da fossa, e deu ordens para que alguns rapazes fortes amarrassem a boca do jegue para que ele não fizesse barulho, colocassem ele num saco e carregassem nos ombros. Eles fizeram isto; o Bodhisatva entrou na cidade em grande companhia. O povo não conseguia o louvar o suficiente. “Este,” eles gritavam, “é o sábio Mah’Osadha, o filho do mercador Sirivaddhaka ; este é aquele de quem se diz nasceu segurando uma erva virtuosa à mão ; este é aquele que sabia as respostas a muitos problemas dados para testá-lo.” Ao chegar diante do palácio mandou avisar da chegada. O rei ficou agraciado ao escutar e disse, “Que meu filho o sábio Mah’Osadha apresse-se em chegar.” Então com seus ajudantes entrou no palácio e saudou ao rei e ficou de um lado. O rei deliciado em vê-lo falou com ele docemente e ordenou que encontrasse um lugar adequado e sentasse. Ele olhou para o pai e o pai com a dica levantou do assento e o convidou para lá sentar, o quê ele fez. Aí os homens tolos que lá estavam, Senaka, Pukkusa, Kāvinda, Devinda [ nossos amigos na antiga pintura retratados ], e outros vendo-o assim sentar, bateram palmas e riram alto e gritaram, “Este é o tolo cego que chamam sábio ! Ele fez o pai sair do assento para ele mesmo lá se sentar ! De sábio certamente não deve ser chamado.” O rei também ficou desconcertado. Então o Grande Ser disse, “Por quê , meu senhor! estais triste ?” “Sim, sábio senhor, estou triste. Estava feliz em ouvir falar de ti mas ao vê-lo não fiquei feliz.” “Por quê isto?” “Porque você fez seu pai levantar do assento dele para você assentar.” “Pois, meu senhor ! pensas que em todos os casos o pai é melhor que os filhos ?” “Sim, senhor.” Você não me mandou mensagem para trazer um cavalo melhor ou um melhor ainda ?” Assim dizendo, ele levantou e olhando para os jovens fortes, falou, “Me traga o jumento que vocês pegaram.” Colocando este jumento diante do rei , continuou, “Senhor, qual o preço deste asno ?” O rei disse, “Se for de serviço vale oito rúpias.” “Se ele gerar um potro-mula em uma égua puro sangue Sindh, qual seria o preço daquele ?” “Seria sem preço.” “Por quê dizes isto, meu senhor ? Não tinhas acabado de falar que em todos os casos o pai é melhor que os filhos ? Pelo seu dito o asno vale mais que o potro-mula [da égua de raça]. Não bateram palmas seus homens sábios e riram porque não sabiam disto ? Que sabedoria a destes homens sábios ! onde você os achou ?” E em desprezo pelos quatro homens sábios ele dirigiu-se ao rei nesta estrofe [versos canônicos do Jātaka 111]:

Pensas que o pai é sempre melhor que o filho, Ó rei excelente?
Então aquela criatura ali é melhor que o potro-mula; o jumento é pai da mula.

Após disto dito, continuou, “Meu senhor, se o pai é melhor que o filho, tome meu pai à seu serviço ; se o filho for melhor que o pai, me tome.” O rei ficou deliciado ; e toda a companhia gritou e aplaudiu e louvou mil vezes – “Bem realmente o homem sábio resolveu a questão.” Houve estalar de dedos e agitar de milhares de lenços : os quatro ficaram desconcertados.
Bem ninguém sabia melhor que o Bodhisat o valor dos pais. Se alguém pergunta então porque fez isto ; não foi por desprezar seu pai mas quando o rei enviou mensagem, requisitando ‘cavalo melhor ou melhor ainda,’ ele o fez de modo a resolver o problema e de fazer sua sabedoria conhecida e retirar o brilho dos quatro sábios.

O rei ficou agraciado ; e pegando o vaso de ouro encheu-o com água perfumada derramando água nas mãos do mercador dizendo, “Goze da vila-Mercado do Leste como um presente do rei. – Que os outros mercadores,” ele continuou, “sejam subordinados a este.” Isto feito mandou para a mãe do Bodhisat todos os tipos de ornamentos. Deliciado como estava com a solução do Bodhisat Á Questão do Jumento, ele queria fazer do Bodhisat seu próprio filho, e disse ao pai, “Bom senhor, me dê o Grande Ser para ser meu filho.” Ele respondeu, “Senhor, ele ainda é muito jovem; a boca dele ainda está cheirando a leite : mas quando estiver crescido, ele ficará contigo.” Disse contudo o rei, “Bom senhor, então deves cortar seu apego pelo garoto ; a partir de hoje ele é meu filho. Posso suportar meu filho, siga seu caminho.” E o mandou embora. Ele obedeceu o rei, e beijou seu filho e abraçando-o beijou-o na cabeça e deu-lhe conselhos. O filho também deu adeus ao pai e disse-lhe para não ficar ansioso, e o mandou partir.
O rei então perguntou ao sábio se se alimentaria dentro ou fora do palácio. Ele pensando que com tão largo séqüito seria melhor comer fora do palácio, respondeu deste jeito. O rei deu-lhe uma casa adequada e providenciou o sustento dos mil jovens e tudo que era necessário. A partir daí o sábio ajudava o rei. (continua)