quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

497 Buddha sábio Matanga



         ( Pintura de teto de Ajanta, Índia )
           
497
De onde vens ... etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre o rei hereditário Udena. Naquele tempo, o reverendo Pindola-bharadvaja passando por Jetavana pelos ares, costumava geralmente passar o calor do dia no parque do rei Udena em Kosambi. O Ancião, nos foi dito, foi rei em uma existência anterior e por um longo tempo gozou de glória naquele mesmo parque com seu séquito. Por virtude do bem por ele realizado então, costumava sentar lá no calor do dia, gozando da benção da Consecução que era seu fruto.

Um dia ele estava naquele lugar, sentado debaixo de um salgueiro em flor, quando Udena chegou no parque com um largo número de seguidores. Por sete dias ele bebeu pesado e desejava o prazer do parque. Deitou num assento real nos braços de uma de suas mulheres e estando ébrio logo dormiu. Então as mulheres que sentavam ao redor cantando largaram seus instrumentos musicais e vagaram pelo parque catando flores e frutos. Logo viram o Ancião e aproximaram-se saudaram-no e sentaram do lado. O Ancião sentado onde estava discursou para elas. A outra mulher balançou os braços e acordou o rei, que disse, “Onde aquelas desleixadas foram ?” Ela respondeu, “Elas estão sentadas em anel ao redor de um asceta.” O rei ficou irado e foi até o Ancião, xingando e brigando : “Fora daqui, o farei ser devorado por formigas vermelhas !” Assim enraivecido fez com que uma cesta cheia de formigas vermelhas fosse jogada em cima do corpo do Ancião. Mas o Ancião elevou-se nos ares e aconselhou o rei ; então foi para Jetavana e pousou no corredor da Câmara Perfumada. “De onde vens?” perguntou o Tathagata : e ele contou-lhe o aconteciemnto. “Bharadvaja,” cotejou ele,, “esta não é a primeira vez que Udena despreza um homem religioso mas ele fez o mesmo antes.” Então à pedido do Ancião, ele contou uma história do passado. Cf Jatakas 409, 474 e 488.

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Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ) o Grande Ser nasceu fora da cidade, como filhode Candala e deram a ele o nome de Matanga, o Elefante ( tb um nome da casta Candala, a mais baixa ). Posteriormente ele atingiu sabedoria e sua fama espalhou-se publicamente como o Sábio Matanga. Bem, naquele tempo uma filha de mercador de Benares, Dittha-magalika ( lit. 'aquela que viu bons augúrios'), todo mês ou dois,costumava vir e brincar no parque com uma multidão de companheiros. Um dia, o Grande Ser foi à cidade em algum negócio e enquanto entrava no portão da cidade encontrou Dittha-mangalika. Ele saiu de lado e permaneceu totalmente quieto. Atrás de sua cortina Dittha-mangalika o espiou e perguntou, “Quem é aquele ?” “Um Candala, minha senhora.” “Bah,” ela disse, “vi algo que traz má sorte,” e lavando seus olhos com água perfumada deu as costas. O Povo que estava com ela gritou, “Ah, outcast bandido, fizeste-nos perder bebida e comida livre ho-je !” Com raiva eles socaram Matanga o sábio com as mãos e os pés, o fizeram perder os sentidos e foram embora. Após um pouco ele recobra a consciência e pensa, “A multidão ao redor de Dittha-mangalika me bateu sem nenhuma razão, um homem inocente. Não vou arredar o pé enquanto não a tiver , nem um momento antes.” Com esta resolução, ele foi e deitou na porta da casa do pai dela. Quando perguntaram a ele por quê deitava lá, sua resposta foi, “Tudo que eu quero é Dittha-mangalika.” Um dia passou, depois um segundo, um terceiro, quarto, quinto e sexto. A resolução dos Buddhas é imovível ; portanto no sétimo dia eles trouxeram fora a garota e a deram a ele. Então ela disse, “Levante-se, mestre, e vamos para tua casa.” Mas ele disse, “Senhora, apanhei bastante de teu Povo, estou fraco, ponha-me nas tuas costas e carregue-me.” Assim ela fez e em plena visão dos cidadãos saiu da cidade para a colônia Candala.

Lá por uns poucos dias o Grande Ser a manteve, sem transgredir qualquer regra da casta. Então ele pensou, “Somente renunciando o mundo e e de nenhum outro jeito, serei capaz de mostrar alta honra a esta senhora e lhe dar os melhores dons.” Então ele disse a ela, “Senhora, se não catar nada na floresta, não podemos viver. Vou para a floresta ; espere até eu retornar e não se preocupe.” Ele deixou ordens para os empregados não a esquecerem e foi para a floresta e abraçou a vida de asceta religioso, com toda a diligência ; de modo que em sete dias ele desenvolveu as Oito Consecuções e as Cinco Faculdades Sobrenaturais. Então ele pensou,”Agora serei capaz de proteger Dittha-mangalika.” Com seu poder sobrenatural ele voltou e pousou no portão da vila Candala, de onde procedeu para a porta da casa de Dittha-mangalika. Ela, quando escutou do seu retorno, saiu, e começou a lamentar dizendo, “Por quê me abandonaste, mestre, e te tornaste um asceta ?” Ele disse, “Não se preocupe,senhora, agora te farei mais gloriosa do que a glória que tiveste antes. Serias capaz de dizer nomeio do Povo apenas isto : 'Meu marido não é Matanga mas o Grande Brahma' ?” “Sim, mestre, posso dizer isto.” “Muito bem, quando perguntarem a você onde está teu marido, deves responder, 'Ele foi para o céu de Brahma'. Se eles perguntarem, quando ele voltará você deve dizer, 'Em sete dias ele virá, quebrando o disco da lua quando estiver cheia'.” Com estas palavras, ele foi embora para o Himalaia.

Bem Dittha-mangalika falou o que a ela foi dito aqui e lá em Benares, nomeio de uma grande multidão. O Povo acreditou dizendo, “Ah,ele é Grande Brahma e por isto não visita Dittha-mangalika mas acontecerá assim e assim.” Na noite da lua cheia, no momento que a lua estava na metade do seu curso, o Bodhisatva assumiu a aparência de Brahma e no meio de um brilho de luz que preencheu todo o reino de Kasi e a cidade de Benares extensa doze léguas, atravessou o disco da lua e desceu : três vezes fez o circuito acima da cidade de Benares e recebeu veneração de uma grande multidão com guirlandas perfumadas e tais coisas, e então virou seu rosto em direção à cidade Candala. Os devotos de Brahma reuniram-se juntos e foram para a cidade Candala. Eles cobriram a casa de Dittha-mangalika com roupas brancas, varreram o cão com as quatro essências cheirosas, espalharam flores, queimaram incenso, abriram um toldo, preparam um assento esplêndido, acenderam uma lâmpada de óleo de essência, depositaram na porta areia branca e macia como prato de prata, espalharam flores ( novamente ) , levantaram bandeiras. Diante da casa assim decorada o Grande Ser desceu e entrou, e sentou um pouco no assento. Naquele momento Dittha-mangalika estava fértil. O polegar dele tocou o umbigo dela e ela concebeu. Então o Grande Ser disse a ela, “Senhora, você está grávida, e deves dar à luz um filho ; tu e teu filho devem receber a mais alta honra e tributo ; àgua que lava teus pés será usada pelos reis para a aspersão cerimonial por toda a Índia, àgua que você se banha será um elixir de imortalidade, aqueles que a aspergirem em suas cabeças serão livres de todas as doenças e não conhecerão má sorte, aqueles que colocarem a cabeça nos teus pés e te saudarem devem doar mil peças de dinheiro, aqueles que em pé te escutam e te saúdam devem doar cem peças de dinheiro, e aqueles que permanecem `tua vista e te saúdam devem doar uma rúpia cada. Esteja vigilante !” Com este conselho, diante da multidão, ele elevou-se e re-entrou na lua.

Os devotos de Brahma reuniram-se e permaneceram lá por toda a noite ; de manhã a fizeram entrar em um palanquim de ouro e a elevando acima de suas cabeças, a carregaram para a cidade. Um grande ajuntamento veio até ela, gritando alto, “A esposa do Grande Brahma !” e a venerou com grinaldas cheirosas e tais coisas ; aqueles que foram permitidos deitar a cabeça nos pés dela e a saudar deram uma bolsa de mil dinheiros, aqueles que a escutam e saúdam cem dinheiros, aqueles que a saúdam avistando-as de pé, uma rúpia cada. Assim eles percorreram toda a cidade de Benares, doze léguas extensa e receberam uma soma de 18 crores ( cento e oitenta milhões ).

Tendo assim feito o circuito da cidade, eles a trouxeram para o centro e lá construíram um grande pavilhão e colocaram cortinas ao redor dele, e a fizeram residir lá no meio de muita glória e prosperidade. Diante do pavilhão, começaram a construir sete grandes portões de entrada e um palácio com sete andares : muito mérito novo foi estabelecido por conta disto.

Neste mesmo pavilhão, Dittha-mangalika deu à luz um filho. No seu dia de batismo, os brahmins reuniram-se e o chamaram Mandavya-kumara, o Príncipe do Pavilhão porque nasceu lá. Em dez meses o palácio estava terminado : a partir daí ela passou a morar nele, honrada altamente. E Príncipe Mandavya cresceu no meio de grande magnificência. Quando ele estava com sete ou oito anos, os melhores professores no comprimento e na largura de toda a Índiareuniram-se e ensinaram a ele os três Vedas. A partir dos dezesseis anos de idade fornecia comida para os brahmins e dezesseis mil brahmins eram alimentados continuamente ; na quarta guarnição de portão as ofertas eram distribuídas para os brahmins.

Bem, em um grande dia de festival prepararam uma quantidade de mingau de arroz e dezesseis mil brahmins sentaram na quarta guarnição de portão e partilhou desta comida , acompanhada de ghee fresca amarela dourada, mel cozido e pedaço de rapadura ; e o príncipe ele mesmo brilhantemente adornado com joias, sandálias douradas nos pés e uma vara de ouro fino nas mãos, andava ao redor e dando ordens, “Ghee aqui, mel aqui.” Naquele momento, o sábio Matanga sentado em seu eremitério nos Himalaias, virou seus pensamentos para ver que novidades havia do filho de Dittha-mangalika. Percebendo que ele ia pelo caminho errado, pensou, “Ho-je irei e converterei o jovem e o ensinarei como ofertar de modo que a oferta traga muito fruto.” Ele foi pelos ares para o Lago Anottata e lá lavou os dentes e assim por diante ; de pé no distrito de Manosila, vestiu um par de roupas coloridas, cingiu o cinto, colocou o manto remendado, pegou a tigela de barro, e foi pelos ares para o quarto portão onde pousou justo junto do salão de ofertas e ficou em um lado. Mandavya, olhando para um lado e outro, o espreitou. “De onde vens,” gritou ele, “você asceta, aborto outcast, um duende e não gente ?” e repetiu a primeira estrofe :

De onde vens, vestido em roupas sujas,
Uma criatura vil e tipo duende, prego,
Manto de retalhos remendados no peito,
Desmerecedor de um presente – diga, quem és tu ?

O Grande Ser escutou, e então com coração gentil se dirigiu a ele nas palavras da segunda estrofe :

A comida, Ó nobre senhor ! está pronta correta,
O Povo prova, come e bebe dela :
Sabe que vivemos do que conseguimos pegar ;
Levante ! Deixe o rústico casta baixa provar um pedaço.
Então Mandavya recitou a terceira estrofe :

Para brahmins, para minha benção, pela minha mão
Esta comida é feita, oferta de coração fiel.
Fora ! De que adianta ficar à minha vista ?
Isto não é para tais como tu : vil vagabundo, saia !

Então o Grande Ser repetiu uma estrofe :

Eles semeiam a semente na terra alta e na baixa,
Esperando por fruto e nos manguezais planos :
Em tal fé como esta conceda teus dons ;
Obterás então recebedores valiosos.

Então Mandavya repetiu uma estrofe :

Conheço as terras onde quero semear,
Lugares apropriados neste mundo para sementes,
Brahmins altamente nascidos, que conhecem escritos sacros :
Estes são chão bom e campos férteis realmente.

Então o Grande Ser repetiu duas estrofes :

O orgulho de nascimento, ato estima arrogante,
Bebedeira, aversão, ignorância e cobiça, -
Aqueles em cujos corações estes vícios encontram lugar,
Estes todos são campos ruins e estéreis para sementes.

O orgulho de nascimento, ato estima arrogante,
Bebedeira, aversão, ignorância e cobiça, -
Aqueles em cujos corações estes vícios não encontram lugar,
Estes todos são campos bons e férteis para sementes.

Estas palavras o Grande Ser repetiu várias vezes ; mas o outro ficou irado e gritou - “O sujeito reclama muito. Onde meus porteiros foram, que não colacam para fora o rústico ?” então ele repetiu a estrofe :

Ei Bhandakucchi, Upajjhaya alô !
E onde está Upajotiya, digo ?
Punam este sujeito, matem-no, vão -
E pela garganta arrastem o rústico tratante para fora !

Os homens escutaram o chamado dele, vieram correndo e o saudaram,perguntando, “O quê devemos fazer, meu senhor ?” “Vocês já viram antes este vil outcast ?” “Não, senhor, não sabíamos que ele tinha entrado : ele é um malabarista sem dúvida ou um trapaceiro esperto.” -”Bem, por quê ficam parados aí ?” -”O quê devemos fazer, meu senhor ?” -”Pois, batam na boca do sujeito, quebrem sua mandíbula, rasguem suas costas com varas e porretes, punam-no, peguem o tratante pela garganta, batam nele, fora com ele deste lugar !” Mas o Grande Ser, para que não viessem até ele, elevou-se nos ares e lá pousado, repetiu a estrofe :

Maltratar um sábio ! É tão útil quanto engolir chama acesa
Ou morder ferro duro, ou cavar uma montanha com as unhas.

Tendo pronunciado estas palavras, o Grande Ser elevou-se alto nos ares, enquanto o jovem e os brahmins contemplavam a visão.

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Explicando isto, o Mestre recitou a estrofe :

Assim falou o sábio Matanga, campeão da verdade e do direito, Então nos ares elevou-se para o alto diante da visão dos brahmins.

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Ele girou seu rosto para o leste e descendo em uma certa rua, com a intenção que suas pegadas ficassem visíveis, pediu ofertas próximo ao portão leste ; então, tendo coletado uma quantidade de alimentos variados, sentou-se em um certo salão e começou a comer. Mas as deidades da cidade aproximaram-se achando intolerável que este rei falasse assim aborrecendo o sábio deles. Assim o duende de mais idade entre eles prendeu Mandavya pelo pescoço e o girou e os outros prenderam os outros brahmins e giraram os pescoços deles. Por piedade pelo Bodhisatva, eles não mataram Mandavya : “é seu filho,” eles disseram e apenas o atormentaram. A cabeça de Mandavya foi girada de modo que olhava para trás acima dos ombros ; mãos e pés ficaram hirtas e duros ; seus olhos virados para cima, como se fora homem morto : lá ele ficou rígido. Os outros brahmins rodavam e rodavam babando cuspe pela boca. Povo foi e falou com Dittha-mangalika, “algo aconteceu com teu filho, minha senhora !” Ela apressou-se em ir lá e vendo-o gritou, “Ó, o quê é isto !” e recitou uma estrofe :

Sobre os ombros virada está sua cabeça ;
Vejam o braço esticado impotente !
Brancos estão seus olhos como se mortos estivessem :
Ó, quem obrou este dano em meu filho ?

Então os espectadores repetiram uma estrofe, contando a ela sobre isto :

Um eremita veio, vestido em roupas sujas ,
Uma criatura vil e tipo duende na aparência,
Com manto de trapos remendados no peito :
O homem que fez isto a teu filho é este.

Escutando isto,ela pensou : “Nenhum outro tem este poder, o sábio Matanga sem dúvida deve ser ! Mas alguém que é constante e cheio de boa vontade para todas as criaturas, nunca iria embora deixando estes indivíduos em tormento. Bem em qual direção pode ele ter ido ?” , questão que ela colocou na estrofe seguinte :

Em que direção foi o sábio, daqui ?
Ó jovens nobres, prego, respondam-me isto !
Vamos fazer reparação pela ofensa,
Para que tragamos à vida novamente nosso filho.
Os jovens nobres responderam-na deste jeito :

Aquele sábio, elevou-se nos ares,
Qual lua em meio curso de décimo quinto dia :
O sábio, à verdade consagrado, belo de ver,
Em direção leste ademais inclinou seu caminho.

Esta resposta dada, ela disse, “Vou procurar meu marido !” e pedindo que levassem com ela jarros de ouro e copos de ouro, cercada por uma companhia de mulheres ajudantes, ela foi e encontrou o lugar onde as pegadas dele tocaram o chão ; estas ela seguiu até o encontrar sentado em assento comendo comida. Aproximando-se ela o saúda e permanece parada. Vendo-a, ele coloca um pouco de arroz cozido na tigela. Dittha-mangalika derrama água para ele de um jarro de ouro ; ele imediatamente lava suas mãos e enxagua a boca. Então ela disse, “Quem fez esta coisa cruel com meu filho ?” repetindo a estrofe :

Sobre os ombros virada está sua cabeça ;
Vejam o braço esticado impotente !
Brancos estão seus olhos como se mortos estivessem :
Ó, quem obrou este dano em meu filho ?

As estrofes que seguem são ditas pelos dois alternadamente :

Duendes eles são, cujo poder e força são grandes,
Que seguem sábios, belos de ver :
Eles viram teu filho doente da mente, apaixonado,
E trataram-no assim teu filho por ti.

Então foram duendes que obraram esta coisa :
Não fique irado, Ó santo homem, comigo !
Ó Irmão ! Cheia de amor por meu filho
Aqui me refugio, fujo para teus pés !

Então deixe-me te dizer que minha mente não esconde
Nem então nem agora um pensamento de inimizade :
Teu filho, em conhecimento ilusório, bêbado de orgulho,
Não sabe o significado dos três Vedas.

Ó Irmão ! Verdadeiramente uma pessoa pode encontrar
Em um triz seus sentidos todos tapados, cegos inteiramente.
Perdoe-me este meu erro, Ó sábio sabido !
Aqueles que sabem nunca se encolerizam em ira.

O Grande Ser, assim pacificado por ela, respondeu, “Bem, te darei o elixir da vida imortal, para fazer os duendes partirem ”; e ele recitou esta estrofe :

Este fragmento dos meus restos leve contigo,
Que o tolo Mandavya coma um pedaço :
Teu filho será curado, a ti restaurado,
E deste modo os duendes libertarão sua presa.

Quando ela escutou as palavras do Grande Ser, ela estendeu uma tigela de ouro, dizendo, “Dê-me o elixir da imortalidade, meu senhor !” O Grande Ser derramou nele um pouco do seu mingau de arroz e disse, “Primeiro coloque a metade disto na boca de teu filho ; o resto misture com água numa vasilha e coloque nas bocas dos outros brahmins : eles todos ficaram curados.” Então ele levantou-se e partiu para o Himalaia. Ela carregou o jarro sobre sua cabeça, gritando, “Eu tenho o elixir da imortalidade !” Chegando na casa, ela primeiro colocou um pouco na boca de seu filho. O Duende fugiu ; o rei levantou e escovou a poeira, perguntando, “O que é isto, mãe ?” -”Tu sabes muito bem o que fizeste ; veja o estado miserável dos teus mendicantes !” Quando ele olhou para eles, ficou cheio de remorso. Então sua mãe disse, “Mandavya, meu querido filho, és um tolo, e você não sabe como ofertar de modo que a oferta possa produzir fruto. Tais como estes não são adequados para tua bondade mas apenas aqueles como o sábio Matanga. De agora em diante nada dê para homens ruins como estes, mas dê para o virtuoso.” Então ela disse :-

És um tolo, Mandavya, de pouco entendimento,
Sem saber quando é apropriado obras boas :
Ofertas àqueles cujo pecado é grande,
A maldosos e intemperantes.

Roupas de couro, uma massa de cabelos emaranhados,
Boca igual a poço antigo coberto de grama,
E veja as roupas de trapos que as criaturas vestem !
Mas tolos são salvos não por tais coisas apenas.

Quando paixão, aversão e ignorância, são direcionados para longe dos seres humanos,
Oferte a tais santos e calmos homens : muito fruto por isto é produzido.

De agora em diante não oferte aos homens fracos como estes ; mas quem quer que tenha atingido as oito Consecuções, ascetas corretos e brahmins que tenham ganho as Cinco faculdades Transcendentes, Pacceka Buddhas, para estes oferte tuas ofertas. Venha meu filho, vamos dar a estes nossos empregados o elixir da imortalidade, e curá-los.” assim falando, ela tomou as sobras de mingau de arroz e colocou num jarro d'água e aspergiu nas bocas dos dezesseis mil brahmins. Todos eles levantaram e escovaram a poeira.

Então estes brahmins, tendo provado as sobras de um Candala, foram colocados como outcasts pelos outros brahmins. Envergonhados eles partiram de Benares e foram para o reino Mejjha, onde eles viveram com o rei daquele país. Mas Mandavya permaneceu onde estava.

Naquele tempo havia um brahmin chamado Jatimanta, um dos religiosos, que vivia próximo da cidade de Vettavati nas margens do rio de mesmo nome ; e ele era um homem poderosamente orgulhoso de seu nascimento. O Grande Ser foi lá, resolvido a humilhar o orgulho do sujeito ; e ele fez sua residência próximo do outro mas acima da corrente. Um dia, tendo mordido uma escova de dentes, ele a deixou cair no rio, com a resolução de que ela devia prender-se no coque de cabelo de Jatimanta. Concordemente,enquanto ele estava lavando-se n'água, o graveto ( da escova de dentes ) prendeu no cabelo dele. “Maldito o animal !” ele disse, quando viu isto, “de onde veio isto, como a peste ! Vou pesquisar.” Ele caminhou subindo a corrente e encontrando o Grande Ser, questionou-o, “De que casta é você ?” -”Sou um Candala.” -”Você deixou cair uma escova de dentes no rio ?” -”Sim, deixei.” -”Animal ! Maldito sejas, vil outcast, raios te partam, não fique aqui, mas vá para baixo da corrente.” Mas mesmo quando ele foi viver corrente abaixo, a escova de dentes que ele largava flutuava contra a corrente e prendia no cabelo de Jatimanta. “Maldito sejas !” cotejou ele, “se ficares aqui, em sete dias tua cabeça explodirá em sete pedaços !” O Grande Ser pensou, “Se me permitir ficar irado com este homem, não manterei minha virtude ; mas encontrarei um jeito de quebrar o orgulho dele.” No sétimo dia, ele impediu o nascer do Sol. Todo o mundo saiu para fora : vieram até o asceta Jatimanta e perguntaram, “És tu senhor que impedes o Sol de levantar ?” Ele disse, “Esta não é obra minha ; mas há um Candala vivendo na beira do rio, e deve ser obra dele.” Então o povo veio até o Grande Ser e questionou-o, “És tu senhor, que impede o Sol de levantar ?” “Sim, amigos,” ele disse. “Por quê ?” eles perguntaram. “O asceta que é favorito de vocês me hostiliza, um homem inocente ; quando ele vier e prostrar-se aos meus pés pedindo misericórdia, então deixarei o Sol ir.” Eles foram e o arrastaram e o jogaram no chão diante dos pés do Grande Ser e tentaram apaziguá-lo dizendo, “Senhor, prego, deixe o Sol ir.” Mas ele disse, “Não posso deixá-lo ir ; s'eu fizer isto, a cabeça deste homem explodirá em sete pedaços.” Eles disseram, “Então senhor, o quê devemos fazer ?” “Tragam-me um bocado de argila.” Eles trouxeram. “Agora coloquem ela sobre a cabeça deste asceta e deixe o asceta embaixo d'água.” após fazer estes arranjos, ele deixou o Sol levantar. Logo que o Sol foi liberto, o bocado de argila dividiu-se em sete e o asceta mergulhou debaixo d'água. Tendo assim o humilhado, o Grande Ser ponderou : “Onde agora etão aqueles dezesseis mil brahmins ?” Ele percebeu que eles estavam com o rei de Mejjha e resolveu humilhá-los ; pelo seu poder sobrenatural ele pousou na vizinhança da cidade e com tigela na mão percorreu a cidade buscando ofertas. Quando os brahmins o perceberam,eles disseram, “Deixemo-lo ficar aqui apenas dois dias e ele nos deixará sem refúgio algum !” Com toda a pressa eles foram ao rei, gritando, “Ó poderoso rei, está aqui um malabarista e charlatão : faça-o prisioneiro !” O rei estava pronto o suficiente. O Grande Ser, com sua mistura de alimentos, estava sentado ao lado do muro, em um banco , comendo. Lá, enquanto ele estava ocupado dividindo a comida, os mensageiros do rei o encontraram e o atingiram com uma espada, matando-o. Após sua morte, ele nasceu no mundo de Brahma. É dito que neste jataka o Bodhisatva era um amestrador de ariranhas e nesta ocupação servil foi assassinado. As deidades ficaram iradas e derramaram sobre todo o reino de Mejjha uma torrente de cinzas quentes e a varreram para fora dos outros reinos. Por isto é dito :

Então toda a nação de Mejjha foi destruída, como dizem,
Pela gloriosa morte de Matanga, o reino foi varrido fora.

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Quando o Mestre terminou este discurso, ele disse : “Esta não é a primeira vez que Udena abusou de homens religiosos mas ele fez o mesmo antes.” Então ele identificou o Jataka : “Naquele tempo, Udena era Mandavya e eu mesmo era o sábio Matanga.”