sexta-feira, 31 de julho de 2015

492 Buddha e o Javali Carpinteiro






  (  Imagem de Vishnu Vahara, Javali, em Khajuharo, Índia )


492
Vago, buscando longe...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre dois antigos Anciãos. // Jataka 283

Maha Kosala, dizem, ao dar sua filha ao rei Bimbisara, outorgou-lha o feudo de uma vila de Kasi. Após Ajatasatru matar seu pai ( rei Bimbisara ), rei Pasenadi ( filho de Maha Kosala ) destruiu esta vila. Nas batalhas entre os dois por ela, vitória primeiro coube a Ajatasatru. E o Rei de Kosala levando a pior, perguntou a seus conselheiros, “O quê podemos fazer para pegar Ajatasatru ?” Eles responderam, “Grande rei, os Irmãos têm grande habilidades em encantos 'máyacos'. Envie mensageiros a eles e consiga a opinião dos Irmãos no monastério.” Isto agradou o rei. Concordemente fez com que homens fossem enviados, mandando-os que fossem lá e escondendo-se, escutassem o quê os Irmãos diziam. Bem, em Jetavana estão muitos dos oficiais que renunciaram ao mundo . Dois entre eles, um par de antigos Anciãos, habitavam uma cabana de folha nos arredores do mosteiro : o nome de um deles era Ancião Dhanuggaha-tissa, do outro Ancião Mantidatta. Eles haviam dormido toda a noite e levantaram no raiar do dia. O Ancião Dhanuggaha-tissa disse enquanto acendia o fogo, “Ancião Datta, Senhor.” “Sim, Senhor ?” “Estás dormindo ?” “Não, não estou dormindo : que fazer agora ?” “Um tolo de nascença é aquele rei de Kosala ; tudo o quê ele sabe é como engulir um prato feito.” “O que queres dizer, Senhor ?” “Ele se deixa ser derrotado por Ajatasatru, que não é melhor que um verme dentro de sua própria barriga.” “O quê ele devia fazer então ?” “Pois, Ancião Datta, você conhece a ordem de batalha é de três tipos : Batalha Vagão, Batalha Roda, Batalha Lotus. É a Batalha Vagão que ele deve usar de modo a capturar Ajatasatru. Que ele coloque homens valentes nos seus dois flancos no alto do monte e então faça a batalha principal na frente : uma vez que ele entre no meio, saiam com gritos e pulos, e eles o terão como um peixe numa tigela de lagosta. Este é o jeito de pegá-lo.” Bem, todo este diálogo os mensageiros escutaram ; e então voltaram e contaram ao rei. Ele imediatamente saiu com uma grande hoste e fez Ajatasatru prisioneiro e o amarrou em correntes. Após puní-lo assim por alguns dias o libertou avisando-o de não fazer novamente ( o que fizera ) e a guisa de consolo deu a ele sua própria filha, a Princesa Vajira, em casamento, e finalmente o dispensou com grande pompa.

Houve grande conversa sobre isto entre os Irmãos dentro do mosteiro : “Ajatasatru foi pego pelo rei de Kosala, seguindo as instruções do Ancião Dhanuggaha-tissa !” Eles falaram o mesmo no Salão da Verdade e o Mestre entrando perguntou-lhes sobre o quê falavam. Eles disseram-Lhe. Então Ele disse, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Dhanuggaha-tissa se mostrou perito em estratégia.” E contou-lhes uma história do passado.
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Certa vez, um carpinteiro, que morava numa vila ao lado do portão da cidade de Benares entrou na floresta para cortar lenha. Ele encontrou um jovem Javali caído num poço, ao qual trouxe para casa e criou, chamando-o Javali do Carpinteiro. O Javali se tornou seu empregado : as árvores ele girava com seu focinho e trazia para ele : encaixava a linha de medir na suapresa e a puxava ao redor, pegando e carregando enxó, cinzel, e marreta em seus dentes.

Ele cresceu e se tornou uma besta monstruosa e corpulenta . O carpinteiro, que o amava como seu próprio filho, e temendo que alguém lhe causasse algum dano, o deixou seguir livre para a floresta. O Javali pensou, “Não posso viver sozinho na floresta : e s'eu procurasse meus parentes e vivesse com eles ?” Então ele passou a buscar pela multidão das árvores, Javalis, até ver uma horda deles, ele ficou feliz e recitou três estrofes :-

Vago buscando longe nas largas florestas e montes ao redor :
Vago buscando pelos meus parentes : e olhem, os encontrei !

Aqui há abundantes raízes e frutos, bastante estoque de comida;
Que riachos e montes amáveis ! Será bom cá habitar.

Aqui viverei com todos meus parentes, sem ansiedade, calmo,
Sem problemas, nada temendo de qualquer inimigo.

Os Javalis escutando este verso responderam com a quarta estrofe :-

Há cá um inimigo ! Tome refúgio em outro lugar, siga teu caminho:
Sempre o preferido da horda, Ó Carpinteiro, ele mata – uma besta poderosa !

Quem é este inimigo ? Vamos, digam-me a verdade, parentes bem chegados,
Quem destrói vocês ? Que contudo não os destruiu todos.

Um rei das bestas ! Com listras de cima para baixo, com dentes para morder :
Sempre o preferido da horda ele mata – uma besta poderosa !

E nossos corpos perderam a força ? Não temos presas para mostrar ?
O suplantaremos se trabalharmos juntos : apenas assim.

Doces palavras para escutar, Ó Carpinteiro, as quais meu coração anseia :
Que nenhum javali fuja! Ou será morto depois da batalha !

Javali Carpinteiro tendo-os unido em um ideal perguntou, “Em que momento otigre virá ?” “Ho-je ele vem cedo de manhã e pega um, a-manhã ele vem cedo de manhã também.” O Javali era hábil em guerra e sabia o lugar vantajoso para assumir, para que aquela vitória acontecesse. Ele buscou ao redor por um lugar e os fez se alimentarem enquanto ainda era noite ; então bem cedo de manhã , os explicou como a ordens de batalha são de três tipos, Batalha Vagão e assim por diante ; após o quê arrumou a Lotus Batalha deste modo. No meio colocou os bacurinhos e ao redor deles suas mães, próxima a estas as porcas estéreis, e depois um círculo de porcas jovens, depois a de jovens com presas apenas brotando, depois as presas grandes e os Javalis velhos circundando todos. Depois colocou pequenos esquadrões de dez,vinte, trinta espalhados aqui e lá. Ele os fez construir um poço para ele e para o tigre caírem dentrodo buraco da forma de uma cesta : entre os dois buracos foi deixado um pedaço de chão para ele mesmo ficar. Então ele com fortes javalis lutadores saíram ao redor encorajando os Javalis.

Enquanto estavam assim ocupados o Sol nasceu. O Tigre, saindo do eremitério de um asceta sham(an), apareceu no alto do morro. Os Javalis gritaram, “Nosso inimigo está vindo, Senhor !” “Nada temam,” disse ele, “o quê quer que ele faça, façam igual.” O Tigre deu uma sacudida e fingindo que saía, mijou ; os Javalis fizeram o mesmo. O Tigre olhou os Javalis e rugiu um grande rugido ; eles fizeram o mesmo. Observando como estavam dispostos, pensou,”Eles mudaram bastante ; ho-je me encaram como inimigos, em disposição ordenada : algum guerreiro os treinou ; não devo me aproximar deles ho-je.” Temendo a morte ele deu as costas e fugiu para o asceta sham ; e este, vendo o Tigre sem presas, recitou a nona estrofe :-

Abjuraste matar ? Juraste
Salvação para toda criatura viva ?
Certamente a teus dentes falta a virtude costumeira.
Encontras uma horda e voltas como mendicante !

O Tigre com isto repetiu três estrofes :-

Meus dentes não mordem mais,
Minha força quase acabada :
Irmão ao lado de irmão todos juntos permanecem :
Portanto vago sozinho na floresta.

Antes eles correriam dispersos ao redor
Para encontrar seus buracos, turba tomada de pânico.
Mas agora grunhem em ranks fechados compactos :
Invencíveis, eles permanecem e me encaram.

Eles todos agora concordam juntos, conseguiram um líder ;
Quando todos concordam podem me ferir : por isto não os quero.

A isto o asceta sham respondeu com a seguinte estrofe :-

Sozinho o gavião domina os pássaros, sozinho
Os Titãs são por Indra derrotados :
E quando uma horda de bestas vê o poderoso tigre,
Sempre o melhor ele pega,e os mata facilmente.

Então o Tigre recitou uma :-

Nenhum gavião, nenhum tigre senhor das bestas, nem Indra pode mandar
Numa hoste de iguais que combinam como um tigre de resistir.

Com isto o asceta sham, para incentivá-lo recitou duas estrofes :-

O pequeno pássaro de penas voa em bandos e grupos,
Em pilhas juntos sobem tocando o céu.

Arremete para baixo o gavião e sozinho desce neles enquanto brincam,
Arrasa e mata-os a vontade : este é o teu caminho do tigre.

Isto dito, ainda o encorajou mais : “Tigre Real, não conheces teu próprio poder. Um rugido apenas e um salto – não haverá dois deles juntos, ouso jurar !” O Tigre fez isto.

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Para explicar isto, o Mestre disse a estrofe :-

Então ele com olhos gananciosos e cruéis, supondo que as palavras eram verdadeiras,
Tomou coragem e com suas garras todas a mostra pulou na multidão com presas.

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Bem, o Tigre retornou e permaneceu no topo do morro. Os Javalis contaram ao Javali Carpinteiro que ele voltou. “Nada temam,” disse ele, os reconfortando, e então tomou posição no cume entre os dois poços. O Tigre com toda a velocidade projetou-se para o Javali mas o Javali rolou cauda e focinho no primeiro buraco. O Tigre não pode conter seu impulso e caiu no entulho no poço com forma de peneira. O Javali caiu em cima dele em um triz, enterrando suas presas na perna do Tigre, perfurando-o profundamente, devorou sua carne, mordendo-o, despachou-o para o outro poço, gritando, “Lá, tome dos escudeiros !” Aqueles que chegaram primeiro tiveram chance de focinhar um pedaço, uma mastigada, aqueles que chegaram tarde foram embora perguntando “Qual o gosto de carne de tigre ?”

Javali de Carpinteiro saiu do poço e olhando ao redor os outros, disse, “Bem, não gostaram ?” Mas eles responderam, “Meu senhor, acabaste com o Tigre e este é um ; mas há um que sobrou pior que dez tigres.” “Prego, quem é este ?” “Um asceta sham, que come a carne que o Tigre traz para ele de vez enquando.” “Vamos então, o pegaremos.” E assim rapidamente partiram juntos.

Bem o asceta sham estava olhando a estrada e esperando o retorno do Tigre a qualquer minuto. E quem ele vê vindo se não os Javalis ?! “Eles mataram o Tigre acredito e agora vem em matar !” Fugiu e subiu emuma figueira. “ Ele subiu numa árvore !” disseram os Javalis a seu líder. “Que árvore ?” “Uma figueira.” “Certo, pegaremos ele direto.” Fez com que os Javalis jovens escavassem a terra até as raízes e porcas trouxeram tanta água em suas bocas quanto cabia, até que a árvore estivesse em pé com as raízes à mostra. Então mandou saírem do caminho e ajoelhando-se atingiu as raízes com suas presas : cortou as raízes como se com um machado, e caiu àrvore mas o homem nem chegou no solo : foi estraçalhado em pedaços e comido no meio do caminho. Observando esta maravilha, o espírito d'árvore recitou uma estrofe :-

Amigos unidos, como árvores em floresta – é uma visão agradável :
Javalis unidos, juntos em um ataque mataram o Tigre.

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E o Mestre recitou outra estrofe, como ambos foram destruídos :-

O brahmin e o tigre ambos os Javalis destruíram,
E rugiram um rugido alto e ecoante em sua grande alegria.

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Novamente o Javali perguntou, “E vocês têm outro inimigo ?” “Não, meu senhor,” eles responderam. E propuseram de aspergí-lo Rei. Água foi buscada. Percebendo a concha que o asceta sham usava para beber, que era conha preciosa com a espiral girando para a direita, eles a encheram d'água e consagraram Javali Carpinteiro , lá na raiz da figueira, lá àgua da consagração foi derramada sobre ele. Uma porca jovem foi feita sua consorte. Daí surtge o costume que prevalece ainda que consagrando um rei o sentam em uma cadeira de madeira de figueira e aspergem-no com uma concha de espirais que giram para a direita.

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Isto também o Mestre explicou recitando a última estrofe :-

Os Javalis debaixo da figueira selvagem derramaram àgua sagrada,
Sobre o Carpinteiro e gritaram, Tu és nosso Rei e Senhor !


Quando ele terminou este discurso o Mestre disse, “Não Irmãos, esta não é a primeira vez que Dhanuggaha-tissa se mostrou inteligente em estratégia mas ele fez o mesmo antes.” Com estas palavras, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era o asceta sham,Dhanuggaha-tissa Javali Carpinteiro e eu mesmo era o espírito d'árvore.” [ que presenciou a cena ]

   

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