quinta-feira, 22 de maio de 2008

112 Osadha & Amara III



112 
Osadha & Amara

( Aqui inserem-se os versos canônicos dos Jātakas 170, 192, 471 e suas questões, respectivamente a do camaleão, a da sorte boa e má e a do bode, estando contudo depois os versos canônicos do 112 : onde já se fala de Amara com as questões de Amarā : 364, 452,  500, 508, 515, 517, 518, 528 em cada um destes jatakas continua esta grande história )

Daquele dia a glória do Bodhisatva foi grande, e Rainha Udumbarā arranjou tudo. Quando ele estava com dezesseis ela pensou: “Meu jovem irmão cresceu, e grande é sua glória; devemos achar uma esposa para ele.” Isto ela disse ao rei e o rei gostou. “Muito bom,” disse, “fale com ele.” Ela falou e ele concordou e ela disse, “Então deixe-nos encontrar uma noiva para você, meu filho.” O Grande Ser pensou, “Nunca ficaria satisfeito se eles escolhessem para mim uma esposa ; encontrarei uma por mim mesmo.” E ele disse, “Madame, nada conte ao rei por alguns dias e eu irei procurar uma esposa que adequada ao meu gosto e então depois te falo.” “Faço isto, meu filho,” ela respondeu. Ele pediu licença à rainha e foi para sua casa e informou aos companheiros. Então deu jeito de arranjar uma roupa com alfaiate e sozinho saiu pelo portão norte para a Vila do Norte. Bem naquele lugar havia uma família de mercadores, antiga e decaída, e nesta família havia uma filha, a senhora Amarā, uma bela garota, sábia, e com todos os sinais de boa fortuna. Cedo naquela manhã, esta garota saiu para o lugar em que seu pai para levar à ele mingau de aveia que ela fez, e então aconteceu de irem pelo mesmo caminho. Quando o Grande Ser viu ela vindo, pensou, “Uma mulher com todos os sinais de sorte! Se for solteira, deve ser minha esposa. “ Ela também quando contemplou-o pensou, “Se pudesse viver na casa de tal homem, restauraria minha família.” O Grande Ser pensou, “Se ela é casada ou não, não sei : perguntarei a ela através de gestos de mão se for sábia entenderá.” Então ficando afastado ele fechou os punhos. Ela entendeu que ele perguntava se ela era casada, e abriu as mãos. Então ele subiu a ela e perguntou seu nome. Ela disse, “Meu nome é aquilo que nem é, nem foi, nem nunca será.” “Madame, nada há no mundo, imortal e seu nome deve ser Amarā, a Imortal.” “Isso mesmo, mestre.” “Para quem, madame, carregas este mingau ?” “Para o deus dos velhos tempos.” “Deuses dos velhos tempos são os pais de alguém (pubbadevatā nāma mātāpitaro), e sem dúvida você quer dizer seu pai.” “Assim deve ser, mestre.” “O quê faz seu pai ?” “Ele faz dois de um.” Bem o fazer dois de um é arar. “Ele ara, madame.” “Isso mesmo, mestre.” “E onde seu pai ara ?” “Onde aqueles que vão não voltam mais.” “O lugar da onde os que vão não voltam é o cemitério : ele ara então próximo a um cemitério.” “Isso mesmo, mestre.” “Você irá lá outra vez ho-je, madame ?” “Se vier não irei, se não vier irei.” “Seu pai, me parece, madame, ara ao lado do rio e se vier enchente você não irá, e se não vier irá.” Após esta troca de palavras, a senhora Amarā ofereceu um gole de mingau. O Grande Ser, pensando ser desfeita recusar, disse que queria sim. Ela então colocou embaixo o pote de mingau ; e o Grande Ser pensou, “Se ela oferecer sem primeiro lavar com água o pote e minhas mãos, a largarei e me vou.” Mas ela pegou água para lavar o pote e lhe ofereceu para lavar as mãos, colocando o pote vazio no chão não nas mãos dele, derramou mingau nele, enchendo o pote. Contudo, não havia muito arroz e o Grande Ser disse, “Por quê, madame, há tão pouco arroz aqui ?” “Não tivemos água, mestre.” “Você quer dizer que quando seu campo crescia, não tiveste água nele.” “Isso mesmo, mestre.” Assim ela guardou um pouco de mingau para seu pai e deu um pouco para o Bodhisat. Ele bebeu, e lavou a boca e disse, “Madame, irei à sua casa ; diga-me com gentileza o caminho.” Ela disse recitando uma estrofe [ que são os versos canônicos do Jātaka 112 ]:

Pelo caminho de mingaus e biscoitos, pela árvore de folha-dupla em flor, na mão com a qual como, peço, vá, não por aquela [mão] com a qual não como : este é o caminho para a vila-mercado, este atalho secreto deves achar.

[n. do tr.: O escoliasta explica assim: “Entrando na vila verás uma loja de bolos e depois uma de mingaus, e mais adiante ainda uma árvore ébano em flor (kovilāro, Bauhinia Variegata) : siga a trilha à direita (sul).” ]

Ele chegou na casa pelo caminho indicado ; e a mãe de Amarā o viu e deu-lhe assento. “Posso lhe trazer um pouco de mingau, mestre ?” ela perguntou. “Obrigado, mãe – irmã Amarā já me deu um pouco.” Ela logo reconheceu que ele viera por conta da filha. O Grande Ser, quando viu a pobreza delas, disse, “Mãe, sou alfaiate : não tens nada para remendar ?” “Sim, mestre, mas nada para pagar.” “Não há necessidade de pagamento, mãe ; traga-me panos que os remendarei. “ Ela trouxe velhos panos e cada um que ela trazida o Bodhisat remendava. Os negócios do sábio sempre vão bem, você sabe. Disse ele então, “Vá, fale às pessoas da rua.” Ela tornou público, por toda a vila ; e em um único dia de costura o Grande Ser arrecadou mil peças de dinheiro. A velha senhora cozinhou para ele um almoço, e à tarde perguntou quanto deve cozinhar. “O suficiente, mãe, para todos os que vivem nesta casa.” Ela cozinhou uma quantidade de arroz com algum curry e condimentos.

Bem, Amarā à tarde voltava da floresta, carregando um feixe de lenha na cabeça e folhas no quadril. Ela jogou no chão a lenha na porta da frente e entrou pela porta dos fundos. O pai dela voltou mais tarde. O Grande Ser comeu comida gostosa ; a garota serviu os pais antes dela mesma comer, lavou os pés deles e os do Bodhisat também. Por vários dias ele viveu lá olhando ela. Então um dia para testá-la, ele disse, “Minha cara Amarā, tome metade de uma medida de arroz e com ela faça-me mingau, um bolo, e arroz cozido.” Ela concordou logo ; e tirou a casca do arroz ; com os grãos grandes fez mingau, o arroz de médios grãos cozinhou, e fez um bolo com os menores, adicionando temperos adequados. Ela deu o mingau com seus condimentos para o Grande Ser ; ele, assim que provou, enchendo a boca, sentiu o sabor fino arrepiar através dele : contudo para testá-la, disse, “Madame, se você não sabe cozinhar por quê gastar meu arroz ?” e o cuspiu no chão. Ela porém não ficou com raiva ; só passou o bolo para ele, dizendo, “Se o mingau não ‘tá bom, coma bolo.” Ele fez o mesmo com este, e também rejeitando o arroz cozido, disse, “Se não sabes cozinhar por quê gasta o quê é meu ?” Como se com raiva misturou os três e espalhou, derramou pelo corpo dela da cabeça aos pés, e disse para ela sentar à porta. “Muito bem, mestre,” disse ela, sem nenhuma raiva, e o fez. Descobrindo que nela não havia orgulho, ele disse, “Venha aqui, madame.” Ao primeiro chamado ela foi.

Quando o Grande Rei veio tinha com ele mil rúpias e um vestido na sua bolsa de palha de areca / bétele. Agora, ele tira para fora este vestido e o coloca nas mãos dela, dizendo, “Madame, banhe-se com suas amigas e coloque este vestido e venha para mim.” Ela fez isso. O sábio deu aos pais dela todo o dinheiro que trouxera e que ganhou, e os confortou, e a levou de volta para a cidade com ele. Lá, para testá-la, a fez sentar na pousada do portão [ no abrigo que há nas portas ], e contando à esposa do porteiro seus planos, foi para sua própria casa. Então chamou alguns dos seus homens, e disse, “Deixei uma mulher em tal e tal casa ; pegue mil peças de dinheiro e teste-a.” Ele deu a eles o dinheiro e eles partiram. Fizeram como ele mandou. Ela recusou, dizendo, “Isto não vale a poeira dos pés do meu mestre.” Os homens voltaram e contaram o resultado. Ele os enviou de novo e ainda uma terceira vez; e na quarta mandou que eles àrrastassem a força. Eles fizeram isto, e quando ela viu o Grande Ser em toda sua glória ela não o reconheceu mas sorria e chorava ao mesmo tempo enquanto olhava para ele. Ele preguntou a ela por quê fazia isto. Ela respondeu, “Mestre, sorri quando vi toda sua magnificência e pensei que esta magnificência não foi dada sem uma causa mas por causa de alguma boa ação em vida passada ; vejo o fruto da bondade ! Eu pensei e sorri. Mas chorei em pensar que agora irias pecar contra a propriedade que outro guarda e cuida, e irias para os ínferos : com pena disso chorei.” Após este teste ele soube da castidade dela e a mandou de volta para o mesmo lugar. Colocando sua roupa de alfaiate, ele foi atrás dela e lá passou a noite.

Na manhã seguinte ele voltou para o palácio e contou à Rainha Udumbarā tudo que aconteceu ; ela informou o rei, e adornando Amarā com todos os tipos de ornamentos, a sentou em uma grande carruagem e em grande honra a trouxe para a casa do Grande Ser e fizeram um dia de gala. O rei enviou ao Bodhisat um presente válido mil peças de dinheiro : todo o povo da cidade mandou presente dos porteiros para dentro. Senhora Amarā dividiu os presentes enviados pelo rei em metades, e mandou de volta para o rei uma metade ; do mesmo jeito ela dividiu todos os presentes enviados à ela pelos cidadãos, e retornou metade, ganhando assim o coração do povo. A partir daquele dia o Grande Ser viveu com ela, feliz e instruía o rei nas coisas temporais e espirituais. (continua no Jātaka 170)




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