quarta-feira, 21 de maio de 2008

111 Osadha & Amara II




  ( Mah' Osadha à direita conversando com os quatro sábios à esquerda pintura de Ajanta vihara buddhista construída por Arhat Acharya )

111
Osadha & Amarā (cont.)

4. “A linha de algodão.” Uma certa mulher que costumava olhar campos de algodão, olhava um dia e pegou um pouco de algodão limpo e fiou um pouco de linha fina e fez com ela um novelo e colocou no seu regaço. Quando ia para casa pensou consigo mesma, “Me banharei no tanque, lago, do grande sábio,” e assim colocou o novelo na roupa e desceu para banhar-se no tanque. Outra mulher viu isto, e concebendo desejo por ele, o pegou dizendo, “Este é um belo novelo de linha; você mesma que fez ?” Ela então estalou levemente os dedos e o colocou no seu regaço como para examiná-lo mais detalhadamente, e saiu andando com ele. (Aqui acontece o mesmo que na história anterior.) O sábio pergunta à ladra, “Quando fizeste o novelo o quê você colocou dentro (para enrolá-lo) ?” Ela respondeu, “Uma semente de algodão.” Então ele perguntou à outra, e ela respondeu, “Uma semente de timbaru.” Quando a multidão escutou o quê cada uma disse, ele desenrolou o novelo de algodão e descobriu uma semente de timbaru dentro e forçou a ladra a confessar a culpa. A grande multidão ficou altamente agraciada e gritou em aplauso pelo jeito como o caso foi solucionado.

5. “O filho.” Uma certa mulher pegou seu filho e desceu para o tanque, lago, do sábio para lavar o rosto. Depois que ela banhou o filho, deixou-o nas roupas e tendo lavado a própria face foi banhar-se. Naquele momento uma mulher duende viu a criança e desejou comê-la, ela então segurou o vestido e disse, “Minha amiga, esta é uma bela criança, é seu filho ?” Depois perguntou se podia dar mamar a ele e obtendo o consentimento da mãe, o pegou, brincou com ele um pouco e tentou fugir correndo com a criança. A outra correu atrás dela e a segurou, gritando, “Para onde você está levando minha criança ?” A duende respondeu, “Por quê tocas na criança ? ele é meu.” E enquanto disputavam passavam pela porta do salão, e o sábio, escutando o barulho, chamou-as e perguntou a causa do barulho. Quando ouviu a história, apesar dele saber logo pelos seus olhos vermelhos que não piscam que uma delas era duende, ele perguntou se aceitariam a decisão dele. Tendo elas assim prometido, ele desenhou um linha e colocou a criança no meio da linha e pediu à duende que tomasse a criança pelas mãos e à mãe pelos pés. E disse a elas, “Segurem firmes a ele e puxem; a criança é daquela que puxá-la mais.” Elas duas puxaram e a criança, sendo machucada enquanto era puxada, soltou um grande grito. Então a mãe, com o coração que parecia a ponto de explodir, soltou a criança e ficou chorando. O sábio perguntou à multidão, “É o coração da mãe que é mole em relação à criança ou o coração daquela que não é a mãe ?” Eles responderam, “O coração da mãe.” “É a mãe aquela que segurou a criança ou aquela que a soltou ?” Eles responderam, “Aquela que a soltou.” “Vocês sabem quem é aquela que roubou a criança ?” “Não sabemos, Ó sábio.” “Ela é uma duende,- ela o pegou para comer.” Quando perguntaram como ele sabia disto, ele respondeu, “Eu a reconheci pelos olhos vermelhos que não piscam e porque ela não joga nenhuma sombra, pelo seu destemor e por sua vontade de um capricho.” Então perguntou-lhe o quê ela era, e ela confessou que era uma duende. “Por quê pegou a criança ?” “Para comê-la.” “Tola cega,” ele disse, “cometeste pecado em tempos passados e por isto nasceste duende; e agora continuas a pecar, tola cega que és.” Então a exortou e a estabeleceu nos cinco preceitos e a mandou embora; e a mãe o abençoou, dizendo, “Que tu possas viver bastante, meu senhor,” pegou o filho e seguiu seu caminho.

6. “O Bola Negra.” Havia um homem que era chamado Golakāla,- bem ele arranjou o nome de gola ‘bola’ por ser do tamanho de um anão, e kāla por causa da sua cor negra. Trabalhava numa certa casa por sete anos e obteve uma esposa que se chamava Dighatālā. Um dia ele disse a ela, “Esposa, cozinhe alguns doces e comidas e façamos uma visita a seus pais.” No começo ela se opôs à proposta, dizendo, “O quê tenho a ver com meus pais agora ?” mas depois dele pedir três vezes ela cozinhou alguns biscoitos, e pegando alguns mantimentos e um presente, ele saiu em viagem com ela. No curso da jornada ele chegou em um rio que não era realmente fundo mas eles estando ambos com medo d’água, não ousavam atravessá-lo e permaneceram na margem. Bem, um homem pobre chamado Dighapitthi chegou naquele lugar enquanto caminhava pela margem e quando eles o viram perguntaram-no se o rio era fundo ou raso. Vendo que eles estavam com medo d’água ele lhes disse que era muito fundo e cheio de peixes vorazes. “Como então você vai atravessar ?” “Fiz amizade com crocodilos e monstros que vivem aqui e daí eles não me atacam.” “Leve-nos com você,” eles disseram. Quando ele aceitou deram-lhe bebida e um pouco de carne; e após se alimentar perguntou a quem levaria primeiro. “Leve esta sua irmã primeiro e depois me pegue,” disse Golakalā. O sujeito então a colocou nos ombros, pegou os mantimentos e o presente e desceu para dentro do rio. Quando já tinha percorrido um pouco do caminho, ele se agachou e passou a andar em postura curvada. Golakāla, enquanto estava na margem, pensou consigo mesmo, “Este rio deve ser realmente muito fundo; se é tão difícil mesmo para um homem como Dighapitthi, deve ser intransponível para mim.” O outro quando já estava com a mulher no meio do rio, disse a ela, “Senhora, cuidarei de ti, e viverás belamente vestida com roupas finas, ornamentos, empregados e empregadas; o quê este anão pobre fará por ti ? ouça o quê te falo.” Ela escutou as palavras dele e deixou de amar seu marido, e ficando logo apaixonada pelo estranho, ela consentiu dizendo, “Se você não me abandonar, farei como você quer.” Então quando chegaram na margem oposta, se divertiram, deixando Golakāla e mandando ele ficar onde estava. Ele ficou lá olhando, eles comeram a carne, beberam e partiram. Quando ele viu isto, exclamou, “Eles fizeram amizade e estão fugindo me deixando aqui.” Enquanto corria de um lado para outro, entrou um pouco n’água e saiu de novo com medo, e então com raiva da conduta deles, deu um salto desesperado, dizendo, “Qu’eu viva ou morra,” e uma vez inteiramente dentro descobriu como era rasa a água. Atravessou e perseguiu-os gritando, “Ladrão depravado, para onde carregas minha esposa ?” O outro respondeu, “Como que ela é sua esposa ? ela é minha” ; e o pegou pelo pescoço e o girou e o atirou longe. O outro segurou a mão de Dighatālā e gritou, “Pare, onde vais ? você é minha esposa que obtive depois de trabalhar sete anos numa casa” ; e enquanto assim brigavam aproximaram-se do salão. Juntou-se grande multidão. O Grande Ser perguntando a razão do barulho e tendo-os chamado e escutado o quê cada um disse, perguntou se aceitariam sua decisão. Ambos aceitando chamou Dighapitthi e perguntou a ele seu nome. Depois perguntou o nome de sua esposa, mas ele, não sabendo qual era, disse qualquer outro nome. Então perguntou o nome dos pais dele e ele disse mas quando perguntou os nomes dos pais da esposa, não sabendo, disse outros nomes quaisquer. O Grande Ser juntou a história e mandou ele sair. Então chamou o outro e perguntou os nomes todos do mesmo jeito. Ele, sabendo a verdade, disse-os corretamente. Então o mandou sair e chamou Dighatālā e perguntou-a seu nome e ela disse. E perguntou a ela o nome do seu marido e ela, sem saber, deu um nome errado. Perguntou depois os nomes dos pais dela e ela disse corretamente mas quando perguntou os nomes dos pais de seu esposo, ela falou qualquer coisa e deu nomes errados. O sábio então chamou os outros dois e perguntou à multidão, “A história da mulher concorda com Dighapitthi ou com Golakāla ?” Eles responderam, “Com Golakāla.” Ele pronunciou então sua sentença, “Este homem é esposo dela, o outro é um ladrão”; e perguntando a ele o fez confessar que agira como ladrão.

7. “A carroça.” Um certo homem, que estava sentado numa carroça, desceu dela para lavar o rosto. Naquele momento Sakra fazia considerações e vendo o sábio resolve que tornaria conhecido o poder e a sabedoria de Mah’Osadha Buddha embrionário. Então desceu na forma de um homem, e seguiu a carroça segurando na parte de trás. O homem sentado na carroça perguntou, “Por quê você está aí ?” Ele respondeu, “Para servi-lo.” O homem concordou, e desmontando da carroça foi para um lado para fazer necessidade. Imediatamente Sakra subiu na carroça e fugiu velozmente. O dono da carroça, feita a necessidade, voltou; e quando ele viu Sakra fugindo com a carroça correu atrás também com velocidade, gritando, “Pare, pare, onde você vai levando minha carroça ?” Sakra respondeu, “Sua carroça deve ser outra, esta é minha.” Assim altercando chegaram no portão do salão. O sábio perguntou, “O que é isto ?” e o chamou : quando ele veio, pelo seu destemor e pelos olhos que não piscavam, o sábio soube que era Sakra e o outro era o dono. Contudo, inquiriu a razão da querela, perguntando, “Vocês aceitam minha decisão ?” Eles disseram, “Sim.” Ele continuou, “Vou fazer a carroça ser dirigida, e vocês seguram atrás da carroça : o dono não a deixará ir , o outro sim.” Disse então a um sujeito para dirigir a carroça, e ele o fez, os outros segurando atrás. O dono seguiu um pouco do caminho e sendo incapaz de seguir adiante deixou-a ir mas Sakra continuou correndo atrás da carroça. Quando chamou de volta a carroça, o sábio disse ao povo : “Este homem correu um pouco do caminho e a deixou ir; este outro correu com a carroça e voltou de volta com ela e ainda assim não há uma gota de suor em seu corpo, nenhum arquejo (no panting), ele está destemido, seus olhos não piscam – este é Sakra, rei dos deuses.” E perguntou, “Você é o rei dos deuses ?” “Sim.” “Por quê veio aqui ?” “Para espalhar a fama da sua sabedoria, Ó sábio !” “Então,” disse ele, “não faça este tipo de coisa novamente.” Revela agora Sakra seu poder e pousado no ar, louva o sábio, dizendo, “Sábio juízo este !” E ele foi para sua morada. Então o ministro conselheiro sem ser convocado foi ao rei, e disse, “Ó grande rei, a Questão da Carroça foi assim resolvida : e até Sakra foi moderado por ele ; por que não reconheces o quê há de superior entre as pessoas ?” O rei perguntou a Senaka, “Você você diz, Senaka, devemos trazer o sábio aqui ?” Senaka respondeu, “Não é isto, tudo o que constitui um sábio. Aguarde um pouco : vou testá-lo e descobrir.”

8. “O pólo (vara).” Então um dia , com o intuito de testar o sábio, eles extraíram um pólo (vara) de acácia, e cortando cerca de um palmo, belamente talhada ao passar no torno, enviou-a para a vila-Mercado, com esta mensagem: “O povo da vila-Mercado tem um nome para sabedoria. Que descubram qual extremidade é do topo e qual da raiz deste pedaço de árvore. Se não conseguirem, haverá multa de mil dinheiros.” O povo se reuniu mas não pode descobrir, e disseram ao chefe deles, “Talvez Mah’Osadha o sábio saiba ; chame-o e pergunte a ele.” O chefe mandou chamar o sábio na sua praça de esportes e contou a ele o problema que não conseguiram resolver e que talvez ele pudesse. O sábio pensou consigo, “O rei nada ganhará em saber qual o topo qual a raiz ; sem dúvida isto foi enviado para me testar.” Ele disse, “Traga isto aqui meus amigos, descobrirei.” Segurando na sua mão, ele soube qual o topo qual a raiz ; ainda assim para agradar o coração do povo, ele pediu um pote de água e amarrou uma corda no meio do pedaço de árvore, e segurando pela extremidade da corda deixou-o pousar na superfície da água. A raiz sendo mais pesada afunda primeiro. Depois perguntou ao povo, “É a raiz da árvore mais pesada, ou o topo ?” “A raiz, sábio senhor !” “Veja então esta parte afunda primeiro e esta portanto é a raiz.” Com esta marca distinguiu a raiz do topo. O povo a mandou de volta ao rei, distinguindo qual a raiz qual o topo. O rei ficou agraciado, e perguntou quem descobriu. Eles disseram, “O sábio Mah’Osadha, filho do chefe Sirivaddhi.” “Senaka, devo mandar chamá-lo ?” perguntou. “Espere, meu senhor,” ele respondeu, “vamos testá-lo de outro jeito.”

9. “A cabeça.” Um dia, duas cabeças foram trazidas, uma de mulher outra de homem ; foram enviadas para serem distintas, com multa de mil dinheiros se falhassem. Os cidadãos não souberam decidir e perguntaram ao Grande Ser. Ele reconheceu logo ao ver, porque, dizem, as suturas no crânio de homem são retas, e no crânio de mulher, curvas. Por esta marca disse quem era quem ; e mandaram de volta para o rei. O resto como antes.

10. “A cobra.” Um dia foram trazidas uma cobra macho e outra fêmea e enviadas aos da vila para decidirem qual era qual. Eles perguntaram ao sábio, e ele soube logo quando as viu ; pois o cauda da cobra macho é grossa, e a da fêmea fina ; a cabeça da cobra macho é grossa, e a da fêmea longa ; os olhos do macho são grandes e os da fêmea pequeno, a cabeça do macho é redonda e a da fêmea cortada. Por estes sinais ele distinguiu o macho da fêmea. O resto é como antes.

11. “O galo.” Um dia uma mensagem foi enviada ao povo da vila-Mercado do Leste com esa informação : “Enviem-nos um touro todo branco, com chifres nas pernas, e uma corcunda na cabeça, que solte sua voz em três notas distintas sem falhar ; ou haverá multa de mil dinheiros.” Sem conhecerem nenhum, perguntaram ao sábio. Ele disse: “O rei quer vocês mandem a ele um galo. Esta criatura tem chifres nos pés, as esporas ; uma corcunda na cabeça, a crista ; e canta em três vozes em três tempos sem falhar. Então enviem a ele um galo tal como descrito.” E eles enviaram um.

12. “A gema.” A gema que Sakra deu ao Rei Kusa era octagonal. A linha dela se rompeu, e ninguém conseguia remover a linha velha e passar uma nova. Um dia enviaram esta gema, com as instruções de tirar a linha velha e colocar uma nova ; os da vila não conseguiram fazer nem uma coisa nem outra, e aflitos falaram ao sábio. Ele comandou-os a nada temerem, e pediu um punhado de mel. Com este untou os dois furos na gema, e torcendo um fio de lã, untou também a extremidade deste com mel, empurrou um pouco no caminho do furo, e colocou num lugar em que formigas passavam. As formigas cheirando o mel saíram do buraco delas e comendo a velha linha morderam a extremidade da nova linha de algodão e a puxaram até a outra extremidade para fora. Quando viu que ela havia passado, solicitou a eles que apresentassem ao rei, que ficou agraciado quando escutou como a linha foi colocada.

13. “Dando cria.“ O touro real foi alimentado por alguns meses, de modo que a barriga dele inchou, seus chifres foram lavados, e ele ungido em óleo, e lavado com cúrcuma (açafrão da Índia) e enviado à vila-Mercado do Leste, com esta mensagem : “Vocês têm um nome para sabedoria. Aqui está o touro real, dando cria ; façam o parto dele e depois o mandem de volta com o bezerro, ou haverá multa de mil dinheiros.” Os da vila, perplexos sobre o que fazer, recorreram ao sábio ; que achou adequado responder uma pergunta com outra, e perguntou, “Podem me achar um careca capaz de falar ao rei ?” “Isto não é difícil,” responderam. De modo que chamaram um e o Grande Ser disse – “Vá, meu bom homem, e deixe este seu cabelo de baixo cair nos ombros, e vá ao portão do palácio chorando e se lamentando angustiado. Não responda a ninguém a não ser ao rei, apenas lamente; e quando o rei mandar perguntar a você por quê choras, diga, ‘Este é o sétimo dia que meu filho está em trabalho de parto e não nasce; Ó ajude-me ! diga-me como parí-lo !’ Então o rei dirá, ‘Que loucura! isto é impossível ; homens não carregam crianças.’ Então deves dizer, ‘Se isto é verdade, como pode o povo da vila-Mercado do Leste parir um bezerro do touro-real ?” Ele fez como foi ordenado. O rei perguntou quem pensou o gracejo ; e escutando que foi o sábio Mah’Osadha ficou agraciado.

14. “O arroz cozido.” Outro dia, para testar o sábio, foi enviada esta mensagem: “O povo da vila-Mercado do Leste deve nos enviar arroz cozido cozido sob estas oito condições, são estas – sem arroz, sem água, sem panela, sem fogão, sem fogo, sem lenha, sem ser enviado seja por homem seja por mulher. Se não puderem fazer isto haverá multa de mil dinheiros.” O povo perplexo recorreu ao sábio ; que disse, “Não se apoquetem. Peguem um pouco de arroz quebrado pois isto não é arroz ; neve pois ela não é água ; uma tigela de barro pois não é panela ; corte lenha pois não é fogão ; acenda o fogo por atrito ao invés de fósforos ; pegue folhas ao invés de lenha ; cozinhe seu arroz estragado, coloque num pote novo, feche bem, ponha na cabeça de um eunuco, que não nem homem nem mulher, deixe a estrada principal e vá por um atalho, e leve ao rei.” Eles fizeram isto ; e o rei ficou agraciado quando escutou por quem foi resolvida a questão.

15. “A areia.” Outro dia, para testar o sábio, enviaram esta mensagem para os da vila : “O rei quer brincar de balanço mas a velha corda esta quebrada ; vocês devem fazer uma corda de areia ou pagar multa de mil dinheiros.” Eles não sabiam o quê fazer e apelaram ao sábio que percebeu ser ocasião de gracejo. Ele confirmou o povo ; e enviando dois ou três bons faladores, mandou-lhes falarem ao rei : “Meu senhor, os da vila não sabem se a corda de areia é para ser grossa ou fina ; mande para eles um pedaço da velha corda, um pedaço longo ou só quatro dedos ; eles olharão e enrolarão uma corda do mesmo tamanho.” Se o rei responder, “Nunca houve corda de areia na minha casa,” eles responderão, “Se vossa majestade não pode fazer corda de areia como podem os da vila ?” Eles fizeram isto ; e o rei ficou agraciado escutando o gracejo que sábio pensara.

16. “O tanque.” Outro dia, a mensagem foi : “O rei deseja brincar na água ; vocês devem me enviar um novo tanque coberto com lírios aquáticos dos cinco tipos ou haverá multa de mil dinheiros.” Contaram ao sábio que percebeu que queriam gracejar. Ele enviou muitos homens inteligentes no falar e disse a eles: “Vão e brinquem n’água até os olhos de vocês estarem vermelhos, vão à porta do palácio com cabelos molhados e roupas molhadas e com limo por todo corpo, segurando nas mãos cordas, estacas e terras ; enviem mensagem ao rei falando da chegada de vocês e quando forem admitidos digam a ele, ‘Senhor, como sua majestade ordenou que o povo da vila-Mercado do Leste enviasse um tanque, nós trouxemos um grande tanque adequado ao seu gosto ; mas ela acostumada à vida na floresta, logo que viu a vila com muros, moinhos e torres de vigia, tornou-se temerosa e rompeu as cordas e fugiu para a floresta : golpeamos a ela com paus e batemos nela com varas mas não conseguimos fazê-la voltar. Dê-nos então o velho tanque que sua majestade disse haver trazido da floresta e amarraremos um n’ outro e o traremos de volta’. O rei dirá, ‘Nunca tive um tanque trazido da floresta e nunca enviarei um tanque para ser amarrado e puxado com outro !’ Então vocês devem dizer, ‘Se é assim como podem os da vila ter enviarem um tanque ?’ ” Eles fizeram assim ; e o rei ficou agraciado de escutar que o sábio pensou tudo isto.

17. “O parque.” Novamente um dia o rei enviou mensagem: “Desejo me divertir num parque e meu parque está velho. O povo da vila-Mercado do Leste deve me enviar um novo parque cheio de flores e árvores.” O sábio os confirmou como antes, e enviou pessoas para falarem da mesma maneira que a anterior.

18. Então o rei ficou agraciado e disse a Senaka: “Bem Senaka, devemos chamar o sábio ?” Mas ele, invejando a prosperidade do outro, disse, “Isto não é tudo que faz um sábio ; espere.” Escutando isto o rei pensou, “ Mah’Osadha já era sábio quando criança , e me agraciou. Em todos estes testes e gracejos misteriosos ele respondeu como um Buddha. Ainda assim este sábio Senaka não deixa convocá-lo à minha presença. O quê tenho a ver com Senaka? Trarei o homem para cá. “ Então com um grande séqüito partiu para a vila montado em seu cavalo real. Mas enquanto ia o cavalo colocou sua pata num buraco e quebrou a perna ; de modo que o rei voltou daquele lugar para a cidade. Então Senaka entrando à presença dele disse, “Senhor, fostes à vila-Mercado do Leste para trazer consigo o sábio ?” “Sim, senhor,” disse o rei. “Senhor,” disse Senaka, “fazes de mim como de alguém que não contasse. Implorei que esperasses um pouco mas saíste apressado e na saída seu cavalo real quebrou a perna.” O rei ficou sem ter nada para dizer. Outro dia de novo ele perguntou a Senaka, “Devemos chamar o sábio, Senaka ?” “Se fizeres isto, sua majestade, não vá você mesmo, mande um mensageiro, dizendo, Ó sábio ! quando estava no caminho para buscá-lo, meu cavalo quebrou a perna : envie-nos um cavalo melhor e um melhor ainda ( n. do tr.:
assataram no pesetu setthatarañ ca. Há um jogo de palavras; assatara podendo significar mula, ou bezerro ). Se ele escolher a primeira alternativa virá ele mesmo se a segunda enviará seu pai. Assim teremos um problema com que testá-lo.” O rei enviou uma mensageiro com esta mensagem. O sábio ao escutá-la reconheceu que o rei desejava vê-lo e a seu pai. Então foi até seu pai e saudou-o assim, “Pai, o rei quer ver você e eu. Você vai na frente com um milhar de mercadores auxiliá-lo ; e quando você for, não vá de mão vazia mas leve uma caixa de madeira de sândalo cheia de ghee fresco. O rei vai falar gentilmente contigo, e te oferecer um assento de chefe de família ; tome-o e sente-se ; quando você já estiver sentado, eu chegarei ; o rei falará gentilmente comigo e me oferecerá assento semelhante. Aí eu olharei para você ; pegue a dica e diga, levantando-se de seu assento, Filho Mah’Osadha o sábio, tome este lugar. A questão então estará madura para a solução.” Ele fez isto. Chegando à porta do palácio fez que sua chegada fosse sabida pelo rei, e ao convite do rei, ele entrou, e saudou o rei, e ficou em um dos lados. O rei falou com ele gentilmente e perguntou onde estava seu filho o sábio Mah’Osadha . “Ele vem depois de mim, meu senhor.” O rei agraciado ao escutar que ele vinha e pediu ao pai que se assentasse no lugar apropriado. Ele encontrou um lugar e lá sentou. Enquanto isto o Grande Ser vestia-se em todo seu esplendor e ajudado por mil jovens ele veio sentado em carruagem magnífica. Enquanto entrava na cidade viu um jumento do lado da fossa, e deu ordens para que alguns rapazes fortes amarrassem a boca do jegue para que ele não fizesse barulho, colocassem ele num saco e carregassem nos ombros. Eles fizeram isto; o Bodhisatva entrou na cidade em grande companhia. O povo não conseguia o louvar o suficiente. “Este,” eles gritavam, “é o sábio Mah’Osadha, o filho do mercador Sirivaddhaka ; este é aquele de quem se diz nasceu segurando uma erva virtuosa à mão ; este é aquele que sabia as respostas a muitos problemas dados para testá-lo.” Ao chegar diante do palácio mandou avisar da chegada. O rei ficou agraciado ao escutar e disse, “Que meu filho o sábio Mah’Osadha apresse-se em chegar.” Então com seus ajudantes entrou no palácio e saudou ao rei e ficou de um lado. O rei deliciado em vê-lo falou com ele docemente e ordenou que encontrasse um lugar adequado e sentasse. Ele olhou para o pai e o pai com a dica levantou do assento e o convidou para lá sentar, o quê ele fez. Aí os homens tolos que lá estavam, Senaka, Pukkusa, Kāvinda, Devinda [ nossos amigos na antiga pintura retratados ], e outros vendo-o assim sentar, bateram palmas e riram alto e gritaram, “Este é o tolo cego que chamam sábio ! Ele fez o pai sair do assento para ele mesmo lá se sentar ! De sábio certamente não deve ser chamado.” O rei também ficou desconcertado. Então o Grande Ser disse, “Por quê , meu senhor! estais triste ?” “Sim, sábio senhor, estou triste. Estava feliz em ouvir falar de ti mas ao vê-lo não fiquei feliz.” “Por quê isto?” “Porque você fez seu pai levantar do assento dele para você assentar.” “Pois, meu senhor ! pensas que em todos os casos o pai é melhor que os filhos ?” “Sim, senhor.” Você não me mandou mensagem para trazer um cavalo melhor ou um melhor ainda ?” Assim dizendo, ele levantou e olhando para os jovens fortes, falou, “Me traga o jumento que vocês pegaram.” Colocando este jumento diante do rei , continuou, “Senhor, qual o preço deste asno ?” O rei disse, “Se for de serviço vale oito rúpias.” “Se ele gerar um potro-mula em uma égua puro sangue Sindh, qual seria o preço daquele ?” “Seria sem preço.” “Por quê dizes isto, meu senhor ? Não tinhas acabado de falar que em todos os casos o pai é melhor que os filhos ? Pelo seu dito o asno vale mais que o potro-mula [da égua de raça]. Não bateram palmas seus homens sábios e riram porque não sabiam disto ? Que sabedoria a destes homens sábios ! onde você os achou ?” E em desprezo pelos quatro homens sábios ele dirigiu-se ao rei nesta estrofe [versos canônicos do Jātaka 111]:

Pensas que o pai é sempre melhor que o filho, Ó rei excelente?
Então aquela criatura ali é melhor que o potro-mula; o jumento é pai da mula.

Após disto dito, continuou, “Meu senhor, se o pai é melhor que o filho, tome meu pai à seu serviço ; se o filho for melhor que o pai, me tome.” O rei ficou deliciado ; e toda a companhia gritou e aplaudiu e louvou mil vezes – “Bem realmente o homem sábio resolveu a questão.” Houve estalar de dedos e agitar de milhares de lenços : os quatro ficaram desconcertados.
Bem ninguém sabia melhor que o Bodhisat o valor dos pais. Se alguém pergunta então porque fez isto ; não foi por desprezar seu pai mas quando o rei enviou mensagem, requisitando ‘cavalo melhor ou melhor ainda,’ ele o fez de modo a resolver o problema e de fazer sua sabedoria conhecida e retirar o brilho dos quatro sábios.

O rei ficou agraciado ; e pegando o vaso de ouro encheu-o com água perfumada derramando água nas mãos do mercador dizendo, “Goze da vila-Mercado do Leste como um presente do rei. – Que os outros mercadores,” ele continuou, “sejam subordinados a este.” Isto feito mandou para a mãe do Bodhisat todos os tipos de ornamentos. Deliciado como estava com a solução do Bodhisat Á Questão do Jumento, ele queria fazer do Bodhisat seu próprio filho, e disse ao pai, “Bom senhor, me dê o Grande Ser para ser meu filho.” Ele respondeu, “Senhor, ele ainda é muito jovem; a boca dele ainda está cheirando a leite : mas quando estiver crescido, ele ficará contigo.” Disse contudo o rei, “Bom senhor, então deves cortar seu apego pelo garoto ; a partir de hoje ele é meu filho. Posso suportar meu filho, siga seu caminho.” E o mandou embora. Ele obedeceu o rei, e beijou seu filho e abraçando-o beijou-o na cabeça e deu-lhe conselhos. O filho também deu adeus ao pai e disse-lhe para não ficar ansioso, e o mandou partir.
O rei então perguntou ao sábio se se alimentaria dentro ou fora do palácio. Ele pensando que com tão largo séqüito seria melhor comer fora do palácio, respondeu deste jeito. O rei deu-lhe uma casa adequada e providenciou o sustento dos mil jovens e tudo que era necessário. A partir daí o sábio ajudava o rei. (continua)





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