quinta-feira, 2 de outubro de 2008

202 Buddha Sakra


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202
Gansos, garças, elefantes...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto morava em Jetavana sobre Lakuntaka o bom e venerável.

Bem, este venerável Lakuntaka, escutamos, era conhecido na fé do Buddha, homem famoso, pregador melífluo de palavras doces, de agudo discernimento, com suas paixões perfeitamente dominadas mas a estatura era a menor dentre todos os oitenta Anciãos, não maior que um noviço, como um anão mantido para diversão.

Um dia, ele veio aos portões de Jetavana para saudar o Buddha quando trintas irmãos camponeses chegaram ao portão também indo saudá-lo também. Quando viram o Ancião, acreditaram que fosse algum noviço ; puxaram as bordas do hábito, pegaram as mãos, seguraram a cabeça, torceram o nariz dele, puxaram-no pelas orelhas e o sacudiram e o trataram com bastante rudeza; depois, após deixarem de lado manto e tigela, prestaram visita ao Mestre e o saudaram. Depois perguntaram a ele, “Senhor, escutamos que existe um Ancião que se chama Lakuntaka o Bom, pregador melífluo. Onde está ele ?” “Vocês querem vê-lo ?” O Mestre perguntou. “Sim, Senhor.” “Ele é o homem que vocês viram no portão e torceram o manto e puxaram de todo modo com grande rudeza antes de chegarem aqui.” “Por quê, Senhor,” eles perguntaram, “como pode um homem dedicado à oração, cheio de altas aspirações, um verdadeiro discípulo – como pode ser tão insignificante ?” “Devido aos próprios pecados,” respondeu o Mestre ; e ao pedido deles, contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva tornou-se Sakra, rei dos deuses. Brahmadatra não agüentava olhar nada velho, caquético ou decrépito, fossem elefantes, cavalos, bois, ou não. Ele enchia-se de deboches e aonde quer que visse um assim, escorraçava-o; carros velhos mandava fazer em pedaços ; se visse mulher velha mandava chamar e batia na barriga dela, depois soltava dando um susto ; fazia homens velhos rolarem no chão como acrobatas. Se não visse nenhum mas apenas escutava que havia um grisalho em tal e tal cidade, mandava chamar então, e debochava dele.

Com isto o povo com vergonha, passou a enviar os pais para fora das fronteiras do reino. Não mais as pessoas cuidavam e protegiam seus pais e mães. Os amigos do rei eram tão desumanos quanto ele. Quando os homens morriam, enchiam os quatro ( n. do tr.: Os quatro apaye = Ínfero, nascer como bicho, nascer como peta (fantasma), nascer entre os asuras (Titãs ou espíritos caídos)) mundos de infelicidades ; o povo dos deuses foi ficando cada vez menor.

Sakra viu que não haviam novos recém-chegados entre os deuses ; e refletiu consigo mesmo sobre o quê deveria ser feito. Por fim encontrou um plano. “Vou humilhá-lo !” pensou Sakra ; e assumiu em si a forma de um homem velho e colocando dois jarros de manteiga numa carroça doida e velha, atrelou nela um par de touros velhos e saiu em um dia de festa. Brahmadatra montado em um elefante ricamente arreado, estava fazendo a procissão solene ao redor da cidade que estava toda ornada ; e Sakra, em traje de trapos, e dirigindo essa carroça, veio ao encontro do rei. Quando o rei viu a carroça velha, gritou, “Você, fora com esta carroça !” (pois Sakra com seu poder deixou-se ser visto por ninguém mais além do rei). E, aproximando-se do rei cada vez mais, por fim Sakra, ainda dirigindo seu carro, quebrou um dos jarros (de manteiga) na cabeça do rei e o fez girar, virar ; e então quebrou o outro jarro do mesmo jeito. E a manteiga escorria pelos dois lados da cabeça dele. Assim o rei foi flagelado e atormentado e ficou como um miserável com os atos de Sakra.

Quando Sakra viu a tristeza dele, fez seu carro desaparecer e assumiu sua própria forma novamente. Pousado no meio do ar, raio na mão, repreendeu-o - “Ó rei mau e injusto ! Nunca envelhecerás tu mesmo ? A idade não te assaltará ? Ainda assim zombas e debochas e desprezas aqueles que estão velhos ! É só por causa de você e destes teus atos que morrem as pessoas em todo canto e preenchem os quatro mundos de infelicidade e que as pessoas não podem mais cuidar do bem-estar dos pais ! Se você não cessar de fazer isso, clivarei sua cabeça com meu raio. Vá e não faça mais isso.”

Com esta censura, ele declarou o valor dos pais e fez sabido a vantagem de reverenciar ànciedade ; após este discurso, partiu para sua própria morada. Daquele momento em diante o rei nem mesmo pensou em fazer algo semelhante àquilo que fazia antes.

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Terminada esta história, o Mestre, tornando-se perfeitamente iluminado, recitou estas duas estrofes:-

Gansos, garças, elefantes e cervos pintados
Apesar de dessemelhantes, temem igualmente o leão.

Assim, uma criança é grande se é inteligente ;
Tolos podem ser gordos, largos, mas nunca serão grandes.

(N. do Tr.: Esta linhas ocorrem no Samyutta-Nikāya, pt. II, XXI, 6. )

Quando este discurso estava terminado, o Mestre declarou as Verdades e identificou o Jataka:- na conclusão das Verdades alguns dos Irmãos entraram no Primeiro Caminho, alguns no Segundo e alguns no Quarto: - “O excelente Lakuntaka era o rei na história que fazia do Povo alvo para suas brincadeiras e que tornou-se alvo ele mesmo, enquanto eu mesmo era Sakra.”






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