quarta-feira, 19 de março de 2008

78 Moggallana Sakra



78 Ambos caolhos...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Senhor Alto Tesoureiro avarento. Perto da cidade de Rājagaha, como nos é dito, havia uma vila chamada Açúcar-mascavo, e nela morava um certo Senhor Alto Tesoureiro, conhecido como o Avarento Milionário, que tinha oitenta ‘crores’ [um crore é dez milhões] ! Nem uma gota mínima de óleo que numa folha de grama coubesse, ele dava ou usava para seu próprio prazer. Então ele não fazia nenhum uso de toda sua riqueza seja para sua família seja para os sábios e brahmins: ela ficava sem uso,- como um lago assombrado por demônios.

 Bem, aconteceu de um dia o Mestre levantar-se aurora movido de grande compaixão, e enquanto pesquisava aqueles amadurecidos para a conversão pelo universo, tornou-se cônscio que este Tesoureiro com sua esposa, distantes algo em torno de seiscentos quilômetros, estavam destinados a trilhar os Caminhos da Salvação.

Bem no dia anterior, o Senhor Alto Tesoureiro fez seu caminho até o palácio para esperar o rei, e estava no seu caminho de volta para casa quando viu um aldeão, que estava bastante vazio por dentro [com fome], comendo um bolo recheado. A visão despertou dentro dele desejo ! Mas, chegando em sua casa mesma, pensou consigo, - “Se disser que gostaria de um bolo recheado, uma hoste inteira de gente vai querer partilhar da minha comida; e isto significa terminar para sempre com meu arroz, ghee e açúcar. Não posso dizer uma palavra para ninguém.” Assim ele ficou andando, lutando com seu desejo. Como hora após hora passava, ele foi ficando amarelo, e mais amarelo, e as veias saltaram como cordas na sua estrutura castigada. Incapaz por fim de aguentar, foi para seu próprio quarto e deitou estirado na cama. Mas ainda assim nem uma palavra diria a ninguém por medo de espoliarem seu patrimônio ! Bem, sua esposa veio até ele, e batendo-lhe nas costas, disse: “Meu marido, qual o seu problema ?”

Nada,” ele disse. “Talvez o rei tenha te contrariado?” “Não, ele não contrariou.” “Seus filhos ou empregados fizeram algo que te aborreceu?” “Nada disso, também.” “Bem, então, você está com desejo de alguma coisa?” Mas ainda assim ele não diria nenhuma palavra, - tudo por causa do seu medo pressuposto de poder perder toda sua riqueza; e ficou lá deitado sem palavras na cama. “Fale, marido,” disse a esposa; “diga-me o quê desejas.” “Sim,” disse ele engolindo em seco, “tenho desejo de uma coisa.” “E qual seria, meu marido?” “Eu gostaria de comer bolo recheado!” “Pois por quê não disseste antes? És rico bastante ! Cozinharei bolos o suficiente para alimentar toda a cidade de Açúcar-mascavo.” “Por quê te preocupas com eles? Devem trabalhar para ganhar seu próprio alimento.” “Bem, então cozinharei o suficiente só para nossa rua.” “Como és rica, hem!” “Então, cozinharei justo o suficiente para nossa casa.” “Como és extravagante !” “Muito bem então, vou providenciar só para nós dois.” “Por quê você tem que se meter nisto ?” “Então cozinharei justo o suficiente para você apenas,” disse a esposa.

Devagar,” disse o Senhor Alto Tesoureiro; “existem muitas pessoas buscando sinais de comida neste lugar. Pegue arroz quebrado, - seja cuidadosa em deixar o arroz inteiro,- e pegue um braseiro e panelas e apenas um pouco de leite e de ghee e mel e melado; então suba com tudo para o sétimo andar da casa e lá cozinhe. Lá sentarei sozinho e sem perturbações para comer.”

Obediente aos desejos dele, a esposa carregou todas as coisas necessárias, subiu todo o caminho sozinha, mandou empregados saírem, e mandou avisar ao Tesoureiro para que viesse. Ele sobe, batendo e trancando porta atrás de porta enquanto subia, até que por fim chegou ao sétimo andar, cuja porta logo trancou. Então ele sentou. Sua esposa acendeu o fogo no braseiro, colocou a panela e passou a cozinhar os bolos.

Bem, cedo de manhã, o Mestre disse ao Ancião Grande Moggallāna,- “Moggallāna, este Milionário Avarento na vila de Açúcar-mascavo perto de Rājagaha, querendo comer ele mesmo bolos, está com tanto medo de deixar os outros saberem, que está fazendo eles serem cozidos no alto do sétimo andar. Vá lá; converta o homem para a abnegação, e com poder transcendental transporte marido e esposa, bolos, leite, ghee, e todo o resto, para cá, Jetavana. Neste dia eu e quinhentos Irmãos ficaremos em casa, e farei com que sejam alimentados com os bolos.”

Obediente às ordens do Mestre, o Ancião com poder sobrenatural passou para a vila de Açúcar-mascavo, e parado no meio do ar diante da janela do quarto, devidamente vestido com suas vestes de baixo e de cima, brilhava como uma imagem em jóias. A vista inesperada do Ancião fez o Senhor Alto Tesoureiro tremer amedrontado. Pensou ele consigo mesmo, “Foi para escapar de tais visitantes que subi para cá: e agora há um deles na janela!” E, falhando em entender e compreender aquilo que devia entender e compreender, ele cuspiu com raiva, como açúcar ou sal atirado no fogo, e explodiu dizendo – “O quê conseguirás, sábio, simplesmente pousado no meio do ar ? Pois podes caminhar para cá e para lá até teres feito um caminho no ar sem caminhos,- e ainda assim não conseguirás nada.”

O Ancião começou a caminhar para cá e para lá no seu lugar no ar ! “O quê conseguirás andando para cá e para lá ?” disse o Tesoureiro ! “Podes sentar de pernas cruzadas em meditação no ar, - e ainda assim não conseguirás nada.” O Ancião sentou de pernas cruzadas ! Então disse o Tesoureiro, “O que conseguirás sentado aí? Você pode vir e sentar no peitoril janela; mas mesmo assim não conseguirás nada !” O Ancião sentou no peitoril da janela. “O quê conseguirás sentado no peitoril da janela ? Pois podes arrotar fumaça que ainda assim nada conseguirás !” disse o Tesoureiro. Então o Ancião arrotou fumaça até todo o lugar estar cheio dela. Os olhos do Tesoureiro começaram a arder como se picados por agulhas; e, temendo que por fim sua casa pegasse fogo, atalhou logo dizendo – “Nada conseguirás mesmo que explodas em chamas.” Pensou ele consigo mesmo, “Este Ancião é muito persistente ! Ele simplesmente não irá embora de mãos vazias ! Devo dar apenas um bolo a ele.” E assim disse a sua esposa, “Minha querida, cozinhe um bolinho e dê ao sábio para nos livrar-nos dele.”

Então ela misturou um pouquinho de massa num pote de barro. Mas a massa inchou e inchou até que preencheu todo o pote, e cresceu até se tornar um grande bolo ! “Nossa, quanta farinha você usou !” exclamou o Tesoureiro vendo. E ele mesmo com a ponta de uma colher pegou um pedacinho da massa bem pequeno, e colocou no fogão para assar. Mas aquele pequeno pedaço cresceu tanto quanto a primeira porção ; e, um após outro, cada pedaço da massa que ele pegava ficava assim muito grande ! Então ele perdeu o ânimo e disse à esposa, “Dê a ele bolo, querida.” Mas, assim que ela pegou um bolo na cesta, todos os bolos grudaram nele. Ela então grita para o marido que todos os bolos grudaram um no outro, e que portanto ela não podia separá-los.

Ah, logo irei dividi-los,” disse ele,- mas descobriu que não conseguia !

Marido e mulher então seguraram a massa de bolos no canto e tentaram separá-la. Mas apesar de puxarem o quanto podiam, não conseguiram juntos o que tentaram sozinhos, fazer com a massa. Bem, enquanto o Tesoureiro puxava a massa de bolos, ele explodiu num perspirar, e seu desejo o deixou. Disse assim a sua esposa, “Não quero bolos; dê-os, cesta e tudo, ao asceta.” E ela aproxima-se do Ancião com a cesta na mão. O Ancião então prega a verdade ao casal, e proclama a excelência das Três Gemas. E, ensinando que dar é sacrifício verdadeiro, ele fez brilhar os frutos da caridade e outras obras boas como a lua cheia nos céus. Vencido pelas palavras do Ancião, o Tesoureiro disse, “Senhor, venha aqui e sente nesta cama para comer seus bolos.”

Senhor Alto Tesoureiro,” disse o Ancião, “o Buddha Onisciente com quinhentos Irmãos está sentado no mosteiro esperando uma comida de bolos. Se tal for sua boa-vontade, eu pediria a ti que trouxesse sua esposa e os bolos com você, e fôssemos até o Mestre.”

“Mas, senhor, onde está o Mestre neste momento ?” “Quarenta e cinco léguas de distância no mosteiro de Jetavana.” “Como faremos todo este caminho, senhor, sem perdermos um longo tempo de viagem ?” Se for de sua vontade, Senhor Alto Tesoureiro, transportarei-o para lá com meus poderes transcendentais. O topo da escada em sua casa permanecerá onde está, mas o fundo estará no portão principal de Jetavana. Deste jeito te transportarei até o Mestre, no tempo que leva para descer as escadas.” “Que seja assim, senhor,” disse o Tesoureiro.

Então o Ancião, mantendo o topo da escada onde estava, ordenou dizendo,- “Que o fundo da escada esteja no portão principal de Jetavana.” E assim aconteceu ! Deste jeito o Ancião transportou o Tesoureiro e sua esposa para Jetavana mais rápido do que numa descida de escada.

Daí esposo e esposa chegaram diante do Mestre e disseram que chegara a hora da comida. E o Mestre, passando para o Refeitório, sentou no assento de Buddha preparado para ele, com a Irmandade ao redor. Então o Alto Senhor Tesoureiro derramou a Água da Doação na mãos da Irmandade com o Buddha à cabeça dela, enquanto sua esposa colocava bolo na tigela do Abençoado. Deste tanto ele tomou o suficiente para manter a vida, como também o fizeram os quinhentos Irmãos. Depois o Tesoureiro seguiu servindo leite misturado com ghee e mel e açúcar-mascavo; e o Mestre e a Irmandade terminaram de comer. Por último o Tesoureiro e sua esposa comeram até se satisfazerem, e ainda assim não terminaram os bolos. Mesmo depois que todos os Irmãos e os adjacentes em todo o mosteiro comeram sua parte, ainda assim não se via sinal do fim. E assim falaram ao Mestre, dizendo, “Senhor, o suprimento de bolos não diminui.”
Jogue-os fora então pelo grande portão do mosteiro.”
Assim jogaram-nos fora numa gruta não distante do portão ; e a partir deste dia um lugar chamado ‘Bolo da Panela de barro,’ é apresentado no fundo desta gruta.

O Senhor Alto Tesoureiro e sua esposa aproximaram-se e ficaram diante do Abençoado, que respondeu agradecido; e no final das palavras dele de agradecimento, o casal atingiu Fruição do Primeiro Caminho da Salvação. Então, pedindo licença ao Mestre, os dois subiram na escada junto ao grande portão e descobriram-se novamente em casa. Depois, o Senhor Alto Tesoureiro  doou oitenta ‘crores’ de dinheiro sozinho para a Fé que o Buddha ensinava.

Dia seguinte o Perfeito Buddha, retornando para Jetavana após o giro de coleta de oferta em Sāvatthi, fez um discurso de Buddha para os Irmãos antes de recolher-se para a reclusão do Quarto Perfumado. À tardinha, os Irmãos se reuniram no Salão da Verdade, e exclamaram, “Como é grande o poder do Ancião Moggallāna ! Em um momento ele converteu o avarento à caridade, trouxe-o com os bolos para Jetavana, colocou-o diante do Mestre, e estabeleceu-o na salvação. Como é grande o poder do Ancião !” Enquanto eles assim sentavam falando da bondade do Ancião, o Mestre entrou, e, tendo perguntado, escutou qual era o tema da conversa. “Irmãos,” ele disse, “um Irmão que converte uma casa, deve se aproximar da casa sem causar qualquer perturbação ou avexamento,- como a abelha mesma quando suga o néctar da flor; em tal saber ele se aproxima e declara a excelência do Buddha.” E em louvor ao Ancião Moggallāna, ele recitou esta estrofe:-

Como abelhas, que não danificam nem o cheiro nem a cor das flores
Mas, carregadas com seu mel, voam longe,
Assim, o sábio, dentro de sua vila anda seu caminho.
(Dhammapada, v.49)

Então, para mostrar mais ainda a bondade do Ancião, ele disse, - “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que o Tesoureiro avarento foi convertido por Moggallāna. Em outros dias também o Ancião o converteu, e ensinou-o como atos e seus efeitos estão ligados juntos.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), havia um Tesoureiro, chamado Illisa, que tinha oitenta ‘crores’, e tinha todos os defeitos fadados aos humanos. Ele era coxo e corcunda e caolho; era infiel não converso, um avarento, nada dando de seus estoques para os outros, nem aproveitando ele mesmo; sua casa era como um lago assombrado por demônios. Ainda assim, por sete gerações, seus ancestrais foram bondosos dando liberalmente o melhor que podiam; mas, quando ele tornou-se Tesoureiro, quebrou com a tradição da sua casa. Derrubando a Casa de Caridade e expulsando os pobres a pancada de seus portões, ele entesourou sua riqueza.

Um dia, quando voltava da audiência com o rei, viu um caipira, que tinha viajado muito e estava cansado, sentado num banco, e enchendo a caneca a partir de um jarro de bebida forte, e bebendo dele, com um bom pedaço de peixe seco cheiroso como aperitivo. A visão fez o Tesoureiro sentir sede de bebida forte, mas ele pensou consigo mesmo, “Se eu beber, outros vão querer beber comigo e isto significa uma despesa arruinante.” Assim ele ficou andando, guardando sua sede. Mas, com o passar do tempo não conseguiu mais; ficou amarelo como algodão velho; e as veias pulavam de sua estrutura afundada. Um dia, retirando-se para seu quarto, deitou-se atirado na cama. Sua esposa veio a ele, e esfregou suas costas, e perguntou, “O quê está errado com meu senhor?”

(O quê segue deve ser contado como na história anterior.) Mas, quando ela por sua vez disse, “Então prepararei bebida só para você,” ele disse, “Se você preparar a bebida na casa, haverão muitos olhando; e pedir as bebidas e sentar e beber aqui, está fora de questão.” Então ele arranjou um único centavo, e enviou um escravo para buscar uma jarra de bebida forte na taverna. Quando o escravo voltou, ele o fez sair da cidade para o lado do rio e colocar a jarra num bosque remoto. “Agora saia !” ele disse, e fez o escravo esperar a alguma distância, enquanto enchia o copo e o corpo.

Bem, o pai do Tesoureiro, que por sua caridade e outras obras boas re-nasceu como Sakra no Reino dos Devas, estava naquele momento imaginando se sua bondade ainda era guardada ou não, e tornou-se cônscio de que sua bondade fora interrompida, e do comportamento de seu filho. Ele viu como seu filho, quebrando as tradições da sua casa, botou abaixo a Casa de Caridade, expulsou os pobres a pancada dos portões, e como, em sua avareza, temendo partilhar com outros, aquele filho furtara-se para um bosque para beber sozinho. Movido pela visão, Sakra gritou, “Irei até ele e farei meu filho ver que ações têm suas conseqüências; obrarei a conversão dele, e o farei caridoso e com valor para re-nascer no Reino dos Devas.” Então assim desceu para a terra, e uma vez mais trilhou os caminhos dos homens, usando o semblante do Tesoureiro Illisa, com a coxidão, a corcundez e a caolhice deste último. Deste jeito ele entra na cidade de Rājagaha e caminha para o portão do palácio, onde fez sua chegada ser anunciada ao rei; e tendo entrado ficou com o devido respeito diante de sua majestade.

O quê o traz aqui nesta hora não usual, Senhor Alto Tesoureiro ?” disse o rei. “Vim, Senhor, porque tenho em minha casa oitenta ‘crores’ de tesouro. Conceda carregá-los e encher o tesouro real.” “Não, meu Senhor Tesoureiro; o tesouro dentro do meu palácio é maior que este.” “Se o senhor não o tiver, devo dá-lo a quem quiser.” “Faça isto com todos os meios, Tesoureiro,” disse o rei. “Assim seja, senhor,” disse o pretenso Illisa, quando com a devida obediência partiu para a casa do Tesoureiro. Os empregados todos reuniram-se a seu redor, mas nenhum pode dizer que não era o patrão real. Entrando, ele ficou no hall e enviou o porteiro, a quem deu ordens de que se alguém parecido com ele mesmo aparecesse e clamasse ser o dono da casa eles deveriam sonoramente dar-lhe uma porretada e atirá-lo para fora. Então, subindo as escadas para os andares de cima, sentou num belo sofá e chamou a esposa de Illisa. Quando ela veio ele disse com um sorriso, “Minha querida, sejamos bondosos.”

Com estas palavras, esposa, crianças, e empregados todos pensaram, “Já faz tempo desde que ele assim esteve intencionado. Ele deve ter bebido para estar de boa vontade e generoso ho-je.” E sua esposa disse a ele, “Sejas bondoso o tanto que quiseres, meu esposo.” “Chame o pregoeiro,” ele disse, “e mande-o proclamar pelo toque do tambor por toda a cidade que todos que quiserem ouro, prata, diamantes, pérolas, e semelhantes, devem vir à casa de Illisa o Tesoureiro.” Sua esposa fez o que ele mandou, e larga multidão logo reuniu-se na porta carregando cestas e sacos. Então Sakra mandou abrir os quartos do tesouro e gritou, “Isto é meu presente para vocês; peguem o que quiserem e sigam caminho.” E a multidão pegou as riquezas lá guardadas, empilhando-as em montes no chão e enchendo sacas e vasos que trouxeram, e saíram carregadas com os espólios. Entre eles estava um camponês que atrelou os bois de Illisa à carruagem de Illisa, encheu-a com as sete coisas de valor, e saiu da cidade pela auto-estrada. Enquanto rodava passou perto do bosque, e cantou louvores ao Tesoureiro nestas palavras:- “Possas viver até os cem, meu bom senhor Illisa ! O quê fizeste por mim neste dia me capacitará a viver sem mais esforço de trabalho. De quem eram estes bois? – seus. De quem era esta carruagem ? - seus. De quem esta riqueza na carruagem ? – sua também. Não houve pai nem mãe que me desse tudo isto ; não, isto veio só de ti, meu senhor.”

Estas palavras encheram o Senhor Alto Tesoureiro de medo e tremor. “Por quê este sujeito está mencionando meu nome nesta conversa,” disse ele para si mesmo. “Pode o rei distribuir minha riqueza para o povo ?” Com o mero pensar ele se agarrou ao arbusto, e, reconhecendo seus bois e carro, segurou-os pelo cabresto, gritando, “Pare, sujeito; estes bois e este carro pertencem a mim.” Desceu pulando o sujeito do carro, com raiva exclamando, “Você tratante ! Illisa, o Senhor Alto Tesoureiro, está dando seus bens para toda a cidade. O quê é que é seu?” E empurrou o Tesoureiro e o atingiu nas costas como com um raio que cai, e partiu com o carro. Illisa se recobrou, tremendo todos os membros, limpou o lodo, e correndo atrás do carro, segurou-o. Novamente o camponês desceu, e pegando Illisa pelos cabelos, dobrou-o e socou-o na cabeça por algum tempo ; então segurando-o pela garganta, atirou-o pelo caminho que veio, e partiu. Maltratado por este duro castigo, Illisa corre para casa. Lá, vendo o povo partindo com o tesouro, colocava as mãos em uma pessoa aqui e lá, guinchando, “Ei! O quê é isto? O rei está me espoliando?” E toda pessoa em que ele colocava as mãos, derrubava-o a socos. Machucado e ferido ele busca refúgio em sua própria casa, quando os porteiros o param dizendo, “Alô, seu tratante! Onde pensas estar indo?” E primeiro espancando-o sonoramente com bambus, eles tomam seu patrão pela garganta e o atiram para fora. “Ninguém a não ser o rei pode me fazer justiça,” resmungou Illisa, e dirigiu-se para o palácio. “Por quê, oh por quê, senhor,” ele gritava, “saqueaste-me assim ?”

Não, não fui eu, meu Senhor Tesoureiro,” disse o rei. “Não vieste tu mesmo e declaraste a intenção de doar suas riquezas, e se eu não aceitaria ? E não enviaste então um pregoeiro a proclamar e realizaste o quê intencionavas?” “Oh senhor, na realidade não era eu que vim até ti em tal errância. Sua majestade sabe com sovina e fechado eu sou, e como nunca dei nem uma mínima gota de óleo que caberia numa folha de grama. Posso agradar a sua majestade mandar chamar àquele que deu minhas riquezas e questioná-lo sobre o assunto.”

Então o rei mandou chamar Sakra. E os dois eram tão parecidos que nem o rei nem a corte pode dizer quem era o Senhor Alto Tesoureiro real, verdadeiro. Disse o Illisa avarento, “Quem, e o quê, senhor, é este Tesoureiro ? Eu sou o Tesoureiro.”

Bem, realmente não posso dizer quem é o Illisa real,” disse o rei. “Há alguém que possa distinguí-los com certeza ?” “Sim, senhor, minha esposa.” Então a esposa foi chamada e questionada sobre qual dos dois era seu marido. E ela disse que Sakra era seu marido e foi para o lado dele. Então foi a vez das crianças e empregados de Illisa serem trazidos e questionados do mesmo modo; e todos concordes declararam que Sakra era o Senhor Alto Tesoureiro real. Aqui a mente de Illisa iluminou-se com a idéia de que tinha uma verruga na cabeça, escondida debaixo do cabelo, cuja existência era sabida apenas por seu barbeiro. Então, como um último recurso, ele pediu que seu barbeiro fosse chamado para identificá-lo. Bem, nesta época o Bodhisatva era o barbeiro dele. Conformemente, o barbeiro foi chamado e questionado se podia distinguir o Illisa falso do real. “Eu posso dizer, senhor,” ele falou, “se puder examinar as cabeças deles.” “Então dê uma olhada em ambas as cabeças,” disse o rei. Naquele instante Sakra fez que crescesse uma verruga em sua cabeça ! Após examinar os dois, o Bodhisatva relatou que, como ambos tinham verrugas nas cabeças, ele não poderia dizer quem era a pessoa real. E com isto pronunciou esta estrofe:-

Ambos caolhos; ambos carecas; ambos corcundas também;
E ambos têm verrugas semelhantes ! Não posso dizer
Qual dos dois é o Illisa real.

Escutando sua última esperança falhar assim, o Senhor Alto Tesoureiro caiu em convulsão; e tal era sua angústia intolerável em perder as amadas riquezas, que caiu desmaiado no chão. Daí Sakra mostrou seus poderes transcendentais, e, elevando-se nos ares, dirigiu-se ao rei nestas palavras: “Não sou Illisa, Ó rei, mas Sakra.” Então os que estavam juntos bateram na face de Illisa e jogaram água nela. Recobrando-se, ele levantou-se nos pés e inclinou-se até o chão diante de Sakra, Rei dos Devas. Então disse Sakra, “Illisa, minha era a riqueza, não tua; eu sou teu pai, e tu és meu filho. No meu tempo de vida eu era bondoso com os pobres e alegrava-me em fazer o bem ; e por isto, avancei para este alto estado e me tornei Sakra. Mas tu, não andando nas minhas pegadas, te tornaste sovina e avarento ; derrubaste minha Casa de Caridade, afastaste do portão os pobres, e entesouraste tuas riquezas. Tu dela não gozaste, nem deixaste nenhum outra pessoa o fazer; mas teu estoque se tornou como um lago assombrado por demônios, aonde ninguém pode saciar sua sede. Não obstante, se tu reconstruíres minha Casa de Caridade e mostrar bondade para com os pobres, isto será contado para ti como justiça. Mas, se não, te tirarei tudo que tens, e clivarei tua cabeça com meu raio de Indra, e tu morrerás.”

Com esta ameaça Illisa, tremendo por sua vida, gritou, “De agora em diante serei bom.” E Sakra aceitou a promessa dele, e, ainda sentado no meio do ar, estabeleceu seu filho nos Mandamentos e pregou a Verdade a ele, partindo daí para sua morada. E Illisa foi diligente em fazer ofertas e obras boas, e assim assegurou seu re-nascer depois no céu.

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Irmãos,” disse o Mestre, “esta não é a primeira vez que Moggallāna converte o Tesoureiro avarento; em dias idos também o mesmo homem foi por ele convertido.” Sua lição terminada, ele mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Este Tesoureiro avarento era Illisa naqueles dias, Moggallāna era Sakra, Rei dos Devas, Ānanda era o rei, e eu mesmo o barbeiro.”




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