sexta-feira, 31 de julho de 2015

492 Buddha e o Javali Carpinteiro






  (  Imagem de Vishnu Vahara, Javali, em Khajuharo, Índia )


492
Vago, buscando longe...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre dois antigos Anciãos. // Jataka 283

Maha Kosala, dizem, ao dar sua filha ao rei Bimbisara, outorgou-lha o feudo de uma vila de Kasi. Após Ajatasatru matar seu pai ( rei Bimbisara ), rei Pasenadi ( filho de Maha Kosala ) destruiu esta vila. Nas batalhas entre os dois por ela, vitória primeiro coube a Ajatasatru. E o Rei de Kosala levando a pior, perguntou a seus conselheiros, “O quê podemos fazer para pegar Ajatasatru ?” Eles responderam, “Grande rei, os Irmãos têm grande habilidades em encantos 'máyacos'. Envie mensageiros a eles e consiga a opinião dos Irmãos no monastério.” Isto agradou o rei. Concordemente fez com que homens fossem enviados, mandando-os que fossem lá e escondendo-se, escutassem o quê os Irmãos diziam. Bem, em Jetavana estão muitos dos oficiais que renunciaram ao mundo . Dois entre eles, um par de antigos Anciãos, habitavam uma cabana de folha nos arredores do mosteiro : o nome de um deles era Ancião Dhanuggaha-tissa, do outro Ancião Mantidatta. Eles haviam dormido toda a noite e levantaram no raiar do dia. O Ancião Dhanuggaha-tissa disse enquanto acendia o fogo, “Ancião Datta, Senhor.” “Sim, Senhor ?” “Estás dormindo ?” “Não, não estou dormindo : que fazer agora ?” “Um tolo de nascença é aquele rei de Kosala ; tudo o quê ele sabe é como engulir um prato feito.” “O que queres dizer, Senhor ?” “Ele se deixa ser derrotado por Ajatasatru, que não é melhor que um verme dentro de sua própria barriga.” “O quê ele devia fazer então ?” “Pois, Ancião Datta, você conhece a ordem de batalha é de três tipos : Batalha Vagão, Batalha Roda, Batalha Lotus. É a Batalha Vagão que ele deve usar de modo a capturar Ajatasatru. Que ele coloque homens valentes nos seus dois flancos no alto do monte e então faça a batalha principal na frente : uma vez que ele entre no meio, saiam com gritos e pulos, e eles o terão como um peixe numa tigela de lagosta. Este é o jeito de pegá-lo.” Bem, todo este diálogo os mensageiros escutaram ; e então voltaram e contaram ao rei. Ele imediatamente saiu com uma grande hoste e fez Ajatasatru prisioneiro e o amarrou em correntes. Após puní-lo assim por alguns dias o libertou avisando-o de não fazer novamente ( o que fizera ) e a guisa de consolo deu a ele sua própria filha, a Princesa Vajira, em casamento, e finalmente o dispensou com grande pompa.

Houve grande conversa sobre isto entre os Irmãos dentro do mosteiro : “Ajatasatru foi pego pelo rei de Kosala, seguindo as instruções do Ancião Dhanuggaha-tissa !” Eles falaram o mesmo no Salão da Verdade e o Mestre entrando perguntou-lhes sobre o quê falavam. Eles disseram-Lhe. Então Ele disse, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Dhanuggaha-tissa se mostrou perito em estratégia.” E contou-lhes uma história do passado.
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Certa vez, um carpinteiro, que morava numa vila ao lado do portão da cidade de Benares entrou na floresta para cortar lenha. Ele encontrou um jovem Javali caído num poço, ao qual trouxe para casa e criou, chamando-o Javali do Carpinteiro. O Javali se tornou seu empregado : as árvores ele girava com seu focinho e trazia para ele : encaixava a linha de medir na suapresa e a puxava ao redor, pegando e carregando enxó, cinzel, e marreta em seus dentes.

Ele cresceu e se tornou uma besta monstruosa e corpulenta . O carpinteiro, que o amava como seu próprio filho, e temendo que alguém lhe causasse algum dano, o deixou seguir livre para a floresta. O Javali pensou, “Não posso viver sozinho na floresta : e s'eu procurasse meus parentes e vivesse com eles ?” Então ele passou a buscar pela multidão das árvores, Javalis, até ver uma horda deles, ele ficou feliz e recitou três estrofes :-

Vago buscando longe nas largas florestas e montes ao redor :
Vago buscando pelos meus parentes : e olhem, os encontrei !

Aqui há abundantes raízes e frutos, bastante estoque de comida;
Que riachos e montes amáveis ! Será bom cá habitar.

Aqui viverei com todos meus parentes, sem ansiedade, calmo,
Sem problemas, nada temendo de qualquer inimigo.

Os Javalis escutando este verso responderam com a quarta estrofe :-

Há cá um inimigo ! Tome refúgio em outro lugar, siga teu caminho:
Sempre o preferido da horda, Ó Carpinteiro, ele mata – uma besta poderosa !

Quem é este inimigo ? Vamos, digam-me a verdade, parentes bem chegados,
Quem destrói vocês ? Que contudo não os destruiu todos.

Um rei das bestas ! Com listras de cima para baixo, com dentes para morder :
Sempre o preferido da horda ele mata – uma besta poderosa !

E nossos corpos perderam a força ? Não temos presas para mostrar ?
O suplantaremos se trabalharmos juntos : apenas assim.

Doces palavras para escutar, Ó Carpinteiro, as quais meu coração anseia :
Que nenhum javali fuja! Ou será morto depois da batalha !

Javali Carpinteiro tendo-os unido em um ideal perguntou, “Em que momento otigre virá ?” “Ho-je ele vem cedo de manhã e pega um, a-manhã ele vem cedo de manhã também.” O Javali era hábil em guerra e sabia o lugar vantajoso para assumir, para que aquela vitória acontecesse. Ele buscou ao redor por um lugar e os fez se alimentarem enquanto ainda era noite ; então bem cedo de manhã , os explicou como a ordens de batalha são de três tipos, Batalha Vagão e assim por diante ; após o quê arrumou a Lotus Batalha deste modo. No meio colocou os bacurinhos e ao redor deles suas mães, próxima a estas as porcas estéreis, e depois um círculo de porcas jovens, depois a de jovens com presas apenas brotando, depois as presas grandes e os Javalis velhos circundando todos. Depois colocou pequenos esquadrões de dez,vinte, trinta espalhados aqui e lá. Ele os fez construir um poço para ele e para o tigre caírem dentrodo buraco da forma de uma cesta : entre os dois buracos foi deixado um pedaço de chão para ele mesmo ficar. Então ele com fortes javalis lutadores saíram ao redor encorajando os Javalis.

Enquanto estavam assim ocupados o Sol nasceu. O Tigre, saindo do eremitério de um asceta sham(an), apareceu no alto do morro. Os Javalis gritaram, “Nosso inimigo está vindo, Senhor !” “Nada temam,” disse ele, “o quê quer que ele faça, façam igual.” O Tigre deu uma sacudida e fingindo que saía, mijou ; os Javalis fizeram o mesmo. O Tigre olhou os Javalis e rugiu um grande rugido ; eles fizeram o mesmo. Observando como estavam dispostos, pensou,”Eles mudaram bastante ; ho-je me encaram como inimigos, em disposição ordenada : algum guerreiro os treinou ; não devo me aproximar deles ho-je.” Temendo a morte ele deu as costas e fugiu para o asceta sham ; e este, vendo o Tigre sem presas, recitou a nona estrofe :-

Abjuraste matar ? Juraste
Salvação para toda criatura viva ?
Certamente a teus dentes falta a virtude costumeira.
Encontras uma horda e voltas como mendicante !

O Tigre com isto repetiu três estrofes :-

Meus dentes não mordem mais,
Minha força quase acabada :
Irmão ao lado de irmão todos juntos permanecem :
Portanto vago sozinho na floresta.

Antes eles correriam dispersos ao redor
Para encontrar seus buracos, turba tomada de pânico.
Mas agora grunhem em ranks fechados compactos :
Invencíveis, eles permanecem e me encaram.

Eles todos agora concordam juntos, conseguiram um líder ;
Quando todos concordam podem me ferir : por isto não os quero.

A isto o asceta sham respondeu com a seguinte estrofe :-

Sozinho o gavião domina os pássaros, sozinho
Os Titãs são por Indra derrotados :
E quando uma horda de bestas vê o poderoso tigre,
Sempre o melhor ele pega,e os mata facilmente.

Então o Tigre recitou uma :-

Nenhum gavião, nenhum tigre senhor das bestas, nem Indra pode mandar
Numa hoste de iguais que combinam como um tigre de resistir.

Com isto o asceta sham, para incentivá-lo recitou duas estrofes :-

O pequeno pássaro de penas voa em bandos e grupos,
Em pilhas juntos sobem tocando o céu.

Arremete para baixo o gavião e sozinho desce neles enquanto brincam,
Arrasa e mata-os a vontade : este é o teu caminho do tigre.

Isto dito, ainda o encorajou mais : “Tigre Real, não conheces teu próprio poder. Um rugido apenas e um salto – não haverá dois deles juntos, ouso jurar !” O Tigre fez isto.

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Para explicar isto, o Mestre disse a estrofe :-

Então ele com olhos gananciosos e cruéis, supondo que as palavras eram verdadeiras,
Tomou coragem e com suas garras todas a mostra pulou na multidão com presas.

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Bem, o Tigre retornou e permaneceu no topo do morro. Os Javalis contaram ao Javali Carpinteiro que ele voltou. “Nada temam,” disse ele, os reconfortando, e então tomou posição no cume entre os dois poços. O Tigre com toda a velocidade projetou-se para o Javali mas o Javali rolou cauda e focinho no primeiro buraco. O Tigre não pode conter seu impulso e caiu no entulho no poço com forma de peneira. O Javali caiu em cima dele em um triz, enterrando suas presas na perna do Tigre, perfurando-o profundamente, devorou sua carne, mordendo-o, despachou-o para o outro poço, gritando, “Lá, tome dos escudeiros !” Aqueles que chegaram primeiro tiveram chance de focinhar um pedaço, uma mastigada, aqueles que chegaram tarde foram embora perguntando “Qual o gosto de carne de tigre ?”

Javali de Carpinteiro saiu do poço e olhando ao redor os outros, disse, “Bem, não gostaram ?” Mas eles responderam, “Meu senhor, acabaste com o Tigre e este é um ; mas há um que sobrou pior que dez tigres.” “Prego, quem é este ?” “Um asceta sham, que come a carne que o Tigre traz para ele de vez enquando.” “Vamos então, o pegaremos.” E assim rapidamente partiram juntos.

Bem o asceta sham estava olhando a estrada e esperando o retorno do Tigre a qualquer minuto. E quem ele vê vindo se não os Javalis ?! “Eles mataram o Tigre acredito e agora vem em matar !” Fugiu e subiu emuma figueira. “ Ele subiu numa árvore !” disseram os Javalis a seu líder. “Que árvore ?” “Uma figueira.” “Certo, pegaremos ele direto.” Fez com que os Javalis jovens escavassem a terra até as raízes e porcas trouxeram tanta água em suas bocas quanto cabia, até que a árvore estivesse em pé com as raízes à mostra. Então mandou saírem do caminho e ajoelhando-se atingiu as raízes com suas presas : cortou as raízes como se com um machado, e caiu àrvore mas o homem nem chegou no solo : foi estraçalhado em pedaços e comido no meio do caminho. Observando esta maravilha, o espírito d'árvore recitou uma estrofe :-

Amigos unidos, como árvores em floresta – é uma visão agradável :
Javalis unidos, juntos em um ataque mataram o Tigre.

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E o Mestre recitou outra estrofe, como ambos foram destruídos :-

O brahmin e o tigre ambos os Javalis destruíram,
E rugiram um rugido alto e ecoante em sua grande alegria.

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Novamente o Javali perguntou, “E vocês têm outro inimigo ?” “Não, meu senhor,” eles responderam. E propuseram de aspergí-lo Rei. Água foi buscada. Percebendo a concha que o asceta sham usava para beber, que era conha preciosa com a espiral girando para a direita, eles a encheram d'água e consagraram Javali Carpinteiro , lá na raiz da figueira, lá àgua da consagração foi derramada sobre ele. Uma porca jovem foi feita sua consorte. Daí surtge o costume que prevalece ainda que consagrando um rei o sentam em uma cadeira de madeira de figueira e aspergem-no com uma concha de espirais que giram para a direita.

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Isto também o Mestre explicou recitando a última estrofe :-

Os Javalis debaixo da figueira selvagem derramaram àgua sagrada,
Sobre o Carpinteiro e gritaram, Tu és nosso Rei e Senhor !


Quando ele terminou este discurso o Mestre disse, “Não Irmãos, esta não é a primeira vez que Dhanuggaha-tissa se mostrou inteligente em estratégia mas ele fez o mesmo antes.” Com estas palavras, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era o asceta sham,Dhanuggaha-tissa Javali Carpinteiro e eu mesmo era o espírito d'árvore.” [ que presenciou a cena ]

   

40 Sobre Anatha-pindika




40
      “Antes mergulharia de cabeça...etc.” -  Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre Anātha-pindika.

              Pois Anātha-pindika, que esbanjou uma fortuna (54 ‘crores’ [ 1 crore é dez milhões ]) na Fé do Buddha no Mosteiro apenas, e que não dava valor a nada a não ser as Três Joias, usava ir todo dia enquanto o Mestre estava em Jetavana para atender nos Grandes Serviços, - um aurora, um após o café da manhã, e um ao entardecer.  Haviam serviços intermediários também; mas ele nunca ia de mãos vazias, por medo dos Noviços e rapazes olharem para ver o que trazia.  Quando ele ia de manhã, usava trazer mingau de arroz;  ao café da manhã, ghee, manteiga, mel, melado, e semelhantes;  e ao entardecer, trazia perfumes, guirlandas e roupas.  Gastava tanto dia após dia, que não tinha limites, - até cerca de 18 ‘crores’; e o grande mercador nunca resgatava nenhum dinheiro. Depois, outros dezoito ‘crores’ da propriedade da família,  enterrados à margem do rio, foram levados para o mar, quando as margens foram lavadas por uma tempestade;  e para baixo rolou os potes de bronze, com amarras e selos sem quebrarem, para o fundo do oceano. 

 Em sua casa, também, sempre havia arroz pronto para 500 Irmãos,- de modo que a casa do mercador era para a Irmandade como uma piscina escavada onde quatro estradas se encontram, sim, como mãe e pai era ele para eles.  Portanto, mesmo o Buddha Todo-Iluminado usava ir a sua casa, e os Oitenta Anciãos Chefes também;  e o número de Irmãos que passavam de lá para cá era além da medida.

                   Bem, sua casa era alta de sete andares e tinha sete portões; e em cima do quarto portão morava uma fada herege. Quando o Buddha Todo-Iluminado entrava na casa, ela não podia permanecer no seu domicílio alto, mas descia com suas crianças para o térreo;  e ela tinha que fazer o mesmo quando os Oitenta Anciãos Chefes ou outros Anciãos entravam e saíam. Ela pensou, “Quando o asceta Gautama e seus discípulos começaram a entrar nesta casa não tenho mais paz aqui;  não posso ficar eternamente descendo as escadas para o térreo. Devo dar um jeito de pará-los de virem aqui nesta casa.”  Assim um dia, quando o gerente de negócios retirou-se para descansar, ela apareceu na frente dele em forma visível.

                  “Quem é você?” ele disse.

                   “Sou eu,” foi a resposta; “a fada que vive em cima do quarto portão.”  “O quê a traz aqui?”  “Você não vê o quê o mercador está fazendo.  Sem preocupar-se com o futuro,  ele está secando seus recursos, só para enriquecer o asceta Gautama.  Não se engaja mais em transportar; não faz mais negócio.  Avise o mercador para atender ao comércio, e arranjar que o asceta Gautama com seus discípulos não venham mais nesta casa.”

                     Ele disse então, “Tola Fada, se o mercador gasta seu dinheiro, ele gasta-o na Fé do Buddha, que leva à Salvação. Mesmo se ele me pegar pelos cabelos e me vender como escravo, não diria nada. Saia!” 

                      Outro dia, ela foi até o filho mais velho do mercador e deu-lhe o mesmo conselho. E ele respondeu justamente do mesmo jeito.  Mas com o mercador mesmo ela nem ousava falar do assunto.

               Bem, à força de munificência sem fim e na falta de negócios, os proventos do mercador diminuíram e suas posses ficaram menores e menores;  de modo que ele afundou aos poucos na pobreza, e sua mesa, sua roupa, sua cama, e comida deixaram de ser o que antes foram. Ainda assim, a despeito das circunstâncias alteradas,  ele continuou a entreter a Irmandade, apesar de não ser mais capaz de festejá-los.  Assim um dia quando ele aprontou sua tigela e tomou assento, o Mestre disse a ele, “Dono de casa, são dados dons à sua casa?”  “Sim, senhor,” ele disse; “mas há somente um pouco de mingau de casca azedo que sobrou de ontem.”  “Não fique estressado, dono de casa, com o pensar que podes apenas oferecer o que é não saboroso.  Se o coração é bom, a comida dada aos Buddhas, Pacceka Buddhas, e seus discípulos, só pode ser boa também. E por quê? – Por causa da grandeza do fruto dela.  Pois aquele que faz seu coração aceitável não pode dar um dom inaceitável,- como estas palavras testemunham:-

                    Pois, se o coração tem fé, nenhum dom é pequeno
                    Para Buddhas ou seus discípulos verdadeiros.
                    É dito nenhuma oferta será tida como pequena
                    Das feitas a Buddhas, senhores de grande renome.          
             Marque bem em que recompensa frutificou  aquela oferta pobre
                    De caldo, - seco, azedo, e insosso.

               Também, ele disse mais isto, “Dono de casa, ao dares este dom sem gosto, oferece-o a quem entrou no Nobre Caminho Óctuplo. Além do que, eu nos tempos de Velāma revolvi toda a Índia ofertando as sete coisas de preço, e em minha largueza os derramei como se fizesse uma corrente única poderosa, os cinco grandes rios,- e ainda assim não encontrei ninguém que tivesse alcançado os Três Refúgios ou mantido os Cinco Mandamentos; pois raros são aqueles válidos de dons.  Portanto, não deixe seu coração perturbar-se com o pensar que seus dons são sem gosto.”  E assim falando, ele repetiu o Velāmaka Sutra.

                  Bem, aquela fada que não ousava falar com o mercador em dias de magnificência,  pensou que agora que ele estava pobre ele a escutaria, e assim, entrou na sua câmara na calada da noite aparecendo diante dele na forma visível, pousada no meio do ar. “Quem é você?” disse o mercador, quando ele se tornou consciente da presença dela. “Sou a fada, grande mercador, que habita em cima do quarto portão.”  “O quê a traz aqui?”  “Te dar conselho.” “Continue, então.”  “Grande mercador, não pensas no teu próprio futuro e nos dos teus filhos. Gastaste vastas somas na Fé do asceta Gautama; de fato, por contínua despesa e por não te dares a novos negócios, foste trazido à pobreza pelo asceta Gautama.  Mas mesmo na pobreza você não colocou para fora o asceta Gautama!  Os ascetas entram e saem da sua casa, justo hoje do mesmo jeito!  O quê eles tiveram de ti não pode ser recobrado.  Aquilo foi levado com certeza. Mas de agora em diante não podes ir ao asceta Gautama e não deixe seus discípulos colocarem o pé dentro da sua casa. Nem mesmo vire para ver o asceta Gautama mas cuide do comércio e do transporte de modo a restaurar as posses da família.”

                Então ele disse para ela, “Era este o conselho que você queria me dar?” “Sim era este.”   Disse o mercador,  “O poderoso Senhor da Sabedoria me fez à prova de cem, mil, sim, à prova de cem mil fadas tais como você!  Minha fé é forte e constante como o Monte Sineru!  Minha riqueza foi gasta na Fé que leva à Salvação.  Fracas são suas palavras; é um golpe que quer atingir a Fé dos Buddhas este seu, você bruxa fraca e impudente. Não posso viver debaixo do mesmo teto que ti; saia já da minha casa e busca abrigo em outro lugar!”  Escutando aquelas palavras do homem converso e discípulo eleito, ela não pode ficar, mas voltando para sua morada, pegou suas crianças pela mão e foi embora.  Mas enquanto ia, ela pensava, que se não descobrisse um outro domicílio, em apaziguar o mercador e retornar para morar em sua casa;  e com esta ideia ela encontrou-se com a deidade tutelar da cidade e com saudação devida ficou diante dela. Sendo perguntada o quê a trazia ali, ela disse, “Meu senhor, falei imprudentemente com Anātha-pindika, e ele com raiva me colocou para fora da sua casa.  Vamos comigo  até ele para apaziguá-lo, para que ele me deixe morar lá de novo.”  “Mas o quê você disse ao mercador?”  “Falei para no futuro ele não amparar o Buddha e a Ordem, e para não deixar o asceta Gautama colocar o pé de novo na sua casa.  Isto foi o que eu disse, meu senhor.”  “Fracas foram suas palavras;  foi um golpe visando a Fé. Não posso ir contigo até o mercador.”  Sem encontrar apoio nele, ela foi para os Quatro Grandes Regentes do mundo. E sendo repelida por eles do mesmo modo, ele seguiu até Sakra, rei dos Devas, e contou a ele sua história, rogando a ele com mais fervor ainda, como segue, “Deva, sem proteção, vago sem residência, levando minhas crianças com a mão. Arranje-me sua majestade algum lugar para morar.” 

                     E ele também disse a ela, “Você agiu mal;  foi um golpe visando a Fé do Conquistador. Não posso pedir ao mercador por você.  Mas posso te contar um jeito de fazer o mercador ser levado a te perdoar.”  “Prego, diga-me, Deva.”  “Certas pessoas têm dezoito ‘crores’ do mercador em dívidas.Tome o semblante de um seu agente, e sem falar com ninguém vá até a casa deles que têm dívidas, na companhia de jovens duendes. Permaneça no meio da casa deles com a dívida numa mão e o recibo na outra, e os aterrorize com seu poder de duende, dizendo, ‘Aqui está seu recibo de débito. Nosso mercador não se mexe quanto a isto em abundância; mas agora está pobre, e vocês precisam pagar o quê devem.’  Com seu poder de duende obtenha todos aqueles dezoito ‘crores’ de ouro e encha o tesouro vazio do mercador. Ele tinha outro tesouro enterrado às margens do rio Aciravati, mas quando a margem foi lavada, o tesouro escorreu para o mar. Pegue este de volta também através de seu poder sobrenatural e guarde no tesouro dele. Além do mais, há uma outra soma de dezoito ‘crores’ descansando sem dono em tal e tal lugar.  Traga esta também e derrame dinheiro nos cofres vazios. Quando você tiver compensado com a recuperação destes cinqüenta e quatro ‘crores’, peça ao mercador que a perdoe.”  “Muito bem, Deva,”  ela disse. E saiu a trabalhar obedientemente, e fez justo como foi ordenada.  Quando ela já tinha recuperado todo o dinheiro, ela foi ao quarto do mercador na calada da noite e apareceu diante dele na forma visível pousada no meio do ar.

                O mercador perguntando quem estava lá, ela respondeu, “Sou eu, grande mercador, a cega e tola fada que viveu acima do seu quarto portão. Na grandeza da minha tola loucura não conheci as virtudes de um Buddha, e assim vim a dizer o que disse alguns dias atrás. Perdoe minha falta!  Com ajuda de Sakra, rei dos Devas, compensei recuperando dezoito ‘crores’ que te eram devidos, os dezoito ‘crores’ que foram levados para o mar, e outros dezoito ‘crores’ que descansavam sem dono em tal e tal lugar,- fazendo cinqüenta e quatro ‘crores’ no total, que derramei nos seus cofres de tesouros vazios. A soma que gastaste no Mosteiro de Jetavana retornou. Enquanto eu não tenho onde morar, estou em miséria. Não guarde na mente o quê eu fiz em loucura ignorante, grande mercador, mas me perdoe.”

                  Anātha-pindika, escutando o quê ela disse, pensou consigo mesmo, “Ela é uma fada, e ela diz que compensou, e confessa sua falta. O Mestre deve considerar isto e fazer suas virtudes conhecidas a ela. A levarei até o Buddha Todo-Iluminado.”  Então ele disse, “Minha boa fada, se queres que te perdoe, peça-me na presença do Mestre.”  “Com certeza,” ela disse, “pedirei. Leve-me contigo até o Mestre.”  “Com certeza,” disse ele.  E aurora da manhã, quando a noite acabava de passar, ele a levou ao Mestre, e contou ao Bendito tudo o que ela fizera.

                    Escutando isto, o Mestre disse, “Você vê, dono de casa, como a pessoa pecadora vê o pecado como coisa excelente antes que ele dê fruto. Mas quando amadurece, então ela vê o pecado como pecado.  Do mesmo modo a pessoa boa vê a bondade sua como pecado antes que amadureça em frutos;  mas quando amadurece, ela o vê enquanto bondade.” E assim dizendo, ele repetiu estas duas estrofes do Dhammapada:-

               O pecador pensa sua ação pecadora como boa,
                Enquanto o pecado não amadurece em fruto.
                Mas quando por fim o pecado cresce em maturidade,
              O pecador com certeza vê “era pecado qu’ eu obrava.”

                A pessoa boa pensa sua bondade como pecado,
                Enquanto ela não amadurece em fruto.         
                Mas quando sua bondade cresce em maturidade,
              A pessoa boa com certeza vê “era bom o qu’ eu obrava.”

         Ao término destas estrofes a fada foi estabelecida no Fruto do Primeiro Caminho.  Ela cai aos pés com marcas de Roda do Mestre, chorando, “Manchada como estava com paixão, depravada com pecado, desorientada pela ilusão, e cega pela ignorância, falei com fraqueza porque não conhecia tuas virtudes. Me perdoe!”  Ela recebeu então o perdão do Mestre e do grande mercador.

          Neste dia, Anātha-pindika cantou em louvor próprio na presença do Mestre, dizendo, “Senhor, apesar desta fada fazer o melhor dela para me impedir de amparar o Buddha e seus seguidores, ela não conseguiu;  e apesar dela tentar me parar de dar dons, ainda assim os dei! Esta bondade não é minha?”

             Disse o Mestre, “Você, dono de casa, é uma pessoa convertida e discípulo eleito; sua fé é firme e sua visão purificada.  Nenhuma maravilha então que você não tenha sido impedido por esta fada sem forças. Maravilha foi o sábio e bom de dias passados quando um Buddha não tinha aparecido, e quando o conhecimento não amadurecera plenamente em fruto, devia do âmago de um lótus oferecer ofertas, apesar de Māra, senhor do Reino das Luxúrias, aparecer no meio do céu, gritando, ‘Se ofereceres ofertas, serás tostado neste inferno,’ – e apresentando lá então um poço fundo de oitenta côvados, cheio de brasas vermelhas.”  E assim falando, ao pedido de Anātha-pindika, ele contou esta história do passado.

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       Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida na família do Senhor Alto Tesoureiro de Benares, e cresceu no seio do luxo total como um príncipe real. Quando atingiu a idade da discrição, tendo dezesseis anos, aperfeiçoou-se em todos os atributos. Com a morte do pai preencheu o cargo de Senhor Alto Tesoureiro, e construiu seis lugares de ofertas, cada um num dos quatro cantos, portões, da cidade e um no centro e um na sua própria mansão. Ele era generoso e guardava os preceitos e observava os dias de jejum.

           Num certo café da manhã quando comidas finas e variadas eram servidas ao Bodhisatva, um Pacceka Buddha levantando-se do ênstase de transe místico de sete dias, e notando que era tempo de sair em coleta de ofertas, pensou que seria bom visitar o Tesoureiro de Benares naquela manhã. Então, lavou os dentes com sua escovinha feita de joá da Índia, lavou sua boca com água do Lago Anotatra, colocou a roupa de baixo estando no chapadão de Manosilā, apertou o cinto, e vestiu a roupa de cima; e, equipado com uma tigela que ele trouxe à existência com este propósito, atravessou os ares e chegou na porta da mansão justo quando o Bodhisatva tomava o café da manhã.

              Logo que o Bodhisatva tornou-se cônscio da presença dele, levantou-se do assento e olhou o empregado, indicando que era necessário um serviço. “O que faço, meu senhor?” “Traga a tigela do reverendo,” disse o Bodhisatva.

              Naquele mesmo instante Māra o mau levantou-se e em estado de grande excitação, disse, “Faz sete dias desde que o Pacceka Buddha recebeu comida; se ele não comer nada ho-je, ele morrerá. Eu o destruirei e impedirei o Tesoureiro também de ofertar.”  

Naquele mesmo instante ele foi e chamou à existência dentro da mansão um poço de brasas vermelhas e quentes, de  oitenta côvados de profundidade, cheio de carvão de Acácia, tudo em chama e ardendo em fogo como o grande ínfero de Avici. Após criar este poço, Māra mesmo permaneceu pousado no meio do ar.

               Quando o homem que no seu caminho para pegar a tigela, percebeu isto, aterrorizou-se e recuou. “Por que recuas, bom homem?” perguntou o Bodhisatva ao empregado. “Meu senhor,” foi a resposta, “há um grande poço de brasas quentes em chama e fogo no meio da casa.”  E quando os homens se aproximavam do local, eles todos aterrorizados, corriam de medo tão rápido quanto as pernas os levavam.

                Pensou o Bodhisatva, “Māra, o feiticeiro, deve estar empenhando-se ho-je em parar a minha oferta. Ainda saberei, contudo, se tremerei por causa de cem ou mil Māras. Veremos neste dia qual força é mais forte, qual poder mais poderoso, meu ou de Māra.”  Assim tomando em suas próprias mãos a tigela que já estava pronta, atravessou a casa, e parando na borda do poço de fogo, olhou para cima para os céus. Vendo Māra, ele disse, “Quem és tu?”  “Sou Māra,” foi a resposta.

               “Chamaste à existência este poço de brasas em chama?”  “Sim, chamei.”  “Por quê?”  “Para impedí-lo de ofertar e destruir a vida do Pacceka Buddha.”  “Não deixarei nem que me impeças nem que destruas a vida do Pacceka Buddha. Verei ho-je qual é maior, se sua força ou a minha.”  E ainda na borda do poço ígneo, ele gritou, “Reverendo Pacceka Buddha, mesmo que eu caia dentro deste poço de brasas ardentes, não voltarei. Apenas conceda aceitar a comida que trago.”  E assim dizendo falou a primeira estrofe:-

                        Antes mergulharia de cabeça para baixo
          Inteiro neste abismo infernal, do que abaixar-me na vergonha! 
                 Concede, senhor, aceitar esta oferta de minhas mãos!

             Com estas palavras o Bodhisatva, segurando a tigela de comida, andou para dentro da superfície do poço de fogo com indômita resolução. Mas logo que fez isto, lá levantou-se à superfície através dos oitenta côvados de profundidade, uma larga e imaculada flor de lótus, que recebeu os pés do Bodhisatva!  E dela veio uma quantidade de pólen que caiu na cabeça do Grande Ser, e assim todo seu corpo estava como que polvilhado da cabeça aos pés com poeira dourada!  Permanecendo no coração da lótus, ele verteu a comida gostosa na tigela do Pacceka Buddha.

                 E quando este último comeu a comida e agradeceu, ele jogou sua tigela para o alto para os céus, e diante dos olhares de todo o povo ele mesmo elevou-se nos ares do mesmo modo, e passando para os Himalāias novamente, pareceu trilhar um caminho de nuvens de formas fantásticas.

                 E Māra, também, derrotado e desprezado, passou para trás para sua própria morada.

                  Mas o Bodhisatva, ainda na lótus, pregou  a Verdade ao povo, exortando as ofertas e os preceitos; após o quê cercado da multidão, entrou novamente na sua mansão. E por toda sua vida foi caridoso e fez outras boas obras, até que no fim passou, sendo tratado de acordo com seus méritos. “

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         Disse o Mestre, “Não é maravilha, leigo, que você, com seu discernimento da verdade, não fosse dominado pela fada; a real maravilha foi o que o sábio e bom de tempos antigos fez.”  Sua lição terminada, o Mestre mostrou a conexão, e identificou o Jātaka dizendo, “O Pacceka Buddha daqueles dias passou, nunca mais renascendo. Eu mesmo era o Tesoureiro de Benares que, desafiando Māra, e permanecendo no coração da lótus, colocou ofertas na tigela do Pacceka Buddha.”  




terça-feira, 7 de julho de 2015

491 Buddha Pavão Dourado




491
S'eu for capturado...” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre um Irmão relapso. A este Irmão o Mestre disse, “É verdade, como me disseram, que és relapso ?” 'Sim, Senhor, é verdade.” “Irmão,” disse ele, “como um homem como você não será confundido por esta luxúria de prazeres ? O furacão que cobre o Monte Sineru não intimida-se diante de uma folha seca. Em dias antigos esta paixão confundiu seres santos que por sete mil anos evitaram de seguir as luxúrias que surgiam dentro deles.” Com estas palavras ele contou uma história do passado. // Jataka 159.

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Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva foi concebido por uma Pavoa ( Pavão fêmea ) em um distrito da fronteira. Quando o tempo devido tinha passado, a mãe deixou o ovo no lugar em que estava se alimentando e foi embora. Bem, o ovo de uma mãe que é saudável não é danificado, se não houver perigo de cobras e vermes semelhantes. Este ovo portanto sendo um ovo dourado como um broto de kannikara ( Pterospermum Acelifolium ) quando estava maduro , rachado pela própria força dando origem a um pinto dourado com dois olhos como de fruta gunja e um bico coral e três vermelhas estrias correndo ao redor do pescoço descendo até o meio das costas. Quando ele cresceu seu corpo cresceu até ficar do tamanho de um carrinho de mão de construção muito bonito de ver, e todo o bando de pavões escuros reunidos o escolheram para ser seu rei.

Um dia,enquanto ele estava bebendo água de um lago espreitando sua própria beleza pensou “sou o mais belo dos pavões. Se permanecer entre eles no meio do caminho dos homens, cairei em algum perigo : vou para o Himalaia e lá morar em algum lugar agradável.” Então à noite, quando todo o bando de pavões estava em seus retiros despercebido de todos ele partiu para o Himalaia e atravessando três cordilheiras de montanhas estabeleceu-se na quarta. Isto foi numa floresta onde ele encontrou um vasto lago natural todo coberto com lótus e não distante de um grande árvore banian do lado de uma montanha ; nos ramos desta árvore ele pousou. No coração desta floresta havia uma caverna agradável ; e desejoso de morar lá pousou na parte plana da boca dela. Bem, para este lugar era impossível subir, seja para cima vindo para baixo seja de baixo indo para cima ; ele estava livre de todo temor de pássaros, gatos selvagens, serpentes ou seres humanos. “Este é um lugar ótimo para mim ! “ ele pensou. Aquele dia ele ficou lá e no seguinte saindo da caverna ele sentou no topo do monte olhando o leste. Quando viu a esfera do Sol surgindo, ele protegeu-se para o dia que vinha recitando o verso “Lá ele surge, rei omnividente.” Após isto saiu buscando comida . À noite retornou e sentado no topo do monte olhando o oeste ; então quando viu a esfera do Sol afundando na vista , ele protegeu-se para a noite que vinha recitando o verso “Lá ele se põe ; o rei omnividente.” E deste modo ele passou sua vida.

Mas um dia um caçador que vivia na floresta o viu sentado no topo da montanha e foi para casa. Quando chegou o tempo dele morrer contou ao filho sobre : “Meu filho, na quarta cadeia de montanhas, na floresta, vive um pavão dourado. Se o rei quiser um você sabe onde encontrá-lo.”

Um dia a rainha principal do rei de Benares ( seu nome era Khema ) teve uma visão no crepúsculo e a visão era esta : um pavão dourado pregava a Lei, ela escutava aprovando, o pavão tendo terminado seu discurso levantou-separapartir, ela gritou com isto “O rei dos pavões está escapando, peguem-no !” E enquanto ele falava estas palavras, ela acordou. Quando ela acordou e percebeu que era um sonho, pensou, “S'eu falar para orei que foi um sonho ele nem vai ouvir ; mas s'eu dizer que é um desejo de mulher grávida, então ele vai escutar.” Então ele fingiu que tinha um desejo como as grávidas o tem e deitou. O rei a visitou e perguntou o quê a fazia sofrer. “Tenho um desejo,” disseela. “Qual é o seu desejo ?” “Desejo, meu senhor, escutar o discurso de um pavão dourado.” “Mas onde arranjaremos tal pavão, senhora?” “Se algum não for encontrado, meu senhor, morrerei.” “Não se preocupe com isto, minha senhora ; se houver algum em algum lugar será pego para você.” Assim ele a consolou e saindo, sentando, questionou os cortesãos : “Vejam vocês minha rainha deseja escutar o discurso de um pavão dourado. Existe tal ser como um pavão dourado ?”. “Os brahmins saberão isto, meu senhor.” O rei questionou os brahmins. Os brahmins responderam assim : “Ó grande rei ! É dito em nossos sutras das marcas da fortuna, De criaturas aquáticas, tartarugas, e caranguejos, de cervos terrenos, gansos selvagens, pavões, perdizes, estas criaturas e seres humanos também podem ser cor cor dourada.” Então o rei reuniu todos os caçadores que haviam nos seus domínios e os perguntou se já haviam visto um pavão dourado. Todos disseram, não, exceto aquele cujo pai houvera dito ter visto. Este disse, “Nunca vium eu mesmo mas meu pai me contou de um lugar onde um pavão dourado vivia.” O rei disse, “Meu bom homem, isto significa vida ou morte para mim e minha rainha : pegue-o e traga-mo aqui.” Ele deu ao homem dinheiro bastante e o despachou. O caçador deu o dinheiro para a esposa e filho, e foi até o lugar e viu o Grande Ser. Ele colocou armadilhas para pegá-lo, todo dia dizendo para si que a criatura seria pega ; ainda assim morreu sem capturá-lo. E a rainha também morreu sem ter o desejo de seu coração. O rei estava irado e furioso e dizia, “Minha rainha querida morreu por causa deste pavão” ; e ele fez com que a história ser escrita em um prato dourado como na quarta cadeia de montanha do Himalaia vive um pavão dourado e aquele que comer sua carne será para sempre jovem e imortal. Este prato ele colocou em um tesouro após o quê ele morreu. Após ele outro rei levantou-se que leuo que estava escrito no prato, e desejoso de ser imortal e sempre jovem, enviou um caçador para pegá-lo ; mas este morreu primeiro como o outro. Deste modo reis reis sucessivos passaram, seis caçadores morreram sem sucesso nos Himalaias. Mas o sétimo caçador, enviado pelo sétimo rei, sendo incapaz de pegar o pássaro por sete anos, apesar de todo dia esperar fazê-lo, começou a pensar porque não conseguia pegar o pé do pássaro na gaiola. Então viu o pássaro e o viu em suas orações de proteção de manhã e à tarde e então assim arguiu o caso : “Não há outro pavão no lugar e é claro que este deve ser um pássaro de vida santa. É o poder de sua santidade e o encanto de proteção que fazem com que suas patas nunca sejam pegas pelas armadilhas.” Tendo chegado a esta conclusão ele foi a terra fronteiriça e arranjou uma pavoa a qual treinou com estalo de dedo para pronunciar uma nota, com bater de palma a dançar. Levando-a com ele, retornou para o lugar ; armou a armadilha antes do Bodhisatva recitar seu encanto, ele estalou os dedos e a fez piar. O pavão escutou : no mesmo instante, o pecado que por sete mil anos estava escondido, realimentou-se como uma cobra espalhando sua crista com um toque. Estando doente de luxúria, ele não pode recitar seu encanto de proteção mas correndo para ela, desceu dos céus com as patas direto na armadilha : aquela armadilha que por sete mil anos não teve nenhum poder de pegá-lo, agora prende sua pata apertada. Quando o caçador o viu balançando na extremidade da vara, pensou consigo mesmo, “Seis caçadores falharam em pegar este rei dos pavões e porsete anos não consegui. Mas ho-je, assim que veio doente de luxúria pela pavoa, foi incapaz de repetir seu encanto, caiu direto n'armadilha e foi pego e lá balança de cabeça para baixo. Tão virtuoso é o ser que machuco ! Entregar tal criatura para outra pessoa apenas por uns trocados é algo impensável. Que me serve as honras reais ? Vou deixá-lo ir.” Mas novamente pensou, “É um monstro, pássaro poderoso e forte, se for para cima dele pode pensar que quero matá-lo , temeroso por sua vida lutará e pode quebrar uma perna ou asa. Não em aproximarei dele mas permanecerei escondido e cortarei 'armadilha com uma flecha. Então ele pode seguir seus caminhos à vontade.” Assim ele ficou escondido e esticando seu arco colocou uma corda na linha e puxou para trás.

Agora o Pavão pensava, “Este caçador me fez ficar doente de luxúria e como viu que me pegou não ficarei sem se importar comigo. Onde será que ele está ?” ele oulhou para um lado, olhou para outro e espreitou o homem em pé com o arco armado pronto para o disparo. “Sem dúvida ele deseja me matar e ir embora,” pensou ele, e temendo pela morte repetiu a primeira estrofe pedindo por sua vida :

Se capturado riqueza te trarei,
Então me machuque mas leve-me ainda vivo.
Peço-te, amigo, me conduza ao rei :
Creio que um grande prêmio te será dado.

Com isto o caçador pensou, “O grande pavão imagine que vou atingí-lo com a flecha : devo aliviar sua mente,” e recitou a segunda estrofe com esta finalidade :

Não coloquei está flecha no arco,
Para te machucar, Ó Pavão real, ho-je :
Desejo cortar 'armadilha e te deixar ir,
Então seguir tua vontade e voar para longe.

Com isto o pavão respondeu em duas estrofes :

Sete anos, Ó caçador, primeiro tu perseguiste,
Aguentando sede e fome noite e dia :
Agora estou n'armadilha o quê farás ?
Por quê desejas me libertar me deixar voar embora ?

Certamente todos os seres vivos são protegidos por ti :
Tirar a vida tu rejeitaste este dia :
Pois estou n'armadilha ainda assim me libertas,
Ainda assim tu me soltas, me deixas voar embora.

Então segue isto :

Quando um homem jura não matar nenhum ser vivo :
Quando tudo que vive, para ele, está livre de medo :
Que benção no próximo nascimento isto trará ?
Ó Pavão real, me responda isto !

Quando tudo que vive para ele está livre de medo,
Quando um homem jura não machucar nenhum ser vivo,
Mesmo no mundo presente, bem falado ele é,
Ele após a morte seu valor levará ao céu.

Não há deuses, assim muitos homens dizem :
A mais alta benção esta vida apenas pode trazer ;
Esta produz frutos do caminho bom e do ruim ;
E fazer oferta é declarado tolice.
Portanto prendo pássaros, pois sacerdotes disseram isto :
Não merecem suas palavras, pergunto, crédito ?

Então o Grande Ser determinou-se a contar ao homem a realidade do outro mundo ; e enquanto girava na extremidade da vara de cabeça para baixo, repetiu uma estrofe :

Claros aos olhos ambos seguem Sol e Lua
Altos nos céus percorrendo seus caminhos.
Como as pessoas os chamam no mundo de baixo ?
São deste mundo ou de outro , diga !

O caçador repetiu uma estrofe :

Claros aos olhos ambos seguem Sol e Lua
Altos nos céus percorrendo seus caminhos.
Eles não são parte deste nosso mundo de baixo,
Mas de outro : isto as pessoas dizem.

Então o Grande Ser disse a ele :

Então eles estão errados, eles mentem quem tal coisa diz ;
Sem qualquer razão, quem diz este mundo pode trazer
Apenas o fruto do caminho bom ou mal.
Ou quem declara fazer oferta tolice.

Enquanto o Grande Ser falava, o caçador ponderou e depois repetiu um par de estrofes :

É verdade o quê disseste :
Como pode alguém dizer que ofertas não trazem nenhum fruto ?
Que aqui colhe-se o fruto do caminho mal
Ou do bom ; que ofertar é tolice ?

Como devo agir, o quê fazer, que caminho santo
Devo seguir, pavão real, Ó diga!
Que tipo de virtude ascética – fale,
Para me salvar de afundar no ínfero !

O Grande Ser pensou, quando escutou isto, “S'eu resolver este problema para ele, o mundo vai parecer todo vazio e vão. Direi a ele desta vez a natureza dos brahmins ascetas e santos.” Com esta intenção ele repetiu duas estrofes :

Aqueles na terra, que guardam os votos ascéticos,
Em hábito amarelo, sem dormir em casa,
Que caminham desde cedo para conseguir alimento,
Não à tarde : estes homens são bons.
[ n. do tr. : comer à tarde é estritamente proibido entre os Irmãos . ]

Visitar na estação tais bons homens como estes,
E questionar qualquer um te agradará :
Eles te explicarão o assunto, pois eles sabem,
Sobre o outro mundo e este debaixo.

Assim falando, ele aterrorizou o homem com o medo do ínfero. O outro atingiu ao estado perfeito de pacceka Bodhisatva ; pois ele vivia com este pensamento no ponto de amadurecer, como um broto de lótus maduro procurando o toque dos raios do Sol. Quando o caçador escutou este discurso, de pé como estava, ele entendeu tudo em um momento, as partes constituintes das coisas existentes, apreendeu suas três propriedades [ impermanência, sofrimento e não realidade ; anicca, dukkha, anatta ] e penetrou no conhecimento de um Pacceka Budha. Esta compreensão dele e a libertação do Grande Ser d'armadilha, vieram ambas em um mesmo instante. O Pacceka Buddha, tendo aniquilado suas luxúrias e desejos, estando no limite extremo da existência [ i.e. no ponto de entrar em Nirvana ], pronunciou sua aspiração nesta estrofe :

Como a serpente solta sua pele seca,
Àrvore suas folhas murchas quando as verdes brotam :
Assim renuncio minha atividade de caçador neste dia,
Abandono para sempre arte de caçar.

Tendo pronunciado esta aspiração sublime, elepensou,”Justo agora fui liberto dos laços do pecado ; mas em casa tenho muitos pássaros presos em gaiolas e como agora os libertarei ?” Então perguntou ao Grande Ser : “Rei Pavão, há muitos pássaros que deixei presos em casa, comoposso os libertar ?” Bem, o Bodhisatva, que era omnisciente, tem mais compreensãodos caminhos e meios que um Pacceka Buddha ; daí ele respondeu, “Como você quebrou o poder da luxúria e penetru o conhecimento de um Pacceka Buddha, nesta base faça um Ato de Verdade e em toda a Índia não haverá criaturas presas em laços.” O outro então, entrando pela porta que o Bodhisatva assim lhe abriu, repetiu esta estrofe fazendo um Ato de Verdade :

Todas minhas aves empenadas que prendo,
Centenas e centenas, confinadas em minha casa,
Para todos eles dou suas vidas ho-je,
E liberdade : que voem para casa.

Então através deste Ato de Verdade, apesar de tardio, foram todos libertos de confinamento e piando felizes foram para suas casas em seus próprios lugares. No mesmo momento através de toda a Índia todas as criaturas amarradasforam libertas e nenhuma foi deixada em cativeiro, nem mesmo um gato. O Pacceka Buddha levantou sua mão e esfregou sua testa : imediatamente a marca de família desapareceu e a marca da religiosidade apareceu em seu lugar. Ele então, como um Ancião de sessenta anos, inteiramente vestido, carergando as oito coisas necessárias [ tigela, três roupas, cinto, navalha, agulha e filtro : os oito requisitos ], fez uma reverência de obediência ao Pavão real e andando ao redor dele em sentido horário, elevou-se nos ares e foi embora para a caverna no pico do Monte Nanda. O Pavão também, levantando-se d'armadilha, tomou seu alimento e partiu para o lugar em que vivia.

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A última estrofe foi repetida pelo Mestre, contando como por sete anos a caçador saia com armadilha na mão e foi então liberto da dor pelo rei Pavão :

O caçador atravessou toda a floresta
Para pegar o senhor dos pavões, armadilha na mão.
O glorioso senhor dos pavões ele libertou
Da dor, assim que foi pego, como eu.

Terminando este discurso, o Mestre declarou as Verdades : agora na conclusão das Verdades, o Irmão relapso atingiu a santidade : então ele identificou o Jataka dizendo, “Naquele tempo eu era o rei Pavão.”