terça-feira, 20 de maio de 2008

110 Osadha & Amara



  ( Maha'Osadha à direita conversa com os quatro sábios à esquerda em pintura de Ajanta vihara buddhista  construída por Arhat Acharya ) 

110
Osadha & Amarā

Jātakas // contando a história de Mah’Osadha e Amarā : 110, 111, 112, 170, 192, 350, 364, 387, 402, 471, 500, 508, 515, 528 e 546 este último Maha Ummagga jātaka propriamente dito, o penúltimo Jātaka. A história é grande e por isto foi dividida em várias contas. História do grande rei Osadha e de sua rainha Amarā [ Maha é grande em sânscrito; Mahātma, grande alma, grande ātmā ].

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Em dias que já foram, um rei chamado Vedeha reinava em Mithilā, que tinha quatro sábios que o instruíam na lei, chamados Senaka, Pukkusa, Kāvinda, e Devinda. Bem, quando o Bodhisatva foi concebido no útero de sua mãe, o rei teve à aurora, o seguinte sonho: quatro colunas de fogo queimavam nos quatro cantos da corte real, altas como a grande parede, e no meio delas eleva-se uma chama do tamanho de um vaga-lume, e naquele momento ela repentinamente excedeu as quatro colunas de fogo e elevou-se tão alta quanto o mundo de Brahma e iluminou todo o mundo; mesmo um grão de mostarda largado ao chão é visto distintamente. O mundo das pessoas com o mundo dos deuses o venerou com guirlandas e incenso; uma vasta multidão passou através desta chama e nem mesmo um pelo da pele foi queimado. O rei quando viu esta visão, acordou assustado pensando sentado o que iria acontecer, e esperou pelo final da aurora. Os quatro sábios também quando chegaram pela manhã perguntaram-no se dormiu bem. “Como poderia dormir bem,” respondeu, “quando tive um tal sonho?” Então Pandit Senaka respondeu, “Não tema, O rei, é um sonho auspicioso, tu prosperará,” e quando ele pediu para explicar, continuou, “Ó rei, um quinto sábio nascerá que suplantará nós quatro; nós quatro somos como as quatro colunas de fogo mas no meio delas levantar-se-á como uma quinta coluna de fogo, alguém sem par que preenche uma função sem igual no mundo dos deuses e das pessoas.” “Onde ele está neste momento ?” “Ó rei, ele pode ou assumir um corpo ou nascer do útero de sua mãe”; e pela sua ciência disse o que via pelo seu olho divino e o rei lembrou de suas palavras.

Bem, nos quatro portões de Mithilā haviam quatro vilas de mercado, chamadas vila Leste, vila Sul, vila Oeste, e vila Norte; e na vila Leste morava um rico chamado Sirivaddhaka, e sua esposa chamava-se Sumanādevi. Bem, naquele dia em que o rei viu a visão, o Grande Ser saiu do céu dos Trinta e Três e foi concebido no útero dela; e outro milhar de filhos dos deuses saíram daquele céu e foram concebidos em famílias de vários mercadores ricos daquela vila, e ao final do décimo mês a senhora Sumanā deu a luz uma criança dourada.

 Bem, naquele momento Sakra, examinando o mundo das pessoas, contemplava o nascimento do Grande Ser; e dizendo para si mesmo que devia tornar conhecido no mundo dos deuses e das pessoas que este broto de Buddha jorrou na existência, ele veio em forma visível quando a criança estava nascendo e colocou um ramo de uma erva medicinal na mão dela, e então retornou para sua própria morada. O Grande Ser segurou-o firmemente na mão fechada; e quando saiu do útero da mãe ela não sentiu a menor dor, mas ele saiu tão facilmente como água de um vaso de água sagrado. Quando sua mãe viu a rama de erva medicinal na mão dele, ela lhe disse, “Meu filho, o que é isto que você pegou?” Ele respondeu, “Isto é uma planta medicinal, mãe,” e ele a colocou na mão dela e contou-a para pegar a planta e dá-la a quem estiver aflito com qualquer doença. Cheia de alegria ela disse para o mercador Sirivaddhaka, que sofria por sete anos de dor de cabeça. Ele disse cheio de alegria para si mesmo, “Esta criança saiu do útero de sua mãe segurando uma planta medicinal e logo que nasceu falou com sua mãe; um remédio dado por um ser de tal mérito deve possuir grande eficácia”; então esmagou um pouco na pedra e esfregou na testa, e a dor de cabeça que durava sete anos passou logo como água numa folha de lótus. 

Transportado de alegria ele exclamou, “Este é um remédio de eficácia maravilhosa” ; e as novas espalharam-se para todo lado que o Grande Ser nasceu com um remédio na mão, e todos que estavam doentes aglomeraram-se na casa do mercador e pediam pelo remédio. Deram um pouco a todos que vieram, tendo esmigalhado na pedra e misturado com água, e logo que o corpo afetado era tocado com o divino remédio todas as doenças eram curadas e os pacientes deliciados saíam proclamando as maravilhosas virtudes do remédio da casa do mercador Sirivaddhaka. No dia de dar o nome da criança o mercador pensou consigo mesmo, “Meu filho não precisa ser chamado como um dos ancestrais; que leve o nome do remédio,” e assim deu-lhe o nome de Osadha Kumāra [ Príncipe Osadha ]. Então ele pensou novamente, “Meu filho possui grande mérito, não nasceria só, muitas outras crianças nasceriam ao mesmo tempo” ; escutando então tendo inquirido que milhares de outros garotos nasceram com ele, enviou para todos eles babás e roupas, e decidindo que deveriam ser ajudantes de seu filho celebrou uma festa para eles junto com o Grande Ser e enfeitou os garotos e trazia-os todo dia para ficarem juntos. O Grande Ser cresceu brincando com eles, e quando tinha sete anos de idade era tão belo quanto uma estátua dourada. Quando brincavam na vila alguns elefantes e outros animais passavam e atrapalhavam os jogos deles, e outras vezes as crianças ficavam aflitas com a chuva e o calor. Bem, um dia quando brincavam, uma tempestade repentina caiu, e vendo-a, o Grande Ser que era forte como um elefante, correu para casa, e quando as outras crianças correram atrás dele, caíram todos tropeçando nos próprios pés e machucaram os joelhos e outras articulações. Então ele pensou consigo mesmo, “Um salão para diversão deve ser construído aqui, não brincaremos mais assim,” e ele disse aos outros garotos, “Vamos construir um salão aqui onde possamos ficar, sentar ou descansar no tempo de ventania, sol quente, ou chuva,- que cada um de vocês traga um dinheiro.” Os mil garotos fizeram isto e o Grande Ser mandou chamar um mestre-carpinteiro e deu o dinheiro a ele, dizendo-o como construir um salão naquele lugar. Ele pegou o dinheiro, e esquadrejou o chão, cortando estacas e espalhando a linha mas ele não captou a ideia do Grande Ser ; então ele falou ao carpinteiro como devia esticar a linha de modo correto. O outro respondeu, “Estiquei a linha de acordo com minha experiência prática, não posso fazer isto de outro modo.” “Se você não sabe nem mesmo isto como pode pegar o dinheiro e construir o salão ? Pegue a linha, medirei e mostrarei para você,” fez então ele pegar a linha e ele mesmo esquadrejou o chão, e ficou como se Viśvakarmā houvesse feito. Disse ao carpinteiro, “Serias capaz de seguir o projeto, o plano, deste jeito ?” “Não seria capaz, Senhor.” “Serias capaz seguindo as minhas instruções ?” “Seria capaz, Senhor.” 

Assim o Grande Ser arranjou o salão de modo que havia uma parte para alojar turistas comuns, outra para despossuídos em geral, outra para mulheres despossuídas descansarem, outra parte para sacerdotes Budistas estrangeiros e Brahmins pousarem, em outra hospedagem para todo tipo de pessoa, em outra um lugar onde mercadores estrangeiros pudessem armazenar mercadorias, e todos estes recintos, apartamentos, tinham portas abrindo para fora. Lá também erigiu um espaço público para esportes, e uma corte de justiça, e um salão para assembleias religiosas. Quando o trabalho estava completo ele chamou pintores, e tendo examinado-os, os colocou para pintar pinturas bonitas de modo que o salão tornou-se como Sudhammā, o palácio celestial de Sakra. Mas ele ainda achou que o palácio não estava completo, “Devo construir um tanque também,” – ordenando que o chão fosse cavado por um arquiteto e tendo conversado com ele deu-lhe dinheiro para fazer um tanque com mil curvas às margens e cem portões de banho. A água foi coberta com os cinco tipos de lótus e ficou tão bela quanto a do lago no jardim celeste de Nandana. Às suas margens ele plantou várias árvores e fez um parque como o Nandana. E próximo a este salão estabeleceu distribuição pública de ofertas para pessoas santas fossem Buddhistas ou Brahmins, e para turistas e para o povo das vilas vizinhas.

Estas ações dele foram espalhadas para todo lado e multidões reuniram-se no lugar, e o Grande Ser sentava no salão e discutia o certo e o errado de circunstâncias boas e más de todos os requerentes que lá requeriam e dava seu julgamento para cada um, e tornou-se como um tempo feliz em que um Buddha faz sua aparição no mundo.

Bem, naqueles dias, quando os sete anos expiravam, Rei Vedeha lembrou-se como os quatro sábios disseram que um quinto deveria nascer que suplantaria a eles em sabedoria, e disse a si mesmo, “Onde está ele agora ?” e enviou seus quatro conselheiros para os quatro portões da cidade, pedindo que descobrissem onde ele estava. Quando saíram pelos outros três portões não viram nenhum sinal do Grande Ser mas quando saíram pelo portão leste, avistaram o salão e e suas construções adjacentes e sentiram com certeza logo que só um sábio seria capaz de construir o palácio ou de mandar contruí-lo, e eles perguntaram ao povo, “Que arquiteto construiu este salão ?” Eles responderam, “Este palácio não foi construído por nenhum arquiteto sozinho, mas sob a direção de Mah’Osadha Pandit, o filho do mercador Sirivaddha.” “Quantos anos ele tem ?” “Ele acabou de completar seu sétimo ano.” O conselheiro se lembrou de todos os eventos a partir do dia em que o rei viu o sonho e disse para si, “Este ser cumpriu o sonho do rei,” e enviou um mensageiro com esta mensagem para o rei: “Mah’Osadha, o filho do mercador Sirivaddha na vila de mercadores no Leste, que completou sete anos de idade agora, fez com que fossem construídos salão, tanque e parque, - devo levá-lo à sua presença ou não ?” Quando o rei escutou isto ficou altamente deliciado e mandou chamar Senaka, e depois de relatar tudo perguntou se devia chamar este sábio. Mas ele, invejoso do título, respondeu, “Ó rei, uma pessoa não chama-se sábia meramente porque erigiu salões e tais coisas; qualquer um pode fazer isto, este é apenas um pequeno mestre.” Quando o rei escutou suas palavras, disse para si mesmo, “Deve haver alguma razão secreta para tudo isto,” e ficou em silêncio. Então mandou de volta o mensageiro com a ordem de que o conselheiro permanecesse um tempo no lugar e cuidadosamente examinasse o sábio. O conselheiro ficou lá e cuidadosamente investigou as ações do sábio, e estes são os testes ou casos examinados:

1. “O pedaço de carne.” Um dia quando o Grande Ser ia para o salão de esportes, um gavião pegou um pedaço de carne do balcão de um açougue e voou pelos ares; alguns rapazes, vendo isto, determinaram-se a fazê-lo largar e o perseguiram. O gavião voou em diferentes direções, e eles, olhando para o alto, seguiam atrás e se cansaram, atirando pedras e outros mísseis e tropeçando uns nos outros. O sábio então disse a eles, “Farei com que ele largue,” e pediram que fizesse isso. Ele falou para que olhassem; e então ele mesmo olhando para o alto correu com a rapidez do vento e seguiu à sombra do gavião e então batendo palmas soltou um alto grito. Com a sua energia aquele grito pareceu furar e perfurar a barriga do pássaro e com medo ele soltou a carne ; e o Grande Ser, sabendo, por olhar a sombra, que foi largada a pegou no ar antes que alcançasse o chão. O povo vendo a maravilha, fez um grande barulho, gritando e batendo palmas. O ministro, escutando, enviou um relato ao rei contando como o sábio com meios próprios fez o pássaro soltar a carne. O rei, quando escutou, perguntou o Senaka se devia chamá-lo à corte. Senaka refletiu, “A partir do momento que ele chegar eu perderei toda minha glória e o rei esquecerá minha existência, - não devo deixá-lo trazê-lo aqui” ; então com inveja disse, “Ele não é sábio por uma tal ação como esta, isto é coisa pouca” ; e o rei sendo imparcial, deu ordem ao ministro para testá-lo mais onde estava.

2. “O gado.” Um certo homem que morava na vila Yavamajjhaka comprou algum gado em outra vila e trouxe-o para casa. Dia seguinte levou-os para o campo de grama para pastarem e foi montado em um dos bois. Cansando-se desceu e sentou no chão e caiu no sono, e enquanto isto um ladrão veio e carregou o gado. Quando acordou ele não viu o gado mas olhando bem para todo lado achou o ladrão fugindo. Saltando gritou, “Onde levas meu gado ?” “Eles são meus bois, e estou levando-os para onde quero.” Uma grande multidão reuniu-se ao escutar da disputa. Quando o sábio ouviu o barulho ao passarem pela porta do salão, mandou chamá-los. Quando viu o comportamento deles logo soube quem era o ladrão e quem o dono real. Mas apesar de ter certeza, perguntou por quê brigavam. O dono disse, “Comprei este gado de uma certa pessoa em tal vila, e trouxe-os para casa e coloquei-os para pastar. Este ladrão observou que eu não vigiava, veio e levou-os. Olhando em todas as direções o encontrei, persegui e peguei. O povo de tal vila sabe que que comprei o gado e o levei.” O ladrão respondeu, “Este homem fala mentira, eles nasceram na minha casa.” O sábio disse, “Decidirei o caso de vocês com justiça ; vocês aceitam minha decisão ?” e eles prometeram aceitar. Então pensando consigo que devia ganhar os corações do povo ele primeiro perguntou ao ladrão, “O quê você deu de alimento para este gado, e o quê deu de beber ?” “Eles beberam mingau de arroz e comeram farinha de sésamo (gergelim) com feijão.” Então ele perguntou ao real dono, que disse, “Meu senhor, como poderia um pobre como eu arranjar mingau de arroz e o resto ? Alimentei-os com capim.” O pandit [ professor ] fez com que a assembléia se reunisse e ordenou que sementes de painço fossem trazidas, amassadas num pilão, misturadas àgua e dada ao gado, e eles com isto vomitaram só grama. Ele mostrou isto àssembléia e então perguntou ao ladrão, “És o ladrão ou não ?” O outro confessou que era o ladrão. E disse a ele, “De agora em diante não cometas mais tal pecado.” Mas os ajudantes do Bodhisatva levaram o sujeito embora e cortaram fora as mãos e os pés dele tornando-o impotente. O sábio então se dirigiu a ele com palavras de bom conselho, “Este sofrimento veio a ti só nesta vida presente mas na vida futura sofrerás grande tormento em diferentes ínferos portanto de agora em diante abandones tais práticas” ; ele ensinou ao outro os cinco mandamentos. O ministro enviou um relato do incidente ao rei, que perguntou a Senaka mas este pediu para esperar, “É só um caso de gado e qualquer um podia resolvê-lo.” O rei, sendo imparcial, mandou a mesma ordem. (Isto é para ser entendido em todos os casos subseqüentes, - contaremos cada um de acordo com a lista.)

3. “O colar de linhas.” Uma certa mulher pobre trançou várias linhas de diferentes cores e fez um colar, que tirou do pescoço e colocou entre suas roupas enquanto descia para tomar banho no tanque, lago, que o pandit [ professor ] mandou fazer. Uma outra jovem mulher que viu isto concebeu desejo por ele, tomou-o e disse a ela, “Mãe, este é um colar muito lindo, quanto custou fazê-lo ? Farei um igual para mim. Posso colocá-lo no meu pescoço para verificar o tamanho ?” A outra consentiu, e ela colocou no pescoço e saiu correndo. A anciã vendo isto saiu rápido da água, e colocando as roupas correu atrás dela e segurou seu vestido, gritando, “Você está fugindo com o colar que eu fiz.” A outra respondeu, “Não tomo nada de ti, este é o colar que coloco no pescoço “; e uma grande multidão reuniu-se enquanto escutavam isto. O sábio, enquanto brincava com os garotos, escutou-as discutindo enquanto passavam pela porta do salão e perguntou o por quê do barulho. Quando escutou a causa da querela mandou chamar ambas, e sabendo logo pela postura qual er a ladra, perguntou-lhes se aceitariam a decisão dele. Ambas aceitando, ele perguntou à ladra, “Que essência você usou neste colar ?” Ela respondeu, “Sempre uso sabbasamhāraka ( n. do tr.: um perfume composto de muitas essências diferentes.) para perfumá-lo.” Então ela perguntou à outra, que respondeu, “Como uma pobre mulher como eu conseguiria sabbasamhāraka ? Eu sempre o perfumo com essência feita de flores de piyangu.” Então o sábio fez com que se trouxessem um vaso de água e colocou o colar nele. Mandou chamar um vendedor de perfume e disse a ele para cheirar a água do vaso e descobrir a que cheirava. Ele reconheceu direto o cheiro de flor piyangu, e fez a estrofe do Jātaka 110:

Não é sabbasamhāraka; cheira só kangu;
Aquela mulher má mentiu ; a verdade disse a vovó.

O Grande Ser contou aos espectadores todas as circunstâncias e perguntou a cada uma respectivamente, “És tu a ladra ? Não és tu a ladra ?” e fez a culpada confessar, e a partir dali sua sabedoria tornou-se conhecida do povo. (continua )



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