segunda-feira, 20 de outubro de 2008

213 Buddha e o rei de Kosala


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                ( Moeda de Kosala )


213
O rei de Bharu...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana sobre o rei de Kosala.

Bem, lemos que presentes magníficos eram dados ao Abençoado e sua companhia e que eram tidos em grande estima, como está escrito : 'Naquele tempo o Abençoado era honrado e reverenciado, respeitado, altamente estimado e recebia ricos presentes – roupas, alimentos, estadia, drogas e remédios, provisões ; e a Irmandade era honrada, etc. (como antes) ; mas os peregrinos das escolas heterodoxas não eram honrados, etc. (como antes).” Bem, os sectários, vendo suas honras e presentes diminuírem, convocaram um encontro secreto para deliberar. “Desde o aparecimento do Padre Gautama,” eles disseram, “honras e presentes não nos são mais entregues mas ele toma o melhor de ambos. Qual será a razão por esta boa-fortuna ?” Então um deles falou como segue. “Padre Gautama tem o melhor e o principal lugar em toda a Índia para viver e esta é a razão do sucesso dele.” Então os outros disseram, “Se esta é a razão, faremos um estabelecimento rival junto de Jetavana e assim receberemos presentes.” Esta foi a conclusão que chegaram.

Mas,” eles pensaram, “se fizermos nosso estabelecimento, sem o rei saber, os Irmãos irão preveni-lo. Se ele aceitar um presente nosso, não estará desinclinado a quebrar o estabelecimento deles. Então é melhor mimá-lo antes para que ele nos dê um lugar.”

Então com a intervenção de cortesãos, eles ofereceram cem mil peças (as moedas eram quadradas na época) ao rei, com a mensagem ; “Grande Rei, queremos levantar um estabelecimento rival em Jetavana. Se os Irmãos te falarem, eles não irão permiti-lo, por favor não dê nenhuma resposta a eles.” Com isto o rei concordou porque ele queria o dinheiro.

Após assim conciliarem o rei, os cismáticos arranjaram um arquiteto e começaram a trabalhar. Começou uma grande barulhada.

Que barulhada e tumulto é este, Ānanda ?” o Mestre perguntou. “O barulho,” ele disse, “é de alguns sectários que estão construindo um estabelecimento aqui.” “Este não é um lugar adequado,” adicionou, “para eles construírem. Estes sectários gostam de barulho ; não há como conviver com eles.” Então chamou a Irmandade e pediu-lhes que informassem ao rei e fizessem parar a construção.

Os Irmãos foram e pararam diante da porta do palácio. O rei, assim que entendeu que tinham chegado, soube que vieram querendo parar a nova construção. Mas ele foi subornado e então ordenou a seus empregados que dissessem que ele não estava em casa. Os Irmãos voltaram e contaram ao Mestre. O Mestre imaginou que suborno fora dado e enviou seus dois discípulos chefes ( Sāriputra e Moggallāna ). Contudo o rei, assim que soube da chegada deles, deu a mesma ordem que antes ; e eles também retornaram e contaram ao Mestre. O Mestre disse, “Sem dúvida o rei está incapacitado de ficar em casa ho-je ; ele deve estar fora.”

Na manhã seguinte, ele se vestiu, tomou sua tigela e hábito e com quinhentos irmãos andou até a porta do palácio. O rei escutou-os chegarem ; ele desce do andar de cima e toma do Buddha sua tigela de ofertas. Deu a ele então arroz e mingau e as seus seguidores, e com uma saudação, sentou-se em um dos lados.

O Mestre começou uma exposição para proveito do rei, com estas palavras. “Grande Rei, outros reis em dias idos aceitaram suborno e então, ao fazerem pessoas virtuosas polemizarem, foram destituídos dos seus reinos e completamente destruídos.” E então, ao pedido dele, o Mestre contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez rei Bharu reinava no reino de Bharu. Ao mesmo tempo o Bodhisatva era um Professor de uma tropa de monges. Ele era um asceta que adquiriu as Cinco Faculdades Sobrenaturais e as Oito Consecuções ; e viveu por um longo tempo na região do Himalaia.

Ele desce do Himalaia para comprar sal e temperos, seguido dos quinhentos ascetas ; e aos poucos chegaram a cidade de Bharu. Ele passa a colher ofertas pela cidade ; e depois saindo dela, senta junto do portão norte, nas raízes de um'árvore banian toda coberta de brotos e galhos. Lá fez sua refeição e lá fixou domicílio.

Bem quando aquele bando de eremitas já tinha morado ali por quinze dias, chegou um outro Professor com outros quinhentos, que passou a colher ofertas pela cidade e então saiu e sentou justo debaixo de uma mesma árvore banian no portão sul e comeu e morou lá. E os dois bandos moraram lá, tanto quanto conseguiram e depois retornaram para o Himalaia.

Quando eles saíram, àrvore do portão sul secou. Na vez seguinte, aqueles que moraram debaixo dela chegaram primeiro e percebendo que àrvore deles estava seca, primeiro seguiram em suas rondas através da cidade, colhendo ofertas, e então saindo pelo portão norte, comeram e passaram a morar debaixo daquela árvore banian que estava naquele portão. E o outro bando, chegando depois, seguiu suas rondas pela cidade e então pronta a comida, iam morar debaixo da sua própria árvore. “Esta árvore não é de vocês, ela é nossa!” eles gritaram ; e passam a brigar por causa d'árvore. A querela cresce bastante : estes dizem - “Não tomem o lugar em que morávamos antes !” e aqueles - “Desta vez chegamos primeiro ; vocês não pegaram !” Assim gritando alto todos que eram donos do lugar, foram até o palácio real.

O rei ordenou que aqueles que haviam morado lá antes ficassem com o lugar. Então os outros pensaram - “Não permitiremos que digam que fomos derrotados por estes !” Eles então procuraram com a divina visão ( n. do tr.: uma das Abhiññas ou Faculdades Sobrenaturais ) e encontraram o corpo de uma carruagem própria para o uso de um imperador; eles pegaram-na e ofereceram como presente ao rei, pedindo a ele que desse a eles a posse d'árvore. Ele aceitou o presente deles e ordenou que ambos deviam morar debaixo d'árvore ; e assim ficaram todos sendo donos juntos. Então os outros eremitas buscaram as rodas em jóias da mesma carruagem e ofereceram elas em presente ao rei, pedindo, “Ó poderoso rei, faça-nos possuir àrvore sozinhos !” E o rei fez isso. Então os ascetas se arrependeram e disseram : “Pensar que nós, que largamos o amor das riquezas e a luxúria da carne e renunciamos o mundo, cairíamos em polêmica por causa de um'árvore e ofereceríamos suborno por razão dela ! Isto não é algo plausível.” E saíram fora apressados, até chegarem ao Himalaia. E todos os espíritos que moravam no reino de Bharu em mente única ficaram irados com o rei e trouxeram o mar e por um espaço de quinhentos quilômetros fizeram como se o reino de Bharu não existisse. E então devido apenas ao rei de Bharu, todos os habitantes do reino pereceram assim.

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Quando o Professor terminou seu conto, em perfeita sabedoria, pronunciou a seguinte estrofe:-

O rei de Bharu, como dizem velhas histórias,
Fez um dia, santos eremitas brigarem :
Por cujo pecado aconteceu dele cair morto,
E com ele perecer todo seu reino.

Daí o sábio não aprovar
Quando desejo cai em seu coração.
Ele que é livre d'engano, cujo coração é puro,
Tudo que fala, verdade e acerto.

(comentário da Glosa: aqueles que naqueles dias falaram a verdade, culpando o rei Bharu por aceitar suborno, encontraram chão seguro em milhares d'ilhas que ainda ho-je são vistas ao redor da ilha de Nālikera.)

Quando o Mestre terminou sua história, ele adicionou, “Grande Rei, não se deve estar sob o poder do desejo. Duas pessoas religiosas não devem polemizar.” Então ele identificou o Jataka:- “Naqueles dias, eu era o líder dos sábios.” Depois que o rei recebeu o Buddha e este partiu, o rei enviou alguns homens e fez o estabelecimento rival ser destruído e os sectários ficaram sem casa.






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