sábado, 24 de maio de 2008

113 Buddha Espírito d'Árvore


113
O chacal bêbado...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre Devadatra. Os Irmãos reuniram-se no Salão da Verdade e falavam de como Devadatra foi para Gayāsisa com quinhentos seguidores, aos quais levava ao erro declarando que a Verdade era manifesta nele “e não no asceta Gautama” ; e de como por suas mentiras causou cisma na Irmandade ; e de como guardava dois dias de jejum por semana. E enquanto sentavam lá falando da maldade de Devadatra, o Mestre entrou e escutou o tema da conversa. “Irmãos,” disse ele, “Devadatra foi um grande mentiroso no passado como é agora.” Assim falando, contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu Espírito d’Árvore num bosque do cemitério. Naqueles dias uma festa foi proclamada em Benares e o povo resolveu sacrificar aos ogros. Então espalharam peixe e carne pelos jardins e ruas e outros lugares, e colocaram potes de bebida forte. À meia noite um chacal entrou na cidade pelo esgoto, e se regalou de carne e bebida. Rastejando para uns arbustos dormiu até aurora do dia. Acordando e vendo que já estava na luz do dia, soube que não poderia fazer em segurança o trajeto de volta naquela hora. Então esperou quieto deitado na estrada onde não podia ser visto, até que por fim viu um brahmin solitário no seu caminho para lavar a boca no tanque. O chacal pensou consigo mesmo, “Brahmins são gananciosos. Devo então jogar com a cobiça dele para que me carregue para fora da cidade debaixo da roupa, do manto.” Então com voz humana, gritou “Brahmin.”

Quem me chama ?” disse o brahmin, virando-se. “Eu, brahminn.” “Para que ?” “Tenho duzentas moedas de ouro, brahmin ; e se você me esconder debaixo do seu manto na sua roupa de fora e então me tirar da cidade sem ninguém me ver , você fica com elas todas.”

Fechando com a oferta, o brahmin ganancioso escondeu o chacal e carregou a besta no pouco de caminho para fora da cidade. “Que lugar é este, brahmin ?” disse o chacal. “Ah, é tal e tal lugar,” disse o brahmin. “Vá mais um pouco adiante,” disse o chacal e manteve o pedido ao brahmin de ir sempre mais um pouco adiante, até que por fim alcançaram o parque-crematório. “Agora posso sair,” disse o chacal ; e o brahmin deixou-o ir. “Espalhe seu manto no chão, brahmin.” E o brahmin ganancioso assim o fez. “E agora cave esta árvore até as raízes,” disse ele, e enquanto o brahmin trabalhava ele andou por cima do manto e cagou e mijou em cinco lugares, - os quatro cantos e o meio. Isto feito, fugiu para a floresta.

Aí o Bodhisatva, ereto na forquilha d’árvore, pronunciou esta estrofe: -

O chacal bêbado, brahmim, cagou na tua crença!
Tu não encontrarás aqui cem conchas-moedas,
Muito menos o quê buscas, duzentas moedas de ouro.

E quando repetiu os versos, o Bodhisatva ainda disse ao brahmin, “Vá e lave seu manto e banhe-se, e siga seu caminho.” Assim falando ele sumiu da visão, e o brahmin fez como ordenado, partindo bastante mortificado de ter sido assim enganado.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Devadatra era o chacal daqueles dias, e eu o Espírito d’Árvore.”

[“conchas-moedas, cauri, do hindustani kauri, molusco gastrópode da família dos cipreídeos, gênero Cypraea L. As espécies C. Moneda L. e C. Annulus L. foram usadas no século passado como moedas, do Sudão à China. A concha tem fundo castanho com manchas brancas, sendo a parte voltada para baixo mais escura , às vezes azulada ; uma linha ondulada branco-azul percorre longitudinalmente a parte superior da concha ; o comprimento é de 0,07 a 0,10 m”. Aurélio B. de Holanda, 'Novo dicionário da língua portuguesa'. A presença aqui do cauri dá conta da sua antiguidade.]



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