sábado, 29 de novembro de 2008

231 Buddha Professor


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231
Como quando um par de sapatos...etc.” - Esta história o Mestre contou no Bosque de Bambu, sobre Devadatra. Os Irmãos reuniram-se no Salão da Verdade e passaram a discutir o assunto. “Amigo, Devadatra repudiou seu professor e tornou-se inimigo e adversário do Tathagata, alcançando posterior destruição.” O Mestre entrou e perguntou o quê conversavam enquanto estavam sentados lá. Eles disseram. O Mestre falou, “Irmãos, esta não é a primeira vez que Devadatra repudia seu professor, torna-se meu inimigo e posteriormente é destruído. A mesma coisa aconteceu antes.” Então contou a eles um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como filho de um treinador de elefantes. Quando ele cresceu, já tinha aprendido toda àrte de manejar  elefante. E lá chegou um jovem cidadão de Kasi e ensinou a ele. Agora, quando Buddhas futuros ensinam algo, não distribuem nenhum conhecimento com avareza ; mas concorde com o próprio conhecimento, ensinam, nada escondendo. De modo que este jovem aprendeu todos os ramos do conhecimento com o Bodhisatva, sem omissão ; e quando já aprendera , disse ele a seu mestre :

Mestre, partirei e servirei ao rei.”

Bom, meu filho”, disse ele : e ele foi para diante do rei e falou com ele que aquele pupilo o serviria. Disse o rei, “Bom, deixou me servir.” “Então, você sabe que salário dar ?” disse o Bodhisatva.

Um pupilo teu não receberia tanto quanto tu ; se receberes cem , ele receberá cinqüenta ; se recebes dois , a ele hum deve ser dado.” Com isto o Bodhisatva foi para casa e contou tudo a seu pupilo.

Mestre,” disse o jovem, “todo teu conhecimento, eu sei, todas as partes. S'eu tiver o mesmo pagamento, servirei o rei ; se não, não o servirei.” E o Bodhisatva contou isto ao rei. 
Disse o rei, Se o jovem puder mesmo fazer como você – se for capaz de mostrar todas as habilidades como tu, receberá o mesmo.” E o Bodhisatva contou isto ao pupilo e o pupilo respondeu, “Muito bem, eu irei.” “Amanhã,” disse o rei, “farás amostra de tua habilidade.” “Bom, eu irei ; que se proclame com o bater do tambor.” E o rei fez com que fosse proclamado, “A-manhã o mestre e o pupilo mostrarão juntos sua habilidade em manejar elefantes. A-manhã todos que desejarem ver, reúnam-se nos jardins do palácio e assistam.”

Meu pupilo,” pensou o professor consigo mesmo, “não conhece todos os meus recursos.” Então, escolheu um elefante e numa noite ensinou ele a fazer todas as coisas ao revés.

 Ensinou-o a ir de ré quando ordenado ir para frente e a ir para frente quando ordenado de ré ; a deitar quando mandado ficar de pé e a ficar ereto quando mandado deitar ; a soltar quando pegar e a pegar quando soltar.

Dia seguinte montando seu elefante, veio para o jardim real. E seu pupilo também estava lá, montado num belo elefante. Havia um grande confluência de pessoas. Ambos mostraram todas as habilidades. Mas o Bodhisatva fez seu elefante responder ao contrário ; “Em frente !” disse ele, e o elefante ia para trás ; “Para trás !” e ele corria pra frente ; “Levante-se !” e ele deitava ; “Deitar !” e ele levantava ; “Pegue!” e a criatura largava ; “Largue!” e ele pegava. E a multidão gritava, “Saia, tratante! E nem levante tua voz em direção a teu mestre ! Não conheces tua própria medida e pensas poder disputar contra ele !” e pularam em cima dele com pedras e paus, de modo que ele espirou lá e então (then & there) . E o Bodhisatva desceu de seu elefante e aproximando-se do rei, dirigiu a ele assim-
Ó poderoso rei ! Para seu próprio bem as pessoas ganham conhecimentos ; mas há quem traga desgraça junto com o conhecimento, como um sapato mau feito;” e pronunciou estas estrofes:-

Como quando um par de sapatos que alguém comprou
Para ajuda e conforto causa apenas dor
Escoriando o pé até queimar
E fazendo-o aos poucos infeccionar:

Do mesmo modo uma pessoa vulgar
Tendo aprendido tudo o que sabe de ti,
Com o próprio ensino prova que quer te machucar:
O miserável mal-educado é como sapato mal-feito.

O rei ficou deliciado e acumulou honras sobre o Bodhisatva.

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Quando este discurso estava terminado o Mestre identificou o Jataka como segue:- “Devadatra era o pupilo e eu mesmo era o professor.”






sexta-feira, 28 de novembro de 2008

230 Buddha rei de Benares


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       ( Buddha de Taxila, Paquistão, espremido entre o islamismo e o hinduísmo )


230
Incontáveis as minhas bandeiras...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivia em Jetavana sobre este mesmo mendicante nômade.

Naquele tempo, o Mestre em larga companhia a seu redor, sentado no lindamente adornado trono da verdade em um tablado vermelho, estava discursando como um leão jovem rugindo um rugido de leão. O mendicante, vendo a forma do Buddha semelhante à forma de Brahma, sua face como a gloriosa lua cheia e sua testa como um prato de ouro, virou, girou, aonde tinha chegado, no meio da multidão e saiu fora, dizendo, “Quem pode sobrepujar um homem como este ?”

A multidão sai em seu encalço, depois voltou e contou ao Mestre. Ele disse, “Não apenas agora este mendicante fugiu à mera vista da minha face dourada ; ele fez o mesmo antes.” E contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez o Bodhisatva era o rei de Benares ( Varanasi ) e em Takkasila ( Taxila ) reinava um certo rei de Gandhara. Este rei, desejando capturar Benares, foi e cercou a cidade toda com um exército completo com as quatro divisões. E permanecendo de pé no portão da cidade, olhou para seu exército e disse, “Que será capaz de conquistar um exército tão grande como este ?” e descrevendo seu exército, pronunciou a primeira estrofe:-

Incontáveis as minhas bandeiras: elas não têm rivais:
Bandos de corvos nunca poderão deter o mar agitado -
Nunca poderá o clangor da tempestade, uma montanha derrubar : -
Assim, de todos os viventes nenhum me conquistará !

Então o Bodhisatva des-cobre suas feições gloriosas, como a da lua cheia ; e ameaçando diz : “Tolo, balbucias em vão! Agora destruirei tuas hostes, como um elefante doido esmaga uma moita de bambu !” e repetiu a segunda estrofe :-

Tolo! e ainda não encontraste um rival ?
Estais quente de febre, se buscas ferir
Elefantes selvagens solitários como eu !
Como eles esmagam moitas de bambu assim farei contigo !

Quando o rei de Gandhara o escutou ameaçando assim, olhou para cima e observando sua larga fronte como um prato de ouro, temendo ser ele mesmo capturado, girou, fugiu e voltou como fora, para sua própria cidade.

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Este discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka :- “O errante nômade era naquele tempo o rei de Gandhara e o rei de Benares era eu mesmo.”










quinta-feira, 27 de novembro de 2008

229 Buddha rei de Taxila


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          ( Buddha de Taxila, Paquistão, espremido entre o islamismo e o hinduísmo ) 

229
Vejam, meus elefantes...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana, sobre um mendicante, com gostos errantes, nômades.

Ele atravessava toda a Índia com o propósito de arguir e não encontrou ninguém que o contradissesse. Por fim chegou até Savatthi e perguntou se havia alguém lá que argumentasse com ele. O povo disse, “Há Um que argumentaria com mil – omnisciente, chefe de homens, o poderoso Gautama, senhor da fé, que derruba toda oposição, não há adversário em toda Índia que possa disputar com Ele. Como as ondas quebram na praia, do mesmo modo todos os argumentos quebram contra seus pés e espedaçam-se.” Assim eles descreveram as qualidades do Buddha.

Onde está ele agora ?” perguntou o mendicante. Ele está em Jetavana, eles responderam.

 “Agora irei lá, começar uma polêmica com ele!” disse o mendicante. Então cercado por larga multidão, seguiu caminho para Jetavana. Vendo as torres do portão de Jetavana, as quais príncipe Jeta construiu, ao custo de noventa milhões de dinheiros, ele perguntou se aqueles seriam os palácios em que Padre Gautama vivia. Os portões dele, eles responderam. “Se estes são os portões, como não serão as moradas !” ele gritou, respondendo. “Não há fim às camaras perfumadas !” disse o povo. “Que poderia argumentar com um sacerdote tal como este ?” ele perguntou; e saiu fora imediatamente.

A multidão gritou de alegria e aglomerou-se no parque. “O quê traz vocês aqui a esta hora ?” perguntou o Mestre. Eles disseram a ele o quê aconteceu. Ele falou, “Esta não é a primeira vez, leigos, que ele corre ao mero olhar do portão da minha casa. Ele fez o mesmo antes.” E ao pedido deles, ele contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez, aconteceu do Bodhisatva reinar em Takkasila ( Taxila ), no reino de Gandhara e Brahmadatra em Benares ( Varanasi ). Brahmadatra resolveu capturar Takkasila ; daí partiu com grande hoste, tomou posição não distante da cidade e deixou o exército emparelhado: “Aqui estão os elefantes, aqui os cavalos, os carros estão lá e aqui a infantaria : portanto façam seu trabalho arrojando suas armas ; como as nuvens derramam chuvas, assim vocês atirem suas flechas !” e falou este par de estrofes:-

Vejam, meus elefantes e cavalos, como a nuvem de tempestade no céu!
Vejam, meu mar de carros atirando flechas no alto!
Vejam minhas hostes de guerreiros, com espadas na mão em golpes e investidas,
Juntos à cidade, até que os inimigos comam poeira!

Corram contra eles - caiam em cima deles, dêm o grito de guerra em altas vozes!
Enquanto os elefantes em concerto trompetam poderosamente !
Como o trovão e o raio que soam e brilham no céu,
Assim agora levantem as vozes, em longo grito de guerra!

Assim gritou o rei. E fez o exército marchar e chegou diante do portão da cidade ; e quando ele viu as torres do portão da cidade, ele se perguntou como seriam as moradas do rei. “Aquela”, eles disseram, “é a torre do portão.” “Se a torre do portão é tal como esta, como não será o palácio do rei ?” ele perguntou. E eles responderam, “Como Vejayanta, o palácio de Sakra !” Escutando isto, o rei disse, “Com rei tão glorioso, nunca seríamos capazes de lutar !” E tendo visto não mais que a torre levantada no portão da cidade, ele se virou, saiu fora e voltou para Benares.

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O discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka:- “Nosso mendicante nômade era então o rei de Benares e eu mesmo era o rei de Takkasila”.






quarta-feira, 26 de novembro de 2008

228 Buddha Sakra





228
       Três fortes...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um brahmin chamado Kamanita. As circunstâncias serão apresentadas no Jataka 467 Kama-jataka.

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[ O rei de Benares tinha dois filhos ]. E destes dois filhos o mais velho foi para Benares e tornou-se rei ; o mais jovem era o vice-rei. O quê era rei, estava entregue aos desejos de riquezas, à luxúria da carne e à ganância de ganhos.

Naquele tempo, o Bodhisatva era Sakra, rei dos deuses. E enquanto vigiava, espreitava, a Índia e observava que seu rei estava entregue a tais luxúrias, disse para si mesmo, “Vou disciplinar este rei e torná-lo humilde.” Então tomando o semblante de um brahmin jovem, foi até o rei e olhou para ele.

O quê quer este jovem companheiro ?” perguntou o rei.

Ele disse, “Grande rei, conheço três vilas, prósperas, férteis, que têm elefantes, cavalos, carroças, e infantaria em plenitude, cheia de ornamentos em ouro fino. Elas podem ser tomadas com um exército bem pequeno. Venho aqui oferecendo-me para tomá-las para ti !”

Quando partiremos, jovem ?” perguntou o rei.

A-manhã, Senhor.”

Então deixe-me agora ; a-manhã cedo partiremos.”

Boa, meu rei : apresse-se em preparar o exército !” E assim falando Sakra foi de volta para seu próprio lugar.

Dia seguinte o rei fez com que se batesse o tambor e um exército fosse aprontado ; e tendo reunido seus cortesãos, assim dirigiu-se a eles:-
Ontem um jovem brahmin veio e disse que conquistaria para mim três cidades – Uttarapañcala, Indapatra e Kekaka. Para onde agora seguiremos juntos com este homem e conquistaremos estas cidades. Chamem-no, rapidamente !”

Que lugar o senhor designou a ele que residisse ?”

Não designei lugar nenhum para ele residir,” disse o rei.

Mas destes a ele com quê pagar o alojamento ?”

Não, nem mesmo isto.”

Então como o encontraremos ?”

Procurem-no nas ruas da cidade,” disse o rei.

Eles procuraram mas não o encontraram. E chegaram diante do rei e disseram, “Ó rei, não o encontramos.”

Grande tristeza abateu-se sobre o rei. “Que glória que foi arrancada de mim !” ele gemia ; seu coração ficou quente, seu sangue entrou em desordem, disenteria o atacou, os médicos não podiam curá-lo.

Após o espaço de três ou quatro dias, Sakra meditava e tornou-se cônscio da doença dele. 

Ele disse, “Vou curá-lo” : e com semblante de brahmin foi e permaneceu na porta do rei. Fez com que fosse dito ao rei, “Um médico brahmin veio para curá-lo.”

Ao escutar isto, o rei respondeu, “Todos os grandes médicos da corte foram incapazes de me curar. Dê a ele uma gratificação e deixe-o ir.”

Sakra escutou e respondeu: “Não quero nem dinheiro para alojamento, nem pegarei gratificação por medicamento. Vou curá-lo : deixem o rei me ver !”

Então deixe-o entrar,” disse o rei, ao receber este recado. Então Sakra entrou e desejando vitória ao rei, sentou em um dos lados.

Você irá me curar ?” perguntou o rei.

Ele respondeu, “Isso mesmo, meu senhor.”

Cure-me então !” disse o rei.

Muito bom, Senhor. Diga-me os sintomas de sua doença e como ela surgiu,- o quê comeste ou bebeste, para fazê-la surgir, ou o quê escutaste ou viste.”

Caro amigo, minha doença surgiu com algo que escutei.”

Então òutro perguntou, “O quê foi que escutaste?”

Caro Senhor, veio um brahmin jovem oferecendo-me vencer e conquistar três cidades : e não dei a ele nem residência nem com quê pagar alojamento. Ele deve ter ficado zangado comigo e saiu fora procurando outro rei. Então quando pensei na grande glória que me tinha escapado, esta doença surgiu em mim ; cure, se puderes, isto que surgiu em mim devido à cobiça.” E para tornar o assunto claro, ele pronunciou a primeira estrofe:-

Três fortes, todos construídos alto em um monte,
Quero tomar, cujos nomes aqui repito:
Pañcala, Kuru, Kekaka:
E há ainda uma coisa a mais que quero -
Cure-me, Ó brahmin, eu escravo da ganância!

Então Sakra disse, “Ó rei, com medicamentos feitos com raízes, não podes ser curado, mas deves ser curado com medicamento de sabedoria:” e falou o segundo verso como segue:

Há aqueles que curam mordida de cobra preta;
O sábio pode curar feridas que demônios fazem.
O escravo da ganância nenhum médico pode sanar;
Que cura há para a alma relapsa ?

Assim falou o grande Ser para explicar sua intenção e adicionou ainda além disto : “Ó rei, o quê seria se conquistasses estas três cidades, então enquanto reinavas nestas quatro cidades, poderias vestir quatro roupas ao mesmo tempo, comer em quatro pratos dourados, deitar em quatro camas de estado ? Ó rei, não se deve ser dominado pelo desejo. Desejo é a raiz de todo mal ; quando desejo aumenta, aquele que o acalenta é jogado nos oito grandes ínferos e nos dezesseis ínferos menores e em todo tipo de miséria.” Assim o grande Ser aterrorizava o rei com medo do inferno e da desgraça e discursou para ele. E o rei, escutando este discurso, ficou livre do seu ataque cardíaco e em um momento ficou curado de sua doença. E Sakra após dar a ele instruções e estabelecê-lo na virtude, saiu para o mundo dos deuses. E o rei a partir daí fez ofertas e obras boas e passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Quando este discurso estava terminado, o Mestre identificou o Jataka:- “O Irmão que é escravo dos seus desejos, era naquele tempo o rei; e eu mesmo era Sakra.”

[ n.do tr.: os nomes das três cidades referem-se a guerra reportada no 'Mahabharatha' de Vyasa ].












terça-feira, 18 de novembro de 2008

227 Buddha espírito d'árvore


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227
Bom jogo...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto morava em Jetavana sobre um dos Irmãos.

Naquele tempo há um quilômetro de Jetavana havia uma cidade de mercadores que distribuía grande quantidade de arroz com bilhete mas onde também comidas especiais eram servidas. Lá havia um grosseirão que infernizava os jovens e noviços que chegavam para a distribuição - “Quem vai comer comida sólida? E líquida? E misturada?” E envergonhava àqueles que não sabiam responder e temiam a ele tanto que àquela vila não iam mais.

Um dia um irmão sabendo da distribuição por tickets fez a pergunta, “Há comida distribuída em tal-e-tal vila, senhor ?” “Sim, amigo,” foi a resposta, “mas há um grosseirão lá fazendo perguntas ; se não as respondes, ele abusa e xinga você. Ele é uma peste tal que ninguém se aproxima do lugar.” “Senhor,” disse òutro, “ordene-me para este lugar e o humilharei e o tornarei modesto e assim o influenciarei para que quando ver-nos após isto, incline-se a correr.”

Os irmãos concordaram e deram a ordem necessária. O sujeito anda até a vila e no portão dela coloca o hábito. O grosseirão o espreita – corre até ele como um carneiro louco, falando “Responda-me uma questão padre !” “Leigo, deixe-me primeiro entrar na vila para pegar meu caldo e então voltarei com ele para a sala de estar [no portão].”

Quando ele volta com seu alimento, o homem repete a pergunta. O irmão responde, “Deixe-me terminar meu caldo, limpar o lugar e ir buscar meu bilhete de vale-arroz.” Então ele pegou o arroz ; e colocando sua tigela nas mãos deste mesmo homem, ele disse, “Venha, agora responderei sua pergunta.” Então ele o leva para fora da vila, dobra seu hábito, coloca-o nos ombros e tomando a tigela do outro, permaneceu esperando que começasse. O homem disse, “Padre, responda-me uma pergunta.” “Muito bem, assim o farei,” disse o irmão ; e com um soco o derrubou no chão, feriu seus olhos, bateu nele, jogou poeira na cara e saiu fora com estas palavras de despedida para amedronda-lo, “Se novamente você fizer qualquer pergunta a um Irmão que venha nesta vila, eu saberei sobre isto !”

Após o quê ele passou a fugir à mera visão de um Irmão.

Logo logo tudo isto torna-se sabido na Irmandade. Um dia estavam falando sobre o assunto no Salão da Verdade : “Amigo, escutei que Irmão Tal-e-tal jogou sujeira na cara do grosseirão e o largou !” O Mestre entrou e quis saber sobre o quê falavam, lá sentados. Eles disseram. Disse ele, “Irmãos esta não é a primeira vez que este irmão joga sujeira neste homem mas ele fez justo o mesmo antes.” E então contou a eles um conto do mundo antigo.

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Certa vez, os cidadãos de Anga e Magadha que viajavam de uma terra para a outra, tinham o costume de parar numa casa nos mangues entre os dois reinos e lá bebiam bebida forte e comiam carnes de peixes e cedo de manhã atrelavam seus carros e partiam. No momento que chegaram, um besouro de esterco, levado pelo odor do estrume, veio para o lugar em que bebiam e viu um tanto da bebida derramada no chão e, sedento, bebeu dela e retornou para seu monte de estrume intoxicado. Quando ele subiu em cima o tanto de estrume úmido cedeu um pouco. “O mundo não pode surportar meu peso !” ele berrou.

 Naquele instante mesmo um Elefante enlouquecido chegou no lugar e cheirando o estrume retornou desgostado. O Besouro viu isto. “Aquela criatura lá,” ele pensou, “está com medo de mim e veja como foge ! - Devo lutar com ele !” e assim desafiou-o com a primeira estrofe:-

Bom jogo! pois ambos somos heróis: vamos tentar lutar :
Volte, volte, amigo Elefante! Por quê temes e foges ?
Deixe Magadha e Anga verem como é grande nossa bravura!

O Elefante ouviu e escutou a voz ; ele voltou para o Besouro bêbado e disse a segunda estrofe, a guisa de censura:-

Non pede, longinquave manu, non dentibus utar:
Stercore, cui stercus cura, perisse decet.

[N. do Tr.: 'utar' pode ser traduzido como 'qualquer um', 'utra', 'utrae'. 'Decet' é convir, ser conveniente. ]

E assim jogando um grande pedaço de estrume em cima dele e umedecendo tudo, matou-o lá e então (then and there) ; e galopou para a floresta, trombetando.

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Quando este discurso estava terminado, o Mestre identificou o Jataka :- “Naqueles dias, o grosseirão era o besouro do estrume, o Irmão em questão era o elefante e eu era o espírirto d'árvore que viu tudo daquele capão de árvores.”









segunda-feira, 17 de novembro de 2008

226 Ananda rei de Benares





                        ( Moeda de Kosala, Índia )

226
Há tempo...etc.” - Uma história contada pelo Mestre em Jetavana sobre o rei de Kosala. Este rei partiu para apaziguar um levante na fronteira numa estação ruim do ano. As circunstâncias já foram descritas (no Jataka 176 supra). O Mestre como anteriormente contou ao rei uma história.

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Certa vez o rei de Benares tendo partido para o campo de guerra num momento inapropriado, fez acampamento em seu parque. Naquele tempo uma Coruja entrou em uma moita de bambus e escondeu-se nela. Lá aparece um bando de Corvos : “Vamos pegá-la,” eles disseram, “assim que ela sair fora.” E a cercaram por toda a volta. Ela saiu para fora antes do tempo, sem esperar o sol se pôr ; e tentou escapar. Os corvos que a cercavam, a bicaram com seus bicos até que ela caísse no chão. O rei perguntou ao Bodhisatva : “Diga-me, sábio senhor, por quê estão os corvos atacando esta coruja ?” E o Bodhisatva respondeu, “Aqueles que deixam sua casa antes do tempo correto, grande rei, caem justo em tal miséria como esta. Portanto, antes do tempo não se deve deixar a própria moradia.” E para esclarecer o assunto, pronunciou este par de versos:

Há tempo para tudo: quem de casa sair,
Uma pessoa ou muitas, fora do tempo, certamente encontrará danos;
Como saiu a Coruja: pássaro sem sorte ! Bicado até a morte por muitos corvos.

Aquele que domina inteiramente toda regra e rito; que conhece a fraqueza dos outros;
Como corujas sábias, será feliz, e conquistará os seus inimigos todos.

Quando o rei escutou isto, ele voltou para casa novamente.

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Este discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka:- “Ananda era então o rei e o sábio cortesão era eu mesmo.” Cf. Jataka 270 .


[ n. do tr. : cf Jataka 270 
          http://vidasdebuddha.blogspot.com.br/2009/04/270-buddha-ganso-dourado.html

Visnu Sarma in 'The Pancatantra' reproduz não só esta disputa entre Corujas e Corvos como aquela presente no Jataka 349 com o Chacal se intrometendo entre o Leão e o Touro : quiçá simbolizem totem tribais, o animal sendo aquele da tribo, país, etnia. O Macaco e o Crocodilo tb têm em Visnu Sarma, Pañcatantra, lugar de destaque : cf o Jataka 224 anterior e 57, 58. Sarma faz destas disputas totêmicas autêntico tratado político. ]




  

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

225 Buddha rei de Benares ( Varanasi )


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                        ( Moeda de Kosala )


225
Há um homem...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre o rei de Kosala. Um subordinado muito útil fez intriga, infiltrou-se, no harém. Apesar de conhecer o culpado, o rei engoliu àfronta porque o camarada era útil e falou ao Mestre sobre o assunto. O Mestre disse, “Outros reis em dias há muito idos, fizeram o mesmo;” e ao pedido dele, contou a seguinte história.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), um homem da corte entrou em intriga, infiltrou-se, no harém do rei e um empregado deste cortesão fez o mesmo na casa deste cortesão. O sujeito não conseguiu suportar tal afronta. Levou òutro então para diante do rei, dizendo, “Meu senhor, tenho um servidor que faz todo tipo de trabalho e ele me corneou : que devo fazer com ele ?” e com a pergunta, pronuncia o primeiro verso que segue:-

Há um homem dentro da minha casa, um zeloso zelador;
Traiu minha confiança, ó rei ! Diga-me - que faço?

Escutando isto, o rei pronuncia o segundo verso:-

Também tenho um zeloso zelador; e ele está aqui na realidade !
Bons homens, creio, são raros : assim, paciência, é meu conselho.

O cortesão viu que estas palavras do rei eram direcionadas à ele ; e não ousou no futuro, errar na casa do rei. E o servidor do mesmo modo, entendendo que o assunto fora levado ao rei, também não ousou no futuro fazer mais aquilo.

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Este discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka :- “Eu era o rei de Benares.” E o cortesão nesta ocasião descobriu que o rei falou dele para o Mestre e nunca mais fez a coisa novamente. Cf. parábola dos cem dinheiros nos Evangelhos de IHS.