sexta-feira, 2 de maio de 2008

96 Buddha rei de Taxila ( Takkasilla )


   ( Imagem de Buddha em Taxila / Takkasilla, Paquistão, espremida entre o hinduísmo e o islamismo ) 



96
Como alguém com cuidado...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto morava numa floresta perto da cidade de Desaka no país Sumbha, relativa a Janapada-Kalyāni Sutra.

 Pois naquela ocasião o Abençoado disse: - “Justo como se, Irmãos, uma grande multidão se reunisse, gritando ‘Salve a Bela da Terra! Salve a Bela da Terra !’ e justo como se de maneira semelhante uma grande multidão reunida gritasse, ‘A Bela da Terra está cantando e dançando’ ; e então supõe que venha um homem apaixonado pela vida, sem medo da morte, amante dos prazeres, avesso à dor, e supõe que a este fosse dirigida as seguintes palavras, - 'Ei, aqui! você carregará este pote de óleo, que está cheio até a borda, entre a multidão e a Bela da Terra: um homem com uma espada desembainhada seguirá teus passos; e se você deixar cair uma única gota, ele cortará tua cabeça' ; - o quê vocês pensariam Irmãos? Nestas circunstâncias, teria ele cuidado, e carregaria sem aflição o pote de óleo ?" “De jeito nenhum, senhor.” "Isto é uma alegoria que elaborei para me fazer entender, Irmãos ; e aqui está o significado: - O pote transbordante tipifica um estado da mente recolhida em relação as coisas concernentes ao corpo e a lição a ser aprendida é que tal recolhimento [recollection], tal inteireza de mente, deve ser praticada e aperfeiçoada. Não falhem nisto, Irmãos."

Assim falando, o Mestre pronunciou o Sutra da Bela da Terra, com ambos, texto e interpretação. Então como aplicação, o Abençoado continuou dizendo,- “Um Irmão desejoso de praticar reta ciência relativa ao corpo, deve cuidar para não deixar esta consciência cair, como o homem na alegoria não pode deixar pingar o pote de óleo.”

Quando eles escutaram o Sutra e seu significado, os Irmãos disseram: - “Foi uma tarefa difícil, senhor, para o homem passar com o pote de óleo sem fixar o olhar nos encantos da Bela da Terra.” “Nem tão difícil assim, Irmãos; é até uma tarefa bem fácil, - fácil pela razão mesma de que ele foi acompanhado de um que o ameaçava com espada desembainhada. Mas foi tarefa verdadeiramente difícil para o sábio e bom de dias idos preservar consciência reta e curvar suas paixões de modo a nem mesmo olhar a beleza celestial em toda sua perfeição. Ainda assim eles triunfaram e passando, ganharam um reino.” Daí ele contou esta história do passado.

----------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva era o mais novo dos cem filhos do Rei, e cresceu até a maturidade. Bem naqueles dias haviam Pacceka Buddhas que se acostumaram a comer no palácio, e o Bodhisatva os servia.

Pensando um dia no grande número de irmãos que tinha, o Bodhisatva perguntou a si mesmo se haveria algum indício de sua chegada ao trono de seus pais naquela cidade, e decidiu-se pedir aos Pacceka Buddhas que contassem a ele o quê aconteceria. Dia seguinte os Buddhas vieram, pegaram o pote de água que estava consagrado para usos santos, filtraram a água, lavaram e secaram seus pés, e se sentaram para comer. E quando estavam sentados, o Bodhisatva veio e sentando-se do lado deles com gentil saudação, fez seu pedido. E eles responderam e disseram, “Príncipe, você nunca será rei nesta cidade. Mas serás em Gandhāra, três mil quilômetros de distância, lá onde está a cidade de Takkasilā ( Taxila ). Se conseguires alcançar esta cidade, em sete dias tornar-te-ás rei lá. Mas há perigo na estrada de lá, na viagem através de uma grande floresta. É o dobro da distância dando a volta na floresta ou passando pelo meio dela. Ogros moram lá, e ogras fazem vilas e casas surgirem do lado do caminho. Debaixo de um belo pálio bordado com estrelas em cima, a mágica delas coloca um rico leito fechado por belas cortinas de cores maravilhosas. Vestidas em esplendor celeste as ogras sentam dentro de suas moradias, seduzindo os passantes com doces palavras. ‘Pareces cansado,’ elas dizem ; ‘venha aqui, e coma e beba antes de continuar seu caminho na viagem.’ Àqueles que vêm ao chamado delas são dados assentos e são acesos para a luxúria pelo encanto da beleza devassa delas. Mas mal conseguem pecar, antes das ogras matá-los e comê-los enquanto o sangue quente ainda jorra. E elas prendem os sentidos humanos,- captivando o senso do belo com amabilidade completa, o ouvido com trovas doces, o olfato com odores celestiais, o gosto com iguarias celestes de sabores deliciosos, e o tato com leitos de acolchoados vermelhos divinamente macios. Mas se você puder dominar os sentidos, e ser forte no propósito de não olhar para elas, então no sétimo dia você se tornará rei da cidade de Takkasilā ( Taxila ).”

Oh, senhores ; como poderia olhar para as ogras depois do conselho de vocês ?” Assim falando, o Bodhisatva suplicou aos Pacceka Buddhas que dessem a ele algo que o mantivesse a salvo na sua jornada. Recebendo deles uma trança encantada e alguma areia encantada também, ele primeiro deu adeus aos Paccekas Buddhas e a seu pai e mãe ; e então indo para sua própria residência, dirigiu-se a seus empregados como segue:- “Estou indo para Takkasilā ( Taxila ) me fazer rei de lá. Vocês permaneçam aqui.” Mas cinco deles responderam, “Deixe-nos ir também.”

Vocês não devem vir comigo,” respondeu o Bodhisatva; “pois me disseram que o caminho está repleto de ogras que captivam os sensos dos homens, e destroem àqueles que sucumbem a seus encantos. Grande é o perigo mas confiarei em mim mesmo e irei.”
Se formos com você, príncipe, não olharemos para os encantos maléficos delas. Nós também iremos para Takkasilā ( Taxila ).” “Então mostrem-se inabaláveis,” disse o Bodhisatva, e levou estes cinco com ele na sua jornada.

As ogras sentavam esperando no caminho em suas moradas. E um dos cinco, o amante da beleza, olhou para as ogras, e sendo captivado pela beleza dela, ficou para trás dos outros. “Por quê estais atrasando ?” perguntou o Bodhisatva. “Meus pés estão machucados, príncipe. Vou apenas sentar um instante em um destes pavilhões, e depois alcanço vocês.” “Meu bom homem, estas são ogras ; não desejes elas.” “Seja o quê for, príncipe, não posso seguir adiante.” “Bem, você as verá logo em suas cores verdadeiras,” disse o Bodhisatva, enquanto seguia com os outros quatro.

Entregando-se a seus sensos, o amante da beleza aproximou-se das ogras que o tentaram a pecar, e o mataram then and there, lá e então. Daí elas partiram e mais adiante na estrada ergueram com artes mágicas um novo pavilhão, onde sentaram cantando música com diversos instrumentos. E desta vez o amante da música ficou para trás e foi comido. Então as ogras foram mais adiante e sentaram esperando num bazar com estoque de todos os doces perfumes e aromas. E aqui o amante das coisas cheirosas e perfumadas ficou para trás. E depois que elas comeram ele, elas foram mais adiante e sentaram numa barraca de provisões onde uma profusão de comidas celestes de sabores deliciosos eram vendidas. E aqui o gourmet ficou para trás. E depois que comeram ele, elas foram adiante e sentaram em leitos celestes construídos com suas artes mágicas. E aqui o amante do conforto ficou para trás. E a ele também elas comeram.

Só restou o Bodhisatva agora. E uma das ogras o seguia, prometendo a si mesma que apesar da implacável resolução dele ela teria sucesso em devorá-lo ou então ela voltaria. Mais adiante na floresta, madeireiros e outros, vendo a ogra, perguntaram a ela quem era o homem que seguia na frente.
Ele é meu marido, senhores cavalheiros.”
Ei, aí !” disseram elas ao Bodhisatva ; “quando se tem uma doce jovem esposa, bela como as flores, para deixar em casa e colocar a confiança dela em você, por quê não andas com ela ao invés de deixá-la arrastar-se atrás de ti ?” “Ela não é minha esposa mas uma ogra. Ela comeu meus cinco companheiros.” “Ai ! senhores cavalheiros,” ela disse, “a raiva levam os homens a chamarem suas esposas de ogras e vampiras.”

Em seguida, ela simulou gravidez e depois a aparência de uma mulher que teve criança ; e criança nas ancas, ela seguia atrás do Bodhisatva. Todos que a eles encontravam, perguntavam justo as mesmas perguntas para o casal e o Bodhisatva dava justo a mesma resposta enquanto viajava.

Por fim chegou em Takkasilā ( Taxila ), onde a ogra fez a criança desaparecer e seguiu sozinha. Nos portões da cidade o Bodhisatva entrou no Recinto de Descanso e sentou. Devido à eficácia e poder do Bodhisatva, ela não podia entrar também; então ela se vestiu com beleza divina e ficou lá no limiar.

O Rei de Takkasilā ( Taxila ) passava naquele momento na sua caminhada para o jardim e foi seduzida pela amabilidade dela. “Vá, descubra,” disse ele ao empregado, “se ela tem marido ou não.” E quando o mensageiro veio e perguntou se ela tinha marido com ela, ela disse, “Sim, senhor ; meu marido está sentado dentro do recinto.”
Ela não é minha esposa,” disse o Bodhisatva. “Ela é uma ogra e comeu meus cinco companheiros.”
E, como antes, ela disse, “Ai, senhor cavalheiro, a raiva leva os homens a dizerem qualquer coisa que vem a cabeça deles.”

O sujeito então voltou ao Rei e disse a ele o quê cada um dissera. “Tesouro perdido é de prerrogativa real,” disse o Rei. E mandou buscar a ogra e fez ela sentar nas costas do seu elefante. Após solene procissão ao redor da cidade, o Rei voltou a seu palácio e alojou a ogra nos apartamentos reservados para a rainha-principal. Depois de se banhar e perfumar, o Rei jantou e então deitou na sua cama real. A ogra também preparou para si uma refeição, e se vestiu com todo esplendor. E quando ela deitava do lado do rei deliciado, se virou de lado e explodiu em lágrimas. Sendo questionada por quê chorava, ela disse, “Senhor, você me encontrou no lado da estrada, e as mulheres do harém são muitas. Morando aqui entre inimigas me sentirei esmagada quando elas disserem, ‘Quem conhece seu pai ou sua mãe, ou qualquer coisa sobre sua família ? Você foi pega na estrada.’ Mas se sua majestade me der poder e autoridade sobre todo o reino, ninguém ousaria me importunar com tais insultos.”
Docinho, não tenho poder sobre aqueles que moram pelo reino ; não sou senhor e mestre deles. Só tenho jurisdição sobre aqueles que se revoltam ou são iníquos. Então não posso te dar poder e autoridade sobre todo o reino.”
Então, senhor, se não pode me dar autoridade sobre o reino ou sobre a cidade, pelo menos me dê autoridade dentro do palácio, para que eu possa legislar sobre aqueles que moram no palácio.”

Muito profundamente tomado pelos encantos dela para recusar, o Rei lhe deu autoridade sobre todos dentro do palácio e autorizou que ela legislasse sobre eles. Contente, ela esperou até que o Rei dormisse e então pegando o caminho até a cidade das ogras, retornou com um bando de ogras para o palácio. E ela mesma matou o Rei e o devorou, pele, tendões e carne, deixando apenas meros ossos. E o resto das ogras entrando pelo portão devoraram tudo que aparecia pela frente, não deixando nem mesmo uma galinha ou um cachorro vivos.

 Dia seguinte quando o povo veio e encontrou o portão fechado, eles bateram e gritaram com impaciência, e acabaram invadindo – só para descobrirem ossos espalhados por todo o palácio. E exclamaram, “Então o homem estava certo em dizer que não era sua esposa mais uma ogra. Na sua falta de sabedoria o Rei trouxe ela para casa para ser esposa dele, e sem demora ela reuniu as outras ogras, devoraram todo mundo, e depois partiram.”

Agora, naquele dia o Bodhisatva, com a areia encantada na cabeça e a trança encantada dando voltas ao redor do rosto, estava em pé no Recinto de Descanso [no portão], espada na mão, esperando àurora. Aqueles outros enquanto isto, limpavam o palácio, renovavam as mobílias dos andares, borrifavam perfumes neles, espalhavam flores, penduravam ramalhetes no teto e colocavam as paredes em festa com guirlandas e queimavam incenso por todo lado. E fizeram um conselho, uma reunião, falando:-

A pessoa que pode assim ser mestre dos seus sensos de modo a nem mesmo olhar para a ogra enquanto ela o seguia com sua beleza divina, é homem nobre e constante; cheio de sabedoria. Com este como rei, estaria tudo bem com todo o reino. Façamos dele nosso rei.”

E toda a corte e todos os cidadãos do reino foram con-cordes no assunto, aceitaram a idéia. Assim o Bodhisatva, sendo escolhido rei, foi escoltado para a capital e lá vestido em jóias e ungido rei em Takkasilā ( Taxila ). Evitando os quatro caminhos errados, e seguindo os dez caminhos do dever do rei, legislou o reino em retidão, e após vida em caridade e obras boas, passou, sendo tratado de acordo om seus méritos.

--------------------------

Esta história contada, o Mestre, como Buddha, falou esta estrofe:-

Como alguém que com cuidado um pote de óleo carrega
Cheio até a borda, que nada pode deixar transbordar,
Assim, aquele que parte para terras estrangeiras,
Deve mostrar a mesma governança sobre seu coração.

Quando o Mestre assim levou ao mais alto ponto da instrução, que é a Arahat(idade), ele identificou o Jātaka dizendo, “Os discípulos do Buddha eram naqueles dias a corte do rei, e eu o príncipe que ganhou um reino.”

[Mahabharata, Santi Parva seção CCCXVII - ... Escute agora, Ó monarca, as indicações de alguém em Yoga. Todas as indicações de feliz contentamento que é daquele que descansa em contentamento são vistas na pessoa que está em Samadhi. A pessoa em Samadhi, diz o sábio, parece-se como a chama fixa e ereta de uma lâmpada que está cheia de óleo e que queima em um lugar sem vento. Ela é como rocha incapaz de ser movida no menor grau mesmo por pesada tempestade das nuvens. Ela é incapaz de ser movida pelo barulho de tambores e trompetes por músicas ou pelo som de centenas de instrumentos musicais tocados e soprados juntos. Esta mesma é a indicação de alguém em Samadhi. Como um homem de fria coragem e determinação enquanto sobe um lance de'graus com um pote cheio de óleo nas mãos não pode deixar cair nem uma gota do líquido mesmo que ameaçado e aterrorizado por pessoas armadas assim é o Yogin, quando sua mente está concentrada e quando ele contempla Àlma Suprema em Samadhi, não se move, em conseqüência do inteiro parar das funções dos sentidos em tal momento, no menor grau. ] [ O Mahabharata foi escrito em Taxila conforme suas páginas mesmas declaram ]. 




Nenhum comentário: