sexta-feira, 14 de março de 2008

75 Buddha Peixe

                                       

75Pajjunna, trovão !...etc.”- Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana, sobre a chuva que ele fez que caísse. Pois naqueles dias, assim é dito, não caía nenhuma chuva em Kosala ; as colheitas murcharam; em todo lugar poços, tanques e lagos secaram ; e peixes e tartarugas enterravam-se no lodo. Então chegam os corvos e gaviões com seus bicos como lanças, e com diligência pica-os, colhe-os, torcendo e retorcendo (writhing and wriggling) e os devoram.

Percebendo como os peixes e tartarugas eram destruídos, o coração do Mestre moveu-se de compaixão, e ele exclamou, -“Neste dia devo fazer chuva cair.” Assim, quando da noite nasceu dia, após atender suas necessidades corporais, ele esperou até ser a hora apropriada para sair em busca de coleta, e então, cercado por uma hoste de Irmãos, e perfeito com a perfeição de um Buddha, foi para Sāvatthi em coleta. No caminho de volta para o Mosteiro à tarde após a ronda de coleta de oferta em Sāvatthi, ele parou em um dos degraus que desciam para o tanque de Jetavana, e dirigiu-se ao Ancião Ānanda: -“Ānanda, traga-me roupa de banho ; pois me banharei no tanque de Jetavana.” “Mas com certeza, senhor,” respondeu o Ancião, “a água secou toda, e só há lodo.” “Grande é o poder de um Buddha, Ānanda. Vá, traga-me roupa de banho,” disse o Mestre. Foi então o Ancião e trouxe roupa de banho, que o Mestre vestiu, ficando uma ponta ao redor da cintura e cobrindo até em cima com a outra. Vestido, tomou seu lugar nos degraus do tanque, e exclamou, - “Satisfeito me banharia no tanque de Jetavana.”

Naquele instante o trono pedra amarela de Sakra ficou quente debaixo, e ele buscou descobrir a causa. Percebendo o quê era, ele chama o Rei das Nuvens de Tempestade, e disse, “O Mestre está em pé nos degraus do tanque de Jetavana e deseja banhar-se. Apresse-se e derrame chuva numa torrente única por todo o reino de Kosala.” Obediente a ordem de Sakra, o Rei das Nuvens de Tempestade vestiu-se de uma nuvem como de uma roupa de baixo, e de outra nuvem como de uma veste de fora, e cantando a canção da chuva (Megha-sutra) arremessou-se para leste. E vejam! ele apareceu no leste como uma nuvem do tamanho de um pátio, eira, que cresceu e cresceu até ficar grande como cem, como mil, pátios, eiras ; e ele trovejou e relampejou, e inclinando para baixo sua face e boca ‘diluviou’ toda Kosala com torrentes de chuva. A tempestade caiu sem parar, rapidamente enchendo o tanque de Jetavana e parando apenas quando a água estava no nível do degrau mais alto.

 Então o Mestre banhou-se no tanque, e depois saindo da água vestiu-se com suas duas roupas alaranjadas e com seu cinto, ajustando sua roupa de Buddha de modo que deixou um ombro exposto. Deste jeito partiu, cercado pelos Irmãos, e passou para seu Quarto Perfumado, fragrante de doces cheiros de flores. Aí no assento de Buddha sentou, e quando os Irmãos já haviam realizado suas obrigações, ele levantou-se e exortou a Irmandade dos degraus em jóias de seu trono, e os dispensou. Dentro já de seu próprio quarto de odores doces, ele esticou-se, como um leão, no seu lado direito.

Ao crepúsculo, os Irmãos reúnem-se no Salão da Verdade, sob a clemência e gentileza do Mestre. “Quando as colheitas estavam murchas, quando os poços estavam secos e os peixes e tartarugas estavam em triste apuro, então ele em sua compaixão veio como salvador. Vestindo roupa de banho, ele permaneceu nos degraus de Jetavana e num curto intervalo fez a chuva cair dos céus até que ela parecia cobrir toda Kosala com suas torrentes. E quando voltou para o Mosteiro, tinha libertado a todos de maneira semelhante das tribulações da mente e do corpo.”

Assim corria a conversa quando o Mestre saiu de seu Quarto Perfumado para o Salão da Verdade, e perguntou qual era o tema ; e disseram a ele. “Esta não é a primeira vez, Irmãos,” disse o Mestre, “que o Abençoado fez cair chuva em hora de grande necessidade. Ele fez o mesmo quando nasceu em criação-bruta, nos dias em que era Rei dos Peixes.” E assim falando, ele contou esta história do passado:-

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Certa vez, neste mesmo reino de Kosala e em Sāvatthi também, havia um lago onde o tanque de Jetavana está agora, - um lago cercado por emaranhado de plantas trepadeiras. Dentro dele morava o Bodhisatva, que veio à vida como peixe naqueles dias. E, então como agora, havia seca na terra ; as colheitas murcharam ; água desapareceu dos tanques e poços ; e os peixes e tartarugas enterravam-se no lodo. Do mesmo modo, quando as tartarugas e peixes deste lago escondiam-se no lodo, os corvos e outros pássaros, juntando no lugar, pegavam-nos com seus bicos e os devoravam. Vendo o fado de seus parentes, e sabendo que ninguém a não ser ele poderia salvá-los na hora da necessidade, o Bodhisatva resolveu fazer uma solene Profissão de Bondade, e pela eficácia dela fazer a chuva cair dos céus para salvar seus parentes da morte certa. Assim, separando-se do negro lodo, saiu fora,- um peixe poderoso, enegrecido pelo lodo como a mais fina caixa de madeira de sândalo esfregada com cera. Abrindo seus olhos que eram como rubis escavados pela água, e olhando para os céus ele assim dirigiu-se a Pajjunna, Rei dos Devas,- “Meu coração está pesado dentro de mim por causa dos meus parentes, meu bom Pajjunna. Como aconteceu, prego, que, sendo eu reto esteja estressado por causa de meus parentes, pois não envias chuvas dos céus ? Pois eu, apesar de nato onde é costume presa de semelhantes, nunca desde minha juventude devorei qualquer peixe, mesmo do tamanho de um grão de arroz ; nem nunca roubei uma única criatura viva de sua própria vida. Pela verdade deste meu Protesto, te chamo para que envies chuva e socorra meus semelhantes.” Com isto ele chamou a Pajjunna, Rei dos Devas, como um mestre pode chamar um empregado, com esta estrofe:-

Pajjunna, trovão! Expulse o corvo!
Traga dores a ele; livra-me do meu inimigo!

Deste jeito, como um mestre pode chamar um servente, chamou o Bodhisatva a Pajjunna, a partir daí causando que pesadas chuvas caíssem e aliviassem muitos do medo da morte. E quando sua vida esgotou-se, ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Assim esta não é a primeira vez, Irmãos,” disse o Mestre, “que o Abençoado causou que chuva caísse. Ele fez o mesmo em tempos passados, quando ele era um peixe.” Sua lição terminada, ele identifica o Jātaka dizendo, “Os discípulos do Buddha eram os peixes daqueles dias, Ānanda era Pajjunna, Rei dos Devas, e eu mesmo o Rei dos Peixes.”



Cf. Jātaka 35 que tem várias semelhanças com este.