terça-feira, 25 de março de 2008

80 Buddha Sábio Pequeno Arqueiro



80Gabavaste de tua proeza...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um certo fanfarrão entre os Irmãos. Tradição diz que ele usava reunir ao redor de si Irmãos de todas as idades, e ocupava-se em iludir todos com bazófias mentirosas sobre sua ascendência nobre. “Ah, Irmãos,” ele dizia, “não há família tão nobre quanto a minha, nem linhagem assim incomparável. Sou filho das mais altas linhas principescas; nenhuma pessoa é igual a mim em nascimento ou estado ancestral; não há absolutamente fim ao ouro e prata e outros tesouros que possuímos. Nossos escravos mesmos e os empregados são alimentados com arroz e ensopados e vestem-se com as melhores roupas de Benares e com os perfumes mais finos de Benares eles se perfumam; - enquanto eu, porque me uni à Irmandade, tenho que me contentar com esta comida vil e este traje também vil.”

Mas outro Irmão, após inquirir sobre a condição da família deste, expôs aos Irmãos o vazio da pretensão dele. Então os Irmãos se encontraram no Salão da Verdade, e a conversa começou sobre como aquele Irmão, a despeito dos seus votos em deixar as coisas mundanas e em aderir apenas à Verdade salvadora, seguia iludindo os Irmãos com suas bazófias mentirosas. Enquanto o pecado do sujeito estava em discussão, o Mestre entrou e inquiriu sobre o tema da conversa. E contaram a ele. “Esta não é a primeira vez, Irmãos,” disse o Mestre, “que ele se ocupa em gabar-se; em dias idos também ele se ocupou em gabar-se e iludiu o povo.” E assim falando, ele contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como um brahmin em uma vila de comerciantes ao Norte do país, e quando ele estava crescido, estudou com um professor de fama mundial em Takkasilā ( Taxila ). Lá ele aprendeu os Três Vedas e os Dezoito Ramos do conhecimento e completou sua educação.

E ficou conhecido como o sábio Pequeno Arqueiro. Deixando Takkasilā ( Taxila ), ele veio para o país Andhra em busca de experiências práticas. Bem, acontece que neste Jātaka o Bodhisatva era um pequeno anão corcunda, e ele pensou consigo mesmo, “S’eu aparecer diante de qualquer rei, ele com certeza me perguntará para quê serve um anão como eu; por quê não usar um companheiro alto e grande como meu cavalo protetor e ganhar meu sustento à sombra de sua personalidade mais imponente?” Então dirigiu-se ao quarteirão dos tecelões, e lá vendo um tecelão grande chamado Bhimasena, saudou-o, perguntando o nome dele. “Chamo-me Bhimasena,” disse o tecelão. “E o quê leva um homem grande como você a trabalhar em tal triste comércio ?” “Não posso conseguir sustento de outro jeito.” “Não teça mais, amigo. Em todo o continente não há um arqueiro como eu; mas os reis escarneceriam de mim porque sou anão. E assim tu, amigo, deves ser a pessoa que gaba-se da proeza com o arco, e o rei te tomará como assalariado e te fará aplicar-se chamando-te regularmente. Enquanto isto estarei atrás de ti para realizar as obrigações a ti encarregadas, e então ganharei meu sustento a sua sombra. Desta maneira nós dois floresceremos e prosperaremos. Apenas faça como eu te mandar.” “Gostei de você,” disse o outro.

Conformemente, o Bodhisatva levou o tecelão com ele para Benares, agindo como pequeno pagem do arqueiro e colocando o outro na frente; e quando estavam nos portões do palácio, ele fez o outro enviar mensagem de sua chegada ao rei. Sendo chamado à presença real, o par entrou junto e inclinados ficaram diante do rei. “O quê traz vocês aqui ?” disse o rei. “Sou um poderoso arqueiro,” disse Bhimasena; “não há arqueiro como eu em todo continente.” “Que salário queres para entrares a meu serviço ?” “Mil dinheiros por quinze dias, senhor.” “O quê é este homem para você ?” “Ele é meu pequeno pagem, senhor.” “Muito bem, entre em meu serviço.”

Assim Bhimasena entrou a serviço do rei; mas foi o Bodhisatva que fez todo o trabalho para ele. Bem, naqueles dias havia um tigre na floresta de Kāsi que bloqueava uma auto-estrada muito utilizada e devorava muitas vítimas. Quando isto foi relatado ao rei, ele chamou Bhimasena e perguntou se ele poderia pegar o tigre.

Como poderia chamar-me arqueiro, senhor, se não pudesse pegar um tigre ?” O rei deu a ele presentes e o enviou na missão. E para casa do Bodhisatva veio Bhimasena com as novidades. “Tudo bem,” disse o Bodhisatva ; “pode ir meu amigo.” “Mas você também não vem ?” “Não, não irei ; mas te darei um pequeno plano.” “Por favor, faça-o, meu amigo.” “Bem, não seja apressado aproximando-se só da toca do tigre. O quê farás é reunir um bando de fortes camponeses para marchar para o lugar com mil ou dois mil arcos; quando souberes que o tigre levantou-se, você se atirará no matagal deitarás de bruços. O povo do campo baterá no tigre até a morte; e assim que ele estiver quase morto, corte um cipó com seus dentes, e arraste para perto do tigre morto, puxando o cipó com a mão. À visão do corpo morto do bruto, você gritará – ‘Quem matou o tigre ? Eu planejava conduzi-lo com um cipó, como um boi, ao rei, e com esta intenção estava justamente dentro do mato para pegar o cipó. Devo saber agora quem matou o tigre antes que eu pudesse voltar com meu cipó.’ Então o povo do campo ficará com muito medo e o subornará pesadamente para não falares deles ao rei; terás o crédito de teres matado o tigre; e o rei também te dará um monte de dinheiro.”

Muito bem,” disse Bhimasena; e saiu e matou o tigre justo como o Bodhisatva indicou a ele. Tendo feito a estrada segura para os viajantes, voltou com um largo séquito para Benares, e disse ao rei, “Matei o tigre, senhor; a floresta está segura para os viajantes agora.” Agraciado, o rei o encheu de presentes.

Outro dia, novas vieram de que uma certa estrada estava sendo atacada por um certo búfalo, e o rei enviou Bhimasena para matá-lo. Seguindo as instruções do Bodhisatva, ele matou o búfalo do mesmo jeito que o tigre, e retornou ao rei, que mais uma vez deu a ele muito dinheiro. Ele era um grande senhor agora. Intoxicado com suas novas honrarias, ele tratou o Bodhisatva com desprezo e escarneceu de seguir seus conselhos, dizendo, “Posso continuar sem você. Pensas que não há outro homem aqui que você ?” Estas e muitas outras palavras duras disse ele ao Bodhisatva.

Bem, poucos dias depois, um rei inimigo marchou contra Benares e cercou, sitiou-a, e mandou mensagem ao rei que ou entregasse o reino ou desse batalha. E o rei de Benares ordenou a Bhimasena que saísse para lutar. Então Bhimasena armou-se cap-à-pie (da cabeça aos pés) do modo de um soldado e montou em um elefante de guerra revestido em armadura completa. E o Bodhisatva, que estava seriamente assustado de que Bhimasena podia ser morto, armou-se também cap-à-pie e sentou-se modestamente atrás de Bhimasena. Cercado por uma hoste, o elefante passou para fora dos portões da cidade e chegou à vanguarda da batalha. Às primeiras notas do tambor marcial Bhimasena caiu tremendo de medo. “Se caíres agora, serás morto,” disse o Bodhisatva, e conformemente amarrou uma corda rodeando ele, a qual deixou firmemente segura, para prevenir que ele caísse do elefante. Mas a visão do campo de batalha provou-se demais para Bhimasena, e o medo da morte era tão forte nele que ele cagou nas costas do elefante. “Ah,” disse o Bodhisatva, “o presente não talha (condiz) com o passado. Antes mostravas-te um guerreiro; agora sua proeza reduz-se a cagar no elefante que diriges.” E assim falando, pronunciou esta estrofe:-

Gabavaste de tua proeza, e alta foi tua bazófia;
Você jurou que venceria o inimigo !
Mas é coerente, diante de tuas hostes,
Dar vazão a tal emoção, senhor?

Quando o Bodhisatva terminou com este sarcasmo, disse, “Mas nada tema meu amigo. Não estou aqui para proteger-te ?” Então ele fez Bhimasena sair do elefante, lavar-se e ir para casa. “E agora ganhar renome neste dia,” disse o Bodhisatva, soltando seu grito de guerra enquanto caía na luta. Atravessando o campo do rei adversário, ele o toma e leva vivo para Benares. Em grande alegria por sua proeza, seu patrão real o encheu de honras, e daquele dia em diante toda a Índia escutou a fama do Sábio Pequeno Arqueiro. Para Bhimasena deu presentes, e o mandou de volta para casa; enquanto ele mesmo excedendo em caridade e em obras boas, à morte passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Assim, Irmãos,” disse o Mestre, “esta não é a primeira vez que este Irmão gaba-se; ele foi justo o mesmo em dias idos.” Sua lição terminada, o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Este Irmão que se gaba era Bhimasena daqueles dias, e eu mesmo o Sábio Pequeno Arqueiro.”







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