segunda-feira, 19 de maio de 2008

109 Buddha árvore da Mamona



109
O quê come seu venerador...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre quando em Sāvatthi, sobre um homem muito pobre. 

Bem, em Sāvatthi a Irmandade com o Buddha à sua cabeça costumavam entreter-se as vezes com uma única família, as vezes com três ou quatro famílias juntas. Ou um grupo de pessoas ou toda uma rua aglomera-se, ou as vezes toda uma cidade se entretêm com eles. Na ocasião agora em questão era uma rua que mostrava hospitalidade. E os moradores arranjaram de dar mingau de arroz seguido de biscoitos (ou bolinhos).

Bem, naquela rua vivia um homem muito pobre, trabalhador assalariado, que não via como ofertar mingau mas que resolveu dar biscoitos (ou bolinhos). Então ele esmigalhou cascas vazias em urucum e ligando com água fez um biscoito (ou bolinho) redondo. Este biscoito (ou bolinho) ele envolveu numa folha de celidônia, e cozinhou em brasas. Quando estava pronto, decidiu-se que ninguém além do Buddha podia comê-lo, e conformemente tomou seu lugar junto ao Mestre. Logo que foi dada autorização para a oferta de biscoitos (ou bolinhos), ele correu na frente mais rápido que todos e colocou seu biscoito na tigela do Mestre. E o Mestre declinou de todos os outros biscoitos (ou bolinhos) ofertados a ele e comeu o biscoito do homem pobre. Daí a cidade toda não falava de outra coisa que de como o Todo Iluminado não desdenhou de comer o biscoito de farelo do homem pobre. E dos porteiros aos nobres e o Rei, todos juntaram-se no lugar, saudaram o Mestre, e aglomeraram-se ao redor do homem pobre, oferecendo a ele comida, ou de duzentos a quinhentos dinheiros para que ele transmitisse a eles o mérito do seu ato.

Pensando que era melhor perguntar ao Mestre primeiro, foi a ele e colocou seu caso. “Pegue o que lhe oferecem,” disse o Mestre, “e impute sua retidão a todos os seres vivos.” Então o homem passou a coletar ofertas. Alguns deram o dobro que outros, alguns quatro vezes mais que outros, outros oito vezes mais, e assim em diante até nove ‘crores’ ( um crore é dez milhões ) de ouro completarem a contribuição.

Agradecendo a hospitalidade, o Mestre voltou ao mosteiro e após instruir os Irmãos e comunicar seu santo ensinamento a eles, retirou-se para seu quarto perfumado.

À tardinha o Rei mandou chamar o homem pobre, e o investiu como Senhor Tesoureiro.

Reunindo-se no Salão da Verdade os Irmãos falavam de como o Mestre, sem desdenhar o biscoito de farelo do homem pobre, comeu-o como se fosse ambrosia, e como o homem pobre enriqueceu, e se tornou Senhor Tesoureiro para grande fortuna sua. E quando o Mestre entrou no Salão e escutou o que falavam, ele disse, “Irmãos, esta não é a primeira vez que não desdenhei de comer o biscoito de farelo do homem pobre. Fiz o mesmo quando era Espírito d'árvore [ Mamona ], e então ele também ganhou o ofício de Senhor Tesoureiro.” Assim falando ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um Espírito da árvore habitando numa árvore de Mamona. E os aldeões daqueles dias eram supersticiosos sobre deuses. Veio um festival e os camponeses ofereceram sacrifícios aos Espíritos das árvores respectivas. Vendo isto, um homem pobre prestou veneração a uma árvore de Mamona. 

Todos os outros vinham com guirlandas, perfumes, essências e bolos (biscoitos); mas o pobre homem só tinha um biscoito de cascas (de arroz) com água, ofertados numa casca de côco para esta árvore. Estando diante dela, ele pensou consigo mesmo, “Espíritos de árvore estão acostumados a alimentos celestes e meu Espírito de árvore não comerá este biscoito de farelo de casca. Por quê então perdê-lo assim ? Vou comê-lo eu mesmo.” E girou para ir embora, quando o Bodhisatva da forquilha da sua árvore exclamou, “Bom homem, se fosses rico trarias-me ofertas finas; sendo pobre porque eu recusaria seu biscoito de casca? Não roube minha porção." E ele pronunciou esta estrofe:-

O que come seu venerador, deve o Espírito comer.
Traga-me o biscoito, não roube minha porção.

Então o homem virou de novo, e, vendo o Bodhisatva, ofertou seu sacrifício. O Bodhisatva alimentou-se saborosamente e disse, “Por quê me veneras ?” “sou pobre, meu senhor, e venero-o para me aliviar da pobreza.” “Não precisa se preocupar mais com isto. Você sacrificou para alguém que é grato e lembra de gestos gentis. Ao redor desta árvore, emparelhados, estão enterrados potes de tesouros. Vá falar ao Rei, e leve o tesouro em carros para a corte do Rei. Lá amontoe-o numa pilha, e o Rei ficará tão agradecido que fará de ti Senhor Tesoureiro.” Assim falando, o Bodhisatva saiu da vista dele, desapareceu. O homem fez como ordenado e o Rei fez dele Senhor Tesoureiro. Assim o pobre homem com ajuda do Bodhisatva veio a ter grande destino; e quando ele morreu, passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “O pobre homem de ho-je era o pobre homem daqueles dias, e eu era o Espírito da árvore que habitava a árvore de Mamona.”




2 comentários:

ze disse...

a qualidade da oferta creio é o mistério mesmo das religiões. bhakti, jñana, vairagya : amor, conhecimento, renúncia.

ze disse...
Este comentário foi removido pelo autor.