sexta-feira, 16 de maio de 2008

107 Ananda rei de Benares

              
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Preze habilidade...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Irmão que atirou e acertou num cisne. Nos é dito que este Irmão que veio de boa família em Sāvatthi, adquiriu grande habilidade em acertar coisas com pedras; e que escutando a Verdade pregada um dia ele deu seu coração à ela e, desistindo do mundo, foi admitido plenamente na Irmandade. Mas nem no estudo nem no exercício era excelente como Irmão.

 Um dia, com um Irmão mais jovem, foi para o rio Aciravati ( n. do tr.: atual Rāpti, em Oudh ), e estava em pé na margem após o banho, quando ele viu dois cisnes brancos voando em cima.

 Disse ele para o Irmão mais jovem, “Acertarei aquele cisne lá no alto no olho e o derrubarei.” “Derrube de verdade!” disse o outro ; “você não acertaria.” “Espere só um momento. Vou acertar em um olho deste lado passando para o olho do outro lado.” “Ah, nonsense.” “Muito bem; espere e veja.” Então ele pegou uma pedra de três pontas na mão e a jogou no cisne.

 ‘Zum’ fez a pedra atravessando os ares e o cisne, suspeitando perigo, parou para escutar. Imediatamente o Irmão pegou uma pedra lisa, e enquanto o cisne parado olhava para outro lado, o acertou em cheio em um olho de modo que a pedra entrou por um olho e saiu pelo outro. E com um alto grito o cisne caiu no chão aos pés deles. “Isto é um ato altamente errado,” disse o outro Irmão, e o trouxe diante do Mestre, com um relato do que aconteceu.

 Após censurar o Irmão, o Mestre disse, “A mesma habilidade era dele, Irmãos, em dias idos como agora.” E contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um dos cortesãos do Rei. E o capelão real daqueles dias era tão tagarela e prolixo que, quando começava ninguém conseguia palavra. Então o Rei procurou com afinco por alguém que interrompesse, abreviasse, o capelão, e procurou em cima e embaixo por alguém. Bem, naqueles dias havia um paralítico em Benares que era um atirador maravilhoso com pedras, e os garotos usavam colocá-lo num carro pequeno e levá-lo para os portões de Benares, onde havia uma grande árvore banian coberta de folhas. Lá se reuniam e davam a ele meio centavo dizendo, ‘Faça um elefante,’ ou ‘Faça um cavalo.’ E o paralítico atirava pedra atrás de pedra até ter cortado na folhagem as formas pedidas. E o chão ficava coberto de folhas caídas.

No seu caminho para o jardim o Rei veio até este lugar, e todos os garotos fugiram com medo do Rei, deixando o paralítico lá sozinho. Vendo as folhas no chão o Rei perguntou, enquanto dirigia por cima delas no seu carro, quem cortou as folhas. E a ele foi dito que foi o paralítico.

 Pensando que podia haver aí um jeito de parar a língua do capelão, o Rei perguntou onde estava o paralítico e o mostraram ele sentado debaixo d’árvore. O Rei então mandou trazerem-no e separando-se de seu séquito, disse ao paralítico, “Tenho capelão tagarela. Achas que podes parar a língua dele ?”Sim, senhor,- s’eu tivesse uma zarabatana cheia de cocô de cabra seco,” disse o paralítico. Então o rei trouxe-o para o palácio e colocou-o com uma zarabatana cheia de cocô de cabra seco atrás de uma cortina com uma abertura nela, mirando o assento do capelão. Quando o brahmin veio para diante do Rei e estava sentado no assento preparado para ele, sua majestade começou uma conversa. E a partir dali o capelão monopolizou a conversação totalmente, e ninguém conseguia dizer uma palavra.

 Com isto o paralítico começou a atirar as bolas de cocô de cabra seco, uma a uma, como moscas, através da abertura na cortina na goela do capelão. E o brahmin engolia as pelotas assim que entravam, também com um tanto de óleo, até que todas foram. Quando a zarabatana cheia de pelotas estava no estômago do capelão, elas incharam até a medida de meio celamin (4,4 litros) ; e o Rei sabendo que já tinha ido todas, dirigiu-se ao brahmin nestas palavras: “Reverendo senhor, falas tanto, que engoliste uma zarabatana cheia de cocô de cabra sem notar. É tanto quanto aguentas tomar sentado. Agora vás para casa e tome uma dose de semente de painço com água à guisa de emético e recomponha-se novamente.”

A partir daquele dia o capelão manteve sua boca fechada e sentava tão silencioso durante a conversação como se seus lábios estivessem selados.

Bem, minhas orelhas estão em débito com o paralítico por este alívio,” disse o Rei, e deu a ele quatro cidades, uma no Norte, uma no Sul, uma no Oeste e uma no Leste, que rendiam cem mil por ano.

O Bodhisatva aproximou-se do Rei e disse, “Neste mundo, senhor, habilidade deve ser cultivada pelo sábio. Mera mira como habilidade trouxe ao paralítico toda esta prosperidade.” Assim falando ele pronunciou esta estrofe:-

Preze habilidade, e note, no atirador, sua paralisia
- quatro cidades ganhou sua pontaria.
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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Este Irmão era o paralítico daqueles dias, Ānanda o Rei e eu o sábio cortesão.”





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